domingo, janeiro 01, 2017

Ano ímpar é sempre bom!

Há uma certa vantagem em estar constantemente atrasado na publicação de desenhos. De alguma forma, eles ficam no caderno a ganhar corpo, longe da vista, e a deixar que as memórias mais insignificantes se apaguem lentamente...
Depois, quando abrimos o caderno, parece que um mundo novo se revela e apenas as memórias boas vêm ao de cima.



Liverpool, há cinco meses atrás.
Edifício simétrico bem ao estilo neoclássico, mas ficou a meio no meu caderno. Não houve tempo...


Liverpool, no mesmo dia.
Docas.
Sentei-me para beber um café. Paguei um balúrdio. 
A escultura equestre de Eduardo VII ficou assim de costas para o majestoso edifício do Porto de Liverpool.
Desenho muito rápido. Não havia tempo...


5 de agosto de 2016: o mesmo dia de há cinco meses atrás.
Edifício maravilhoso, bem arrojado.
Entrei e perdi-me a visitar a história da cidade. 
Desenhei rapidamente o esqueleto deste alce. Não houve tempo para mais...


E é assim que começo os posts de 2017: com desenhos do passado (são todos) e sem tempo nenhum.
Mas é assim que quero 2017 para mim: desenhos de momentos que teimam em escapar-me e sem tempo nenhum para os fazer. 
Porque parar é morrer, aprendi eu com o meu avô. 
Há que tentar que a areia não me escape tanto por entre os dedos.

Chegou um grande ano! 

sábado, dezembro 24, 2016

Como se desenha o Natal?


É isto o Natal.
Uma vista de dentro lá para fora.
Teimamos em olhar para as quatro paredes confortáveis quando lá fora é que reina o esplendor.
Sem abrir as portas ao que espera por nós, ficamos apenas com o desfocado imediato.
Há que dar o salto. Ousar olhar mais longe. Ainda que pareça impossível. Ou se sinta uma loucura a invadir-nos as veias. A pulsação a saltitar de incerteza...

É isto o Natal.
Dar vida nova. Nascer de novo.
Dar salvação ao que sonhamos há tanto tempo. Dar-lhe rosto focado, colocá-lo na luz. Deixar a sombra confortável e, com todas as fragilidades, deixá-lo amadurecer. 
Pequeno e incerto, mas muito promissor. Deverá ser assim o sonho que desejamos concretizar. Deixar que os outros falem dele, o elogiem, sem medo de o perder, porque, só sendo de todos, poderá ganhar o sentido pleno.

É isto o Natal. 
Só pode ser isto.

quarta-feira, dezembro 21, 2016

Lancaster Castle


Há uns anos, creio que ainda em 2014, o Nélson Paciência meteu-se num projecto de voluntariado bem interessante: fazer aulas de desenho com presos. Era necessária uma carta da associação USkP para oficializar o pedido e tornar os USkP parceiros das prisões. Fiz-lhe a carta, claro. Era também para essas situações que a associação existia. Falámos também de alguns exercícios que poderiam funcionar. Este foi um dos que lhe recomendei. Não sei se o chegou a usar.

No passado agosto, em Lancaster, Norte de Inglaterra, visitei o antigo castelo da cidade que tinha sido transformado em prisão. Funcionou assim durante décadas e, recentemente, foi recuperado como património da cidade e está aberto ao público. Se por fora impõe respeito pela construção, o pátio interior também é muito agradável. É, no entanto, de pasmar quando se olha para o interior dos espaços. Frios e com uma recuperação interior medonha, muito desgastados pelo uso, sem vontade nenhuma de os percorrer, acabei sentado no pátio a desenhar e a pensar no projecto do Nélson.

Coincidência ou não, a primeira vez que ele o apresentou em público foi também em Inglaterra, durante o Simpósio dos USk em Manchester. A conferência dele, que foi um sucesso, pode ser vista aqui.

Incrível como a vida de algumas pessoas passa tão rapidamente de um castelo fantástico, cheio de pompa e robustez, para uma prisão de onde não se pode sair.

