terça-feira, agosto 30, 2016

AMNH dinosaur entrance hall


Não é que goste especialmente deste desenho, mas como esta entrada é fenomenal, não podia deixar de o fazer. Esta é a zona por onde se sai. Sentei-me num banco, encostado a um canto e, sem saber quando é que a Brenda iria chegar, que poderia ser a qualquer momento, tentei guardar no meu caderno aquele cenário, aquela imagem do dinossauro seguro apenas nas patas traseiras a receber as pessoas e a despedir-se delas.

As crianças rodeavam-me. Umas olhavam de esguelha, outras metiam conversa. Uma família norueguesa ficou muito impressionada com o desenho (e eu ali a lutar para que ele não se afundasse cada vez mais e a mal dizer os paus e a tinta da china...), e os dois filhos comentavam entre eles qualquer coisa em norueguês. Perguntei-lhes:
- Do you like to sketch?
- Yes. - respondeu-me a rapariga. E continuou: I want to be an artist just like you!
- I'm not an artist, I just like to sketch. - disse eu envergonhado...
- To me you are! - E sorriu...

E, de repente, a minha memória viajou para todas as minhas recordações de infância relacionadas com pessoas que vi a desenhar na rua e como as admirava. Lembro-me bem de um senhor a pintar a ribeira de Barcarena, junto a uma ponte, e de eu passar lá a tarde toda com ele a vê-lo trabalhar. Não faço ideia de quem era. Podia ser um desconhecido como eu ou uma pessoa famosa.

Nem sempre temos noção de como o nosso trabalho (por mais miserável que fique), pode influenciar a vida das pessoas... 
Este dinossauro mal amanhado influenciou a da menina norueguesa, tenho a certeza.

sábado, agosto 27, 2016

American Museum of Natural History

Ao visitar o museu de História Natural de Nova Iorque cheguei a uma conclusão que é um chavão: é mesmo impossível ver tudo num dia! Queria ler tudo, fotografar tudo, desenhar tudo, perder tempo em tudo. É uma viagem impossível... restou-me a resignação de ter tempo para fazer mais alguns desenhos lá dentro.


Com tanta escolha possível, estas morsas estavam como que a apelar que as desenhasse. Pensei várias vezes em desistir deste projecto de desenhar apenas com a tinta da china e o pau de madeira (parecia que havia sítios e temas que pediam outras técnicas), mas mantive-me sempre fiel ao conceito da minha viagem. Sentei-me perto do vidro, não no local mais confortável, mas aquele que me parecia ter o melhor ângulo e lá foi disto. 

Todos sabemos como o desenho é como um íman que atrai atenções. Enquanto estive ali sentado, o que mais gostei, foi de ouvir tantas línguas diferentes a fazer comentários nas minhas costas, mostrando, inevitavelmente, as suas culturas. Uma mãe e filha portuguesas comentavam nas minhas costas:
- É isto que se vê aqui e que em Portugal não há: pessoas a desenhar nos museus!
- Hã! Hã... - respondia a filha adolescente com um ar desinteressado na conversa.
- Cidades como esta abrem-nos o horizonte, mostram-nos pessoas cultas que não encontramos lá. Pessoas a desenhar em museus! - insistia enquanto se afastava e o som da voz se ia ouvindo cada vez mais longe...

Os franceses e asiáticos são os que mais apreciam e elogiam o nosso trabalho. Metem conversa e fazem questão de dizer que gostam. Os da América Latina comentam, mas não metem conversa. Os americanos nem uma coisa nem outra...

