quarta-feira, dezembro 31, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Eu e a Canon a sermos fotografados pelo olho da Ketta através de uma fisheye...

... quando olho para estas fotografias onde apareço não consigo perceber bem o que sinto...

Neste dia estava preocupado em fazer boas fotografias, mas toda aquela realidade me entusiasmava a viver além da lente. A menina que está perto de mim é a Cadijia (a filha da Sumai) e enquanto andei a fotografar ela andou sempre perto de mim, sempre a acompanhar-me. De repente começou a chover torrencialmente e fiquei com ela debaixo de um guarda-chuva pequeníssimo... só nos ríamos um do outro... ela fartava-se de rir com um sorriso fantástico e lindo de morrer...

Houve um momento em que peguei na enxada e ajudei um pouco a Sumai no trabalho da terra. As enxadas da Guiné são pequenas. O cabo tem uns 50 cm e obriga-nos a curvar as costas praticamente noventa graus.

Ao fundo a Fámata e a Norma estão a tirar as ervas daninhas para que os pés de cajú possam crescer. Também tirei algumas...

Este dia fez-me lembrar os meus avós paternos. Também tinham campos para cultivar e sempre que estava com eles era inevitável falar dos campos e do cultivo. Foram várias as vezes que fui ajudar a plantar milho e a cavar a terra...
... a vida dá mesmo muitas voltas...

... acho que quando me vejo nestas fotografias sinto-me altamente privilegiado por poder ter estado nestes sítios tão remotos... tão bonitos por transbordarem tanta simplicidade...

... sinto saudades...


terça-feira, dezembro 30, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


O homem que está sentado a costurar, e que "levou" um flash amarelo da colorsplash, passava os dias diante da sua máquina de costura DORINA.

Originário da Mauritânia, compra os tecidos em Bissau e costura-os ali em Empada, à porta da sua casa, que fica junto à estrada principal. Faz vestidos, camisas, blusas, lenços e tudo o que as pessoas quiserem e puderem pagar. Aparentemente este negócio permite-lhe sobreviver com alguma qualidade de vida.

Todos os negócios que estão a funcionar em Empada têm como donos pessoas vindas do Senegal, da Mauritânia ou Guiné-Conacri. Porque será?

Pelo que apurámos, os guineenses não têm jeito para o negócio. O nível de estudos é tão baixo que nem conseguem gerir um pequeno negócio de vinhos... as contas relativas ao custo e lucro dos produtos é algo que está ainda por sedimentar...

Enquanto isso, pequenos negócios vão acontecendo, permitindo a existência de uma pequeníssima economia local.

(um dia conto aqui a história do pequeno negócio de vinhos)

sábado, dezembro 27, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


E pronto... passou o dia 25 de Dezembro... festa pagã desde o séc. III e cristã desde o séc. IV...

Começou por ser a festa do "sol invicto" - adorava-se o sol como um deus invencível, já que depois de durante quase todo o mês de Dezembro os dias irem ficando cada vez mais pequenos, prolongando-se a noite e sendo o sol incapaz de combater o frio, as pessoas ficavam com medo que o sol fosse desaparecer...
... a partir de dia 22, com os dias a ficarem maiores, percebia-se que o sol é, afinal, invencível e portanto impunha-se fazer uma festa! Dia 25, depois de se confirmar que os dias estavam de facto a ficar maiores, celebrava-se o nascimento do Sol Invicto...

Para os cristãos, Jesus Cristo é o verdadeiro Sol Invicto, daí que celebrem o seu nascimento nessa data desde o séc. IV.

(Confesso que deixei alguns pormenores da história na "gaveta", mas pronto...)

Pode parecer estranho ter escolhido esta fotografia para falar do dia 25 de Dezembro, mas a verdade é que a escolhi para poder falar dos braços cruzados da rapariga...
... estou, desde dia 25, de braços cruzados! Aproveitei para recarregar baterias neste Natal. Tinha escrito que me queria presente na vida e acho que estive a preparar-me para isso nestes dias. 2008 está a acabar e aproxima-se 2009 que tantos economistas temem. Eu cá gosto dos anos ímpares! Ainda agora descruzei os braços e já estou cheio de ideias e projectos novos para o novo ano!

Não sei o que vos dizem os braços cruzados da rapariga, mas quando tirei esta fotografia, ela estava no mercado a vender peixe seco. Falava com as amigas que estavam ali e riam-se sem parar... assim que apontei a objectiva para ela, olhou-me de frente e fez logo esta pose...


... sei o que significa para mim... que não posso cruzar os braços!


terça-feira, dezembro 23, 2008

Vídeo - rich hospital, poor hospital




Sei que me estou a desviar um pouco dos temas da Guiné, mas pareceu-me importante colocar este vídeo aqui...

domingo, dezembro 21, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Não sei como se chama este rapaz, mas faz-me lembrar o Natal...

No Natal há sempre duas hipóteses: criticar a sociedade por causa do consumismo, ou então não a criticar e entrar na "onda" à mesma...

Este ano vou preparar o meu Natal como se fosse um guineense, ou seja, como se não tivesse dinheiro para gastar com prendas... o que posso oferecer que não posso comprar?

Para mim a resposta é simples... não posso dar prendas... as prendas são efémeras, são tristes de tão fugazes que são, são banais por serem tão pontuais...
Tenho de procurar os presentes e não as prendas. Os presentes encontram-se no presente da minha vida... todos os dias e não apenas em alguns.

Quero presentes e quero-me presente na vida! É assim que desejo o meu Natal.


É isso que vejo nos olhos da criança da fotografia - presença... alguém que me olha de frente e me diz que está presente!


sexta-feira, dezembro 19, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Se soubessem como gosto desta fotografia...

... depois de termos ido à horta da Safi para gravar o trabalho, no dia seguinte, fomos mostrar-lhes as imagens captadas na câmara. O visor era pequenino e as crianças estavam todas de roda da Patrícia. Não havia espaço para mais nenhuma cabeça! A Sumai estava atrás de todas as crianças a espreitar de cima...

Toda a situação me entusiasmava para tirar fotografias... mas lá pelo meio, encontrei esta perspectiva que me encantou... o chão de casa da Safi era esteticamente fantástico! Sei que o efeito se devia ao facto da terra ter sido cobrida com uma camada de cimento muito fina, mas ficava sempre estarrecido quando olhava para ele...

Subi a uma cadeira e fotografei o chão da Safi com a Sumai a aparecer de relance. Assim que fiz o clique, ela olhou para mim e sorriu... acho que percebeu o meu encantamento pelo chão pobre da sua casa... e tinha razão. Estava completamente arrasado com a beleza humana, material e vegetal que me rodeava...


quinta-feira, dezembro 18, 2008

Vídeo: direitos humanos | Video: human rights

Vídeo encomendado a Seth Brau, a propósito da comemoração dos 60 anos da criação da declaração universal dos direitos humanos. Vale a pena ver até ao fim!