Bem hajas Nélson, por teres levado o desenho como opção de viagem a quem só tem livre o pensamento.

quarta-feira, dezembro 14, 2016

Windermere

Voltando aos desenhos de Inglaterra.
Com uma semana em Lancaster, decidimos visitar um dos locais mais recomendados do Lake District National Park: Windermere


O mais apreciado é a viagem de barco. 
Os turistas são bastantes, o que torna a pequena vila algo agitada.
O frio era tanto que só apetecia beber chocolate quente, chá, croissants com chocolate... enfim, coisas quentes ou calóricas.
O barco era lindo para desenhar. 
Fui lá fora, mas não aguentei o frio.
Escolhi a vista pela vidraça, embalada pela ondulação...


O bilhete dava direito a visitar um aquário.
Chegados ao destino, o aquário era uma desilusão. 
Hora de almoço. Pedimos fish & chips. Outra desilusão.
Lição aprendida: tudo o que é montado para o turista é uma perda de tempo.
Vale-nos, a nós desenhadores, a possibilidade de desenharmos tudo o que nos rodeia.
Mas o estado de espírito também passa para os desenhos...


Regressados de barco, em terra firme, houve algum tempo para desenhar detalhes da pacata vila.
Chovia imenso.
As lojas de roupa em 2ª mão eram as melhores.
Comprei lá duas boinas. 
Enquanto esperava que a Ketta, a Marisa e a Paula se despachassem das compras delas, eu e o Matias ficámos a desenhar...



A arquitectura inglesa tem um denominador comum. 
Há uma imagem de marca.
Sabemos que estamos em Inglaterra quando olhamos para os telhados.

Comecei a desenhar.
Elas chegaram entretanto.
Apanhámos um táxi para a estação de comboio. A pronúncia dele era americana. Foi viver para ali e passou a ser taxista ali. Devia ter uns 30 anos. Antes de ter tempo para lhe perguntar: why?, chegámos à estação e o meu desenho inacabado passou a ser uma metáfora das vidas que dão uma volta e vão à procura de preencher os vazios noutros lugares...

De repente, uma viagem turística tornou-se uma oportunidade para ir ao encontro daquilo que verdadeiramente interessa.

O desenho ajuda nisso, pois claro, sobretudo se tiver sugestões em vez de ideias de bandeja...

domingo, dezembro 11, 2016

Foz Côa - parte 10

Últimos desenhos de Foz Côa.


A Pousada da Juventude de Vila Nova de Foz Côa tem uma vista deslumbrante para a paisagem montanhosa do Côa. De manhã, a neblina e o ar super fresco davam aos desenhos um toque gélido e húmido, mas era impossível não tirar as mãos das luvas e desenhar esta vista...
Alguns alunos fumavam para combater o frio. Outros, poucos, acompanhavam-nos nestes desenhos frios de espera pelo autocarro...


Em Freixo Numão, o guia que nos acompanhou às ruínas do Prazo, o tal filho da terra, foi logo desenhado durante a pequena apresentação que nos fez no museu. Utilizei o lápis de sanguínea e depois acrescentei o de grafite. Meia hora depois, serviu este desenho para explicar como se pode preencher rapidamente uma área com mancha (ali a zona da barba), mas também ter traços mais assumidos e expressivos (ali a zona do cabelo), sem nunca descurar a dinâmica da linha (o perfil do rosto e a orelha).
Depois, já nas ruínas, um pequeno apontamento a caneta do que resta da entrada principal do mercado romano. 


Na verdade, na verdade, este não foi o meu último desenho de Foz Côa, mas foi o meu último desenho neste caderno. Depois do almoço em Mêda, enquanto algumas alunas desenhavam tratores (a da esquerda está mais a descansar do que outra coisa), eu, como tinha pouco tempo, desenhei-as a elas, de pé a olhar para baixo.

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Foz Côa - parte 9

 A visita noturna às gravuras da Penascosa foi absolutamente sem palavras!


Estava escuro, muito escuro.
Pastel de óleo branco e aguarela.
Luzes dos telemóveis.
Mosquitos.
O caderno como local exploratório.


A tridimensionalidade dada pelos cornos.
Perceber que estas linhas gravadas estão invioladas desde há 20.000 anos.


