quarta-feira, novembro 23, 2016

Foz Côa - parte 4


No segundo dia de trabalho deixámos o Vale do Côa e fomos fazer parte do circuito arqueológico de Freixo Numão. Acompanhou-nos um guia fabuloso, "filho da terra" e cheio de entusiasmo em partilhar o seu conhecimento. 
- - meia hora de caminhada para lá - - 
Nas ruínas do Prazo, que têm vestígios Neolíticos, mas sobretudo Romanos, a técnica a utilizar era a Sanguínea, que poderia ser conciliada com qualquer outro material. Eu optei por usar o lápis de grafite como complemento.
- - meia hora de caminhada para cá - -
A conversa com o guia para cá foi mesmo muito boa. Concluiu-a ele assim:
- Para mim o mais importante é o que estamos agora a conversar. O resto é tudo efémero...


Saímos das Ruínas do Prazo já perto da hora de almoço e fomos comer a um dos restaurantes mais recomendados da zona: o Sete&Meio, em Mêda. Quando telefonei para marcar mesa (uns meses antes), disseram-me: 
- Então se querem um prato típico, só pode ser a posta dos pobres.
- Então é esse mesmo que queremos!
E confirmou-se. De pobre só mesmo o nome. Saímos do restaurante a rebolar e com vontade de uma sesta...

Havia, no entanto, uma nova vila para desenhar: Marialva. O desenho acima anuncia isso mesmo, mas o texto sobre ele fica para o próximo post.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Foz Côa - parte 3


A primeira página de uma gramática dos símbolos a que chamamos Arte.

Sempre soube que Foz Côa era importante, mas ter estado lá fez-me ir muito além dessa informação.
Antes de Foz Côa, os arqueólogos acreditavam que as gravuras e pinturas rupestres aconteciam nas grutas e apenas raras vezes em céu aberto. Depois de Foz Côa (e porque as gravuras se preservaram debaixo de terra durante mais de 20.000 anos), percebeu-se que as gravuras e pinturas a céu aberto é que eram o comum e nas grutas a excepção. As margens dos rios do Vale do Côa deviam estar todas gravadas, mas muita coisa se perdeu. Aquela zona seria, imagine-se, o centro da Península Ibérica, onde os nossos antepassados iam fazer trocas comerciais, cruzar famílias, festejar e sabe-se lá mais o quê...


Mas o mais fascinante é perceber que as gravuras não eram feitas ao acaso. Existem rochas completamente saturadas de gravuras, quando, mesmo ao lado, estão rochas lisas sem uma única incisão durante todos estes milhares de anos. Sim, é arrepiante de ver. Havia uma intenção de as sobrepor. Também não eram rituais de caça, como durante muito tempo de imaginou. Descobriram-se sedimentos de ossos de coelho e de peixe entre despojos de acampamentos pré-históricos. Caçar estes animais de grande porte não era o dia a dia deles...

Qual a verdadeira razão? 
Porque é Pré-História, não há conclusões fechadas, só interpretações...

domingo, novembro 20, 2016

Foz Côa - parte 2


Quinta feira de manhã, antes de entrarmos no museu, fomos ao terraço e ficámos deslumbrados com a vista panorâmica.
O João Moreno, desenhador de excelência com quem tenho o privilégio de dar aulas nas Doroteias, ensinou-nos a todos o modo como usa as aguarelas.


Estava um vento fresco, mas que não conseguia fazer frente ao Sol da manhã.
Os alunos espalharam-se e, por largos momentos, só se ouvia a Natureza.

Depois entrámos no museu para um visita guiada com um dos arqueólogos que participou nas escavações nos anos '90. Assombrosa visita. Não deu tempo para desenhar muito, apenas os animais mais representados em Foz Côa: cabra, auroque, cavalo e veado.

sexta-feira, novembro 18, 2016

Foz Côa - parte 1



O Departamento de Artes Visuais do Colégio de Santa Doroteia organiza, todos os anos, uma viagem de artes durante quatro dias. O objetivo é reforçar a relação entre os alunos todos do secundário de Artes (para que funcionem como um grupo e não como turmas separadas), mas também ganhar ritmo de desenho num local fora de Lisboa. Este ano fomos a Foz Côa!
Viagem de comboio até Campanhã e depois até ao fim da linha do Douro: Pocinho (viagem deslumbrante!).
De Lisboa ao Porto desenhei alguns alunos.
Do Porto ao Pocinho, entreti-me a conversar com algumas pessoas e acabei por desenhar o Sr. Manuel Marcelino Monteiro, que ia até à Régua para jogar umas cartas com os amigos...


Jantámos no restaurante do museu Côa. Fenomenal.
Dissemos aos alunos que iam aprender várias técnicas de desenho. No caderno experimentava-se e depois, em folhas soltas, desenhava-se com mais cuidado. Como faço sempre o que lhes peço, também eu desenhei em folhas soltas e usei o caderno só para uns borrões. Mas assumi que as folhas seriam como um Leporello: os desenhos iam interligar-se todos.



E aqui estão as duas primeiras folhas ligadas: pessoas no comboio + a paisagem do Côa + uns apontamentos escritos e a garrafa de vinho.

Nos próximos post's revela-se um pouco mais do que aí vem...

segunda-feira, novembro 07, 2016

Lancaster, August 2017


Chegámos a Lancaster num dia bem chuvoso e frio.
Normal. Inglaterra é assim.
Dormimos e curámos o cansaço de Manchester.
Sol. Luz muito bonita no dia seguinte.
Casa de família.
Risos de crianças a brincar lá fora.
Sentimento de querer ficar ali durante um ano.


