quinta-feira, junho 30, 2016

Os timorenses


Sou casado com uma timorense, portanto, a minha opinião é completamente parcial...

Quanto mais leio sobre este povo, mais entusiasmado fico.
Quanto mais os conheço, mas intrigado fico.
Quanto mais vivo com eles, mais certezas ganho que os habitantes deste planeta deviam pensar mais no que nos aproxima do que o que nos afasta. Nós portugueses, temos uma identificação genuína, emotiva e quase inexplicável com este povo que vive do outro lado do planeta, em metade de uma ilha.

Já aqui na Europa, muito mais perto, os povos teimam em acentuar as diferenças...

Sobre o desenho: a Belinha vive no CJPAV, em Taibesse, acolhida pela Rosalina Dias. É inteligente mas tímida. De sorriso fácil, mas envergonhada. Veio para Díli à procura de uma vida melhor. Foi uma das raparigas que aprendeu a desenhar com mais facilidade. Muito concentrada...
Há pessoas inteligentes em todo o lado. Todo o lado!

quarta-feira, junho 29, 2016

Praia de pescadores



Há sítios que, por mais que tente desenhá-los, nunca vão conseguir transmitir a beleza que têm.
O desenho fica outra coisa, é certo, igualmente valiosa, mas a sensação de pisar aquele pedaço de terra (neste caso coberto de água salgada) é incomparável. 
Esta praia em Timor, escondida, ali mesmo nos arredores de Díli, só com este barco de pescadores amarrado é um desses sítios...

terça-feira, junho 28, 2016

praia de pescadores em Díli


O penúltimo dia em Timor foi dia de praia. As primeiras que se encontram são de pescadores.

Há qualquer coisa neste desenho que me leva o pensamento para a importância da honestidade e da transparência. Ser pescador é uma profissão tão relevante como qualquer outra. É mais física, mas de intelectual tem também muito. Ali, sabedoria não é académica, mas da vida, da experiência. Não é por acaso que se chamam mestres aos pescadores mais experientes que comandam o barco.

Hoje, uma amiga vai defender a tese de mestrado dela. Conseguiu. Parabéns! 
Eu continuo com a minha atrasada. Outras coisas se têm colocado à frente. O desenho, viagens, ilustrações, desafios irrecusáveis...
Mas nem toda a sabedoria é académica. A minha também é, mas não apenas. Esforço-me para colocar a sabedoria da vida em pé de igualdade com a dos livros.

segunda-feira, junho 27, 2016

Casa de Balide, Timor-Leste


Foi nesta casa de Balide que a Ketta nasceu e viveu até aos 4 anos. Foi também ali que os pais viveram até virem todos para Portugal em 1986. Foi por aquela porta que entrei pela primeira vez numa casa timorense. Estávamos em 2009 e tinham passado apenas 10 anos do referendo que deu lhes a independência da Indonésia. Lembro-me muito bem dessa primeira refeição. Comi apenas arroz e legumes. A carne era demasiado dura e à noite adormeci com fome...

Seis anos depois:
Balide, 30 de agosto de 2015
Em 2009 desenhei esta sala da casa de Balide. As horas demoravam a passar e havia tempo para descansar verdadeiramente, ler, desenhar, pensar e reflectir. Agora, em 2015, queria desenhar de novo esta sala para perceber se continuava tudo igual...

Mas não continuava. As crianças que enchiam a casa já não estavam lá. Apenas o bebé recém nascido era agora uma criança. As outras estavam todas na universidade, umas na Indonésia, outras em Timor. A mais nova, Mazi, estava agora a terminar o secundário e com planos de vir para Lisboa. Encorajei-a a dar o litro, a falar mais português e a lutar pelos seus sonhos!

É atribuída a Heráclito de Éfeso a frase: 
A mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
Não sei se é mesmo dele ou se é mito urbano, mas parece-me muito mais interessante esta outra que é mesmo dele: 
Não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós também já somos outros.

Quando penso nos filósofos gregos, lembro-me do tempo disponível que tinham para aprofundar os seus pensamentos. Que luxo! Tempo é sempre o que nos falta...
Fui à procura do meu post de 2009 sobre o desenho que fiz e descobri que reflecti exactamente sobre o tempo... 
Há viagens que nos transformam profundamente. Ir a África em 2002 foi um delas. Ir a Timor em 2009 também. Voltar lá em 2015 foi como querer entrar no mesmo rio, mas Heráclito tinha razão...

domingo, junho 26, 2016

Viagem a Ataúro


Porto de Díli, 29 de agosto de 2015
Ir a Ataúro revelou-se uma verdadeira aventura! O barco partia às 9h, mas era preciso estar no porto às 7h para garantir lugar sentado. Havia tempo para desenhar, pensei eu... pois é, mas pelas 7h45 tive de ficar com o desenho inacabado. A entrada no barco foi caótica com todos a tentarem entrar ao mesmo tempo. 2h30 de viagem com muito fumo de gasóleo e um navio completamente sobrelotado de pessoas, carros, camiões, animais, cereais, algas, lenha, etc., etc., mas com a adrenalina de visitar um novo local pela primeira vez! Ataúro é mesmo muito isolado e era para lá que se enviavam os prisioneiros. Merecia uma visita bem mais prolongada para ficar com uma opinião mais estruturada.