Sobreposições.
Mais sobreposições.
E muitas suposições...

sexta-feira, dezembro 02, 2016

Foz Côa - partes 7 e 8


A arquitectura e a paisagem.
Voltas e voltas a pé para a tentar agarrar.


Mais de 20.000 anos depois, alguns futuros artistas pisaram o mesmo território que outros pisaram há tanto tempo...
Desenhei-os, claro. Não sei se os poderei voltar a desenhar no futuro.

É uma sorte imensa fazer parte deste grupo de pessoas que se dedica à Arte!

domingo, novembro 27, 2016

Foz Côa - parte 6


Jantámos na Pousada da Juventude.
Eram lulas estufadas, mas os alunos deixaram quase tudo no prato.
Dormi mal, mais uma vez - a penosa sensação de estar acordado a noite inteira...
No outro dia de manhã, os alunos estavam com olheiras - tinham dormido pouco, mas por opção...
Voltámos ao museu. A integração da arquitectura na paisagem assim o pedia.
Pedimos-lhes que tirassem os phones - o som da Natureza é que devia imperar.

A arquitectura é majestosa, mas muito bem integrada.
Fiquei rendido.
Usei apenas as canetas preta e cinzenta.
Os desenhos foram-se acumulando e interligando.
Estava frio, mas também sol.
Sentia-me uma formiga no Vale do Côa.
Encolhido do frio, mas com a força do desenho.

sexta-feira, novembro 25, 2016

Foz Côa - parte 5


Estava um frio de rachar em Marialva.
Tirei a minha manta polar azul da mochila.
Os alunos riram-se de mim.
Disse-lhes que tinham era inveja.
Tinta da china com aparo + lápis de cor.
Estava a ficar escuro e os focos de iluminação acenderam-se.
Enrolado na manta, entreti-me a colorir às escuras.
Que frio... não consigo continuar a desenhar. - diziam-me eles.
Trazer uma manta para um lugar frio não é sinal de velhice, mas de sabedoria. - respondi-lhes.


O final de tarde acabou comigo cheio de frio e alguns deles enrolados na minha manta. :)
O autocarro de regresso à Pousada tinha ar condicionado.
A manta, só a voltei a ver no dia seguinte de manhã...

quarta-feira, novembro 23, 2016

Foz Côa - parte 4


No segundo dia de trabalho deixámos o Vale do Côa e fomos fazer parte do circuito arqueológico de Freixo Numão. Acompanhou-nos um guia fabuloso, "filho da terra" e cheio de entusiasmo em partilhar o seu conhecimento. 
- - meia hora de caminhada para lá - - 
Nas ruínas do Prazo, que têm vestígios Neolíticos, mas sobretudo Romanos, a técnica a utilizar era a Sanguínea, que poderia ser conciliada com qualquer outro material. Eu optei por usar o lápis de grafite como complemento.
- - meia hora de caminhada para cá - -
A conversa com o guia para cá foi mesmo muito boa. Concluiu-a ele assim:
- Para mim o mais importante é o que estamos agora a conversar. O resto é tudo efémero...


Saímos das Ruínas do Prazo já perto da hora de almoço e fomos comer a um dos restaurantes mais recomendados da zona: o Sete&Meio, em Mêda. Quando telefonei para marcar mesa (uns meses antes), disseram-me: 
- Então se querem um prato típico, só pode ser a posta dos pobres.
- Então é esse mesmo que queremos!
E confirmou-se. De pobre só mesmo o nome. Saímos do restaurante a rebolar e com vontade de uma sesta...

Havia, no entanto, uma nova vila para desenhar: Marialva. O desenho acima anuncia isso mesmo, mas o texto sobre ele fica para o próximo post.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Foz Côa - parte 3


A primeira página de uma gramática dos símbolos a que chamamos Arte.

