sexta-feira, novembro 19, 2010

Diário Gráfico: Portugal

Comboio: linha de Sintra

Hoje recebi um telefonema de uma empresa que me queria fazer um inquérito sobre a minha satisfação relativamente aos transportes públicos.
Numa escala de 1 a 10 em que 1 é muito desagradado e 10 é muito satisfeito... etc, etc...
Estão a ver o filme não é?

O que me apetecia dizer era isto:
- Gosto de ir de comboio porque posso ler enquanto viajo;
- Gosto de ir de comboio porque posso desenhar as pessoas de graça;
- Gosto de ir de comboio porque me possibilita reencontrar amigos e conversar como se não tivesse passado tempo nenhum;
- Gosto de ir de comboio porque posso dormir os minutos que queria ter ficado na cama de manhã;
- Gosto de ir de comboio porque me faz andar mais a pé;
- Gosto de ir de comboio porque me faz sentir que tenho uma preocupação ambiental;
- Gosto de ir de comboio porque gosto de ver pessoas de classes, géneros e origens diferentes a partilharem o mesmo espaço;
- Gosto de ir de comboio porque me faz desenhar mais;
- Gosto de ir de comboio porque me faz sentir parte do mundo real.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Diário Gráfico: Portugal

Nos arredores de Lisboa, num bairro social, numa quinta-feira à noite, um grupo de gente reuniu-se para debater ideias e trabalhar. Longe dos centros turísticos mas perto da vida real.

No desenho está um brasileiro, um argentino, uma portuguesa, uma angolana, cinco cabo-verdianas e dois luso-cabo-verdeanos.

Esta também é a nossa Lisboa. Tal como o Jean Yves Loude já tinha escrito no belíssimo Lisboa, na Cidade Negra.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Diário Gráfico: Espanha


Primeiro desenho no Moleskine que a Mafalda, minha aluna/amiga, me ofereceu no final do ano lectivo anterior.

Encostei-me à parede do Centro de Turismo da vila de Segovia e lancei-me no desenho. Esta praça que está entre mim e as fachadas que desenhava era muito frequentada por turistas e, nas arcadas, haviam cafés e esplanadas a servir de tudo um pouco, refeições, refrescos, gelados...
O céu estava azul e a temperatura bem alta. Do lado esquerdo, escondido por um pilar, estava um lindíssimo aqueduto construído nos séculos I e II. Para a direita ia a rua principal de Segovia.

Tudo isto ficou por desenhar...
Tudo o resto ousei desenhar...

domingo, outubro 03, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Aqui, na Plaza de Castilla, o monitor electrónico da central de autocarros indicava 9 minutos para o nosso bus chegar. Coloquei-me num pequeno separador no meio da estrada e lancei-me no desenho das Torres Kyo, na Porta da Europa.
Não deu tempo para mais e não quis terminar de memória...

Nos outros dias o monitor não nos deixava esperar mais de um ou dois minutos...
Tanta eficiência na rede pública de transportes dificulta a tarefa de desenhador urbano...

sexta-feira, setembro 24, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Fomos também a Toledo e a dúvida sobre o que desenhar era muito grande...
Enquanto uns queriam ir à catedral, eu e a Ketta preferimos ficar a desenhar pelas ruas. Ao contrário do que parece no desenho, esta "Calle del Nuncio Viejo" é bastante movimentada e talvez até um pouco mais estreita...

Bom, mas enquanto a desenhava (sentado em cima de uma boca de incêndio), dava-me conta da quantidade de turistas coleccionadores de espaços, terras e fotografias, que por ali passavam. É que passavam literalmente. Ninguém se deu conta dos ferros forjados das varandas, de como cada piso tem uma arquitectura diferente, de como os passeios estão velhos...
E tenho as minhas dúvidas se, entre os milhares de fotografias digitais, se vão dar conta destes detalhes...

É o nosso turismo mundial...