Foi em Ataúro que conduzi, pela segunda vez, um carro com o volante do lado direito (a primeira foi também em Timor, mas numa viagem de Maubisse para Díli). Fomos conhecer o P. Chico, italiano a viver em Timor há décadas. Tudo rápido, sem tempo porque o barco partia dali a pouco tempo, mas com uma vontade enorme de não deixar escapar o momento.

A ilha de Ataúro despertou em mim a curiosidade. Timor desperta cada vez mais! Investiguei e encontrei este vídeo sobre uma reportagem que a RTP fez em 1975, logo após o confronto entre a Fretilin e a UDT, e uns meses antes da invasão militar indonésia, por uma equipa liderada pelo jornalista Adelino Gomes. Vale a pena ver!



sábado, junho 25, 2016

Catedral de Díli


Díli não é uma cidade muito grande. Na escala do país é, mas para quem está habituado a circular em cidades maiores, é normal ficar-se com uma sensação familiar ao passarmos várias vezes nas mesmas ruas quando andamos pela cidade. Foi isso que aconteceu com a catedral de Díli. Ficava sempre a ideia de lá voltarmos para desenhar, mas os dias iam passando e parecia que era tão perto que ficava sempre para amanhã. O mesmo já tinha acontecido na viagem de 2009.

Até que um dia decidiu-se e não se voltou atrás: fomos lá, eu, a Ketta, o Matias e os P. Pedro e Marcos. 
Catedral de linhas simples, interior ainda mais simples e difícil de desenhar, a cobertura era muito bonita porque fazia lembrar as casas tradicionais timorenses. O meu desenho ficou um desastre nesse aspecto. O Matias dormia no carrinho e estava um Sol tórrido. O único local no exterior à sombra era este ponto de vista que não permite ver em condições a beleza da cobertura. Estava também com uma moleza muito grande... e ficou assim o meu desenho...

quinta-feira, junho 23, 2016

East-Timor meetings

Retomando a reportagem desenhada em Timor-Leste:


Escrevi assim no meu caderno, o resumo da conversa com o bispo de Baucau:

2º encontro do imc, agora com o bispo d. Basílio, administrador apostólico de Díli e bispo de Baucau. Muito simpático, bem disposto e com muita clarividência. Sabe o que quer para a igreja timorense e, sobretudo, para as pessoas. Foi muito curioso ouvir que o território de fronteira em Timor é mesmo a capital, com tanta gente que vem à procura de uma vida melhor e de tantas empresas turísticas e de construção a instalarem-se...


Gosto especialmente deste segundo desenho. Começou com a vista panorâmica feita a partir da capela em Tasi Tolo (três lagos) onde, em 1989, o papa João Paulo II celebrou Eucaristia quando visitou Díli durante a ocupação da Indonésia. Contou-nos um padre franciscano que, durante a homilia, João Paulo II percebeu que alguém tinha trocado o papel onde ele tinha preparado o que queria dizer aos timorenses. Não se sabe ainda como isso aconteceu, nem quem o terá feito, embora se desconfie dos serviços secretos indonésios. Quando começou a ler, deu-se conta que aquelas palavras não eram as dele... Sem dar nas vistas, dobrou o papel e começou a falar de improviso, para que as palavras fossem as certas!

Depois as reuniões continuaram e fomos visitar as irmãs Canossianas (as primeiras a chegar a Timor). Pensámos que estávamos a falar com a ir. Elisa, mas percebemos mais tarde que tinha sido a superiora delas a receber-nos: ir. Guilhermina Marçal.


- Têm de ir falar com o P. Virgílio Silva, dos Salesianos. - dizia-nos a Rosalina Dias, madrinha da Ketta e gestora do Centro Juvenil Padre António Vieira (um dos melhores locais para alguém se alojar, mesmo!), onde ficámos a dormir.
- Sim, falar com um Salesiano era bom, porque tem a experiência das escolas. - respondeu logo o P. Pedro Louro.

Fomos então. Homem muito simples, recebeu-nos quase de surpresa de muito bom grado. Falou-nos da história dos Salesianos em Timor-Leste, dos desafios que têm pela frente e da relação excelente com os padres da Indonésia. Em janeiro passado, soubemos que o papa Francisco o tinha nomeado Bispo de Díli! Excelente homem. Dará um bom bispo, de certeza.


Depois foi a vez de falarmos com os jesuítas timorenses
Trabalham em Timor desde finais do séc. XIX e o superior da região disponibilizou-se a falar connosco. Homens sábios os jesuítas, sempre. O P. Joaquim Sarmento é disso mesmo um exemplo: simples, inteligente, humilde e de bom humor. A conversa estava tão boa que o desenho ficou assim mesmo. Fechei o caderno e perdi-me nas delícias da conversa...

terça-feira, junho 21, 2016

one day in Lyon


Estavam aqui estes 3 desenhos de Lyon por publicar no meu blogue.
A caminho de Lisboa, vindo de La Tourette, em abril passado, parámos em Lyon, na Basilique Notre Dame de Fourvière. Não havia muito tempo para desenhar, pois o objectivo era descermos até ao centro da cidade, mas, enquanto uns entraram para ver os fabulosos vitrais, o que me atraía mesmo era esta imensidão de espaço que nos ajuda a pensar maior, mais longe, sem receios...


