quarta-feira, dezembro 31, 2014

Um dia...


... que começa comigo a desenhar-me e a desenhar no comboio. As pessoas vão saindo e entrando. Só eu e a minha brompton é que permanecemos...


... e continua com as aulas de desenho que têm tido cada vez mais importância, sobretudo porque me ocupam muitas horas. Por isso, vou criando e adaptando mais exercícios, para não me aborrecer nem aos alunos. Desenhar ao longe, mais perto ou muito perto, para vermos de modo diferente e tentar que o desenho mostre isso mesmo...


... no final, cansado e sentado num dos bancos do comboio, pego numa das páginas de experiências para desenhar o rapaz que está sentado à minha frente. Quando se levanta, desenho o lugar vazio à frente. Quando já não está ninguém, volto a desenhar a brompton...

... há coisas que são passageiras e outras que permanecem. Por vezes descobrimos que umas são outras em vez das primeiras. Foi assim o meu 2014.

domingo, dezembro 28, 2014

Porto Alegre: zona Sul


Último dia em Porto Alegre, últimos dois desenhos desta viagem.
A Elisete e a Liliane disseram-me que eu não podia sair do Rio Grande do Sul sem experimentar um show Gaúcho. Após algumas voltas de carro, entrámos na churrascaria Galpão Crioulo onde havia carne à descrição, música e dança com fartura...
Saí de lá a rebolar e, para que a visita a Porto Alegre não ficasse incompleta, levaram-me à zona Sul da cidade onde está a marina e uma zona costeira de fácil acesso ao lago Guaíba.


Se todos os dias anteriores tinham sido fantásticos, este último foi mesmo memorável. Fui tão bem recebido e tratado por todos que fiquei mesmo com vontade de voltar.
Um especial obrigado à Liliane e Elisete por terem passado este último dia comigo. A Liliane deu-me boleia (carona) até ao aeroporto consagrando toda uma amabilidade não esperada.

Senti-me verdadeiramente em casa!

sábado, dezembro 27, 2014

Porto Alegre: Jabuticaba


Quando fui ao mercado de Porto Alegre, perguntei o que era mais típico para comer. O Flávio respondeu de imediato: "Jabuticaba - o fruto que só há no Brasil".

Não comprámos nesse dia porque os que haviam estavam todos moles, mas no sábado, no mercado de rua perto do parque da redenção, o Flávio comprou-me um saco cheio de Jabuticaba e ainda me contou uma história:

Quando o primeiro ministro do Japão visitou pela primeira vez o Brasil no mandato do Lula da Silva, assim que chegou, pediu para ir comer "jabuticaba no pé", que corresponde a tirar directamente o fruto do tronco da árvore. Segundo os brasileiros, é uma das melhores experiências gastronómicas que se pode ter.
Assim, lá foi a comitiva política pela selva adentro, na região de São Paulo, para comer o fruto tão apetecido que só existe no Brasil. De tal forma é a identificação com o fruto que, quando acontece algo tipicamente brasileiro, eles têm o costume de dizer que isso é uma "jabuticaba" como metáfora àquilo que se poderia chamar de "brasileirada".

Lindo!

quarta-feira, dezembro 24, 2014

Presentes


Embrulhámos hoje os últimos três presentes.
Porque é disto que se trata o Natal: fazermo-nos presentes e deixarmos que alguém se torne presente na nossa vida.
Não interessa o interior do embrulho, apenas a presença que ele representa...

Santo Natal e muitos presentes!

terça-feira, dezembro 23, 2014

Porto Alegre: Usina do Gasômetro


Há um bar flutuante mesmo em frente à Usina do Gasômetro que é como viajar aos anos 80. Quando me sentei, reparei nos caixotes do lixo pendurados, nas mesas e cadeiras de plástico da coca-cola, o gradeamento meio enferrujado e tudo me fazia lembrar os tempos do meu pai enquanto gerente de restauração nessa época. Vejo hoje fotografias e até a roupa é igual. É impressionante...

