domingo, setembro 04, 2016

Guggenheim - NYC


Acordava constantemente cedo. Por volta das 6h já não tinha sono. Penso que a diferença horária de 5 horas demorou um pouco a ser vencida. Levantei-me, tomei banho, vesti-me, saí do hotel, parei para tomar o pequeno almoço (torradas, fruta, iogurte e café), fui para o metro na direção de Uptown até sair numa estação próxima do Guggenheim. Caminhei umas boas centenas de metros com as mãos geladas nos bolsos (mesmo com luvas) e um vento rasante que teimava bater na cara, mas cheguei lá cedo demais; por volta das 9h e o museu só abria às 10h. Estava um frio que se entranhava nos ossos, mas não ia ficar uma hora sem desenhar. Limpei um banco cheio de geada com um pequeno guardanapo de papel, sentei-me (e logo senti o frio a subir pela espinha), abri a mala, tirei o caderno, tirei também as luvas e pensei: é só durante uma hora...

Fiz aquele pequeno desenho que está na página esquerda e, quando já não aguentava mais o frio (sentia-me um boneco de neve a dirigir todo o seu calor para as mãos, deixando o resto do corpo esquecido), levantei-me, vi as horas (ainda faltavam 40 min.) e fui desenhar outro ponto de vista do edifício, mas em pé. Desenhei o que está do lado direito, com o caderno em cima de um caixote do lixo. Estava numa esquina e o vento estava cada vez mais forte. Passavam por mim alguns nova-iorquinos a passear os cães, ainda de roupão...
Vi, entretanto, que a loja do museu ia abrir. Estou salvo, pensei. Entrei, vi tudo o que eles têm para vender, e fui depois para o hall onde me perdi a desenhar aquele interior maravilhoso que o Frank Loyd Right tão bem conseguiu projectar.


Comprei o bilhete e decidi perder todo o tempo que fosse preciso ali dentro. Não me iria escapar nada. Ouvi a história do edifício, a polémica que se criou quando foi apresentado, vi a exposição permanente (absolutamente fabulosa) e as temporárias ao longo da espiral enquanto subia: instalações, vídeos, esculturas, pinturas... Andei para cima e para baixo. Quando pensava que me ia embora decidia voltar atrás e ir ver tudo de novo.
Sentei-me, depois, num canto discreto, entre espirais e comecei a desenhar de novo...

terça-feira, agosto 30, 2016

AMNH dinosaur entrance hall


Não é que goste especialmente deste desenho, mas como esta entrada é fenomenal, não podia deixar de o fazer. Esta é a zona por onde se sai. Sentei-me num banco, encostado a um canto e, sem saber quando é que a Brenda iria chegar, que poderia ser a qualquer momento, tentei guardar no meu caderno aquele cenário, aquela imagem do dinossauro seguro apenas nas patas traseiras a receber as pessoas e a despedir-se delas.

As crianças rodeavam-me. Umas olhavam de esguelha, outras metiam conversa. Uma família norueguesa ficou muito impressionada com o desenho (e eu ali a lutar para que ele não se afundasse cada vez mais e a mal dizer os paus e a tinta da china...), e os dois filhos comentavam entre eles qualquer coisa em norueguês. Perguntei-lhes:
- Do you like to sketch?
- Yes. - respondeu-me a rapariga. E continuou: I want to be an artist just like you!
- I'm not an artist, I just like to sketch. - disse eu envergonhado...
- To me you are! - E sorriu...

E, de repente, a minha memória viajou para todas as minhas recordações de infância relacionadas com pessoas que vi a desenhar na rua e como as admirava. Lembro-me bem de um senhor a pintar a ribeira de Barcarena, junto a uma ponte, e de eu passar lá a tarde toda com ele a vê-lo trabalhar. Não faço ideia de quem era. Podia ser um desconhecido como eu ou uma pessoa famosa.

Nem sempre temos noção de como o nosso trabalho (por mais miserável que fique), pode influenciar a vida das pessoas... 
Este dinossauro mal amanhado influenciou a da menina norueguesa, tenho a certeza.

sábado, agosto 27, 2016

American Museum of Natural History

Ao visitar o museu de História Natural de Nova Iorque cheguei a uma conclusão que é um chavão: é mesmo impossível ver tudo num dia! Queria ler tudo, fotografar tudo, desenhar tudo, perder tempo em tudo. É uma viagem impossível... restou-me a resignação de ter tempo para fazer mais alguns desenhos lá dentro.