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Banda Desenhada - Costa do Marfim

Sei que este post não é sobre a Guiné-Bissau, mas acreditem que não resisti mais em colocar aqui umas palavras em relação a este assunto...

A editora francesa Gallimard criou a coleção Bayou, dando a possibilidade a Marguerite Abouet de escrever uma das bd's mais incríveis que conheço sobre a vida quotidiana africana: AYA.

As cinco primeiras páginas da versão em inglês podem ser consultadas, mas confesso que são apenas uma pequena amostra do que poderão ler e observar no livro inteiro. A história já vai no 4º livro, o que são boas notícias, mas apenas o primeiro e o segundo livros estão traduzidos para inglês (nem sei se alguma editora tem a coragem de lançar a versão portuguesa...)


Recomendo vivamente a leitura da bd. Cada pormenor é delicioso e autêntico.
Por vezes até nos parece um livro cómico, mas é a realidade...


Ps1: um extra!
Ps2: não podia deixar de dedicar este assunto ao Arthur! :)

terça-feira, dezembro 09, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Esta foi talvez uma das pessoas mais idosas que encontrei em Empada. Praticamente não via.
Tirei esta fotografia na primeira semana em que estivémos em Empada, contudo, passadas cerca de duas semanas, ia eu e a Ketta a caminho do liceu para darmos as nossas aulas de Português, quando aparece uma criança a chamar-nos. Dizia que a sua avó nos chamava... intrigados, seguimos a criança...

... quando chegámos estava toda a família à nossa espera. Todos nos cumprimentaram, mas a verdadeira razão de ser que justificava a nossa presença ali, era o facto desta "mulher garandi" querer tocar-nos, conhecer-nos melhor. Perguntou-nos onde íamos. Ficou contente quando soube que estávamos a dar aulas. Passaram 2 ou 3 minutos e logo nos desejou uma boa estadia e boa continuação de trabalho...

Fiquei a perceber duas coisas com esse momento:
1º - o desejo de uma mulher "garandi" é para cumprir, é como uma ordem;
2º - o contacto com as pessoas é sempre simples e bonito.


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau

Não sei o que escrever desta fotografia lomográfica. Talvez ande sem inspiração...

...

Um dos dias que mais me marcou em Empada foi um domingo, já não sei qual. Nesse dia, fomos a várias tabancas e passámos a tarde inteira fora. Conhecemos muitas pessoas novas. Vi muitas caras novas. Pessoas que não sabiam os nossos nomes. Quando passava por elas, levantava sempre a mão para dizer "adeus". Quase sempre as pessoas respondiam com o mesmo gesto...

Nesse dia, chegámos a Empada ao anoitecer, mas na rua principal, ainda andavam várias pessoas. Quando passava por elas, cumprimentava-as com o tal gesto, mas a resposta das pessoas já era diferente; a acompanhar o levantar do braço, as pessoas diziam também o meu nome!

Foi nesse dia que percebi que um pedacinho de mim ia ficar ali, naquela terra, com aquelas pessoas.
Foi nesse dia que o Maio me cumprimentou dizendo o meu nome e eu ainda não tinha fixado o dele.

Foi nesse dia que Empada se tornou especial para mim...

sábado, dezembro 06, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Eis o Maio. Enquanto a montagem do vídeo que gravámos com ele em Agosto não fica pronta, deixo este registo fotográfico dele enquanto trabalha. São quatro os trabalhadores que o Centro de Recuperação Nutricional emprega. O Maio, de vermelho na foto, primeiro pesa as crianças e relaciona-o depois com os meses de vida, chegando a um percentil que indica o grau de subnutrição da criança. Ainda faz mais duas tarefas, mas vou deixar que ele as explique no vídeo.

Hoje telefonei para Empada e aproveitei para avisar que já tínhamos 12 pessoas para ajudar a pagar os estudos do primeiro ano de faculdade do Maio.

Como tinha escrito, basta que cada pessoa consiga juntar trinta euros até Julho de 2009, para que as pessoas que vão a Empada em Agosto possam levar directamente o dinheiro. O modo como devemos contribuir é através da adGENTES. Poderão fazer uma transferência interbancária, enviar um cheque por correio, ou, para quem me conhece pessoalmente, entregar-me o dinheiro em mão. A adGENTES poderá passar um recibo de donativo, dedutível no IRS para quem quiser (deste modo poderão ter sempre uma prova em como contribuíram para este projecto).

Deixo aqui o NIB da adGENTES e a morada:

NIB: 001000004097013000137

(quando fizerem a transferência, deverá aparecer o seguinte nome: adGENTES Associação Leigos Missionários da Consolata)

Morada:
adGENTES - Associação Leigos Missionários da Consolata
Av. Cidade de Lisboa - Quinta do Castelo
2735-206 Cacém


Quem fizer a transferência interbancária e quiser o recibo, agradeço que me envie um email com a morada para onde devemos enviar o recibo.

Qualquer dúvida é só mandar-me um mail ou deixar aqui um comentário.

...

... o mundo transforma-se assim... aos poucos e com pessoas preocupadas e activas!

Obrigado!


quinta-feira, dezembro 04, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Segunda é o nome desta rapariga, que tece uma rede, tendo como suporte o dedo grande do pé. A Segunda é a melhor amiga da Helena. Tinha um ar sempre muito concentrado e adulto. Falei poucas vezes com ela, mas tinha um sorriso bonito e discreto.

A primeira vez que fomos conhecer a casa da Helena, fiquei logo fascinado com o que a Segunda estava a fazer. Fotografei-a várias vezes, de vários ângulos... talvez ela já estivesse cansada, mas nem por isso se queixou, ou me fez sinal de que não queria ser fotografada.

De toda a agitação que se passava ali (crianças a brincar, a jogar à macaca e à sirumba, as raparigas a pentearem-se, os homens sentados a falar, etc.), este foi, para mim, o momento mais bonito. Além da Segunda ser a pessoa mais tranquila, estava no enquadramento certo...


terça-feira, dezembro 02, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Hoje, a lista de 12 pessoas necessárias para que o Maio possa estudar em Bissau, durante um ano, completou-se! Assim que a 12º pessoa se inscreveu, tive vontade de telefonar para Empada, para avisarem o Maio de que vai poder estudar no próximo ano lectivo! Acho que vai ficar radiante!

Tenho previsto publicar aqui um vídeo que gravámos com ele a explicar o trabalho que faz e as motivações para estudar em Bissau. Por agora ficam apenas estes chinelos... sinal de caminho para mim... sinal do caminho que o Maio tem de fazer, mas também sinal do caminho que nós os doze escolhemos e que se cruza com o do Maio!