Depois de almoço, junto à margem do rio Saône, a vista para a outra margem era deslumbrante. Comecei pela Église Saint Georges e deixei-me levar pelo casario até encontrar, de novo, a Basilique Notre Dame de Fouvière. O tempo continuava a ser reduzido, mas aqui já estive cerca de 20 min.


- Un cadeau, por favor! - pediam os alunos.
- Vamos então ao centro, nem que seja para comprarmos croissants

Parámos na Place Saint-Jean, mesmo em frente à catedral romana Saint-Jean Baptiste. Aqui sim, o tempo foi tão pouco, mas tão pouco, que nem sei como fiz isto tudo...
A escrita, essa, completei-a já em Lisboa, durante a avaliação com os alunos da nossa viagem.

segunda-feira, junho 20, 2016

Piazza S. Marco at night

Dia 5
(6ª parte)


Último desenho de Veneza.
Depois de jantar tinha de ir à zona do Giardini para me encontrar com a Esmeralda (tia da Ketta a viver em Veneza), que queria enviar goodies (lembranças) para a família. Era tarde, muito tarde e a viagem de vaporetto ainda era longa. O Zé estava cansado:
- Epá, eu não vou lá, vou directo para a cama.
- Anda lá, aproveitamos e fazemos um desenho noturno. - disse-lhe.
- Não vou, estou estoirado. Eu já não tenho a tua idade! - resmungava.
- Veneza à noite é linda. Lembra-me os desenhos do Hugo Pratt na Fábula de Veneza. - tentava eu convencê-lo...
- Come with us. It will be nice! - dizia também a Benedetta.
- Não vou, Não vou! Quero dormir. Amanhã temos de acordar cedo para regressar a Lisboa e tenho de dormir. - resmungava o Zé ainda mais.
- Nunca sabes quando é que podes voltar a Veneza. É a última noite. Oportunidade a não desperdiçar! - dizia eu de novo, já a sentir que as minhas palavras não valiam nada...
- Epá, então se eu não vou, como é que se vai da estação do vaporetto até ao apartamento onde estamos?
- Tens aqui o mapa. O caminho é o mesmo que fazemos todos os dias. Não há como enganar.
- Epá, não vou conseguir. Explica-me lá isso direitinho no mapa. - por momentos dei-me conta que poderia estar ali o segredo para ele vir connosco e fazer o tal desenho noturno.
- É só ir em frente pela rua estreita, virar à esquerda, passar a ponte, passar a praça, seguir novamente pela ponte até ao Campo S. Maurizzio, depois viras à esquerda e depois à direita!
- Epá, vou-me perder...
- Bolas Zé, então vem connosco!
- Não vou, não vou. Tenho de ir dormir que não tenho conseguido descansar nada à noite. Estou cansado, não quero desenhar mais! Estou farto de desenho!
- Bom, então não sei. Só se levares o mapa da Benedetta, que é mais completo e tem as ruas todas.
- Ok, vou levar esse. Explica-me lá outra vez como é que se vai.
...
E andámos nisto minutos a fio. Eu sempre com a esperança que ele viesse connosco até ao Giardini e depois a pé para fazermos o desenho à noite. Nada feito. Foi mesmo sozinho de regresso a casa. Disse-lhe assim antes de seguirmos caminhos diferentes:
- De certeza que não te vais perder, mas atreve-te a fazer um desenho à noite sem nós, depois desta conversa toda.

Eu e a Benedetta fomos ao Giardini e regressámos de vaporetto até S. Marco. Chegámos à praça, sentámo-nos na esplanada e, completamente rotos de cansaço, fizemos mais um desenho. Via-se muito pouco, mas tenho dúvidas se era da escuridão ou das minhas pálpebras a teimarem fechar-se. Terminado o desenho, a caminho de casa, disse à Benedetta: tenho a certeza que o Zé fez um desenho à noite sozinho. E vai estar excelente! 
E não é que fez mesmo? E não é que está mesmo excelente? Só falta ele digitalizar e publicar. Foi por isso que o convidei a vir comigo. Além de me divertir imenso, é autêntico, um poeta a desenhar e sempre surpreendente. Foi uma honra ter feito esta enorme reportagem com estes três amigos: José Louro, Benedetta Dossi e Simonetta Capecchi.

Obrigado a: 
Direção Geral das Artes - pela organização e convite
Urban Sketchers - por existirem
Laloran - pelos cadernos maravilhosos que usámos
Papelarias Emílio Braga - pelos cadernos fornecidos aos venezianos
Viarco - pelos lápis de cor aguareláveis
Margarida Silva - por toda a ajuda na logística
Carlos Moura-Carvalho - pelo convite

Espero ter estado à altura. Venham mais reportagens destas!

domingo, junho 19, 2016

Duelo em Veneza

Dia 5
(5ª parte)


Último jantar em Veneza. A Simonetta sugeriu a Trattoria Al Ponte del Megio, onde ia encontrar uns amigos dos tempos da faculdade. Apanhámos o vaporetto para sair da Giudecca e fomos a pé. Há lá outra maneira melhor de conhecer, descobrir e perdermo-nos numa cidade?
Quando chegámos, finalmente, os amigos da Simonetta (e ela própria) já tinham comido. Sentámo-nos e fizemos o pedido. Última noite para mim significava comer una bella lasagna!

