domingo, dezembro 16, 2018

Conferência: O Espiritual no Desenho - Os escrúpulos e o lava-pés


Uma das tarefas que pedem aos doutorandos, tal como aos académicos, é que estruturem a sua investigação em artigos e os comuniquem publicamente para que o conhecimento saia do seu pensamento e possa estender o dos outros.

O facto de ter um tópico de investigação que toca o mundo das Belas-Artes e o da Teologia, fez com que me debruçasse seriamente sobre os dois. Por isso, inscrevi-me das duas Faculdades, para entrar mais a fundo nos dois temas. E tem sido uma aventura incrível...

Enquanto nas Belas-Artes a investigação se faz de modo autónomo, na Teologia, estou mesmo a ter aulas com alguns dos melhores professores sobre os temas bíblicos e sinto-me a abrir horizontes e a aprofundar assuntos que sempre conheci, mas agora de um modo muito mais completo.


Entretanto, as Belas-Artes organizaram um Congresso sobre Desenho chamado Expressão Múltipla. Submeti este tema e foi aceite!

A minha comunicação será quarta feira, dia 19 de dezembro, às 17h40.
Irei falar e mostrar desenhos sobre:
- os escrúpulos
- a viagem
- o lava-pés
- o desenho do quotidiano

segunda-feira, dezembro 03, 2018

Indonesia: Ambon


Acordei bem cedo nesta primeira noite em Ambon, pelas 5h da manhã. Na noite anterior, tinha combinado com o Donald Saluling ir desenhar o mercado de peixe. Estava pronto às 5h30. Desci as escadas e fui para a recepção do hotel. Só ali é que se apanhava wifi. Enviei um sms ao Donald, mas a seta do whatsapp indicou apenas mensagem entregue. Esperei, mas nada mudou. Enviei nova mensagem a dizer que ia à procura de algo para desenhar nas redondezas. Andei, andei, andei...

A cidade estava deserta. Passavam apenas alguns carros.
Sentei-me neste cruzamento e continuei a experimentar a caneta hero, aquela que permite linhas grossas e finas. Nada contente como resultado, enviei novo sms ao Donald, desta vez a usar dados móveis do cartão indonésio que comprei em Jakarta. Eram umas 6h15 e a seta do whatsapp já dava sinal de mensagem lida. Cinco minutos depois, estava a sair deste lugar par ir ao mercado. Ficou assim mesmo, muito branco, muito inacabado, uma desgraça...
Não tinha ainda o texto nem aquela cama de rede com a criança a dormir. Acrescentei-os nesse dia à tarde...



A urgência de ir ao mercado de peixe tão cedo prendia-se com duas razões: a) o mercado tem uma beleza especial quando os pescadores estão a chegar de barco; b) às 8h30 saíamos de carro para ir desenhar outra zona da ilha, pelo que havia pouco tempo de manhã.

Quando chegámos, no interior, o caos estava instalado. Quase não havia espaço e a metáfora certa é que se tinha de andar em bicos de pés...
Só havia uma opção: desenhar do lado de fora. Fomos andando até chegarmos às traseiras do mercado, precisamente o local onde os pescadores estavam ainda a descarregar o peixe. 
Abrimos os cadernos e logo todas as possibilidades se abriram para nós:
- Quem um banco? Do que precisam? Temos chá, querem?
Olhei para o Donald e sorrimos ao mesmo tempo. Mais uma vez o poder do desenho a manifestar-se...

Depois... depois foi o que todos os desenhadores viajantes sabem. A experiência de desenhar com meia multidão a espreitar pelo ombro, comentários, risos, conversas em línguas diferentes, qual Babel e, no fim, uma correria para chegar a horas ao autocarro que nos levaria para o outro lado da ilha...

sexta-feira, novembro 30, 2018

Indonesia: Ambon


A meio de outubro deste ano estive na Indonésia. Fui convidado para desenhar e dar formação numas ilhas remotas chamadas Banda. Nunca tinha ouvido falar. Fui pesquisar e descobri que deveria saber desde sempre que ilhas são estas. As ilhas da noz moscada que os portugueses encontraram por via do mar.
Mas sobre as ilhas Banda terei tempo de falar...

Aterrei em Jakarta e fui direto para o quarto. O voo para Ambon era logo na manhã seguinte.
Era o segundo dia na Indonésia - estava há mais de 30 horas em movimento desde que saíra de Lisboa e, depois de um jantar incrível que me lembrou muito Timor-Leste, só à noite houve tempo para desenhar. 
Este caderno gigante estava a desafiar-me para pensar nas composições. Desenhei o pouco que se via deste parque muito frequentado para horas tão avançadas da noite. Não se via quase nada, apenas algumas luzes iluminavam telhados, colunas, arvoredo...
Ficou assim. Uma pequena franja horizontal a caneta preta, à espera que no dia seguinte algo mais acontecesse na página.