Fazer este desenho foi, por isso mesmo, como reviver a minha infância em adulto. 
No momento achei todos aqueles sentimentos muito estranhos, mas agora dá-me saudades este local porque me põe a viajar. 
Gostava de lá voltar, mas desta vez com os meus pais. Acho que sentiriam o mesmo que eu...

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Porto Alegre: casa de cultura Mário Quintana


"Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!"
                      Mário Quintana, 1978


Vista de um dos torreões
da Casa de Cultura
Mário Quintana, o poeta
mais acarinhado de 
Porto Alegre...



Foi maravilhoso conhecer o Flávio Morsch e deixar-me conduzir a pé por ele nas ruas de Porto Alegre. As conversas fluíam sem parar. Parecíamos amigos de longa data...

Mostrou-me a Casa de Cultura Mário Quintana. Subimos a um dos torreões, sentámo-nos e ele começou a falar-me da história do edifício (que era um hotel), onde o poeta Mário Quintana viveu toda a sua vida, num quarto oferecido pela gerência. Pesquisava excertos de poemas dele e ia-me lendo enquanto eu desenhava.

Foi um dia especial este, muito especial...

domingo, dezembro 21, 2014

Porto Alegre: Iberê Camargo


A Fundação Iberê Camargo, desenhada pelo Siza é desconcertante...
Quando lá cheguei foi inevitável sentir-me em "casa". É estranha e confortável a sensação de estar junto a uma obra tão longe de Portugal, mas que sabemos que foi desenhada no nosso pequeno rectângulo.
As costas completamente cegas, sem janelas, estendidas numa vertical contra a vegetação selvagem contrastam com uma frente ziguezagueante virada para o lago Guaíba.

Estava fechado por estarem a montar uma nova exposição do Iberê e não consegui entrar nem por nada, o que foi uma verdadeira tristeza. Não sei se voltarei a Porto Alegre e foi mesmo uma oportunidade perdida para conviver por dentro com esta peça de arte arquitectónica...

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Porto Alegre: conferências


Não sabia que a língua gestual do Brasil se chama LIBRAS (língua brasileira de sinais) e foi uma surpresa ter ao vivo sempre alguém a traduzir as conferências.

O trabalho da Paula Mastroberti é absolutamente acutilante. Vale a pena ver.
O da Andrea Hofstaetter é de uma densidade muito respeitável.

Foi muito bom ter estado e aprendido com elas!

terça-feira, dezembro 16, 2014

Porto Alegre: lancheria do parque


Descobri por acaso a Lancheria do Parque. Estava tão cheia da primeira vez que lá passei que pensei para mim: de certeza que este sítio tem qualidade!

No dia seguinte fui lá jantar e a experiência foi maravilhosa:
Sentei-me e nem tive tempo de pedir a carta pois fui logo atendido. Expliquei que era português e que estava em Porto Alegre pela primeira vez. 
- Turismo ou congresso? - perguntou logo ele. 
- Congresso e exposição - respondi eu.
Olhei para a carta e não fazia a mínima ideia do que pedir. Perguntei: qual é a especialidade?
- Ah... você tem que comer Baurú, tem de ser...
- Então pode ser isso mesmo - respondi eu.
- E para beber? Tem que provar o nosso suco...
- Pode ser um de manga. Obrigado.

Tirei o caderno, a caneta e as aguarelas. "Tenho de desenhar aqui". De repente, veio o garçon com um jarro cheio de suco de manga e deitou um bocado no copo. Provei e disse: "que gostoso" (sim, o meu português já estava a ficar meio abrasileirado), pode encher o copo. Ele encheu e eu pensei que se tratava de uma espécie de prova de vinhos... mas... qual não foi o meu espanto quando ele deixou o jarro cheio para eu beber. "Tudo isso?? Meu Deus, estou mesmo num continente diferente..."
Bebi mais um pouco e comecei a desenhar desenfreadamente. Nada me escapava: o copo, as palhinhas, o jarro, o talão com a conta escrita à mão... 
Estava em completo piloto automático quando chegou o famoso Baurú. Salivei de tal modo que guardei o caderno e esqueci-me do desenho, do que era desenhar, de tudo...
... naquele momento, apenas as minhas papilas gustativas estavam activas. Todo o meu ser estava focado em saborear o jantar... nada de mais interessante se sobrepunha...