Enquanto esperava, embora já tivesse 10 duplas páginas cheias desse dia e me sentir completamente estoirado, decidi repetir o desafio de desenhar a Benedetta, afinal de contas, tinha começado assim o meu primeiro dia. Começo sempre pelos olhos, depois o nariz, lábios, queixo e cabelo. Mal cheguei aos lábios percebi que já não ia ser ela. Iria parecer uma pessoa, mas não ela. Avisei-a disso mesmo e continuei. Quando queria entrar na mesa, desenhar os talheres, pratos e restante contexto, ela arranca-me o caderno da mão e diz que me quer desenhar a mim, com a minha caneta, no meu caderno.
- Tudo bem, mas olha que não estás mesmo parecida...
Quando terminou (já com a lasagna na mesa a arrefecer) disse-me que eu também não estava parecido e que seria preciso repetir 1000 vezes para conseguirmos melhorar. E escreveu no caderno, para não nos esquecermos.
Concordo. É a melhor receita: desenhar, desenhar, desenhar...

sábado, junho 18, 2016

Giudecca panorama view

Dia 5
(4ª parte)


Saídos da tavola rotonda, a Simonetta Capecchi queria mostrar-nos uma vista panorâmica sobre a Giudecca e Dorsoduro. A nossa reportagem não ficaria completa sem este plano de conjunto. Andámos e andámos pelo cais até chegarmos à antiga zona fabril da Giudecca. Parámos em frente a um dos hotéis mais imponentes de Veneza, o Hilton Molino, da família Hilton:
- Be my guest - disse a Simonetta, apontando para a porta de entrada.
- We're going in? - perguntei incrédulo!
- At the roof we can see one of the most beautiful panorama views of Venice - disse ela confiante. E continuou: And we don't have to pay nothing.
- Let's go then! - respondemos nós em uníssono! :)

E foi assim que chegámos ao terraço do hotel com esta vista deslumbrante. Entrámos no hall, dirigimo-nos ao elevador, pressionámos o botão do último piso, saímos do elevador, subimos os degraus em direção à piscina de terraço, continuámos até à ponta e pronto, era mesmo dali que íamos fazer os desenhos! 
Fica a dica para quem for a Veneza e quiser desenhar uma vista linda de morrer sem ter de pagar para subir. :)

sexta-feira, junho 17, 2016

Tavola rotonda a Venezia

Dia 5
(3ª parte)


A mesa redonda (tavola rotonda) com estes grandes nomes da arquitectura (Francesco Dal Co, Andrea Barina, Álvaro Siza Vieira, Rafael Moneo, Cino Zucchi e Mirko Zardini), moderados pelo também arquitecto Alberto Ferlenga, estava prevista para acontecer no Centro Cultural da Giudecca, mas como estava um dia lindo e o número de pessoas era imenso, acabou por se localizar nos jardins do IVESER, mesmo ali ao lado.

Interessava-me desenhar o ambiente de multidão num local tranquilo como aquele jardim.
Comecei, claro, pela vertical do edifício que alberga agora a Università Internazionale dell'Arte, para me perder nos rendilhados e ir descendo até ao nível do chão, onde as pessoas se dividiam entre o descanso de estar na relva e a atenção de ouvir os mestres.
Encostei-me ao muro, fiquei de costas para a água e a caneta foi deslizando, praticamente sem a levantar do papel. Acabei um pouco antes do Mirko Zardini falar. Quando ele terminou chegou o nosso primeiro ministro António Costa. Ia começar o beberete e a confusão à volta do Siza. Nós os quatro, eu, o Zé, a Benedetta e a Simonetta, fomos desenhar a Giudecca do topo de uma antiga fábrica, pois a nossa reportagem desenhada ainda estava longe de estar terminada e não havia tempo a perder...



créditos fotográficos: Andrea Piovesan

quinta-feira, junho 16, 2016

Alvaro Siza meeting at lunch

Dia 5
(2ª parte)


Não estava a ser fácil estar perto do Siza. Todos queriam estar com ele, falar com ele, tirar fotografias ou pedir-lhe autógrafos, o que não dava espaço para mais ninguém. Como não sou metediço, olhava, de longe, tudo a acontecer sem me intrometer...
Havia a ideia de passarmos algum tempo juntos a desenhar e a falar de desenho. Falámos disso com o diretor geral das Artes. Que bom seria termos tido essa oportunidade: 4 urban sketchers a falar de desenho em cadernos com o Álvaro Siza Vieira. Mas não foi possível. Não havia tempo nem tranquilidade para o fazermos. Ao perceber isso, decidi desenhá-lo fosse de que maneira fosse. Primeiro de longe, enquanto ele estava sentado à espera que um fotojornalista italiano fizesse a chapa. Acontecia tudo tão rápido que optei por deixar assim esta página, com ele a olhar para fora do caderno...

Depois veio a hora do almoço e todos os lugares à sombra ficaram ocupados!