A grande árvore, feita a aguarela e aparo, estava mesmo à entrada do forte Amesterdão, noutra zona da ilha Molucas (mais uma viagem de 2 horas de carro). Lentamente, linha a linha, fui deliciando-me a pensar na história que esta árvore já testemunhou. 
Claro que a escala está exagerada em relação à cidade. A árvore também não pertence àquele contexto urbano, mas, para mim, esta combinação improvável estimulava o imaginário e o pensamento. Estou a ser fiel ao que desenho à minha frente, mas coloco-o no caderno descontextualizado...

Arranca assim a minha crónica sobre a viagem à Indonésia. 
Cada página é uma mistura de ambientes diferentes.
Não será uma cronologia perfeita, tal como a nossa.
O que é a perfeição?

quinta-feira, novembro 22, 2018

Exposição


Que honra participar nesta exposição coletiva e ter este meu desenho desacertado do Fernando Pessoa no convite!

Se estiverem pelo Norte, não faltem à inauguração! 
Dia 1 de dezembro às 16h30.

Vou ter algumas serigrafias à venda, feitas propositadamente para esta exposição. A linha preta é o fator comum. A aguarela colocada posteriormente é o que as diferencia.



sábado, outubro 13, 2018

Alfabeto Lisboeta: Private Collections


A 5.ª temporada do Alfabeto Lisboeta está aí!
Depois de atribuirmos cada letra a uma bairro de Lisboa (1.ª temporada), uma técnica de desenho (2.ª temporada), um museu incomum (3.ª temporada), um limite geográfico (4.ª temporada), eis que nos lançamos para as mais incríveis coleções privadas de Lisboa (a ver ou a construir)!

Todos nós fizemos uma coleção algures na nossa vida. Caricas, moedas, latas, relógios ou até mesmo pósteres na parede do quarto. O que caracteriza uma coleção? E quantas coleções conhecemos de caráter privado? O ato de colecionar é o que nos vai guiar nesta temporada do Alfabeto Lisboeta, sempre com exercícios de desenho surpreendentes, em 26 sessões, uma para cada letra do alfabeto!

Começamos dia 3 de novembro! 
Esclarecimentos e inscrições: linhares.mr@gmail.com

sábado, setembro 08, 2018

Retiro de Diários Gráficos


E se a subida à montanha não fosse um sonho, mas uma realidade?
E se a inevitável descida nos ajudasse a perceber que é bom estar lá em cima, mas que é lá em baixo que o dia a dia se concretiza, que as relações se estabelecem, que o ritmo ganha força?

No próximo Retiro de Diários Gráficos iremos andar pelas montanhas de Limone Sul Garda, mas também nos vales de Brescia e Verona.


Muito resumido, aqui fica o programa:
Dia 1: viagem + apresentação do grupo
Dia 2: Subida à montanha, aspirar às coisas do alto
Dia 3: Descida da montanha, ida a Brescia e Verona (neste dia o almoço é por conta de cada pessoa)
Dia 4: Regresso ao sopé da montanha: o lago... a água...
Dia 5: Avaliação e viagem de regresso

Quanto às datas, há duas hipóteses:
4 a 8 de abril (quinta a segunda)
ou
11 a 15 de abril (quinta a segunda)
nota: a Páscoa é só a 21 de abril

Quanto a valores:
800€ (quarto individual c/ wc)
750€ (quarto duplo c/ wc)
Inclui: avião (Lisboa-Milão); deslocações (Milão-Limone + ida a Brescia e Verona), dormida, pensão completa (exceto um almoço), formação e um caderno Laloran de edição especial.

E, como se não bastasse, este será o primeiro retiro que organizo tendo em mente o Doutoramento em Desenho que vou iniciar agora já em setembro na FBAUL, precisamente com este tema: O Espiritual no Desenho.

Vamos a isto?
Inscrições: linhares.mr@gmail.com

Japan: day 7


16 de Fevereiro
Dia verdadeiramente sozinho. Segui alguns conselhos da Sara Amado e fui a Nihonbashi, a zona de cruzamento entre pontes e viadutos. Estava tanto frio que fui andando, meio flanêur, em direção ao rio e ao mercado de peixe. Perdi-me, claro, mas foi maravilhoso descobrir uma cidade silenciosa e cheia de habitantes. São muitos os bairros com roupa estendida, mas o silêncio que impera é monstruoso...
Aventurei-me no mercado de peixe. Tudo cru, bem autêntico, mas já terminado. Um restaurante lá no meio com pessoas a entrar fez-me querer espreitar. Vou comer aqui! 
- No English, no English!
- Don't worry, you choose for me.
Deixaram-me entrar. Só um empregado dizia algumas palavras:
- Raw or Grilled?
Pedi atum grelhado. Soava bem comer atum grelhado no Japão. 
Depois? Depois foi uma experiência gastronómica tão boa de ir às lágrimas, pelo que não há palavras que a descrevam...


17 de fevereiro
Acordei às cinco da manhã. Levava comigo duas malas cheias de muito silêncio e respeito. A sensação de que uma semana não era o suficiente, muito menos sem sair de Tóquio.
Muitas saudades da Ketta e do Matias...