Por isso esta minha página ficou assim. O Baurú fica apenas na minha memória de palato...

domingo, dezembro 14, 2014

Porto Alegre


Este foi um dos locais mais curiosos que encontrei em Porto Alegre. Desde o prédio com as janelas viradas para dentro, aos grafitis em locais que não se percebe como é que os fizeram, até à tensão rígida entre o betão armado e a orgânica dos dois viadutos que passavam um por cima do outro e desapareciam de vista...

Em cima, do lado esquerdo, vendia fruta um senhor, numa banca normalíssima...

sábado, dezembro 13, 2014

Porto Alegre



Este desenho reune vários momentos de um dia só.
Começou com o almoço no café & confeitaria Andradas, onde comi uma tosta de queijo e bebi um suco de Abacaxi. A ideia era comer algo rápido, porque estava em fase de exploração pedonal da cidade. Andei, andei e andei até me sentar numa esplanada da Faculdade de Educação. Estavam lá várias pessoas a conversar, mas havia um rapaz à espera. Olhava para o relógio, olhava em volta, olhava para baixo, olhava constantemente. Às tantas decidiu parar de olhar e eu decidi desenhá-lo...

Olhava para esta página e parecia-me que tudo estava a ficar um desastre, elementos soltos, sem ligação nem propósito. Fui então ao observatório astronómico que sabia ser bem interessante por estar ali meio entalado pelos edifícios de betão armado (concreto) como que a pôr-se em bicos de pés e a reclamar também a sua importância. Desenhei-o com a maior liberdade possível e esforcei-me por mostrar a faculdade de engenharia técnica que tem um ar inacabado e abandonado...

Escrevi o texto à noite, no quarto, para não me esquecer de algumas coisas. Era dia 5 de novembro de 2014.

terça-feira, dezembro 09, 2014

Porto Alegre


No segundo dia em Porto Alegre, tive tempo para desenhar à minha vontade. Os dias começam cedo, às 7h da manhã já se viam os alunos a entrar nas escolas para as aulas e uma grande agitação nas ruas. Fui andando até ao centro histórico e havia que passar na Av. Salgado Filho, a artéria principal de transportes públicos da cidade. Eram bem grandes os edifícios. Fiz este desenho, colori a lápis de cor, mas não fiquei contente com o resultado por não mostrar a azáfama da avenida...


A Praça Quinze de Novembro tinha o mercado, mas desenhá-lo seria demasiado óbvio, turístico, postal...
... nada como nos voltarmos para o lado e tentar compreender a vida que circundava o mercado. Era muita, mas aqui estão apenas uns fragmentos de pessoas. A arquitectura é muito contrastante e inquietante. Nunca parava de me interrogar: como é que isto veio aqui parar?


Este local era mesmo intrigante. Do lado direito, o acesso ao lago Guaíba estava vedado por um grande muro, construído após umas grandes cheias que a cidade teve. Muitos projectos já se fizeram para devolver o acesso ao lago à população, mas não há político que arrisque derrubar o muro com medo de umas próximas cheias...
A meio, a entrada para o metrô, numa rampa/pala que nos relembra o melhor da arquitectura brasileira.
Do lado esquerdo o mercado, tapado e em obras por causa de um incêndio recente. Que mercado este! Cheio de vida. Assim que lá entrei comecei a imaginar como seria o mercado da Ribeira em Lisboa... talvez com a mesma intensidade de vida...