@ DGArtes

Almocei tranquilamente e sem pressas de voltar ao desenho. Bebi dois copos de vinho a acompanhar a pasta italiana e terminei a pedir uma garrafa de água. Levantei-me depois e deambulei à procura do local para desenhar. Nada. Andei para trás e para a frente a tentar encontrar o ponto de vista certo que mostrasse a animação da Tavolata, mas não estava a conseguir...
A meio caminho, decidi sentar-me num dos lugares à sombra que já estava vazio. Nesse instante, levantou-se o Siza do outro lado da mesa e começou a caminhar na minha direção. Vou desenhá-lo outra vez - pensei. Por sorte, alguém foi conversar com ele, o que me deu tempo para abrir o caderno. Assim que comecei a desenhar, ele olhou logo para mim. Deixou de conversar com a pessoa com quem estava e veio ter comigo. Sentou-se e ficou a ver-me desenhar. Passado uns segundos disse: você desenha bem...
A partir desse momento era inevitável mostrar-lhe o meu caderno e todos os outros desenhos feitos até então.

@ DGArtes


As interrupções eram constantes. Apareceu um casal que vive na Bonjour Tristesse, um arquitecto italiano que tinha sido um dos primeiros alunos Erasmos do Siza no Porto, várias pessoas a pedir autógrafos, o jornalista da Sic com a Cândida Pinto a querer fazer uma notícia e mais não sei quantas pessoas... foi um frenesim...


Quando as pessoas apareciam, eu voltava às páginas onde estava e continua os desenhos dele. Tudo muito rápido e ele sempre a mudar de posição...
O rapaz de óculos escuros que estava com ele (e que não sei mesmo quem é) disse-me entretanto:
- Você não pode pedir ao Siza para autografar no seu caderno.
- Pois... - respondi intrigado...
- É que há uns anos já tivemos um problema com uma pessoa que fez um desenho e pediu ao Siza um autógrafo. Ele claro que assinou, com generosidade, mas a pessoa depois vendeu o desenho como se fosse um original do Siza. Foi um problema.
- A sério?!? - não queria acreditar.
- Sim. Parece mentira, mas é verdade.
- Gostava de ter um autógrafo dele, mas posso pedir para ele assinar nos flyers da exposição...
Entretanto o Siza é completamente desviado para uma filmagem da Sic e a minha conversa com ele termina abruptamente. Faço mais um desenho sentado, mas o autógrafo não chegou a ser feito...


Enquanto ele dava a entrevista, tentei desenhar o ambiente da Tavolata, mas não fiquei contente com o resultado. Voltei a sentar-me à mesa e perguntei se podia desenhar a senhora que estava ao meu lado. Não percebeu o que perguntei e respondeu-me que não podia desenhar, que não queria. Reiterei que queria ser eu a desenhá-la e, então, deixou. Perguntou-me antes quanto tempo ia demorar. Dez a quinze minutos, respondi eu. Tudo bem, ordem para avançar.
Enquanto fazia o desenho, foram vários os sorrisos dela e percebi que estava a ficar contente com o resultado.
- De pernas para o ar parece sempre bem - alertei eu, prevenindo eventuais desapontamentos no final.
Quando virei o caderno ela gostou tanto que me pediu autorização para tirar uma fotografia. 
- Claro que sim! Pode escrever o seu nome perto do desenho?
Ela olhou para mim com um ar de espanto e disse com sotaque alemão: 
- Brigitte Fleck!
- Sim, mas pode escrever? - respondi atrapalhado por lhe ter perguntado o nome e ter ficado com a sensação que devia saber quem ela era...
Feita a investigação em casa, trata-se realmente de uma pessoa muito importante na promoção da obra do Siza em livro e sua internacionalização. Sempre a aprender Mário, sempre a aprender. E que honra tê-la desenhado também, ainda que quase sem querer...

@ DGArtes

quarta-feira, junho 15, 2016

Reporting from the front: Alvaro Siza in Giudecca

Dia 5
(1ª parte)

25 de maio de 2016, grande adrenalina logo de manhã. Quando o despertador tocou, o Zé voltou a dizer em voz alta: 
- Voltei a não dormir nada! Estou tramado...
- Bora lá Zé! Hoje é o grande dia da inauguração e temos de chegar a horas! - respondi eu também ensonado e mal dormido. Era sempre eu quem se levantava primeiro. O Zé ficava a fazer ronha na cama...


Mal chegámos à estação fluvial S. Maria del Giglio tirei o caderno para aquecer. Coloquei-me mesmo junto à água para desenhar a outra margem. Não há maneira de saber quando chega o vaporetto, porque esta é uma estação pequena e não tem o ecrã com o tempo de espera, mas o que interessava mesmo era não desperdiçar o tempo.
A Benedetta só dizia:
- Não sei como é que vocês conseguem fazer isso assim tão rápido, descontrolado e controlado ao mesmo tempo. Isto está a ser uma grande aprendizagem para mim, para não me preocupar tanto com o resultado final...
Eu e o Zé riamo-nos e a caneta nem levantava do papel...
Chegou entretanto o vaporetto e o desenho continuou ao sabor do balanço do barco.