Subimos à zona mais alta.
Vista para os lagos.
Monumento/basílica/museu. Este.
Afinal não tinha descansado tudo.
Sono, muito sono.


Vista do parque infantil.
Muitas crianças.
Rapidez. Algum desinteresse.
O Matias a brincar vinha, de vez em quando, espreitar.


Curiosidade.
Outras crianças a bisbilhotar.
You are very good on drawing.
Sorri.
Saudades de ser criança...

sábado, novembro 05, 2016

Hunting and Gathering with Fred Lynch

O Fred Lynch faz parte do Comité de Educação dos USk e é uma honra tê-lo na equipa.
Já há algum tempo que seguia os resultados do curso que ele faz em Viterbo, Itália, com os seus alunos do Monserrat College of Arts, a que chama: Drawing Viterbo.

No Simpósio de Manchester, o workshop dele foi um dos que queria mesmo fazer. Ele chamou-lhe Hunting and Gathering: sketching vignettes and lists.
Começou com uma pequena apresentação em sala, explicando o paralelismo entre o desenho de uma letra e o desenho seletivo que podemos fazer, dando especial atenção à escala e aos espaços vazios.


Saímos para a rua à caça destas pequenas vinhetas, tentando contar alguma história. 
Fui.
Começou a chover.
A Ea Ejersbo, amiga desde 2011, encontrou-me: 
- Do you have time? I need to talk to you.
- We can talk now if you want.
- No! After your sketch...
- After my sketch I will not have time.
Encharcados, ficámos a conversar sobre os USk, opiniões, sentimentos.
Voltei para a sala, para a partilha e crítica.
Não me safei mal, mas podia ter sido melhor.


Voltámos para a rua. Agora não para fazer pequenos desenhos rápidos, mas para escolher um tema e fazer a vinheta.
A Fernanda Vaz de Campos, que tinha ficado na sala a desenhar da janela, acompanhou-me.
No meio de tanto inglês, foi bom falar um pouco de Português.
Tirou-me esta fotografia.
Desta vez não choveu.
Voltámos para a sala.
Safei-me melhor.


Nova saída para a rua. Desta vez para escolher uma coleção.
Fui de novo com a Fernanda Vaz de Campos.
Os dois escolhemos janelas.
Devia ter alinhado as minhas por baixo...
Voltámos para a sala.
Grande feedback do Fred. Grande instrutor. Sabe do que fala. 
Descobri que é daltónico: color blind, como dizem os americanos. Cego para as cores, palavra que faz mais sentido do que daltonismo, embora esta faça honra a John Dalton, cientista inglês que descobriu, entre outras coisas, a anomalia da visão das cores.

E é isto o Simpósio: aprender, aprender, aprender!

terça-feira, novembro 01, 2016

Lancaster + London


No Alfabeto Lisboeta 2016/17 andamos a trabalhar num caderno desdobrável, também chamado de leporello, nome do servo de Don Giovanni - o famoso mulherengo - pois era num caderno deste tipo que Leporello ia guardando/mantendo os nomes dos amores do seu mestre.

Pois bem, a verdade é que um desdobrável permite-nos fazer um registo muito diferente do habitual: sobreposições, contaminações de desenhos, cores ou até mesmo texto. Parece-me que o segredo é deixar sempre alguma coisa inacabada de um desenho para o outro e continuar as linhas como se de um apenas se tratasse.

Neste caso, o conjunto é tão grande que as diferentes histórias são difíceis de contar apenas num post. Comecei em Lancaster, terra inglesa bem típica a Norte de Manchester e terminei em Londres.

Abrir este caderno é como sentarmo-nos no sofá com uma bela chávena de chá a contar histórias de viagens. Não tem fim...

domingo, outubro 30, 2016

Manchester Symposium - opening reception

Num Simpósio, o estado de euforia é tão grande que, por vezes, quase nos esquecemos de desenhar.
Esta recepção a todos os participantes no grande salão da Câmara Municipal foi um desses casos. É o momento certo para encontrar velhos amigos, fazer novos, tentar ouvir e entender inglês com vários sotaques no meio de muito barulho, mas, sobretudo, é como sermos apanhados por uma onda gigante do mar: é só deixarmo-nos ir...


Estava à conversa com o Richard Briggs, australiano e instrutor num Simpósio pela primeira vez, quando, de repente, já estava a conversar com o Daniel Green e a Amber. Depois um casal amigo deles de Massachusetts. Depois o James Hobbs. Depois o Jason Das. Depois o Miguel Franco. Depois a Brenda Murray, a Suma CM e tantos outros que lhes perdi a conta. Só senti a falta do Gabi...


Entretanto a música começou. O pessoal sentado ali em frente (vêem-se bem: a Patrícia Assunção, o Rob Sketcherman, o Nélson Paciência, o Pedro Loureiro e o Miguel Franco) não perdeu a oportunidade de desenhar as violinistas! Depois os microfones ligaram-se. Estava mesmo tudo a começar. Estava a meio da sala, mas tinha de ir lá à frente tirar uma fotografia! :)


Voltei para onde estava e, como a concentração estava toda nas palavras que saíam pelas colunas, tirei o caderno e tentei desenhar o mais rápido possível este salão incrível cheio de gente que gosta de desenhar, vinda dos 4 cantos do mundo.
As vozes do microfone pararam. Bateram-se palmas e as conversas voltaram.
Ficou então assim o meu desenho, inacabado, mas cheio de memórias dessa opening reception!