Estou muito feliz!
:)

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau



Foi neste Toyota que passámos pelos buracos mais incríveis da estrada Bissau-Empada. Uma das experiências mais incríveis era atravessar os largos buracos cheios de água... quando os via ao longe, nem queria acreditar que íamos passar mesmo pelo meio... intuitivamente pensava que o melhor seria contornar os buracos, indo pela berma. Mas não! A berma era muito mais perigosa, pois se não tinha água, era porque a terra a absorvia e, portanto, os pneus iriam enterrar-se. O fundo da zona com água teria de ser duro, argiloso, mais impermeável e, portanto, mais seguro para o carro passar.

As coisas que se aprendem na Guiné...

sexta-feira, novembro 28, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Não é fácil comentar esta fotografia...
... não sei se porque tem um círculo que me faz lembrar o mundo onde alguém está a partilhar o que tem, sendo essa uma situação contrastante com o que acontece na realidade, ou se porque me faz lembrar que quem partilha é sempre quem tem pouco para dar.

Quem tem muito não quer dar o que tem... talvez porque o que tem seja demasiado valioso...
Quem tem pouco não se importa de partilhar o que tem... será que isso quer dizer que o que tem, não tem valor?

Vi esta semana um documentário sobre Imigração ilegal - Bab Sebta. O documentário ganhou o último DocLisboa.

Uma das frases que memorizei foi a de um africano [não me lembro se era do Mali ou de outro país]:
"(...) os africanos tentam entrar na Europa à procura de melhores condições de vida, à procura de dinheiro. Vocês, europeus, vêm a África, não à procura de dinheiro nem de melhores condições de vida. Vêm à procura de conhecimento."

Outro disse outra coisa extraordinária:
"No séc. XV, os europeus vieram pelo mar até África. Nós agora, queremos ir pelo mar até à Europa e não nos deixam."

...

Voltando à imagem de cima, só consigo pensar numa coisa: nós continuamos a ir a África buscar coisas, neste caso, conhecimento, sabedoria. Em troca, as pessoas dão-nos o que têm... seja muito , seja pouco...


... estou certo que já recebi muito mais do que dei...




quarta-feira, novembro 26, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


As grades são as mesmas da lomo anterior. Em tempos estas grades foram de cimento... o desenho era o mesmo, mas com o tempo foram ruindo até que caíram. A necessidade falou mais alto e umas grades de ferro foram ali colocadas.

O Centro de Recuperação Nutricional fica mais "leve" visualmente e, assim, são várias as crianças que por ali andam a ver os bebés a serem pesados e alimentados.

Não sei quem é a rapariga que ficou registada, mas conheço bem as grades que a separam de mim... essas grades são difíceis de derrubar, embora sejam maiores os espaços vazios que me permitem trespassá-las...

Esta lomo retrata bem o que se passa no nosso mundo:
Nós do lado de cá, com todos os meios para fazer alguma coisa. Eles do lado de lá, mas com a vontade de dar o primeiro passo, esticando as mãos para fazer algo, nem que seja o agarrarem-se à fronteira que nos separa...


sábado, novembro 22, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau



Estreio hoje o blog com fotografias lomográficas da Guiné-Bissau. O rapaz sentado chama-se Maio e trabalha no Centro de Recuperação Nutricional de Empada.

Comprometi-me com ele a tentar arranjar alguém que o ajudasse a estudar... o que ganha ali não chega para tirar um curso superior de Enfermagem ou Medicina na capital, Bissau.

O Maio foi o melhor aluno das aulas de Português que eu e a Ketta demos lá em Empada.

Para conseguir estudar em Bissau, ele precisa de cerca de 30 euros por mês.

Vou começar, a partir de Dezembro, a colocar um euro de parte por semana para angariar o valor necessário. Se conseguirmos angariar o suficiente, as pessoas que forem a Empada no próximo Agosto poderão levar o dinheiro necessário para o Maio poder estudar e vir a ser um enfermeiro, ou até quem sabe, um médico.

Quem quiser juntar-se a mim é só deixar um comentário ou enviar-me um mail...

Só precisamos de 12 pessoas para este micro-projecto. Aqui fica a lista:

01 - Mário Linhares (22.nov.2008)
02 - Lavínia Leal (24.nov.2008)
03 - Maria Cabral (24.nov.2008)
04 - Cristiana (24.nov.2008)
05 - Luís Giestas (25.nov.2008)
06 - Paula Xavier (25.nov.2008)
07 - Patrícia Pedrosa (26.nov.2008)
08 - Mafalda Cavalheiro (27.nov.2008)
09 - Marisa Marcelino (29.nov.2008)
10 - Joana Nascimento (01.dez.2008)
11 - Marta Teives (02.dez.2008)
12 - Martha Xavier (02.dez.2008)


Vídeo: Guiné-Bissau | Video: Guinea-Bissau



A 31 de Julho, quase no final do dia, gravámos o webdiário com as irmãs missionárias da Consolata.


sexta-feira, novembro 21, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


"Venham rápido ver as crianças a subir à palmeira" - dizia a Ir.ª Franca a mim e à Patrícia que estávamos no Centro Nutricional.

Estava uma palmeira com um "cacho" de bagos de óleo de palma pronto a ser colhido. Uma criança de 10 ou 11 anos começou a subir. Colocou uma fita (feita das folhas da palmeira) à volta da cintura e passou-a por detrás da palmeira. Aos poucos lá ia subindo... numa das mãos levava uma catana para conseguir cortar o cacho...
... chegado lá acima esforçou-se ao máximo para cortar as folhas à volta e assim chegar ao cacho. Esgotadas as forças após alguns golpes infrutíferos, decidiu descer...

Pensei para mim: "gostava de o ver a arrancar o cacho... que pena"

Passados uns minutos chegou o irmão mais velho. Talvez tivesse 17 ou 18 anos. Subiu de forma mais ágil e, com mais habilidade, conseguiu separar o cacho da palmeira! Pegou nele e atirou-o cá para baixo! Mal caiu, as crianças começaram a tirar pequenos bagos e a colocá-los na boca. Uma delas virou-se para mim e ofereceu-me um...
... não resisti à tentação de provar um bago de óleo de palma acabadinho de colher da palmeira. Não fazia a mínima ideia do gosto que ia provar, se tinha caroço ou não, se ia gostar...

Sem pensar muito coloquei o bago na boca. A minha primeira sensação foi:
"que caroço tão grande"!
Na realidade a parte que se aproveita deve ter uns 2 ou 3 milímetros de espessura.

Os meus dedos ficaram vermelhos só de pegar no bago...
O sabor não é mau, mas é muito oleoso...
A parte comestível é muito fibrosa... fica nos dentes...

As crianças riram-se mais uma vez de mim, mas fiquei orgulhoso por ter comido do mesmo cacho que eles...


quinta-feira, novembro 20, 2008

quarta-feira, novembro 19, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


A Arte respira-se em todo o lado... e os artistas precisam desses lados todos, desses pequenos detalhes, fragmentos, nadas...

Passear pelos caminhos de Empada leva-nos a reparar nesses detalhes, nas novidades visuais...
Já aqui escrevi que as paredes das casas são belas...