Abençoado desenho que me obrigou a ficar ali a olhar para uma rua qualquer em vez de correr todas as ruas e ruelas de Toledo, como que a coleccionar cromos de uma caderneta...

domingo, setembro 19, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Plaza Mayor em Madrid.
Tentei escrever umas palavras sobre ela aqui mas, na realidade, esta praça deixa-me sem palavras...

sexta-feira, setembro 17, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Tenho um grande problema com as livrarias (acredito que outras pessoas sofram do mesmo mal): não consigo sair de lá sem comprar nenhum livro...

Na do museu do Prado acabei por comprar dois livros. Um sobre desenho de alguns autores espanhóis e outro sobre As meninas de Velásquez em versão didáctico-pedagógica para crianças.

Também já deixei de acreditar que os compro para os ler mais tarde. Sei que os compro para os consultar mais tarde...
Não há tempo para mais! Tanto para ler e uma só vida...

Como disse o Almada:
Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve haver, certamente, outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido.

quarta-feira, setembro 15, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Se é verdade que com a Plaza Mayor fiquei maravilhado, esta Plaza del Sol também me obrigou a parar o olhar e registar os prédios e os espaços...
Seja feita justiça à dita praça dizendo que o meu desenho não consegue mostrar nada da sua beleza.
Diz lá numa placa que está no chão, que é dali que saem todas as estradas de Madrid. É o quilómetro zero. Engraçado com as coisas são. Mesmo ao lado estava um cartaz com publicidade ao conhecido sistema de navegação automóvel. A frase era algo deste género: "GPS, porque nem todos os caminhos vão dar a Roma!"

Interessante, não é?

sábado, setembro 11, 2010

Fotografia: Espanha

Estádio Santiago Bernabeu.

Inserido na malha urbana de Madrid, mesmo junto ao Paseo de la Castellana, este estádio tem um grande impacto em quem ali passa.
Galácticos brancos mas com bancadas azuis, cheias a cada fim-de-semana...
Quando vou a um estádio lembro-me sempre do Coliseu de Roma e do que lá se passava há dois mil e tal anos. Como é possível algo entusiasmar tanta gente ao ponto de, juntas, esquecerem-se de si próprias e agirem de forma alterada?

A publicidade e o marketing têm muito que aprender com o futebol...

Para os profetas da desgraça: é impossível mover multidões? Claro que não! Se duas dezenas de rapazes e uma bola o conseguem fazer, nós é que andamos todos a dormir...

sexta-feira, setembro 10, 2010

Diário Gráfico: Espanha

O ano lectivo está mesmo aí...
Preparar tudo e tentar que os detalhes façam a diferença é o desafio...
Isto custa... há que pensar a curto e a longo prazo!
Que alunos vou receber? Como vêm? Cresceram? Que expectativas têm?
Que professor sou eu neste momento? Sou eu mesmo ou há uma imagem que se tenta passar?

...

No Parque do Retiro de Madrid há um palácio de Cristal. Todo ele é vidro e aço. Transparente. Nada teme, nem os 40 e tal graus de Verão, nem o gelo do Inverno....
Ele está ali, transparente, a mostrar-se como é, com todas as suas debilidades e fortalezas.
A sua honesta grandeza tornou-me pequeno no acto de o desenhar. Nem me coube nas páginas...

...

É assim ser professor. É ser de aço e de vidro. Forte e frágil. Transparente, verdadeiro, honesto. Grande e pequeno...


terça-feira, setembro 07, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Com um abono turístico dava para andar em todos os transportes públicos de Madrid. Como é normal, nos transportes públicos vê-se de tudo, desde senhoras todas aperaltadas até aos mais desleixados seres...

Bom, mas o porreiro deste passe de 5 dias é que nos permitia andar de autocarro e ver Madrid a partir de um paralelepípedo com vidros e ar condicionado! No metro andava-se imenso só para trocar de linha e tudo tinha um ar bastante sujo...

segunda-feira, setembro 06, 2010

Diário Gráfico: Espanha

Centro de Arte Reina Sofia.
Excelente organização e o edifício novo é fabuloso!
Estava lá uma exposição fotográfica magnífica sobre Manhattan. Quase ninguém a estava a ver porque toda a gente queria ir para a sala onde estava a... Guernica!