Com tanta escolha possível, estas morsas estavam como que a apelar que as desenhasse. Pensei várias vezes em desistir deste projecto de desenhar apenas com a tinta da china e o pau de madeira (parecia que havia sítios e temas que pediam outras técnicas), mas mantive-me sempre fiel ao conceito da minha viagem. Sentei-me perto do vidro, não no local mais confortável, mas aquele que me parecia ter o melhor ângulo e lá foi disto. 

Todos sabemos como o desenho é como um íman que atrai atenções. Enquanto estive ali sentado, o que mais gostei, foi de ouvir tantas línguas diferentes a fazer comentários nas minhas costas, mostrando, inevitavelmente, as suas culturas. Uma mãe e filha portuguesas comentavam nas minhas costas:
- É isto que se vê aqui e que em Portugal não há: pessoas a desenhar nos museus!
- Hã! Hã... - respondia a filha adolescente com um ar desinteressado na conversa.
- Cidades como esta abrem-nos o horizonte, mostram-nos pessoas cultas que não encontramos lá. Pessoas a desenhar em museus! - insistia enquanto se afastava e o som da voz se ia ouvindo cada vez mais longe...

Os franceses e asiáticos são os que mais apreciam e elogiam o nosso trabalho. Metem conversa e fazem questão de dizer que gostam. Os da América Latina comentam, mas não metem conversa. Os americanos nem uma coisa nem outra...

quinta-feira, agosto 25, 2016

Titanosaur at American Museum of Natural History


No primeiro dia por minha conta, já depois das reuniões terem acabado, fui ao museu que tanto queria ir, o AMNH. A Brenda M. acompanhou-me pois também ia ficar mais uns dias em Nova Iorque. Entrámos, marcámos uma hora para almoçar e lá fui eu, perdido por entre salas gigantes que recriam ambientes naturais, no meio de desenhos científicos inacreditáveis e vestígios de animais quando dou por mim, entretanto, a entrar na zona dos dinossauros até me deparar com este espécime de dimensão inacreditável. O maior alguma vez encontrado, escavado no deserto da Patagónia, Argentina. Claro que tinha de desenhá-lo. Peguei no meu caderno grande e pensei que não seria um problema colocá-lo dentro da página. Estava bem enganado! Perdi-me nos detalhes e as patas dianteiras não couberam, assim como a cabeça (que também não cabia na sala da exposição!).

Tudo somado, agora que olho para o desenho, lembro-me sobretudo do prazer que foi estar ali sentado no chão a desenhar. Faltou-me colocar algumas pessoas para dar escala ao desenho, mas como não volto aos desenhos depois de os fazer, fica assim mesmo, para que a memória do momento se altere o mínimo possível, qual esqueleto subterrado durante milhares de anos sem ser tocado...

domingo, agosto 21, 2016

Picasso Sculptures at MoMA


Nunca tinha visto as esculturas do Picasso ao vivo e, estando elas no MoMA e eu em Nova Iorque, era impensável falhar esta visita. Fomos todos lá no dia em que terminava a exposição: eu, a Elizabeth, a Suma, a Brenda e o Mark. Marcámos uma hora e um ponto de encontro e seguiu cada um o seu caminho.

Tirei o caderno grande, peguei no pau de madeira e lá comecei a molhar no recipiente com tinta. Fui desenhando as que gostava mais, ocupando a página da esquerda para a direita. Quando estava a desenhar o gato, uma mulher segurança veio ter comigo e disse:
Mr., you can use that stuff inside to draw.
But it's dry ink. It won't mess anything. - expliquei eu virando o boião ao contrário a mostrar que a tinta não caía.
- Doesn't matter, they were looking at you through the surveillance camera. - apontou ela para para a câmera num canto da parede.