Chegados à Giudecca, a confusão de pessoas estava instalada. Todos à espera, mas uns com mais adrenalina do que outros. Quando pensamos que somos uns outsiders, que ninguém nos conhece e ali estão só vedetas, começam a aparecer pessoas conhecidas. Primeiro um grande amigo português que vive em Vittorio Veneto há décadas, o Domingos Ribeiro, tradutor e intérprete, com a Luzia, excelente académica e prestes a entrar no mundo laboral na área da comunicação e jornalismo (é bom ver como os portugueses são mesmo excelentes em qualquer parte do mundo). 
Depois a Cristina Carrilho da Graça, minha professora de Desenho na António Arroio, ali presente com o marido. Ao falar-lhe, passei a conhecer mais pessoas ainda e, quando dei por mim, estava só na conversa em vez de desenhar...
Encostei-me a uma parede e comecei freneticamente a desenhar. O ambiente tornou-se ainda mais fervilhante com a chegada do Siza. Jornalistas, fotógrafos, câmaras, políticos, todos de roda dele... que loucura, parecia uma estrela rock... e é, mas da arquitectura!


Com o acalmar do ambiente lá fora decidi entrar. Nos visitantes havia um misto de interesses: uns queriam mesmo ver e ouvir tudo ao detalhe. Os vídeos da sic são excelentes e merecem cada segundo. As maquetes são lindas. O ambiente de obra transformado em exposição é absolutamente brilhante. Até os grafitis que estavam nas tábuas do estaleiro foram levados lá para dentro (o Zé tem uns desenhos muito bons disso mesmo). 
Outros circulavam de uma sala para a outra olhando de relance para tudo e sem tempo para parar. Percebia que o foco deles era acompanhar o Siza. Uns pela excitação de o ver ao vivo, outros porque seguiam a massa de pessoas. Outros ainda, porque era ali que se estavam a tirar as fotografias para os jornais...


O Siza saiu lá para fora e a exposição esvaziou. Ficaram apenas os que queriam mesmo ver tudo ao detalhe. Voltei a encostar-me a uma parede. Nestes dois bancos sentaram-se dois habitantes locais. Queriam ver o vídeo com calma e sem barulho. Também eu...
Há uma imagem muito bonita no filme em que o Siza aparece em primeiro plano e, em plano de fundo, vê-se o casario de Veneza com a torre campanária da Piazza di S. Marco. É tudo rápido, muito fugaz, mas tirei as aguarelas e fiz essa mancha de memória. Depois os limites da tela e a silhueta das duas senhoras sentadas a ouvir falar do sítio onde moram.
Lindo este momento...


Depois, antes de almoço, tirámos uma fotografia de nós os 4, urban sketchers, em trabalho de reportagem na Giudecca. A chapa oficial está aqui, mas antes fiz esta selfie. 
Mal sabia eu que durante o almoço estaria à conversa com o Siza sobre desenho, canetas, a linha preta, Veneza, enfim, uma honra...
Virá essa história no próximo post.

sexta-feira, junho 10, 2016

Burano and vaporetto

Dia 4 
(3ª parte)


Andar no vaporetto não é como andar num qualquer outro transporte público. Tem tudo aquilo que um qualquer outro transporte público tem, mas consegue ter mais ainda! Esse mais é que é difícil de desenhar... e acho que não consegui. Desenhei, desenhei, desenhei, mas não consegui guardar no meu caderno a sensação de uma criança com os olhos arregalados a olhar para tudo como se fosse a maior novidade da sua vida...


Não sou 100% eficaz nisto que vou dizer, mas, às vezes, antes de fazer um desenho, já sei que ele vai correr mal. A página ainda está em branco, olho à minha volta e sei, apenas sei. É qualquer coisa sobre o ponto de vista ou o desconforto físico, mas acontece-me ter essa intuição e, normalmente, está certa...
Outra coisa que me acontece (e esta é mesmo 100% eficaz), é saber que um desenho vai correr mal assim que faço a primeira linha.

Neste caso, assim que nos sentámos os três para desenhar eu sabia que aquilo não ia correr bem para o meu lado. Engonhei. Olhei para o relógio para confirmar se havia tempo para desenhar. Olhei em volta e meti conversa com as pessoas só para passar tempo...
Tirei as folhas soltas, a tinta da china e o pau de madeira na esperança que a técnica magnífica do KK me salvasse. Comecei pelo campanário, mas eu sabia... e assim foi. Nem o acabei. Mas também não o rasguei (os desenhos não se rasgam!). Meti-o na capa na esperança de no dia seguinte olhar para ele de modo diferente, mas ficou assim: um desgraçado desenho, feito em Burano, inacabado, que só veio parar ao blogue porque, três dias antes, enquanto fazia este desenho, mal começámos, o Zé Louro disse-me:
- Sabes quando fazemos uma linha e já sabemos que o desenho não tem salvação? (as palavras usadas foram outras, mas não as posso transcrever aqui)




Em honra do meu amigo José Louro, durante a viagem de vaporetto de Burano para Veneza, disse-lhe:
- Zé, nunca te consegui desenhar em condições. Ficas sempre mal nos meus desenhos. Deixa-me lá tentar outra vez.
- Queres que fique assim?
- Assim como?
- A olhar para a Benedetta a desenhar...

quinta-feira, junho 09, 2016

walking in Venice

Dia 4 
(2ª parte)  



À saída da Piazza S. Marco encontrei uma livraria. Entrei para comprar um livro para o Matias. Não interessava se estava em inglês, italiano, ou noutra língua qualquer, tinha era de ser um livro!
Dei de caras com este La Rumeur de Venise, da Albertine. Um pouco caro, mas vale cada euro.