Deliciados pelo momento e sentados na pequena praça de entrada do museu, optei por desenhar algumas varandas madrilenas que estavam ali mesmo em frente aos grandes elevadores de vidro.
Aquelas lonas que eles colocam à janela fascinam-me... dão-me vontade de entrar dentro de uma das casas e saborear daquela sombra...

Os elevadores, o museu, as exposições e a Guernica ficam concentrados ali no bilhete, que tem uma reprodução do Picabia.

domingo, setembro 05, 2010

Diário Gráfico: Espanha

25 de Agosto.
Só apetecia estar dentro dos autocarros com ar condicionado. De tal forma que até passámos a paragem da praça de touros.
Sentei-me num banco. Várias pessoas se sentaram ao meu lado. Queria ter demorado menos tempo, mas fiquei cerca de 40 minutos a desenhar.

Quando desenhamos, o nosso cérebro aprende!
Se quisermos tirar uma boa fotografia, o nosso cérebro também aprende. Está tudo relacionado com o tempo que disponibilizamos. Um bom fotógrafo demoraria até mais de 40 minutos para tirar uma fotografia. Estaria à espera da luz, dos contrastes, das pessoas certas a passar...

É tudo uma questão de tempo...

terça-feira, agosto 31, 2010

Fotografia: Espanha



Nesta última semana de Agosto estive em Madrid. Sabia que era uma cidade com uma escala arquitectónica impressionante e, por isso, queria experimentar percorrer e desenhar as suas ruas.

Aquela protecção (neste caso é um estore, mas costuma ser uma espécie de lona) que os madrilenos colocam à frente da janela para impedir o calor de entrar em casa torna as ruas tão especiais que é impossível lhes ficar indiferentes.

Embora comece esta partilha com uma fotografia, a verdade é que, desta vez, privilegiei os desenhos no diário gráfico.

Estava um calor abafante! Exactamente como eu gosto!

segunda-feira, julho 19, 2010



Estou a participar neste concurso:
Picture This: We Can End Poverty

As minhas fotografias são estas:






















Dêem uma olhadela e deixem um comentário. Pode ser?

sábado, julho 10, 2010

Fotografia: Coreia do Sul


O design de comunicação asiático é mesmo uma preciosidade.
A caminho de um templo, no meio da neve, lá estavam as informações necessárias com a inevitável ilustração!


quarta-feira, junho 16, 2010

Fotografia: Coreia do Sul



Estava um frio de rachar na Coreia e o gelo no chão, ao derreter, acabava por transformar o pó da terra em lama.

Este processo fascina-me:
- Se nós formos como o gelo, ao derretermos, acabamos sempre por transformar o que nos rodeia...
- Se nós formos como o pó da terra, se não tivermos quem nos proteja ou transforme, corremos o risco de sermos levados pelo vento para outras andanças...
- Se formos o gelo, podemos estar a proteger alguém que precisa, mas para isso corremos o risco de sermos pisados... ao ponto de nos entregarmos totalmente... (não é só assim que entramos mesmo na vida das pessoas?)
- Se formos o pó transformado em lama, as pisadelas vão deixar marcas mais profundas. Mas não lhes resistimos melhor? Até lhes fazemos deslizar as solas...

Estar na lama é sempre uma oportunidade de nos reconstruirmos, de nos reencontrarmos, de perceber quem nos transformou...

Estar na lama é mostrar as cicatrizes. É ser forte porque assumimos que estamos fracos! E é só a partir das nossas fraquezas que conseguimos superar-nos, transcender-nos.

Eu preciso dessa transcendência esta semana. Preciso da força do Hércules e da sabedoria de Platão...

... preciso da lama...

domingo, maio 30, 2010

Diário Gráfico: Coreia do Sul


Seoul tem 10 milhões de habitantes. A rede de metro é fabulosa, cobre quase toda a cidade, mas é quase impossível encontrar lugar sentado...