Sempre soube que Foz Côa era importante, mas ter estado lá fez-me ir muito além dessa informação.
Antes de Foz Côa, os arqueólogos acreditavam que as gravuras e pinturas rupestres aconteciam nas grutas e apenas raras vezes em céu aberto. Depois de Foz Côa (e porque as gravuras se preservaram debaixo de terra durante mais de 20.000 anos), percebeu-se que as gravuras e pinturas a céu aberto é que eram o comum e nas grutas a excepção. As margens dos rios do Vale do Côa deviam estar todas gravadas, mas muita coisa se perdeu. Aquela zona seria, imagine-se, o centro da Península Ibérica, onde os nossos antepassados iam fazer trocas comerciais, cruzar famílias, festejar e sabe-se lá mais o quê...


Mas o mais fascinante é perceber que as gravuras não eram feitas ao acaso. Existem rochas completamente saturadas de gravuras, quando, mesmo ao lado, estão rochas lisas sem uma única incisão durante todos estes milhares de anos. Sim, é arrepiante de ver. Havia uma intenção de as sobrepor. Também não eram rituais de caça, como durante muito tempo de imaginou. Descobriram-se sedimentos de ossos de coelho e de peixe entre despojos de acampamentos pré-históricos. Caçar estes animais de grande porte não era o dia a dia deles...

Qual a verdadeira razão? 
Porque é Pré-História, não há conclusões fechadas, só interpretações...

domingo, novembro 20, 2016

Foz Côa - parte 2


Quinta feira de manhã, antes de entrarmos no museu, fomos ao terraço e ficámos deslumbrados com a vista panorâmica.
O João Moreno, desenhador de excelência com quem tenho o privilégio de dar aulas nas Doroteias, ensinou-nos a todos o modo como usa as aguarelas.


Estava um vento fresco, mas que não conseguia fazer frente ao Sol da manhã.
Os alunos espalharam-se e, por largos momentos, só se ouvia a Natureza.

Depois entrámos no museu para um visita guiada com um dos arqueólogos que participou nas escavações nos anos '90. Assombrosa visita. Não deu tempo para desenhar muito, apenas os animais mais representados em Foz Côa: cabra, auroque, cavalo e veado.

sexta-feira, novembro 18, 2016

Foz Côa - parte 1



O Departamento de Artes Visuais do Colégio de Santa Doroteia organiza, todos os anos, uma viagem de artes durante quatro dias. O objetivo é reforçar a relação entre os alunos todos do secundário de Artes (para que funcionem como um grupo e não como turmas separadas), mas também ganhar ritmo de desenho num local fora de Lisboa. Este ano fomos a Foz Côa!
Viagem de comboio até Campanhã e depois até ao fim da linha do Douro: Pocinho (viagem deslumbrante!).
De Lisboa ao Porto desenhei alguns alunos.
Do Porto ao Pocinho, entreti-me a conversar com algumas pessoas e acabei por desenhar o Sr. Manuel Marcelino Monteiro, que ia até à Régua para jogar umas cartas com os amigos...


Jantámos no restaurante do museu Côa. Fenomenal.
Dissemos aos alunos que iam aprender várias técnicas de desenho. No caderno experimentava-se e depois, em folhas soltas, desenhava-se com mais cuidado. Como faço sempre o que lhes peço, também eu desenhei em folhas soltas e usei o caderno só para uns borrões. Mas assumi que as folhas seriam como um Leporello: os desenhos iam interligar-se todos.



E aqui estão as duas primeiras folhas ligadas: pessoas no comboio + a paisagem do Côa + uns apontamentos escritos e a garrafa de vinho.

Nos próximos post's revela-se um pouco mais do que aí vem...

segunda-feira, novembro 07, 2016

Lancaster, August 2017


Chegámos a Lancaster num dia bem chuvoso e frio.
Normal. Inglaterra é assim.
Dormimos e curámos o cansaço de Manchester.
Sol. Luz muito bonita no dia seguinte.
Casa de família.
Risos de crianças a brincar lá fora.
Sentimento de querer ficar ali durante um ano.


Subimos à zona mais alta.
Vista para os lagos.
Monumento/basílica/museu. Este.
Afinal não tinha descansado tudo.
Sono, muito sono.


Vista do parque infantil.
Muitas crianças.
Rapidez. Algum desinteresse.
O Matias a brincar vinha, de vez em quando, espreitar.


