sexta-feira, janeiro 29, 2016

Cemitério de St.ª Cruz


Este jovem chamado Sebastião Gomes foi também assassinado pelos indonésios. Não no famoso massacre de '91, mas antes. Este cemitério está lotado. Não é possível passar sem pisar algumas campas... mas também está lotado de significado da luta pela libertação de Timor-Leste...
Hoje a madrinha da Ketta contou-nos o que aconteceu e histórias de pessoas que sobreviveram como que por milagre. É duro de ouvir e o coração começa aos pulos...
21.08.2015



Não sei muito bem como falar deste massacre. Em '91 eu tinha 11 anos, mas lembro-me bem destas notícias e de tudo o que veio a seguir com Portugal inteiro a erguer-se e a fazer-se ouvir.

Estar ali, naquele cemitério e ouvir histórias da boca de quem lá esteve e sobreviveu é de estremecer as entranhas. Saber que todas as cassetes de vídeo estavam a ser confiscadas para que o mundo não soubesse o que se passava e que o jornalista australiano Max Stahl as escondeu e depois as enviou por um jesuíta para chegarem à Europa também é impressionante.

Desenhar a campa do Sebastião Gomes, o jovem que ia ser visitado pela multidão de timorenses depois de uma missa de domingo e que deu origem ao massacre foi uma experiência de silêncio ensurdecedor...

Contudo, penso que o que mais me impressiona é a forma adulta e madura como hoje os timorenses se relacionam com a Indonésia. Que capacidade esmagadora de se sobre-elevar e marcar personalidade...

4 comentários:

Rodrigo Briote disse...

Este desenho traz muitas memórias. Lembro-me perfeitamente de ver a notícia pela primeira vez na televisão, e de como isto acordou e uniu Portugal.
Estive em manifestações, desenhei e afixei cartazes, enviei faxes de protesto do meu quarto para a ONU e embaixadas da Indonésia :D, enfim tudo o que estava ao nosso alcance.
Antes disso Timor não me dizia nada, mas desde essa altura que passou a ser um objetivo ir lá um dia. E se for, vou desenhar claro.

Ketta disse...

Tinha 9 anos nessa altura e já estava em Portugal há 5 anos. Lembro-me muito bem de ouvir os choros da minha mãe, do meu pai, da minha tia e da minha avó e de toda a ansiedade e sofrimento que isso lhes causou! Todos os dias esperavam por um telefonema de Timor: poderia ser uma notícia boa ou má!
Eu e os meu irmãos e primos estivemos em todas as manifestações e vigílias. Assinámos petições, fizemos cartazes, chorámos e gritámos até ficarmos sem vozes, ficámos horas e horas em pé com uma vela acesa em frente a embaixadas...
Mais tarde, já com idades consideradas adultas, foi-nos contado histórias horríveis sobre alguns amigos e familiares nossos, vítimas do massacre...

Mas ouvir o sofrimento de quem passou por isso é de deixar-nos de rasto... a guerra deixa cicatrizes escondidas difíceis de sarar...

L.Frasco disse...

Forte testemunho (teu, da Ketta e do Rodrigo) e recordações dolorosas que voltam.
É realmente impressionante o percurso de Timor e do seu povo. E admirável!

Teresa Ruivo disse...

Lembro-me bem da onda de solidariedade realmente sincera e comovida que cresceu em todos nós.Como diz o Luís é admiravel o percurso de Timor.
Esse silêncio de que falas, denso e sepucral, também o senti em Auschwitz. Há sítios impressionantes...