Para os idosos há sempre lugares reservados... mas há uma grande diferença em relação a nós: lá, mesmo que não esteja nenhum idoso no metro, ninguém ocupa os lugares! O metro pode estar à pinha que ninguém se vai sentar ali...

Se há algo que permanece forte na cultura coreana é o respeito pelos mais velhos!

domingo, maio 09, 2010

Diário Gráfico: Coreia do Sul


A 30 de Março fomos a um dos templos mais importantes da Coreia: Sudok-Sa (templo de Sudok).

Havia um ritual que queríamos ver e que começava às 18h00. Chegámos às 16h00 e deu tempo para me dedicar ao desenho. Recebi como prémio um rebuçado com um sabor fortíssimo de um idoso que esteve a ver-me desenhar durante alguns minutos. Falou em coreano (claro que não percebi nada) e depois deu-mo para a mão. Ficou a olhar para mim com um sorriso e aqueles olhos em bico. "É melhor comê-lo já" - pensei. Assim fiz. Ele disse mais qualquer coisa e foi-se embora.

Assim percebi aquilo que já há alguns dias me iam dizendo. Os coreanos são simpáticos e gostam de meter conversa com os estrangeiros, ainda que não falem inglês!

quarta-feira, maio 05, 2010

Diário Gráfico: Coreia do Sul

No metro de Seoul...
A curiosidade sobre o desenho é igual lá e cá. Em Timor e na Guiné também era a mesma... todos ficavam à nossa volta a ver o que ia dar...

Desenhar no metro é das experiências mais interessantes que há, mas quando está à pinha, torna-se algo indescritível!

... saudades...

terça-feira, abril 27, 2010

Fotografia: Coreia do Sul + Diário Gráfico: Coreia do Sul

... aqui está ele! (29.abril)


Das refeições fiz dois desenhos. Um está publicado nos uskp e o outro tenho de digitalizar para colocar junto desta fotografia.

Esta era uma das melhores comidas. Grelhávamos a carne na brasa, era mergulhada num molho picante e, depois de colocar um dente de alho em cima, enrolávamos tudo numa folha de alface e metíamos na boca...
A carne a ferver, a frescura da alface, o picante e o sabor forte do dente de alho eram os ingredientes certos para agradar o gosto extremo dos coreanos! Eu também gostei!


terça-feira, abril 20, 2010

Fotografia: Coreia do Sul


A Coreia tem vários aspectos muito curiosos. Um deles, talvez o mais conhecido, foi o seu rápido desenvolvimento: em poucas décadas deixou de ser um país subdesenvolvido para passar a ser uma potência tecnológica mundial.
Imaginem o que é um cultura ainda muito tradicionalista a viver com tecnologia de ponta! Muito interessante mesmo...
E vestem-se tão bem que até mete impressão! É só glamour... só vi igual em Milão...

Numa aldeia típica deparámo-nos com estes totens. Típicos na tradição coreana. Estavam sempre presentes à entrada das aldeias. Lembrei-me, como não podia deixar de ser, das culturas mais primitivas e os meus pensamentos fugiram para as minhas aulas de História da Arte. Senti-me pequenino então... percebi como nunca que na Europa centramo-nos muito em nós próprios...
Não nos esquecemos que o resto do mundo existe (como os americanos têm tendência para fazer), mas temos uma auto-estima tão elevada...

Só tive pena de não ter tido tempo de desenhar os totens...

sábado, março 27, 2010

Fotografia: Coreia do Sul

Destino: Coreia do Sul durante 15 dias
Brevemente estaremos de volta a terras lusitanas...
... algumas novidades aqui.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Fotografia: Timor-Leste


Falta cerca de um mês para o meu casamento!

Estou a olhar para os dias que faltam como olho para estes talhões de terra bem divididos à espera de serem cultivados...
... por um lado eles estão preparados para serem cultivados, por outro, ainda há tanto por fazer...