Vai ficar mesmo assim, inacabado, e com esta estória para contar.
Engraçado que o gato acabou por ser o desenho que gosto mais. Abençoada segurança que me "barrou"o desenho antes de o estragar!


sexta-feira, agosto 19, 2016

9/11 memorial view from winter garden atrium



Desenhar em Nova Iorque durante o mês de Fevereiro é mesmo uma aventura. Era sábado e o Mark Leibowitz tinha um encontro dos USk-NYC marcado para o Winter Garden, mesmo em frente ao memorial das torres gémeas. Suspendemos a nossa reunião para nos juntarmos a desenhar com eles. Continuei com a tinta da china e o pau de madeira, sentei-me em frente a um janelão de vidro e comecei por aqueles edifícios altos lá ao fundo.

Antes tinha passado pela North Pool e o silêncio que se sente é ensurdecedor. O projecto tem um grande dramatismo: são dois grande poços que nos puxam o olhar para baixo, como que à procura de tudo o que ruiu...

A Suma CM dizia-nos: 
- Ainda não consigo olhar. Eu estava a trabalhar aqui ao lado. Ainda está tudo muito presente. Vamos passar rapidamente...

Quando terminei o desenho senti-me a fazer honra a este local. Não por estar especialmente bem conseguido, mas por ter dedicado uma boa hora da minha vida a olhar para ele e a pensar na fragilidade da vida e em como temos de aproveitar para viver em plenitude...

quarta-feira, agosto 17, 2016

Oficina na Gulbenkian


No próximo dia 10 de setembro vou orientar uma oficina nos jardins da Gulbenkian que se chama: A matéria das coisas.

O tema central é Land Art. Como fazer? Com que inspiração? Como se regista a arte efémera?
Será precisa alguma ousadia, mas as respostas as estas perguntas promete mudar-nos o olhar sobre o que nos rodeia...

Inscrições e mais info aqui.

sexta-feira, julho 22, 2016

New York City: view from the hotel room


A adrenalina de estar em Nova Iorque era mais que muita! Tenho sempre a sensação que o meu inglês chega enferrujado aos Estados Unidos e fica sempre melhor na altura de voltar... 

Cheguei ao final da tarde, telefonei à Elizabeth Alley e fomos jantar juntos a um restaurante mexicano (ou seria espanhol?) que estava a rebentar de gente. Esperámos uma eternidade por uma mesa à entrada, naqueles corta vento. Falámos imenso ali mesmo... ao frio. 

No dia seguinte começava a nossa maratona de reuniões e não havia tempo a perder. Acordei cedo, abri as cortinas da janela do Double Tree by Hilton e comecei um projecto que fazia sentido na minha cabeça na altura: um português, com uma técnica asiática, a desenhar em Nova Iorque.

Tenho a sensação que estes desenhos ainda vão sair do caderno para outra coisa qualquer...

quarta-feira, julho 20, 2016

Nós e os cadernos


Este fim de semana vou estar em Esposende a convite do Tiago Cruz, para participar no evento Nós e os Cadernos. O encontro promete!

Eu e a Ketta vamos fazer uma comunicação intitulada: O caderno como instrumento de ensino
Iremos falar dos desenhos que fazemos só para ensinar alguma coisa. Aqueles desenhos que não faríamos sozinhos, só por nós. Aqueles desenhos que fazemos para mostrar a alguém, para explicar alguma coisa...

É exactamente esse o caso desta dupla página. Nunca faria estes retratos a lápis de grafite se fossem só para mim, mas, neste caso, queria explicar que a mina de grafite nos permite fazer diferentes intensidades e espessuras de linha. Que a linha mais intensa sugere sombra e a mais leve sugere luz.
Queria ainda mostrar que o fundo mais escuro ajuda no contraste da zona mais iluminada do rosto e, por isso, é que tem um lado mais intenso e outro mais claro.

Nada disto seria assim se desenhasse estas pessoas numa esplanada de café. Os desenhos estão no meu caderno, que é privado, mas são desenhos para mostrar, para ensinar, para partilhar, estando, portanto, no domínio da esfera pública.

Promete este fim de semana em Esposende. Tantas comunicações e tão boas. Apareçam!


terça-feira, julho 19, 2016

50 anos de aço sobre o Tejo

No passado sábado houve um encontro de diários gráficos organizado pelos USkP, em parceria com as Infraestruturas de Portugal, para desenhar a Ponte 25 de Abril. O motivo era simples: a 6 de agosto celebram-se 50 anos daquela gigantesca obra de engenharia americana sobre o nosso rio Tejo.