Quando olho para esta fotografia nunca sei bem o que escrever... gosto da fotografia, do enquadramento, da rapariga que posa propositadamente para mim, mas não sei... fico sempre sem palavras...

terça-feira, novembro 18, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Nesta terra castanha pousam-se colchões de espessura tão fina que nem percebo como ainda resistem...
Este é o quarto dos filhos mais novos da Safi. No colchão branco dorme o Idrissa, único rapaz da família que deve ter 13 ou 14 anos. No colchão que tem uma manta aos quadrados brancos e vermelhos, dormem a Cadijia, a Franca e a Aissato.

Quando no documentário surge a Aissato no Hospital porque um bicho branco lhe tinha entrado no dedo, toda essa situação parece tão irreal que não se percebe como pode acontecer. Ao ver esta imagem talvez se perceba melhor como três crianças a dormirem juntas no mesmo colchão (que está no chão) ficam sempre sujeitas a situações dessas ou piores...

O mais surpreendente no meio de tudo isto é a alegria das crianças quando estão connosco. A forma como se riem para nós, como parece que tudo aquilo que têm é suficiente...

Uma das memórias visuais mais bonitas que tenho de Empada é a alegria das crianças quando nos viam a aproximar da casa delas... parece incrível, mas a nossa presença ali bastava para transformar alguma coisa. Não era precisa nada de especial, apenas o nosso tempo dedicado a elas...

Não é o tempo o ouro do futuro?



segunda-feira, novembro 17, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Acho que esta é uma das fotografias, das que tirei na Guiné, que gosto mais. Foi tirada no dia 28 de Julho de 2008 e tinha chegado à Guiné no dia anterior. Depois de uma noite cheia de humidade e calor, tomámos o pequeno almoço e saímos para Empada por volta das 9 da manhã.

Depois de muitos quilómetros de viagem chegámos a uma terra chamada Bambadinca onde há sempre muito comércio. Parámos para comprar batata doce (em Empada não há) e algumas mangas. Assim que o carro parou, as nossas janelas foram preenchidas por crianças a vender mangas, caju, batata doce, milho assado, bananas (tenho-me esquecido de fazer referência às bananas, que existem com alguma abundância por ali) e de repente, todo aquele cenário se transformou em algo inédito que me levou a tirar a máquina fotográfica. Várias crianças apareceram a rir, mas esta ficou assim... com aquele olhar sério...

... por momentos senti-me estranho... como se estivesse a invadir a privacidade dela... como se não tivesse o direito de lhe tirar esta fotografia...
... tinha vontade de comprar caju e mangas, mas ainda nem tinha francos no bolso... só uns euros em moedas. Nada feito. O jipe arrancou sem que eu tivesse comprado nada, mas logo a Ir.ª Anistalda nos mostrou as bananas que tinha comprado "lá fora" para enganar o estômago...

... arrancámos... mas aquele olhar ficou...


domingo, novembro 16, 2008

Vídeo: Guiné-Bissau | Video: Guinea-Bissau



Todos os dias gravava um clip de pouco mais de 1 minuto a relatar o dia.
A Ketta e a Patrícia também gravaram, mas esses clips são delas...

Para variar um pouco, aqui vai a minha partilha do dia 9 de Agosto de 2008...

... qualquer dúvida é só deixar um comentário...




quinta-feira, novembro 13, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau


Hoje estou tão cansado que não consigo escrever mais do que estas palavras...

... tentarei amanhã escrever sobre estes dois desenhos que ocupam o meu diário gráfico da Guiné.
13.Nov.2008 - 23:14


15.Nov.2008 - 20:18

Depois de muito pensar, decidi transcrever as palavras que estão no meu diário. Escolhi o dia 13 de Agosto. Nesse dia tinha escrito sobre a Franca, ela que aparece desenhada aqui duas vezes...

Todos os dias escrevia uma página no meu diário, o equivalente a sensivelmente um A5. Quando leio hoje o que escrevi lembro-me de pormenores que parecem levar-me para lá... pormenores que a escrita imortalizou...


Empada, 13 de Agosto de 2008

Hoje fizémos a entrevista à Safi. Como é pobre a Safi... chove dentro da sua casa...
Enquanto lá estava só conseguia pensar no modo como eu poderia ajudar esta mulher e as suas filhas lindas!
Todas passam fome, mas nenhuma se queixa. Hoje a Franca estava a comer o arroz que deveria ser para ela, para a Norma e para a Fámata. Em vez de dividir em três, começou a comer sem parar até quase nada restar para as irmãs. Quando elas chegaram, em vez de reclamar, comeram o que sobrava... em silêncio...
... que lição de vida se tem por aqui! As irmãs mais velhas deixam a mais nova comer mais porque sabem que ela precisa...
... enfim...

...
Amanhã a Patrícia vai dedicar-se às filmagens da vida das irmãs aqui por casa e vai fazer-lhes umas entrevistas. Eu e a Ketta estamos, portanto, mais livres. Vamos tentar corrigir todos os trabalhos de casa que temos dos nossos alunos...
...
Hoje acabei a ficha de registo para o Centro Nutricional da Ir.ª Franca! :)


segunda-feira, novembro 10, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau


Quando vi que o tempo se estava a esgotar, fiz uma lista das pessoas que queria desenhar. De repente essa lista tornou-se enorme e constatei que iria sair da Guiné sem a conseguir concretizar.

Uma das pessoas que queria desenhar era a Segunda.
A Segunda é uma das irmãs mais novas da Helena. Entre irmãos chamam-na de Segundinha, mas de "inha" não tem nada! Era alta, encorpada e adorava jogar futebol.

Um dia fui a casa da Segunda decidido a desenhá-la. Quando lá cheguei só lá estava ela. Preparava uma espécie de refugado para cozinhar o arroz. Não parava quieta! Pedi-lhe autorização para a desenhar... ela fartou-se de rir com ar desconfiado... depois lá disse que podia, mas ela não ia parar de andar de um lado para o outro...
Sentei-me num canapé e tentei começar o retrato, o que se revelou uma tarefa impossível para mim. Além dela não parar um segundo, não conseguia parar de rir!

Por tudo isto, optei por desenhar o ambiente da casa dela. Antes de chegar, uma tia tinha estado a lavar a roupa numa tábua de madeira. A roupa passa depois de alguidar em alguidar até ficar sem sabão. Finalmente é pendurada numas canas para secar ao sol. Ao longe via, penduradas, duas redes de pesca das mulheres...

No desenho não está o vermelho da terra...
No desenho não estão as cores diferentes de cada alguidar...

No desenho não estão as palavras da Sábado (mãe da Segunda e da Helena), que não percebia porque é que eu gastava tanto tempo a desenhar "coisas"...

sábado, novembro 08, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


A Matilde de Empada...

... queria falar dela, mas não sei se devo...