quinta-feira, agosto 25, 2016

Titanosaur at American Museum of Natural History


No primeiro dia por minha conta, já depois das reuniões terem acabado, fui ao museu que tanto queria ir, o AMNH. A Brenda M. acompanhou-me pois também ia ficar mais uns dias em Nova Iorque. Entrámos, marcámos uma hora para almoçar e lá fui eu, perdido por entre salas gigantes que recriam ambientes naturais, no meio de desenhos científicos inacreditáveis e vestígios de animais quando dou por mim, entretanto, a entrar na zona dos dinossauros até me deparar com este espécime de dimensão inacreditável. O maior alguma vez encontrado, escavado no deserto da Patagónia, Argentina. Claro que tinha de desenhá-lo. Peguei no meu caderno grande e pensei que não seria um problema colocá-lo dentro da página. Estava bem enganado! Perdi-me nos detalhes e as patas dianteiras não couberam, assim como a cabeça (que também não cabia na sala da exposição!).

Tudo somado, agora que olho para o desenho, lembro-me sobretudo do prazer que foi estar ali sentado no chão a desenhar. Faltou-me colocar algumas pessoas para dar escala ao desenho, mas como não volto aos desenhos depois de os fazer, fica assim mesmo, para que a memória do momento se altere o mínimo possível, qual esqueleto subterrado durante milhares de anos sem ser tocado...

domingo, agosto 21, 2016

Picasso Sculptures at MoMA


Nunca tinha visto as esculturas do Picasso ao vivo e, estando elas no MoMA e eu em Nova Iorque, era impensável falhar esta visita. Fomos todos lá no dia em que terminava a exposição: eu, a Elizabeth, a Suma, a Brenda e o Mark. Marcámos uma hora e um ponto de encontro e seguiu cada um o seu caminho.

Tirei o caderno grande, peguei no pau de madeira e lá comecei a molhar no recipiente com tinta. Fui desenhando as que gostava mais, ocupando a página da esquerda para a direita. Quando estava a desenhar o gato, uma mulher segurança veio ter comigo e disse:
Mr., you can use that stuff inside to draw.
But it's dry ink. It won't mess anything. - expliquei eu virando o boião ao contrário a mostrar que a tinta não caía.
- Doesn't matter, they were looking at you through the surveillance camera. - apontou ela para para a câmera num canto da parede.

Vai ficar mesmo assim, inacabado, e com esta estória para contar.
Engraçado que o gato acabou por ser o desenho que gosto mais. Abençoada segurança que me "barrou"o desenho antes de o estragar!


sexta-feira, agosto 19, 2016

9/11 memorial view from winter garden atrium



Desenhar em Nova Iorque durante o mês de Fevereiro é mesmo uma aventura. Era sábado e o Mark Leibowitz tinha um encontro dos USk-NYC marcado para o Winter Garden, mesmo em frente ao memorial das torres gémeas. Suspendemos a nossa reunião para nos juntarmos a desenhar com eles. Continuei com a tinta da china e o pau de madeira, sentei-me em frente a um janelão de vidro e comecei por aqueles edifícios altos lá ao fundo.

Antes tinha passado pela North Pool e o silêncio que se sente é ensurdecedor. O projecto tem um grande dramatismo: são dois grande poços que nos puxam o olhar para baixo, como que à procura de tudo o que ruiu...

A Suma CM dizia-nos: 
- Ainda não consigo olhar. Eu estava a trabalhar aqui ao lado. Ainda está tudo muito presente. Vamos passar rapidamente...

Quando terminei o desenho senti-me a fazer honra a este local. Não por estar especialmente bem conseguido, mas por ter dedicado uma boa hora da minha vida a olhar para ele e a pensar na fragilidade da vida e em como temos de aproveitar para viver em plenitude...

quarta-feira, agosto 17, 2016

Oficina na Gulbenkian


No próximo dia 10 de setembro vou orientar uma oficina nos jardins da Gulbenkian que se chama: A matéria das coisas.

O tema central é Land Art. Como fazer? Com que inspiração? Como se regista a arte efémera?
Será precisa alguma ousadia, mas as respostas as estas perguntas promete mudar-nos o olhar sobre o que nos rodeia...

Inscrições e mais info aqui.