Tinha ficado com a ideia que se ia subir ao pilar Norte da ponte, mas afinal não havia autorização para isso. Ficámo-nos pelas bases de amarração que são uns blocos de uma beleza incrível. 
Em conversa com o Eng.º Pedro Abegão fiquei a saber que um dos engenheiros americanos que cá esteve em 1966 fez um diário. Está numa Universidade da Califórnia. Provavelmente tem desenhos e seria lindo recuperá-lo para o museu que vai nascer nesta zona no próximo ano. Vi o projecto. Vai ser formidável!


A escala é monumental, mas sentia-me a desenhar brinquedos para o Matias! :)


Da parte da tarde fomos para a margem Sul e ficámos espalhados pela pequena estrada que passa por baixo da amarração Sul. A vista era incrível e as toneladas de aço por cima de nós também...
Desviei-me um pouco para a direita, coloquei-me à sombra e fiz duas tentativas da vista da ponte. Nada contente com o resultado fui ter com o Mário Crispim e desenhei a mesma vista dele, mas queria apanhar a estrada...
O Eng.º José Costa Nunes está responsável pela obra do Museu (na margem Norte). Pedi-lhe para o desenhar e a páginas tantas:
- Então e não é possível ir desenhar num dos pilares da ponte? 
- Não é impossível... - e antes que acabasse de responder:
- Vocês vão lá muito frequentemente? - perguntei eu.
- Duas a três vezes por ano. Mas olhe, fale com o Nélson que depois tentamos arranjar isso.
- Ok, assim farei. - e lá continuei o desenho.



Na parte final, com tanta máquina linda para desenhar por ali, atirei-me a esta bomba de água de 1929. O Filipe Almeida estava lá dentro a desenhar uma motorizada e depois juntou-se a mim quando comecei a desenhar o edifício das IP. Estava tanto calor que disse ao Filipe:
- Este espaço lembra-me a África Colonial. Muito calor, muita vegetação, o edifício rasteiro... sinto-me em África...

segunda-feira, julho 18, 2016

Alto contraste


O Exame Nacional de Desenho A de 2016, na 1ª fase, tinha um exercício que pedia o uso da tinta da china em alto contraste. A maioria dos alunos misturou-lhe água (como tantas vezes se faz), para ganhar tons cinza intermédios e ajudar na volumetria, mas, como o enunciado pedia alto contraste, quem não utilizasse apenas o branco e preto seria classificado com zero pontos num dos três critérios de avaliação. Há que ler o enunciado com atenção.

Na semana passada vi o exame de uma aluna que ia pedir reapreciação. Era de outra escola. 
Neste exercício, ela também diluiu a tinta da china, pelo que foi penalizada, mas qual não foi o meu espanto ao constatar que nos outros dois critérios ela também tinha sido classificada com zero valores quando o desenho respeitava (até com bastante qualidade) tudo o que era pedido! Exame mal avaliado. Só neste exercício, facilmente subia 3 a 4 valores...

Não consigo entender o que se passa com alguns professores examinadores. Só vejo uma solução: se temos de avaliar desenhos com tinta da china, então temos de desenhar com tinta da china, passar pelas dificuldades, errar, acertar, insistir, penar. Só assim conseguiremos ser justos a classificar.

quarta-feira, julho 13, 2016

E o futuro?


Afinal não vou partilhar todos os desenhos que estão no hotel do Funchal do Cristiano Ronaldo. Não dá...

Partilho o último, aquele que está virado para o futuro! 
Como se termina uma sequência de desenhos em torno da vida do CR7? O céu é o limite, claro, mas e fazer isto de forma a mostrar um futuro audacioso, risonho, cheio de sucesso? Optei por ele a abraçar a vida de empresário em contexto citadino, de grande escala, cheio de projectos a roçar o céu... que é o limite dos gigantes!

segunda-feira, julho 11, 2016

Portugal campeão europeu


Este desenho também está no hotel do Cristiano Ronaldo no Funchal. Assinala a atribuição da Ordem do Infante D. Henrique (que já recebeu duas vezes).
Hoje, quando a seleção campeã europeia chegar a Lisboa, todos os jogadores vão receber a Ordem de Comendador pelas mãos do presidente da República.