A Matilde tem um sorriso lindo.
A Matilde trabalha mas não devia.
A Matilde é a mulher do Quintino, mas não pode ter mais filhos.
A Matilde é a mãe da Rosa, que tem um olhar triste e é raro esboçar um sorriso.
A Matilde não pode cozinhar porque não pode estar perto do calor.

A Matilde não apareceu no documentário por um triz. Esteve quase, quase...

quinta-feira, novembro 06, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Desde pequeno que me lembro da minha avó paterna dizer que, no seu tempo, uma sardinha dava para duas ou três pessoas...
... essas palavras ficaram gravadas na minha memória... acho que nunca consegui digerir bem a minha incapacidade para perceber como se podia viver dessa forma...

Quando um dia fui visitar a família da Helena, eram já umas três ou quatro da tarde, encontrei-os todos a comerem a sua refeição diária. Havia um rapaz que estava a comer arroz. Tirava de uma tijela algumas colheres de arroz branco. Enquanto conversava fiquei a observá-lo a comer... passado um tempo, o rapaz tira uma última colher de arroz, e, antes de a levar à boca, retira, com a ponta da colher, uma pequena parte de um peixe pequenino. Essa última colher de arroz levava algo mais do que arroz...

Quando terminou, o peixe estava praticamente intacto, faltava apenas aquela pequena parte que tinha tirado. De seguida ofereceu-me comida. Ofereceu-me o que tinha. Com alguma coragem disse-lhe que estava satisfeito e que não era necessário oferecer-me a sua comida.
Quando terminou, outra pessoa foi comer da tijela. Fez o mesmo ritual e no final retirou mais uma pequena parte do peixe...

E assim aconteceu repetidamente. Aquele peixinho pequenino alimentou várias pessoas.

Por momentos fiquei sem fala...
Por momentos lembrei-me da minha avó...

terça-feira, novembro 04, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Quando se entra num Hospital, é normal sentirmos um cheiro intenso a desinfectantes.

Quando pela primeira vez entrei no Hospital de Empada, o cheiro a desinfectantes não se sentia... o chão é num mosaico muito pequeno (parecido com as pastilhas de mosaico que se usam nas piscinas) e, de lavado, tem apenas uma água sem detergente que por ali passa de vez em quando.

Chegado aos quartos, a experiência fica mais intensa e perturbadora. O ar fica mais pesado, o cheiro é muito forte e por momentos pensamos que não vamos aguentar ficar ali mais um segundo...
... nos cantos das camas estão canas espetadas... por momentos não percebi a razão de ser daquela situação, mas logo o médico explicou que são as canas que seguram a rede mosquiteira, que se coloca durante a noite.

Fui várias vezes ao Hospital visitar doentes. Um deles já foi referido aqui no blog num comentário da Ketta - Arafam. Um dia escrevo sobre ele...

Das várias vezes que fui ao Hospital, ficava sempre a apreciar os cartazes que estavam fixados no átrio de entrada. Pensava entusiasmado para comigo: "é este o design de comunicação que se faz na Guiné"!
Um dia decidi fotografá-los, para que a memória não se perdesse. Sinceramente não sei se cumprem os seus propósitos, mas não deixam de ser um meio que tenta consciencializar para uma mudança de atitudes e mentalidades.

domingo, novembro 02, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau



Um dia, depois de ter dado uma aula de Português, cheguei à missão e sentei-me num dos bancos do Centro de Recuperação Nutricional. Tirei o meu diário gráfico e procurei algo para desenhar. As crianças seriam o ideal, mas mexiam-se tanto que tive medo de arriscar um desenho tão fugaz...
Olhei com atenção o que me rodeava até que finalmente encontrei o tema certo: a balança para pesar as crianças!

Eram raras as crianças que não choravam e berravam quando eram colocadas naquele pedaço de tecido devidamente cosido para ficar uma perna para cada lado. Agarravam-se à fita como se o mundo fosse acabar amanhã! Era um desespero... parecia que o facto de ficarem suspensas lhes alterava o metabolismo... de alguma forma deviam sentir-se inseguras...
Algumas das mais velhas já não estranhavam tanto... até alguns sorrisos esboçavam!

O Centro de recuperação Nutricional tem uma primeira fase de atendimento onde as crianças são pesadas nesta balança da Unicef, sendo registado depois um percentil que relaciona o peso com a idade da criança. Numa segunda fase a criança é também medida e efectua-se um registo da evolução do seu peso em relação a 15 dias antes.



O percentil é encontrado a "olho" recorrendo apenas a uma régua para um mínimo rigor. Quando vi esta situação comprometi-me a enviar uma máquina calculadora gráfica que conseguisse dar o percentil correcto. Já falei com uma amiga que se comprometeu a resolver esta situação. Espero enviar, agora no início de Novembro, a máquina calculadora e respectivas instruções de manuseamento.

Um pouco do que aprendi em Empada:

- quando uma criança tem um percentil abaixo dos 60%, significa que está numa situação de subnutrição grave e deve comer todos os dias uma papa especial que a Caritas Internacional envia;

- se o percentil estiver entre os 60% e os 80%, a criança está numa situação de subnutrição e deve comer todos os dias a papa que o PAM (Programa Alimentar Mundial) envia;

- acima dos 80% a criança é considerada reabilitada.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Proponho uma divagação literária à volta desta fotografia. Cada comentário poderá ter duas frases que tentem dar vida à imagem...

... começo eu...


terça-feira, outubro 28, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Acabei de falar para Empada.
Que emoção...
... ouvir uma voz tão familiar como a da Anistalda levou-me de imediato para aquele lugar distante...

Com palavras atrapalhadas lá fui falando do que precisava... informações...
... ela ia-me interrompendo, para saber novidades do concurso... se os alunos estavam entusiasmados, se estavam a trabalhar bem...
... disse-lhe que neste momento, Empada deve ser a aldeia da Guiné mais conhecida em todas as escolas portuguesas com 12ºano!

Fez-se um momento de silêncio e depois ela disse-me assim:
"Olha que o Liceu de Empada tem 426 alunos inscritos e o Jardim tem 100." eheh

Parece que o laboratório de Química e Física está adaptado a uma sala de aulas normal (porque têm muitos alunos e porque não têm material no laboratório).

... esclarecidas todas as dúvidas que precisava tirar, mandei grandes "manténhas" para toda a gente de lá...

... que saudades de Empada...


segunda-feira, outubro 27, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Quando o canapé está virado de lado ou de pernas para o ar, é sinal que não está ninguém em casa...

Assim que chegávamos a casa de alguém, um canapé era logo trazido para que nos pudéssemos sentar e ficar ali a conversar. Existem de vários tamanhos, desde muito pequenos até bem grandes, dando para se sentarem duas ou três pessoas. A estrutura é muito simples, mas a sua simplicidade não é de fácil reprodução. Só uma zona específica da Guiné tem as árvores com a madeira certa para fazer canapés.