Curiosidade.
Outras crianças a bisbilhotar.
You are very good on drawing.
Sorri.
Saudades de ser criança...

sábado, novembro 05, 2016

Hunting and Gathering with Fred Lynch

O Fred Lynch faz parte do Comité de Educação dos USk e é uma honra tê-lo na equipa.
Já há algum tempo que seguia os resultados do curso que ele faz em Viterbo, Itália, com os seus alunos do Monserrat College of Arts, a que chama: Drawing Viterbo.

No Simpósio de Manchester, o workshop dele foi um dos que queria mesmo fazer. Ele chamou-lhe Hunting and Gathering: sketching vignettes and lists.
Começou com uma pequena apresentação em sala, explicando o paralelismo entre o desenho de uma letra e o desenho seletivo que podemos fazer, dando especial atenção à escala e aos espaços vazios.


Saímos para a rua à caça destas pequenas vinhetas, tentando contar alguma história. 
Fui.
Começou a chover.
A Ea Ejersbo, amiga desde 2011, encontrou-me: 
- Do you have time? I need to talk to you.
- We can talk now if you want.
- No! After your sketch...
- After my sketch I will not have time.
Encharcados, ficámos a conversar sobre os USk, opiniões, sentimentos.
Voltei para a sala, para a partilha e crítica.
Não me safei mal, mas podia ter sido melhor.


Voltámos para a rua. Agora não para fazer pequenos desenhos rápidos, mas para escolher um tema e fazer a vinheta.
A Fernanda Vaz de Campos, que tinha ficado na sala a desenhar da janela, acompanhou-me.
No meio de tanto inglês, foi bom falar um pouco de Português.
Tirou-me esta fotografia.
Desta vez não choveu.
Voltámos para a sala.
Safei-me melhor.


Nova saída para a rua. Desta vez para escolher uma coleção.
Fui de novo com a Fernanda Vaz de Campos.
Os dois escolhemos janelas.
Devia ter alinhado as minhas por baixo...
Voltámos para a sala.
Grande feedback do Fred. Grande instrutor. Sabe do que fala. 
Descobri que é daltónico: color blind, como dizem os americanos. Cego para as cores, palavra que faz mais sentido do que daltonismo, embora esta faça honra a John Dalton, cientista inglês que descobriu, entre outras coisas, a anomalia da visão das cores.

E é isto o Simpósio: aprender, aprender, aprender!

terça-feira, novembro 01, 2016

Lancaster + London


No Alfabeto Lisboeta 2016/17 andamos a trabalhar num caderno desdobrável, também chamado de leporello, nome do servo de Don Giovanni - o famoso mulherengo - pois era num caderno deste tipo que Leporello ia guardando/mantendo os nomes dos amores do seu mestre.

Pois bem, a verdade é que um desdobrável permite-nos fazer um registo muito diferente do habitual: sobreposições, contaminações de desenhos, cores ou até mesmo texto. Parece-me que o segredo é deixar sempre alguma coisa inacabada de um desenho para o outro e continuar as linhas como se de um apenas se tratasse.

Neste caso, o conjunto é tão grande que as diferentes histórias são difíceis de contar apenas num post. Comecei em Lancaster, terra inglesa bem típica a Norte de Manchester e terminei em Londres.

Abrir este caderno é como sentarmo-nos no sofá com uma bela chávena de chá a contar histórias de viagens. Não tem fim...

domingo, outubro 30, 2016

Manchester Symposium - opening reception

Num Simpósio, o estado de euforia é tão grande que, por vezes, quase nos esquecemos de desenhar.
Esta recepção a todos os participantes no grande salão da Câmara Municipal foi um desses casos. É o momento certo para encontrar velhos amigos, fazer novos, tentar ouvir e entender inglês com vários sotaques no meio de muito barulho, mas, sobretudo, é como sermos apanhados por uma onda gigante do mar: é só deixarmo-nos ir...


Estava à conversa com o Richard Briggs, australiano e instrutor num Simpósio pela primeira vez, quando, de repente, já estava a conversar com o Daniel Green e a Amber. Depois um casal amigo deles de Massachusetts. Depois o James Hobbs. Depois o Jason Das. Depois o Miguel Franco. Depois a Brenda Murray, a Suma CM e tantos outros que lhes perdi a conta. Só senti a falta do Gabi...