Que loucura! Portugal é campeão europeu de futebol!!!

domingo, julho 10, 2016

Aqueduto de Águas Livres


Desenho de 2016, galho e tinta da china, no workshop do Kiah Kiean.


Desenho de 2015, caneta Uni Pin 0.1, para o livro de Fernando Pessoa: Lisboa, o que o turista deve ver, edição Centro Atlântico.

sábado, julho 09, 2016

Quinta do Mocho


Muitos não sabem, mas, durante 6 anos, eu e a Ketta fizemos voluntariado no Bairro do Zambujal. Ensinávamos a tocar viola às crianças e adolescentes. Não era fácil porque eles não tinham guitarra em casa para praticar, pelo que só uma vez por semana é que tocavam...
Uma irmã da Ketta (que agora é professora na universidade de Birmingham) e a madrinha do Matias davam aulas de alfabetização para adultos (cabo-verdianos e portugueses). A tese de mestrado de que falei aqui há uns dias era exactamente sobre isso: ensinar português como língua não-materna a quem não sabe ler e escrever.

Desde 2011 que deixámos de ter disponibilidade para ir ao bairro do Zambujal, mas temos lá amigos para a vida. Às vezes falamos ao telefone, matamos saudades e quando nos vemos é uma festa!

Por isso, ir desenhar à Quinta do Mocho foi um reavivar de memórias. Que lindo projeto artístico que eles têm. Dá vontade de replicar aquilo em todo o lado...

quinta-feira, julho 07, 2016

Pestana CR7 Funchal


E Portugal está na final! Hoje os portugueses terão um dia feliz, bem disposto, "p'ra cima"! Em todas as tascas vamos assumir-nos para ganhar a final, dizer que somos os melhores, mais coesos, a defender bem, a atacar com frieza...
Lembro-me muito bem do entusiasmo que houve no Euro2004. Fui voluntário e estive em todos os jogos da seleção em Lisboa. Era uma loucura e aquela final foi perdida sem sabermos como...
Agora será diferente!

Tal como prometido, publico mais um desenho que fiz para o hotel Pestana CR7 no Funchal. Se o outro era dedicado à seleção, o tema deste era o Real Madrid.

Foram dez desenhos ao todo, cada um sobre um momento da vida do nosso Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!

terça-feira, julho 05, 2016

IPO :: leilão


Há uns meses valentes, os USkP responderam ao convite do IPO e fomos lá desenhar. Houve ainda o desafio de oferecermos um desenho para se fazer um leilão sendo o valor recolhido oferecido integralmente a eles. Nesse encontro fiz apenas dois desenhos: este para o leilão e um outro que está no caderno e por lá vai ficar.

O encontro foi em janeiro. Está na hora de se fazer o leilão porque toda a ajuda conta!

sábado, julho 02, 2016

Pestana CR7 Funchal


Quando recebi o convite fiquei mesmo muito honrado. O melhor jogador do mundo queria 10 desenhos meus em todos os quartos do seu novo hotel do Funchal, uma parceria com o grupo Pestana de nome Pestana CR7 Funchal.

Vamos lá a isso. Quanto maior a pressão, melhor me saem as coisas. Fiz os dez desenhos a tinta da china e foram depois reproduzidos com uma técnica inovadora de acrílicos.

Sei que não era suposto revelar os desenhos, mas agora que Portugal chegou às meias finais do Europeu, achei que não fazia mal desvendar um deles; o que dediquei à seleção nacional. 
Se passarmos à final, mostro mais um. 
Se formos campeões, saltam todos cá para fora!!

Vamos lá Portugal!!!

sexta-feira, julho 01, 2016

Back to Lisbon


É sempre bom regressar a casa. Por muito que se goste do local onde estamos, sabe sempre bem regressar. A viagem foi longa, muito longa, mas quando se regressa com as baterias carregadas, sentimos que podemos dar conta de milhares de tarefas, que nos podem pedir tudo, estamos prontos para arregaçar as mangas e fazer o que há para fazer, get things done, como dizem os americanos! 



