Dia 5
(6ª parte)
Último desenho de Veneza.
Depois de jantar tinha de ir à zona do Giardini para me encontrar com a Esmeralda (tia da Ketta a viver em Veneza), que queria enviar goodies (lembranças) para a família. Era tarde, muito tarde e a viagem de vaporetto ainda era longa. O Zé estava cansado:
- Epá, eu não vou lá, vou directo para a cama.
- Anda lá, aproveitamos e fazemos um desenho noturno. - disse-lhe.
- Não vou, estou estoirado. Eu já não tenho a tua idade! - resmungava.
- Veneza à noite é linda. Lembra-me os desenhos do Hugo Pratt na Fábula de Veneza. - tentava eu convencê-lo...
- Come with us. It will be nice! - dizia também a Benedetta.
- Não vou, Não vou! Quero dormir. Amanhã temos de acordar cedo para regressar a Lisboa e tenho de dormir. - resmungava o Zé ainda mais.
- Nunca sabes quando é que podes voltar a Veneza. É a última noite. Oportunidade a não desperdiçar! - dizia eu de novo, já a sentir que as minhas palavras não valiam nada...
- Epá, então se eu não vou, como é que se vai da estação do vaporetto até ao apartamento onde estamos?
- Tens aqui o mapa. O caminho é o mesmo que fazemos todos os dias. Não há como enganar.
- Epá, não vou conseguir. Explica-me lá isso direitinho no mapa. - por momentos dei-me conta que poderia estar ali o segredo para ele vir connosco e fazer o tal desenho noturno.
- É só ir em frente pela rua estreita, virar à esquerda, passar a ponte, passar a praça, seguir novamente pela ponte até ao Campo S. Maurizzio, depois viras à esquerda e depois à direita!
- Epá, vou-me perder...
- Bolas Zé, então vem connosco!
- Não vou, não vou. Tenho de ir dormir que não tenho conseguido descansar nada à noite. Estou cansado, não quero desenhar mais! Estou farto de desenho!
- Bom, então não sei. Só se levares o mapa da Benedetta, que é mais completo e tem as ruas todas.
- Ok, vou levar esse. Explica-me lá outra vez como é que se vai.
...
E andámos nisto minutos a fio. Eu sempre com a esperança que ele viesse connosco até ao Giardini e depois a pé para fazermos o desenho à noite. Nada feito. Foi mesmo sozinho de regresso a casa. Disse-lhe assim antes de seguirmos caminhos diferentes:
- De certeza que não te vais perder, mas atreve-te a fazer um desenho à noite sem nós, depois desta conversa toda.
Eu e a Benedetta fomos ao Giardini e regressámos de vaporetto até S. Marco. Chegámos à praça, sentámo-nos na esplanada e, completamente rotos de cansaço, fizemos mais um desenho. Via-se muito pouco, mas tenho dúvidas se era da escuridão ou das minhas pálpebras a teimarem fechar-se. Terminado o desenho, a caminho de casa, disse à Benedetta: tenho a certeza que o Zé fez um desenho à noite sozinho. E vai estar excelente!
E não é que fez mesmo? E não é que está mesmo excelente? Só falta ele digitalizar e publicar. Foi por isso que o convidei a vir comigo. Além de me divertir imenso, é autêntico, um poeta a desenhar e sempre surpreendente. Foi uma honra ter feito esta enorme reportagem com estes três amigos: José Louro, Benedetta Dossi e Simonetta Capecchi.
Obrigado a:
Direção Geral das Artes - pela organização e convite
Urban Sketchers - por existirem
Laloran - pelos cadernos maravilhosos que usámos
Papelarias Emílio Braga - pelos cadernos fornecidos aos venezianos
Viarco - pelos lápis de cor aguareláveis
Margarida Silva - por toda a ajuda na logística
Carlos Moura-Carvalho - pelo convite
Espero ter estado à altura. Venham mais reportagens destas!