sábado, dezembro 24, 2016

Como se desenha o Natal?


É isto o Natal.
Uma vista de dentro lá para fora.
Teimamos em olhar para as quatro paredes confortáveis quando lá fora é que reina o esplendor.
Sem abrir as portas ao que espera por nós, ficamos apenas com o desfocado imediato.
Há que dar o salto. Ousar olhar mais longe. Ainda que pareça impossível. Ou se sinta uma loucura a invadir-nos as veias. A pulsação a saltitar de incerteza...

É isto o Natal.
Dar vida nova. Nascer de novo.
Dar salvação ao que sonhamos há tanto tempo. Dar-lhe rosto focado, colocá-lo na luz. Deixar a sombra confortável e, com todas as fragilidades, deixá-lo amadurecer. 
Pequeno e incerto, mas muito promissor. Deverá ser assim o sonho que desejamos concretizar. Deixar que os outros falem dele, o elogiem, sem medo de o perder, porque, só sendo de todos, poderá ganhar o sentido pleno.

É isto o Natal. 
Só pode ser isto.

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Lancaster Castle


Há uns anos, creio que ainda em 2014, o Nélson Paciência meteu-se num projecto de voluntariado bem interessante: fazer aulas de desenho com presos. Era necessária uma carta da associação USkP para oficializar o pedido e tornar os USkP parceiros das prisões. Fiz-lhe a carta, claro. Era também para essas situações que a associação existia. Falámos também de alguns exercícios que poderiam funcionar. Este foi um dos que lhe recomendei. Não sei se o chegou a usar.

No passado agosto, em Lancaster, Norte de Inglaterra, visitei o antigo castelo da cidade que tinha sido transformado em prisão. Funcionou assim durante décadas e, recentemente, foi recuperado como património da cidade e está aberto ao público. Se por fora impõe respeito pela construção, o pátio interior também é muito agradável. É, no entanto, de pasmar quando se olha para o interior dos espaços. Frios e com uma recuperação interior medonha, muito desgastados pelo uso, sem vontade nenhuma de os percorrer, acabei sentado no pátio a desenhar e a pensar no projecto do Nélson.

Coincidência ou não, a primeira vez que ele o apresentou em público foi também em Inglaterra, durante o Simpósio dos USk em Manchester. A conferência dele, que foi um sucesso, pode ser vista aqui.

Incrível como a vida de algumas pessoas passa tão rapidamente de um castelo fantástico, cheio de pompa e robustez, para uma prisão de onde não se pode sair.

Bem hajas Nélson, por teres levado o desenho como opção de viagem a quem só tem livre o pensamento.

quarta-feira, dezembro 14, 2016

Windermere

Voltando aos desenhos de Inglaterra.
Com uma semana em Lancaster, decidimos visitar um dos locais mais recomendados do Lake District National Park: Windermere


O mais apreciado é a viagem de barco. 
Os turistas são bastantes, o que torna a pequena vila algo agitada.
O frio era tanto que só apetecia beber chocolate quente, chá, croissants com chocolate... enfim, coisas quentes ou calóricas.
O barco era lindo para desenhar. 
Fui lá fora, mas não aguentei o frio.
Escolhi a vista pela vidraça, embalada pela ondulação...


O bilhete dava direito a visitar um aquário.
Chegados ao destino, o aquário era uma desilusão. 
Hora de almoço. Pedimos fish & chips. Outra desilusão.
Lição aprendida: tudo o que é montado para o turista é uma perda de tempo.
Vale-nos, a nós desenhadores, a possibilidade de desenharmos tudo o que nos rodeia.
Mas o estado de espírito também passa para os desenhos...


Regressados de barco, em terra firme, houve algum tempo para desenhar detalhes da pacata vila.
Chovia imenso.
As lojas de roupa em 2ª mão eram as melhores.
Comprei lá duas boinas. 
Enquanto esperava que a Ketta, a Marisa e a Paula se despachassem das compras delas, eu e o Matias ficámos a desenhar...



A arquitectura inglesa tem um denominador comum. 
Há uma imagem de marca.
Sabemos que estamos em Inglaterra quando olhamos para os telhados.

Comecei a desenhar.
Elas chegaram entretanto.
Apanhámos um táxi para a estação de comboio. A pronúncia dele era americana. Foi viver para ali e passou a ser taxista ali. Devia ter uns 30 anos. Antes de ter tempo para lhe perguntar: why?, chegámos à estação e o meu desenho inacabado passou a ser uma metáfora das vidas que dão uma volta e vão à procura de preencher os vazios noutros lugares...

De repente, uma viagem turística tornou-se uma oportunidade para ir ao encontro daquilo que verdadeiramente interessa.

O desenho ajuda nisso, pois claro, sobretudo se tiver sugestões em vez de ideias de bandeja...

domingo, dezembro 11, 2016

Foz Côa - parte 10

Últimos desenhos de Foz Côa.


A Pousada da Juventude de Vila Nova de Foz Côa tem uma vista deslumbrante para a paisagem montanhosa do Côa. De manhã, a neblina e o ar super fresco davam aos desenhos um toque gélido e húmido, mas era impossível não tirar as mãos das luvas e desenhar esta vista...
Alguns alunos fumavam para combater o frio. Outros, poucos, acompanhavam-nos nestes desenhos frios de espera pelo autocarro...


Em Freixo Numão, o guia que nos acompanhou às ruínas do Prazo, o tal filho da terra, foi logo desenhado durante a pequena apresentação que nos fez no museu. Utilizei o lápis de sanguínea e depois acrescentei o de grafite. Meia hora depois, serviu este desenho para explicar como se pode preencher rapidamente uma área com mancha (ali a zona da barba), mas também ter traços mais assumidos e expressivos (ali a zona do cabelo), sem nunca descurar a dinâmica da linha (o perfil do rosto e a orelha).
Depois, já nas ruínas, um pequeno apontamento a caneta do que resta da entrada principal do mercado romano. 


Na verdade, na verdade, este não foi o meu último desenho de Foz Côa, mas foi o meu último desenho neste caderno. Depois do almoço em Mêda, enquanto algumas alunas desenhavam tratores (a da esquerda está mais a descansar do que outra coisa), eu, como tinha pouco tempo, desenhei-as a elas, de pé a olhar para baixo.

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Foz Côa - parte 9

 A visita noturna às gravuras da Penascosa foi absolutamente sem palavras!


Estava escuro, muito escuro.
Pastel de óleo branco e aguarela.
Luzes dos telemóveis.
Mosquitos.
O caderno como local exploratório.


A tridimensionalidade dada pelos cornos.
Perceber que estas linhas gravadas estão invioladas desde há 20.000 anos.


Sobreposições.
Mais sobreposições.
E muitas suposições...

sexta-feira, dezembro 02, 2016

Foz Côa - partes 7 e 8


A arquitectura e a paisagem.
Voltas e voltas a pé para a tentar agarrar.


Mais de 20.000 anos depois, alguns futuros artistas pisaram o mesmo território que outros pisaram há tanto tempo...
Desenhei-os, claro. Não sei se os poderei voltar a desenhar no futuro.

É uma sorte imensa fazer parte deste grupo de pessoas que se dedica à Arte!