Descolar de Díli pela segunda vez deixou em mim o sentimento que lá havia de voltar. Hoje não sei. A vida dá tantas voltas que é mesmo um mistério o que pode acontecer...

Em 2009 filmei a aterragem e editei depois com uma música timorense. Não há segundas oportunidades para viver bem cada momento. Desenhar, escrever, fotografar, filmar, são auxiliares que me ajudam a preservar melhor essas memórias.


O Sudeste Asiático é isto: ilhas paradisíacas no meio do oceano! Que outra melhor ideia podemos ter da nossa vida senão esta mesmo: um paraíso a ser descoberto constantemente? Quando damos conta, aparecem pequenas maravilhas à nossa frente. Quando pensamos que já encontrámos algo valioso, há que recomeçar de novo, voltar a estar atento e olhar para tudo como se fosse a primeira vez...
Tem sido essa a lição que tenho aprendido com as minhas viagens. Quanto mais as faço, mais pequeno me sinto, mais humilde me sinto, mais encantado com o dom da vida me sinto, mais habitante de um planeta sem fronteiras me sinto.

quinta-feira, junho 30, 2016

Os timorenses


Sou casado com uma timorense, portanto, a minha opinião é completamente parcial...

Quanto mais leio sobre este povo, mais entusiasmado fico.
Quanto mais os conheço, mas intrigado fico.
Quanto mais vivo com eles, mais certezas ganho que os habitantes deste planeta deviam pensar mais no que nos aproxima do que o que nos afasta. Nós portugueses, temos uma identificação genuína, emotiva e quase inexplicável com este povo que vive do outro lado do planeta, em metade de uma ilha.

Já aqui na Europa, muito mais perto, os povos teimam em acentuar as diferenças...

Sobre o desenho: a Belinha vive no CJPAV, em Taibesse, acolhida pela Rosalina Dias. É inteligente mas tímida. De sorriso fácil, mas envergonhada. Veio para Díli à procura de uma vida melhor. Foi uma das raparigas que aprendeu a desenhar com mais facilidade. Muito concentrada...
Há pessoas inteligentes em todo o lado. Todo o lado!

quarta-feira, junho 29, 2016

Praia de pescadores



Há sítios que, por mais que tente desenhá-los, nunca vão conseguir transmitir a beleza que têm.
O desenho fica outra coisa, é certo, igualmente valiosa, mas a sensação de pisar aquele pedaço de terra (neste caso coberto de água salgada) é incomparável. 
Esta praia em Timor, escondida, ali mesmo nos arredores de Díli, só com este barco de pescadores amarrado é um desses sítios...

terça-feira, junho 28, 2016

praia de pescadores em Díli


O penúltimo dia em Timor foi dia de praia. As primeiras que se encontram são de pescadores.

Há qualquer coisa neste desenho que me leva o pensamento para a importância da honestidade e da transparência. Ser pescador é uma profissão tão relevante como qualquer outra. É mais física, mas de intelectual tem também muito. Ali, sabedoria não é académica, mas da vida, da experiência. Não é por acaso que se chamam mestres aos pescadores mais experientes que comandam o barco.

Hoje, uma amiga vai defender a tese de mestrado dela. Conseguiu. Parabéns! 
Eu continuo com a minha atrasada. Outras coisas se têm colocado à frente. O desenho, viagens, ilustrações, desafios irrecusáveis...
Mas nem toda a sabedoria é académica. A minha também é, mas não apenas. Esforço-me para colocar a sabedoria da vida em pé de igualdade com a dos livros.

segunda-feira, junho 27, 2016

Casa de Balide, Timor-Leste


Foi nesta casa de Balide que a Ketta nasceu e viveu até aos 4 anos. Foi também ali que os pais viveram até virem todos para Portugal em 1986. Foi por aquela porta que entrei pela primeira vez numa casa timorense. Estávamos em 2009 e tinham passado apenas 10 anos do referendo que deu lhes a independência da Indonésia. Lembro-me muito bem dessa primeira refeição. Comi apenas arroz e legumes. A carne era demasiado dura e à noite adormeci com fome...