Livro comprado, o destino era agora o Campo di SS Giovanni e Paolo e havia uma longa caminhada a fazer. Como é impossível ficar indiferente a cada esquina da Sereníssima, propus um exercício/jogo: à vez, quando cada um de nós visse algo que gostava mesmo muito de desenhar, parávamos todos e tínhamos 1 minuto para fazer o desenho. Resultado: muita palhaçada, risos e desenhos rápidos.
Conclusão: o Zé Louro é mesmo o mestre deste tipo de registo. Top, mesmo! Espero que ele publique os desenhos muito em breve. Para já, ainda só abriu um pouquinho o livro...


Chegámos então, já esganados de fome, à famosa praça onde está a escultura do Verrocchio. Os venezianos chamam-lhe apenas a escultura Colleone por ser o capitão-general que lá está.

Não queríamos perder tempo e procurámos uma fatia de pizza para passar aos desenhos rapidamente. No caminho, passámos por uma montra recheada de pasta feita à mão. O restaurante fazia fila à porta e a Benedetta disse-nos: logo à noite temos de jantar aqui! Um restaurante italiano cheio de italianos só pode ser bom sinal...


- Epá, vou fazer vários estudos da escultura equestre. - dizia-me o Zé.
- Boa, é assim mesmo, gosto dessa convicção toda!
- Assim daqueles bem arrumadinhos com alçados; tudo como mandam as regras. - insistia.
- Epá, vamos a isso!
- Não queres entrar ali na igreja primeiro, para ver o interior? - isto é só rir à gargalhada. Os planos trocam-se num clique, mas está sempre tudo bem! 
- Vamos lá então. Já que cá estamos... (~ tempo para caminhar e entrar ~) Uau, olha para trás - disse eu mal passámos a porta de entrada - parece que a fachada veio para o interior...
- Inacreditável...
- É preciso pagar para ir mais lá para dentro.
- Epá, não vale a pena. Vamos sair para desenhar...
- Ok, agora é que é!

E fui à procura de um local onde me sentar. Encontrei uma pequena coluna, mesmo junto à água do canal, onde me encostei depois de me sentar no chão. Desenhei primeiro a escultura sem mais nada à volta. Queria dar-lhe a importância devida e, como no desenho nós é que decidimos o que fica no papel, ficou assim com todo aquele espaço em branco para respirar
Depois peguei na caneta sépia e comecei por onde começo sempre: a esquina vertical mais perto de mim. A escultura, essa, ficou apenas a linha de contorno neste segundo desenho e fiquei agora com uma certeza: se um dia voltar a Veneza, além da Giudecca, este local passará a ser de passagem obrigatória!


Fomos depois ao Rialto levar a Alessandra de volta (ela que tinha feito o workshop no domingo e passou a andar connosco a desenhar todos os dias) e, nesse caminho de regresso, fizemos um upgrade ao nosso exercício: mais tempo! Três minutos passaram a parecer uma eternidade e a adrenalina de desenhar à velocidade da luz perdeu-se... Há encantos que só funcionam se parecerem utopias...

Do Rialto fomos apanhar o vaporetto para Murano. Este dia ainda tinha muito para acontecer...

quarta-feira, junho 08, 2016

Heritage center of Venice

Dia 4 
(1ª parte)



Após 3 dias focados na Giudecca, sentíamos necessidade de deambular pela outra Veneza: a que se desenvolveu em torno do grande canal, para que os registos fossem ainda mais abrangentes...

Sendo assim, como não começar pela Piazza S. Marco? A Benedetta sabia exactamente o que desenhar: a torre do relógio. Já eu, deambulei, procurei um local à sombra, confortável, pensei sentar-me na esplanada e pagar o que fosse preciso, fui ao centro da praça, lá atrás, do lado direito ao esquerdo, à base da torre, até que me encostei a um dos pilares das arcadas, em pé, e fiquei ali a olhar só para me regalar...
Depois abri o caderno, foquei-me e comecei a desenhar. Parecia que sabia desde sempre que seria dali que iria desenhar. Sentia-me automatizado...
... até que começou a música a tocar...

Estar ali a desenhar neste contexto mudou tudo.
Não há nada que escreva agora que possa descrever o sentimento de felicidade que tive ali. 
Tirei o telemóvel e gravei o som. Queria guardar o momento...

terça-feira, junho 07, 2016

Campo di Marte, Giudecca, Venezia

Dia 3 
(2ª parte)



A procura de novos pontos de vista para desenhar o projecto do Siza era intensa. Não queríamos que nada nos escapasse...
Encontrámos esta vista, da janela da Villa Hériot, onde trabalha um amigo de longa data da Simonetta, no Istituto Veneziano per la Storia della Resistenza e della Società Contemporanea. A casa é um palacete com um jardim imenso. Foi o local onde se fez a mesa redonda no dia da inauguração da exposição.

Esta vista era excelente para compreender o projecto como um todo. Vêem-se muito bem os dois blocos do Aldo Rossi com a cobertura em arco e, do lado esquerdo, o bloco do Siza.