A criança que está sentada neste canapé esteve ali largos minutos a brincar. Só tinha o canapé partido e a terra vermelha à volta, mas foi o suficiente para baloiçar, deitar-se, divertir-se...

Quando a cadeira da nossa casa se estraga, o normal é deitar fora e comprar outra. A ideia do terceiro R (Reduzir; Reciclar; Reutilizar) parece que por aqui ainda não saiu do papel, mas nem por isso deixa de ser colocada em prática onde os três R's ainda nem chegaram ao papel...


domingo, outubro 26, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Combinei com um grupo de alunos que me escreveu com dúvidas, que colocaria aqui algumas informações sobre Empada. Sendo assim, cá vão elas:

1 - Em Empada só existem dois locais com electricidade: a missão das Irmãs e um posto de serviço que não sei bem onde fica (mas é uma espécie de junta de freguesia). A electricidade existe porque estes dois locais têm geradores que transformam o gasóleo em electricidade. Existem também painéis solares na missão e no Hospital, mas o do hospital está avariado e não funciona...

2 - Existe um posto civil onde está o chefe de posto. Não sei muito bem, mas deverá equivaler ao presidente da junta, ou seja, compete-lhe fazer a "ponte" com as autoridades do governo. Existe também um posto de polícia (que tem um ou dois polícias, penso).

3 - Todas as pessoas que estudaram até ao 9º ano percebem relativamente bem o português. Isto acontece porque o português é a língua oficial da Guiné (embora a língua materna deles seja o crioulo) e todas as aulas são, portanto, em português. As crianças não percebem o português, mesmo as que vão à escola! Quem fala bem a língua de Camões, são as pessoas mais velhas que viveram a época colonial.

4 - A maior fonte de sustento das pessoas da Guiné-Bissau é a venda de Cajú, que acontece numa altura específica do ano. Este é o momento mais importante na economia das pessoas, porque o Estado Guineense compra todo o cajú que as pessoas recolherem (penso que para exportar) e é com esse momento que as pessoas ganham o dinheiro suficiente para garantir que podem comprar arroz (o alimento base das famílias). Depois disso, as pessoas têm uma agricultura de subsistência. Em Empada vendem o que sobra dessa agricultura no mercado da aldeia. Pode ser batata doce, milho, peixe, entre outras coisas.

5 - O mercado, a escola primária e o liceu, ficam dentro da aldeia de Empada.

6 - Segundo os dados de 2006 do governo, a aldeia de Empada tem cerca de 2500 habitantes. Cada família deverá ter em média entre 8 a 15 pessoas.

7 - Os principais utensílios agrícolas são a catana, a enxada, a pesca à linha e pesca com rede (aquelas que aparecem no documentário).

8 - Se uma pessoa perde a candonga tem de esperar pelo dia seguinte para viajar. A única alternativa é ter uma mota (caríssima) ou uma bicicleta (mais acessível, mas mesmo assim cara para uma pessoa de Empada). À esmagadora maioria das pessoas de Empada, só lhes resta andar a pé.

9 - O CRN e a Farmácia estão a poucos metros de distância (10/15 metros) um do outro, mas tanto estes como o Hospital estão mesmo na aldeia de Empada. No entanto são os únicos para todo o Sector de Empada: 82 aldeias (15 mil habitantes).

10 - As doenças mais frequentes são neste momento a Tuberculose, Malária e Sida.


E pronto! Aí estão muitas informações sobre Empada.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Alguém consegue adivinhar o que é isto?

(a Ketta e a Patrícia não podem responder)


... 5 dias depois ...



Um dia, quando íamos a caminho da casa da Matilde e do Sr. Quintino para entrevistar a filha mais nova deles, a Rosa, encontrámos duas senhoras sentadas por baixo do alpendre da casa a tirarem uma "massa" castanha de um alguidar e a moldarem-na numa esfera...

... o resultado final dessa moldagem manual eram umas esferas como as que estão na fotografia. Intrigados com aquilo decidimos aproximar-nos para perceber o que era aquilo. Numa primeira fase, riram-se de nós que não sabíamos o que aquilo era.
Depois lá nos disseram: são bolas de sabão para lavar a roupa.

Acho que nos explicaram como é que faziam esse sabão, mas sinceramente não percebi nada! Acho que fiquei demasiado intrigado com este sabão para ouvir qualquer outra coisa...



Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Gosto muito desta fotografia, muito mesmo, mas verdade seja dita, quem fez o clique aqui foi a Ketta.
Enquanto eu e a Patrícia entrevistávamos a Safi, a Ketta ficou a tirar fotografias às crianças. Esse era um dos poucos métodos que resultava para conseguirmos ter um pouco de calma à nossa volta e assim falarmos com mais à vontade com a Safi.

Na fotografia está a Cadijia, a filha da Sumai. A sua beleza é incandescente! Tem um sorriso lindo e uns olhos que nos prendem literalmente. É uma daquelas crianças que dá vontade de trazer para casa...


quarta-feira, outubro 22, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau



Este foi o segundo desenho que fiz em Empada. Estas árvores que aparecem estão completamente podadas, o que não é normal. Quando chegámos, a Ir.ª Emma disse-nos que dali a 15 dias as copas já estariam com muitas folhas, que quase não se notaria que tinham sido podadas. Achei aquilo muito estranho... como é que em 15 dias as copas das árvores iriam ficar cheias de folhas?

Ao fundo vê-se a palhota onde foi feito o debate com os jovens de Empada. Quando vi essa palhota pela primeira vez lembrei-me de uma fotografia do Gonçalo a dar aulas de viola nesse mesmo local, mas em 1997...

Antes de chegarmos, consta que essa palhota estava inabitável! Eram tantas as aranhas e insectos que se tornava impossível estar ali sentado à sombra. Parece que a solução para o problema passou pela "contratação" de um felino eficaz! O gato da missão chama-se Delmar (veio dos arquipélagos dos Bijagós através de barco), e num prazo de poucos meses conseguiu deleitar-se com tanta bicharada! Não havia aranha que lhe escapasse! Os lagartos (daqueles bem grandes) então, chamava-lhes um petisco! O empenho do Delmar foi de tal ordem que quando nós chegámos, a palhota era um dos locais onde as crianças permaneciam tranquilamente durante as tardes.

... depois de 15 dias em Empada as copas das árvores estavam muito bem compostas, e passadas 3 semanas quase nem parecia que tinham sido podadas!

Eu fiquei incrivelmente encantado com o poder do clima tropical.
O calor conjugado com a humidade faz verdadeiros milagres...

terça-feira, outubro 21, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Ando a entusiasmar-me com o texto e estes post estão a ficar muito grandes... depois já sei que ninguém lê...

Bom, as casas de Empada...

A grande maioria tem um telhado feito em palha. Essa palha resiste no máximo a duas épocas de chuva (dois anos portanto) e depois é necessário substituir tudo, senão começa a chover dentro...

