15 de abril de 2017, Florença, Piazza di Santa Croce
O Matias dormia no carrinho.
Sentei-me na beira de um pequeno degrau, mesmo à entrada de uma casa.
O Dante Alighieri, figura central da literatura italiana, estava ali em primeiro plano.
Numa altura em que só os escritos em Latim eram valorizados, Dante escreve a 'Divina Comédia' e faz o arranque definitivo do dialeto toscano como língua italiana que, só mais tarde, viria a ser oficializada com a unificação de Itália no séc. XIX.
Mas o mais incrível é que os dialetos das regiões italianas continuaram sempre muito mais fortes do que a língua oficial e só em meados do séc. XX, com a massificação da escola e da televisão é que o italiano se torna a língua mais falada. No entanto, viajando por Itália, ainda é fácil encontrar os dialetos das regiões do norte e do sul. O dialeto do centro, o da Toscânia, esse, tornou-se o italiano como o conhecemos!
Atrás do Dante, no meu desenho, está a Basilica di Santa Croce, o principal templo religioso Franciscano em Florença. A fachada é embelezada por pedra mármore, embora não seja de origem, pois ficou inacabada desde o séc. XIII e só no séc. XIX foi concluída. De resto, é como todos os templos medievais.
De uma simplicidade no interior que nos petrifica quando vemos um raio de luz a entrar por um vitral...
De uma simplicidade no interior que nos petrifica quando vemos um raio de luz a entrar por um vitral...
Engraçado como Dante pegou num dialeto vindo do Latim dos soldados romanos, aquele que não era de boa qualidade - ao nível das pessoas cultas -, para o levar à língua unificadora do país a partir de um poema escrito enquanto estava no cativeiro, sozinho, impedido de voltar à sua cidade.
Também é muito interessante como estes templos nos atraem pela sua imponência, mas depois nos encaminham para um percurso interno e sozinho que possa descobrir pequenos sinais como a luz filtrada pelo vitral...
Será que a sabedoria vem de estarmos sozinhos e nos darmos conta das coisas mais simples do dia a dia?
Depois o Matias acordou.
A Ketta levou-o, cativado pelas bolinhas de sabão que sopraram até terminar o boião.
Brincaram na praça e cativaram outras crianças, de outros pais, de outros países.
Ouviam-se os risos alegres ao fundo.
Ouvia-se o burburinho das ruas.
Ouvia-se uma só língua...
4 comentários:
Gosto muito dos teus desenhos e das tuas reflexões à volta deles. E desses teus desenhos feitos com a família à volta.
faço minhas as palavras da Teresa. Obrigado por partilhares estes momentos. Abraço para todos. divirtam-se
Obrigado!
Pois, não há como evitar os desenhos em família. Se escolhemos ter família é para a incluir em tudo o que fazemos! ;)
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