Logo a seguir, no caminho de regresso à exposição, encontrámos, finalmente, a Stefania, pessoa responsável pela ATER na Giudecca e que nos ajudaria a entrar nas casas para desenharmos as pessoas. Foi assim que conhecemos o Silvano Ditodi (escrevi Silvio no caderno, mas é Silvano).
Sentei-me à mesa com ele e fui perguntando curiosidades: onde vivia antes de ir para ali, se está contente com a casa, como foi conhecer o Siza Vieira, que conversas tiveram, qual é a equipa de futebol  de Veneza, etc, etc. 
As respostas foram muitas. Os venezianos gostam de conversar. Antes de ir para a Giudecca vivia no centro, numa casa muito velha a precisar de obras. Como não tinha dinheiro para as fazer, concorreu a um apartamento aqui. "Mas só os Venezianos é que podem concorrer. Estas casas não são para estrangeiros!" - dizia ele, defendendo os seus.
- A casa é boa, mas precisa de uma janela na casa de banho - dizia-me a mulher, apontando para a parede cega vista da pequena varanda.
- E esta varanda? Comparada com a de baixo é mesmo pequena. Custava muito ficar igual? - continuava.
- Podemos continuar o desenho? - dizia eu atrapalhado...
Mais tarde (no dia seguinte), num dos vídeos da exposição feitos pela SIC (vizinhos), ouvia a mesma queixa feita por ela, mas directamente ao Siza. Ele respondeu: "Era porque não ficava bem. Mas não é razão, se fosse hoje fazia".

Vale a pena ver o documentário todo!


Ao final do dia, dentro do vaporetto, o céu de Veneza estava deslumbrante e dei por mim a pensar: grande projecto este que o Carlos Moura-Carvalho montou para a Biennale di Venezia. Curadores muito bem escolhidos. Local genial para a exposição. Equipa brilhante. Urban Sketchers a fazer reportagem desenhada com liberdade imensa. Grande sensibilidade para com a Arte!

É uma pena ele ter sido afastado do cargo. Fiquei muito entusiasmado com as pessoas escolhidas para a Bienal de Design em Londres: Manuel Lima, Pedro Miguel Cruz e Marta Menezes são a nata das natas. De certeza que esse projecto não vai cair por terra...

Este céu deslumbrante de Veneza lembrou-me também que as pessoas visionárias nunca deixam de o ser só por passarem a desempenhar um cargo diferente.

domingo, junho 05, 2016

Alvaro Siza na Giudecca: preparativos

Dia 3 
(1ª parte)


E ao terceiro dia, a Simonetta juntou-se a nós.
Era segunda feira e o plano passava por desenhar a colocação de fotografias no estaleiro da obra. Quais? As do Siza Vieira reunido com as pessoas que vivem nos edifícios de habitação social que ele projectou. Quando chegámos, nada estava ainda a acontecer do lado de fora. Mas do de dentro, a sensação é que o Roberto Cremascoli e o Nuno Grande não saíam de lá (será que dormiam lá dentro?!?!?).

Estava a decorrer uma grande discussão: pintava-se o corredor de acesso ao interior da exposição de branco ou de preto? Um defendia uma opção, mas o outro não...
Pediram-nos opinião:
- Ó urban sketchers, vocês que têm um sentido mais apurado das cores, o que acham: branco ou preto?
Responde a Benedetta:
- Quando vamos a uma loja de roupa e não sabemos o que escolher, sabemos que o preto combina sempre com tudo.
- Vês! Não te disse? Eu também acho que o preto fica melhor! - disse um deles.
- Mas tu já viste algum projecto do Siza com a cor preta? - retorquiu o outro.

E continuaram nisto...
Um pouco depois abraçaram-se. Optaram pelo cinzento!


Hora de almoço.
Tasca ali mesmo ao lado. Comida rápida, mas italiana. Enquanto se esperava comecei a desenhar a Benedetta Dossi, mas chegou entretanto a comida e parei. Depois umas nuvens começaram a aparecer ao longe. Os guarda-sóis da esplanada foram todos recolhidos:
- Bolas, que preciosismo. Ainda nem está a ameaçar e já estão a recolher tudo... - pensei eu.
Passados poucos minutos começou a pingar, depois a chover e, muito rapidamente, a cair água torrencial! Quem sabe, sabe e quem é de Veneza parece saber mais sobre a chuva...

Debaixo do toldo do café, completei o desenho com uma vista de esguelha sobre a Giudecca.

Da parte da tarde, conseguimos, finalmente, entrar em casa das pessoas.
Lá chegaremos no próximo post.

sábado, junho 04, 2016

Wax Print - batik



A letra W do Alfabeto Lisboeta está dedicada a uma técnica que aprendemos na Indonésia.
São três sessões divididas na preparação do desenho, colocação da cera e, finalmente, impregnação da cor.
A logística é complexa, mas os materiais são de luxo: vieram de propósito de Jakarta.

Estamos a pensar fazer este workshop mais uma vez, para aqueles que não se inscreveram no Alfabeto, mas querem aprender.
Para já, fica este vídeo e algumas fotografias do ano passado com o trabalho da Ketta.