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segunda-feira, dezembro 03, 2018

Indonesia: Ambon


Acordei bem cedo nesta primeira noite em Ambon, pelas 5h da manhã. Na noite anterior, tinha combinado com o Donald Saluling ir desenhar o mercado de peixe. Estava pronto às 5h30. Desci as escadas e fui para a recepção do hotel. Só ali é que se apanhava wifi. Enviei um sms ao Donald, mas a seta do whatsapp indicou apenas mensagem entregue. Esperei, mas nada mudou. Enviei nova mensagem a dizer que ia à procura de algo para desenhar nas redondezas. Andei, andei, andei...

A cidade estava deserta. Passavam apenas alguns carros.
Sentei-me neste cruzamento e continuei a experimentar a caneta hero, aquela que permite linhas grossas e finas. Nada contente como resultado, enviei novo sms ao Donald, desta vez a usar dados móveis do cartão indonésio que comprei em Jakarta. Eram umas 6h15 e a seta do whatsapp já dava sinal de mensagem lida. Cinco minutos depois, estava a sair deste lugar par ir ao mercado. Ficou assim mesmo, muito branco, muito inacabado, uma desgraça...
Não tinha ainda o texto nem aquela cama de rede com a criança a dormir. Acrescentei-os nesse dia à tarde...



A urgência de ir ao mercado de peixe tão cedo prendia-se com duas razões: a) o mercado tem uma beleza especial quando os pescadores estão a chegar de barco; b) às 8h30 saíamos de carro para ir desenhar outra zona da ilha, pelo que havia pouco tempo de manhã.

Quando chegámos, no interior, o caos estava instalado. Quase não havia espaço e a metáfora certa é que se tinha de andar em bicos de pés...
Só havia uma opção: desenhar do lado de fora. Fomos andando até chegarmos às traseiras do mercado, precisamente o local onde os pescadores estavam ainda a descarregar o peixe. 
Abrimos os cadernos e logo todas as possibilidades se abriram para nós:
- Quem um banco? Do que precisam? Temos chá, querem?
Olhei para o Donald e sorrimos ao mesmo tempo. Mais uma vez o poder do desenho a manifestar-se...

Depois... depois foi o que todos os desenhadores viajantes sabem. A experiência de desenhar com meia multidão a espreitar pelo ombro, comentários, risos, conversas em línguas diferentes, qual Babel e, no fim, uma correria para chegar a horas ao autocarro que nos levaria para o outro lado da ilha...

sexta-feira, novembro 30, 2018

Indonesia: Ambon


A meio de outubro deste ano estive na Indonésia. Fui convidado para desenhar e dar formação numas ilhas remotas chamadas Banda. Nunca tinha ouvido falar. Fui pesquisar e descobri que deveria saber desde sempre que ilhas são estas. As ilhas da noz moscada que os portugueses encontraram por via do mar.
Mas sobre as ilhas Banda terei tempo de falar...

Aterrei em Jakarta e fui direto para o quarto. O voo para Ambon era logo na manhã seguinte.
Era o segundo dia na Indonésia - estava há mais de 30 horas em movimento desde que saíra de Lisboa e, depois de um jantar incrível que me lembrou muito Timor-Leste, só à noite houve tempo para desenhar. 
Este caderno gigante estava a desafiar-me para pensar nas composições. Desenhei o pouco que se via deste parque muito frequentado para horas tão avançadas da noite. Não se via quase nada, apenas algumas luzes iluminavam telhados, colunas, arvoredo...
Ficou assim. Uma pequena franja horizontal a caneta preta, à espera que no dia seguinte algo mais acontecesse na página.

A grande árvore, feita a aguarela e aparo, estava mesmo à entrada do forte Amesterdão, noutra zona da ilha Molucas (mais uma viagem de 2 horas de carro). Lentamente, linha a linha, fui deliciando-me a pensar na história que esta árvore já testemunhou. 
Claro que a escala está exagerada em relação à cidade. A árvore também não pertence àquele contexto urbano, mas, para mim, esta combinação improvável estimulava o imaginário e o pensamento. Estou a ser fiel ao que desenho à minha frente, mas coloco-o no caderno descontextualizado...

Arranca assim a minha crónica sobre a viagem à Indonésia. 
Cada página é uma mistura de ambientes diferentes.
Não será uma cronologia perfeita, tal como a nossa.
O que é a perfeição?