Quem tem um pouco mais de posses tem telhados de zinco. Mas para ter esses telhados é preciso ter, não só dinheiro para comprar as placas de zinco, como também as traves em madeira, que têm necessariamente de ser mais resistentes que as outras (que só suportam a palha).

Artisticamente falando, as paredes são absolutamente fantásticas! A textura é fenomenal e as cores são incríveis. Representá-las no papel em aguarela seria um desafio emocionante...
... a parte mais triste das paredes é que se desfazem muito facilmente. Provavelmente o doseamento entre a areia e o cimento não foi bem calculado, ou então não havia dinheiro suficiente para comprar o cimento necessário.

O chão é também em terra.
O gado dorme dentro de casa. São poucas as famílias que já construíram uma divisão à parte para os animais.

Na casa da Safi só existe uma cama. A restante família dorme no chão... ou melhor, na terra...


segunda-feira, outubro 20, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Quando chegámos a casa da Safi para gravar o dia de trabalho da família ainda era escuro. São essas imagens que estão no início do documentário. Todo aquele cenário era tão fascinante que eu estava na dúvida entre tirar fotografias ou ficar petrificado a olhar para o que me rodeava. O fumo que saía por entre as palhas era lindíssimo... as crianças a acordarem saíam aos poucos de casa e começavam a vestir-se.
Quando a Sumai foi buscar água para lavar a loiça, as crianças aproveitaram a água para lavarem a cara e os dentes...
A Franca lavou os dentes com os dedos. Enquanto lavava os dentes olhava para mim e para a Patrícia. Eu tirei-lhe esta fotografia. A Patrícia gravou todo o momento.

Por esta altura nós já estávamos familiarizados com todos eles. Foi por isso que estas imagens saíram tão naturais...
Nos primeiros dias, quando chegávamos a casa da Safi, todas as crianças vizinhas se aproximavam a pedirem que tirássemos um postal (fotografia). Quase não se conseguia gravar nada. A única coisa que saía eram crianças super felizes a olhar para a câmara e depois para o pequeno visor, tendo como consequência uma risota pegada de alguns segundos.

A imagem que me fica dessas cenas é a do disparar do flash. O efeito imediatamente posterior era uma alegria de tal forma contagiante que só pensava em fazer mais um clique para ouvir tantas gargalhadas de tantas crianças!


domingo, outubro 19, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




A escola primária de Empada recebeu um apoio fantástico nos anos 90 que permitiu dar trabalho a carpinteiros e ferreiros e construir carteiras novas para as crianças poderem estudar em melhores condições.

Quando em 98/99 a guerra civil despontou na Guiné, a capital ficou tão afectada que mobilizou uma onda de refugiados pelo interior do país. Empada não chegou a sofrer directamente dessa guerra, mas muitos refugiados das cidades vizinhas procuraram ali abrigo.

A Guiné-Bissau parou praticamente toda a atividade durante a guerra e a escola primária de Empada não foi excepção à regra. Aliás, nem teve muitas possibilidades de escolha, as salas de aula passaram a servir de abrigo aos refugiados...

Durante esse tempo, as pessoas utilizaram as madeiras das cadeiras e mesas para poderem cozinhar, porque sair para o mato à procura de lenha era perigoso...

... passados 10 anos dessa guerra civil, a escola primária de Empada continua com as consequências. As crianças sentam-se nos ferros e escrevem em cima do que restou das madeiras...

Quando uma guerra acaba, aos nossos olhos, tudo fica em paz, mas a realidade é bem diferente...
... o que havia antes nunca mais volta a ser o mesmo...


sábado, outubro 18, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Se há objectivo do milénio que já é aplicado na Guiné-Bissau é o oitavo!

As mulheres pescam dia sim, dia não. Os homens pescam de vez em quando. Quando pescam vão de canoa pelo mar para pescar peixe maior. As mulheres pescam no rio com estas redes que se vêem na fotografia. Só pescam quando está maré baixa. Este braço de mar fica pequenino, mas mesmo assim elas têm de se organizar para irem pescar juntas. Colocam-se todas em linha a cobrir o leito do rio, de uma margem à outra, para que os peixes não consigam escapar.

Elas sabem que se forem pescar sozinhas os peixes fogem, mas se forem juntas, todas conseguem levar peixe para casa.

No final, o que cada uma pescou é para a sua família. O trabalho é conjunto, mas o benefício é pessoal, de cada uma delas.

É bonito este trabalho das mulheres de Empada.

sexta-feira, outubro 17, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Então e os homens de Empada?
No documentário não aparecem... por isso surge a dúvida...

Na fotografia está o Idrissa, o único filho rapaz da Safi. Não sei que idade tem, mas por não ser casado ainda não é considerado um homem grande.

A maioria das pessoas de Empada são muçulmanas e isso implica uma atitude muito especial em relação aos homens. Se por um lado representam um pilar na família, com tudo o que de bom isso acarreta, por outro, a liberdade que têm permite-lhes tomar decisões nem sempre pacíficas em relação à mulher.

Um homem mais velho é considerado um "homem garandi"- homem grande ou homem sábio -. Isso é algo de muito importante numa aldeia como Empada. Os problemas resolvem-se todos por uma espécie de conselho entre os homens garandis da terra. São eles que permitem tudo funcionar, que a paz se mantenha, que os conflitos de resolvam...

O homem garandi é-o pela idade e pelo respeito dos outros homens, mas essa grandeza vê-se pela forma como ajudam (ou deviam ajudar) a família...

... a Safi não casou uma terceira vez (o que lhe custou a rejeição da família) porque não sabia que homem lhe iria calhar... se um que iria com ela trabalhar para o campo, ou se daqueles que ficaria em casa à espera que a mulher ponha a comida no prato...

Em Empada são as mulheres que são grandes, sábias, fantásticas. Elas são todas assim...

Os homens... alguns são garandis, mas muito poucos são grandes homens!

O Idrissa não tem grandes opções a não ser a de ser um homem GRANDE. A idade que tem não interessa nada. O Idrissa trabalha muito! Vai pescar todos os dias para ajudar a colocar comida no prato. Tenta vender os peixes maiores para fazer algum dinheiro e come apenas o que sobra...

Que homens somos nós?

... grandes ou garandis?


quinta-feira, outubro 16, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Quando a Safi explica no filme que ela e as filhas andam 13 quilómetros para chegar até à horta, não se percebe bem que caminho é esse...

Acho que me compete aqui dar a conhecer um pouco do que realmente se faz a pé. Os primeiros 3/4 do caminho fazem-se por terra batida. Logo quando se sai de Empada há uma descida acentuada e logo depois há uma subida íngreme durante uns bons 15/20 minutos. Sobe-se isso tudo carregado com as ferramentas para lavrar a terra.

O último troço do caminho é já muito perto de um braço de mar. A terra torna-se húmida e aos poucos entramos por uma vegetação tão densa que (pelo menos eu) começamos a olhar para os troncos das árvores para saber quando é que vai cair um cobra em cima de nós...