O que vale é que podemos olhar para o horizonte e perceber que, embora com algumas nuvens, o azul é belo e promete grandes alegrias. O mais cansativo mesmo é preparar tudo até ao dia... será que a nuvem mais escura em primeiro plano está ali para me mostrar que é assim mesmo?

No fundo, no fundo, a casamento é um pouco como estes talhões de terra. O terreno está preparado e devidamente dividido. Temos de o semear, regar e colher os frutos. Mas sobretudo nunca deixar que o terreno deixe de ser fértil...

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor



Fomos duas vezes a Maubisse, terra do tio Tonito.



Do quarto tinha acesso a esta vista que ficava mais abaixo. A casa de banho estava equipada com um aquecedor de água eléctrico (não sei o nome correcto), mas não havia maneira daquilo funcionar. Parece que a potência em watts exigida era demasiada para o que o quadro eléctrico fornecia. Ainda nos fartámos de rir quando ele nos disse que experimentou ligar o aparelho ao gerador (que transforma gasóleo em electricidade), e ouvia-se um barulho cada vez mais lento até que parava num soluçar...

A única solução era mesmo tomar banho de água fria... e de caneca...
Isto tudo numa das cidades mais frias de Timor!

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Neste preciso momento sinto-me como aquela senhora da fotografia... sozinho num campo quase estéril...

Quando temos de realizar alguma tarefa que não nos entusiasma ela torna-se tão pesada que parece nunca mais acabar...
Preciso terminar de escrever um trabalho mas não me apetece... não estou entusiasmado e, por isso, as ideias não me estão a fluir como de costume...
Só me apetece avançar uns meses no calendário... ficava tudo bem mais tranquilo...

Talvez valha a pena não desistir... a senhora da fotografia também está lá! Sozinha, mas persistente...
Não sei se já semeou ou se ainda vai semear, mas está lá... está a acompanhar... está próxima...

Custa-me muito ter de fazer coisas que não me embasbacam, que não me tiram surpreendentemente as palavras, coisas que não me fazem crescer em pensamento, coisas demasiado descritivas, demasiado limitativas. É assim o trabalho que tenho de acabar ainda hoje para entregar amanhã. É assim também que se dá valor ao que gostamos mesmo de fazer.

É assim que deixamos de nos queixar...

terça-feira, janeiro 12, 2010

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor


A mesa ficava assim pronta para nós:

- Em primeiro plano o arroz (nunca pode faltar numa mesa timorense);
- Depois os pratos empilhados;
- Os vegetais e alguma carne (protegidos por um "cesto" em plástico) das moscas;
- Ao fundo a bebida segura - água engarrafada.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


O meu primeiro texto de 2010 vai ser sobre comida, relacionada, claro está, com esta fotografia.

Assim que cheguei a Timor deparei-me com algo estranho a que não consegui ficar indiferente: uma tia-avó da Ketta tinha os dentes vermelhos! Aquilo intrigou-me, mas, por educação, evitei olhar com demasiada evidência...

Com o passar do tempo fui percebendo que não era só a tia-avó da Ketta que tinha dos dentes vermelhos, mas todas as timorenses com idade avançada. Se por um lado poderia pensar em dentes enfraquecidos por uma alimentação mais débil, rapidamente percebi que os dentes vermelhos estavam lá todos! Não havia nenhuma cárie nem nada do género...

Portanto, mais intrigado fiquei...

Quando fomos a Laisorolai (onde a fotografia foi tirada) é que percebi bem o porquê dos dentes vermelhos: as senhoras mascam uma casca seca misturada com cal. O sabor é muito ácido e corta bastante a língua (sim, eu também masquei para experimentar!). Não se pode engolir (é claro que eu engoli da primeira vez - só depois é que me avisaram!). Masca-se durante algum tempo e depois cospe-se.

O resultado é muito simples:
1- Os dentes e as gengivas ficam vermelhos;
2- A mistura protege os dentes, fazendo-os durar muito tempo;
3- A mistura engana a fome.



No dia em que tirei esta fotografia comi um prato de arroz com um pedacito de carne. Não foi neste dia que masquei pelo que me deitei com alguma fome...