Entretanto a música começou. O pessoal sentado ali em frente (vêem-se bem: a Patrícia Assunção, o Rob Sketcherman, o Nélson Paciência, o Pedro Loureiro e o Miguel Franco) não perdeu a oportunidade de desenhar as violinistas! Depois os microfones ligaram-se. Estava mesmo tudo a começar. Estava a meio da sala, mas tinha de ir lá à frente tirar uma fotografia! :)


Voltei para onde estava e, como a concentração estava toda nas palavras que saíam pelas colunas, tirei o caderno e tentei desenhar o mais rápido possível este salão incrível cheio de gente que gosta de desenhar, vinda dos 4 cantos do mundo.
As vozes do microfone pararam. Bateram-se palmas e as conversas voltaram.
Ficou então assim o meu desenho, inacabado, mas cheio de memórias dessa opening reception!

quinta-feira, outubro 27, 2016

Manchester in watercolor



Admiro, há muito tempo, o trabalho da Marion Rivolier. Em 2013 ela veio a Lisboa e encontrámo-nos para desenhar juntos. Mostrou-me as aguarelas dela e fiquei rendido. Disse-me quais eram e onde se compravam online. Mandei vir 3 ou 4 e passei usar.

O ano passado, quando o Comité de Educação recebeu a proposta dela para dar um workshop no Simpósio em Manchester, a decisão de o aprovar foi unânime. Ela é mesmo uma mestre.

Motivado por tudo isto, inscrevi-me no workshop dela: paint like nobody's watching.
Percebe-se que andei à luta não é? No final, esgotadíssimo da batalha, cheguei a uma conclusão: tenho de comprar mais cores. 
You need to buy one light blue, at least! - disse-me ela no seu inglês afrancesado cheio de charme!

sábado, outubro 22, 2016

Manchester bridgewater canal


Este não foi o primeiro desenho que fiz em Manchester, mas o segundo.
Logo no dia de abertura, 27 de julho, da parte da tarde, foi marcado um Sketchwalk até um dos locais mais icónicos da cidade: the bridgewater canal.

O ambiente estava cheio de entusiasmo: pessoas a desenhar por todo o lado. Não havia espaço para mais ninguém, pudera, quase 500 pessoas num pequeno canal de água com um espaço estreito para passar. Se parássemos para falar com alguém, já estávamos a tapar a vista a alguém...
Seguimos caminho: eu, a Ketta e o Matias. Atravessámos por baixo desta grande estrutura metálica que suporta a ligação ferroviária entre Manchester e Liverpool (a primeira da história da humanidade!) e pensei: "É mesmo aqui. Vou fazer um desenho rápido no caderno gigante que comecei em Nova Iorque para ver se ele acaba de vez!"

Lancei-me o mais rápido que podia, mas a estrutura era demasiado complexa e acabei por ficar ali a desenhar mais tempo do que queria. Chegámos atrasados à fotografia de grupo. No dia seguinte, tudo ia começar mais a sério!

quarta-feira, outubro 19, 2016

Trip to England starting in Manchester


Com este Tyrannosaurus Rex, começo a contar as aventuras por terras de sua majestade.
Desenhado no Manchester Museum, durante esta actividade da Emma FitzGerald, ainda comecei um outro esqueleto de um peixe gigante, mas não tive tempo de terminar.

Alguns defensores ferrenhos do Manifesto USk dizem que se não desenharmos o contexto envolvente, não é urban sketching. Para não me envolver em polémicas, este desenho fica apenas por aqui e não vai para o USkP ou USk. Para mim, o mais importante mesmo, é gostar de desenhar! 

quinta-feira, outubro 13, 2016

Castro S. Lourenço - Esposende

Um bom exercício é tentar contar a história do desenho apenas com um título, um sub-título e um parágrafo. É isso que vou tentar fazer em três versões diferentes com estes três desenhos feitos em Esposende, julho passado.