A imagem registada pela fotografia acima, mostra o terreno exactamente antes de chegarmos à horta... a água é tanta que fiquei com as minhas botas bem ensopadas. Passei o dia inteiro com os pés cheios de água dentro das botas.

Aqui o perigo são as cobras de água... morre muita gente por causa das picadas das cobras de água. Quando estão a trabalhar nos arrozais passam horas a fio com água pela cintura e é muito normal serem picados...

É um trabalho duro.
Quando estava lá não conseguia deixar de me deliciar com a paisagem. De vez em quando parava e pensava no local geográfico onde me encontrava, como que querendo afastar-me em altitude e ver do "alto" como estava longe de Portugal, como estava longe de tudo, e como estar ali era tão especial.

Naquele momento tinha a minha vida confiada à família da Safi...

segunda-feira, outubro 13, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau




A Fámata tinha o penteado mais incrível de Empada! Fiquei absolutamente fascinado! Tão fascinado que, embora não a conhecendo muito bem, não resisti a pedir-lhe que me deixasse desenhá-la...

O cabelo é desde há séculos uma fonte de energia para as pessoas. Tudo o que simboliza faz com que nos sintamos melhor se temos um cabelo bonito. Se o cortamos, ele volta a crescer! Só isso é de tal forma misterioso que nos leva a termos um cuidado especial com ele.
O cabelo e a forma como é penteado mostra um pouco de nós, da nossa personalidade. Serve para marcar a nossa posição, para nos identificar com determinado grupo, mas também para seduzir.

As mulheres da Guiné tratam o cabelo com uma delicadeza e cuidado surpreendentes. O cabelo é a parte mais sensual do seu corpo. Passam horas com as amigas a tratar dele, a pentearem-se, a colocarem-se bonitas. Arranjam penteados novos, surpreendentes. Conseguem assim chamar a atenção para elas...

... não é o que se passa também connosco por cá?


Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Quando faltava pouco mais de uma semana para virmos embora, surgiu a oportunidade de conhecer uma nova família. A família da Matilde e do Quintino. Chegámos a fazer a entrevista e tudo. Filmámos a casa, as divisões, onde cozinhavam, dormiam, guardavam os animais, onde plantavam o arroz de sequeiro até chegar a hora de o levar para as bulanhas (arrozais) e estavam sempre várias crianças de roda de nós.

Uma delas era este rapaz que aparece na fotografia. Não sei o nome dele e só o vi das vezes que fui a casa da Matilde (que ficava no extremo de Empada). Um dia disse-lhe que os calções lhe estavam grandes (tinha de subir os calções sempre que dava um passo). Ele ficou envergonhado e desapareceu...

... passados alguns minutos voltou. Apareceu com uns calções diferentes, ainda grandes, mas não tão grandes.
Sorriu para mim.

Nesse dia percebi que o que dizemos tem um peso muito grande. Um ligeiro comentário, uma pequena observação faz a diferença. Senti que o valor da minha voz era tal, que poderia usá-la para algo maior, algo transformador, algo de importante...

... fiquei a pensar nesse momento e ainda hoje penso nele...


... a minha voz está cá e portanto não se pode fazer ouvir lá...

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




A história desta fotografia é muito simples:

Um dia fomos visitar o hospital de Empada. De chinelos nos pés, lá fomos por entre vários trilhos de terra vermelha com as pernas a bater nas plantações de mancarra (amendoim). Estava um sol tão intenso e abafado que era quase sufocante estar na rua. Corajosos, seguimos viagem até ao hospital. Visitámos os doentes, vimos a sala de partos (que descreverei noutra altura com uma fotografia apropriada), conversámos com o médico (o único do hospital), mas sobretudo conversámos com os doentes internados.

Quando nos apercebemos que estavam a aproximar-se umas nuvens, decidimos regressar antes que começasse a chover. Andámos 2 minutos e de repente começou a chover toda a água do céu! Toda mesmo! Parecia que íamos ficar inundados com tanta água...

Corremos um pouco até à casa de uma pessoa onde nos abrigámos. Pensei para comigo: "fogo! foi por um triz que não ficámos com a câmara de filmar encharcada..." - seria a nossa desgraça!

Ao longe vinham umas crianças bem descontraídas, num passo calmo, a aproveitar a água que caía de forma quase divina...
A mais pequenina vinha quase a dançar, tal era a satisfação de andar à chuva!

A água na Guiné é um dom de Deus. Só chove nos meses de Julho a Setembro e é com essa água que se prepara todo o campo de cultivo...

... plantam-se as sementes, planta-se o arroz...


domingo, outubro 12, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Estas latas fascinavam-me de tal maneira que ficava como que hipnotizado a olhar para elas... para as gotas a caírem e a transbordarem para fora...

Neste dia estive sentado em casa do curandeiro durante umas horas. Não podia sair dali porque chovia muito, mas também não me apetecia deixar aquele pedaço de lugar tão calmo... tão cheio de nada...

Foi neste dia que desenhei a Leonor...
Foi neste dia que desenhei as latas e baldes...
Foi neste dia que me lembrei do melhor professor de Desenho que tive até hoje... Domingos Rego...
Foi neste dia que me apeteceu desenhar com aguarelas e não pude porque não as tinha...
Foi neste dia que me apeteceu desenhar com a terra vermelha...
Foi neste dia que voltei a lembrar-me que são as coisas simples e pequeninas que interessam, que têm valor...

Foi neste dia que me apeteceu ficar lá...

sábado, outubro 11, 2008

Diário Gráfico: Guiné-Bissau | Graphic Diary: Guinea-Bissau




Esta é a Franca. Aquela menina que aparece no documentário a lavar os dentes com os dedos.

Quando fomos à horta da Safi fazer a filmagem, num dos momentos de descanso eu e a Ketta estivemos a jogar com ela aquele jogo em que se batem as mãos e se canta ao mesmo tempo. Ela levava aquilo tão a sério que ficava com um ar super concentrado e uns olhos esbugalhados de atenção para não perder a lógica da sequência.

Normalmente a Franca estava sempre a rir, sempre bem disposta, sempre alegre. Quando a desenhei ficou tão séria que nem parecia ela. Ao fim de algum tempo já estava cansada de posar para mim. Mexia-se frequentemente, mas quando lhe perguntava se já estava cansada (bu stá cansa?) ela sorria e abanava a cabeça negativamente...

... são assim os guineenses... têm grande espírito de sacrifício, mesmo nas coisas simples como ajudar um amigo a fazer um desenho...

sexta-feira, outubro 10, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau




Fanado.

É festa...
São palmas, danças, tambores...
Muita cor...
As mulheres dançam...
Os homens tocam e bebem...
É motivo suficiente para matar um animal e comer a carne...
Dura a semana inteira e acaba com uma festa durante toda a noite...
... no final, alguns rapazinhos passaram a ser adultos... prontos para assumirem responsabilidades de adultos...