Seis anos depois:
Balide, 30 de agosto de 2015
Em 2009 desenhei esta sala da casa de Balide. As horas demoravam a passar e havia tempo para descansar verdadeiramente, ler, desenhar, pensar e reflectir. Agora, em 2015, queria desenhar de novo esta sala para perceber se continuava tudo igual...

Mas não continuava. As crianças que enchiam a casa já não estavam lá. Apenas o bebé recém nascido era agora uma criança. As outras estavam todas na universidade, umas na Indonésia, outras em Timor. A mais nova, Mazi, estava agora a terminar o secundário e com planos de vir para Lisboa. Encorajei-a a dar o litro, a falar mais português e a lutar pelos seus sonhos!

É atribuída a Heráclito de Éfeso a frase: 
A mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
Não sei se é mesmo dele ou se é mito urbano, mas parece-me muito mais interessante esta outra que é mesmo dele: 
Não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós também já somos outros.

Quando penso nos filósofos gregos, lembro-me do tempo disponível que tinham para aprofundar os seus pensamentos. Que luxo! Tempo é sempre o que nos falta...
Fui à procura do meu post de 2009 sobre o desenho que fiz e descobri que reflecti exactamente sobre o tempo... 
Há viagens que nos transformam profundamente. Ir a África em 2002 foi um delas. Ir a Timor em 2009 também. Voltar lá em 2015 foi como querer entrar no mesmo rio, mas Heráclito tinha razão...

domingo, junho 26, 2016

Viagem a Ataúro


Porto de Díli, 29 de agosto de 2015
Ir a Ataúro revelou-se uma verdadeira aventura! O barco partia às 9h, mas era preciso estar no porto às 7h para garantir lugar sentado. Havia tempo para desenhar, pensei eu... pois é, mas pelas 7h45 tive de ficar com o desenho inacabado. A entrada no barco foi caótica com todos a tentarem entrar ao mesmo tempo. 2h30 de viagem com muito fumo de gasóleo e um navio completamente sobrelotado de pessoas, carros, camiões, animais, cereais, algas, lenha, etc., etc., mas com a adrenalina de visitar um novo local pela primeira vez! Ataúro é mesmo muito isolado e era para lá que se enviavam os prisioneiros. Merecia uma visita bem mais prolongada para ficar com uma opinião mais estruturada.


Foi em Ataúro que conduzi, pela segunda vez, um carro com o volante do lado direito (a primeira foi também em Timor, mas numa viagem de Maubisse para Díli). Fomos conhecer o P. Chico, italiano a viver em Timor há décadas. Tudo rápido, sem tempo porque o barco partia dali a pouco tempo, mas com uma vontade enorme de não deixar escapar o momento.

A ilha de Ataúro despertou em mim a curiosidade. Timor desperta cada vez mais! Investiguei e encontrei este vídeo sobre uma reportagem que a RTP fez em 1975, logo após o confronto entre a Fretilin e a UDT, e uns meses antes da invasão militar indonésia, por uma equipa liderada pelo jornalista Adelino Gomes. Vale a pena ver!



sábado, junho 25, 2016

Catedral de Díli


Díli não é uma cidade muito grande. Na escala do país é, mas para quem está habituado a circular em cidades maiores, é normal ficar-se com uma sensação familiar ao passarmos várias vezes nas mesmas ruas quando andamos pela cidade. Foi isso que aconteceu com a catedral de Díli. Ficava sempre a ideia de lá voltarmos para desenhar, mas os dias iam passando e parecia que era tão perto que ficava sempre para amanhã. O mesmo já tinha acontecido na viagem de 2009.

Até que um dia decidiu-se e não se voltou atrás: fomos lá, eu, a Ketta, o Matias e os P. Pedro e Marcos. 
Catedral de linhas simples, interior ainda mais simples e difícil de desenhar, a cobertura era muito bonita porque fazia lembrar as casas tradicionais timorenses. O meu desenho ficou um desastre nesse aspecto. O Matias dormia no carrinho e estava um Sol tórrido. O único local no exterior à sombra era este ponto de vista que não permite ver em condições a beleza da cobertura. Estava também com uma moleza muito grande... e ficou assim o meu desenho...