CASAS NA ROCHA
Castros de comunidades com mais 5 mil anos são visitáveis ao público

Sobe-se por Esposende e parece que se viaja no tempo, para uma altura em que a caça e o fogo seriam a conversa do dia. Percebe-se que as comunidades usariam estas casas na rocha para se protegerem contra o frio da noite e se abrigarem. Construíam-nas no topo dos montes para nunca perderem a posição privilegiada de visibilidade sobre o inimigo. Embora nos pareça impossível viver num lugar assim, os nossos antepassados foram pioneiros, permitindo que chegássemos hoje onde estamos.


FEIRA MEDIEVAL EM ESPOSENDE
Castros de S. Lourenço acolhem mais uma feira da Idade Média

Embora a Idade Média tenha sido há muito menos tempo que a construção dos Castros de S. Lourenço, a vida que uma feira medieval dá ao local vale a pena pela revitalização do espaço e atração turística. Mulheres a tecer, homens a forjar o ferro ou a esculpir madeira levam-nos numa viagem pelo tempo e colocam-nos a imaginar como seria a vida destes nossos antepassados. Por vezes queixamo-nos da vida que levamos. Será que temos mesmo razão para isso?



URBAN SKETCHERS PORTUGAL EM ESPOSENDE
Cerca de 20 pessoas desenham os Castros de S. Lourenço

Vêm de várias zonas do país e o que mais gostam de fazer é desenhar em cadernos. Passaram um dia em Esposende e outro em Fão a desenhar, mas também a falar sobre desenho. O que os move é o desenho quotidiano, descomprometido e afirmam que qualquer pessoa pode aprender a desenhar. Se é um dos que afirma que nunca teve jeito para o desenho, arrisque-se a desenhar com eles. Vai ver que muda de ideias.

segunda-feira, outubro 10, 2016

Trump tower & Newark airport


Já praticamente sem tinta, chegam assim ao fim os meus posts sobre a cidade de Nova Iorque.
O meu voo era só à tarde e ainda deu tempo para ir ao encontro dos USk-NYC com ponto de encontro marcado para o Public Garden da Trump Tower que funciona como um jardim de inverno. 
Quem diria que o senhor que dá nome a este arranha-céus estava agora a candidatar-se na última fase para presidente dos Estados Unidos? Ainda bem que o gás se lhe está a acabar, tal como a minha tinta...


Quando cheguei ao aeroporto de Newark, com bastante tempo de antecedência, lembrei-me da minha viagem a Savannah em 2014. Na altura, apenas de passagem no aeroporto, olhei para o skyline de Nova Iorque e senti que um dia havia de lá ir. 
Como é relativa a nossa visão das coisas... 
Pensava eu que ia visitar/desenhar primeiro todos os países da África Negra antes de me dedicar à América do Norte quando a vida me troca as voltas e para o ano, se tudo correr bem, lá irei eu de novo para a terra do tio Sam.

quarta-feira, outubro 05, 2016

Grand Central Terminal


Antes de voltar a Memphis, a Elizabeth Alley deu-me o mapa dela de Nova Iorque. É um mapa mesmo bom, plastificado e com uma excelente explicação da rede de metro da cidade: impossível perdermo-nos com ele na mão! Depois, ainda me enviou uma mensagem a dizer que não podia deixar Nova Iorque sem desenhar o interior do Grand Central Terminal.

Fui lá. 
Entrei, olhei para a direita e estava um café com muito bom ar.
Enregelado, tomei uma das decisões mais sábias: sentar-me a beber um cappuccino e a desenhar confortável, custasse o que fosse preciso. Tratava-se do Cipriani Dolci - um dos míticos cafés de Nova Iorque. Custou-me os olhos da cara, mas pagou muito bem a temperatura quente, o conforto e o tempo que lá fiquei.

As pessoas engravatadas e muito bem vestidas chegavam, sentavam-se, reuniam, falavam, comentavam o meu desenho, levantavam-se de novo e iam embora sem que o lugar delas arrefecesse. O ciclo de vai-e-vem de gente é esmagador em Nova Iorque.

Soube muito bem parar no meio da confusão... a lembrar o conto de Edgar Allan Poe sobre o homem da multidão...