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domingo, dezembro 11, 2016

Foz Côa - parte 10

Últimos desenhos de Foz Côa.


A Pousada da Juventude de Vila Nova de Foz Côa tem uma vista deslumbrante para a paisagem montanhosa do Côa. De manhã, a neblina e o ar super fresco davam aos desenhos um toque gélido e húmido, mas era impossível não tirar as mãos das luvas e desenhar esta vista...
Alguns alunos fumavam para combater o frio. Outros, poucos, acompanhavam-nos nestes desenhos frios de espera pelo autocarro...


Em Freixo Numão, o guia que nos acompanhou às ruínas do Prazo, o tal filho da terra, foi logo desenhado durante a pequena apresentação que nos fez no museu. Utilizei o lápis de sanguínea e depois acrescentei o de grafite. Meia hora depois, serviu este desenho para explicar como se pode preencher rapidamente uma área com mancha (ali a zona da barba), mas também ter traços mais assumidos e expressivos (ali a zona do cabelo), sem nunca descurar a dinâmica da linha (o perfil do rosto e a orelha).
Depois, já nas ruínas, um pequeno apontamento a caneta do que resta da entrada principal do mercado romano. 


Na verdade, na verdade, este não foi o meu último desenho de Foz Côa, mas foi o meu último desenho neste caderno. Depois do almoço em Mêda, enquanto algumas alunas desenhavam tratores (a da esquerda está mais a descansar do que outra coisa), eu, como tinha pouco tempo, desenhei-as a elas, de pé a olhar para baixo.

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Foz Côa - parte 9

 A visita noturna às gravuras da Penascosa foi absolutamente sem palavras!


Estava escuro, muito escuro.
Pastel de óleo branco e aguarela.
Luzes dos telemóveis.
Mosquitos.
O caderno como local exploratório.


A tridimensionalidade dada pelos cornos.
Perceber que estas linhas gravadas estão invioladas desde há 20.000 anos.


Sobreposições.
Mais sobreposições.
E muitas suposições...

sexta-feira, dezembro 02, 2016

Foz Côa - partes 7 e 8


A arquitectura e a paisagem.
Voltas e voltas a pé para a tentar agarrar.


Mais de 20.000 anos depois, alguns futuros artistas pisaram o mesmo território que outros pisaram há tanto tempo...
Desenhei-os, claro. Não sei se os poderei voltar a desenhar no futuro.

É uma sorte imensa fazer parte deste grupo de pessoas que se dedica à Arte!

domingo, novembro 27, 2016

Foz Côa - parte 6


Jantámos na Pousada da Juventude.
Eram lulas estufadas, mas os alunos deixaram quase tudo no prato.
Dormi mal, mais uma vez - a penosa sensação de estar acordado a noite inteira...
No outro dia de manhã, os alunos estavam com olheiras - tinham dormido pouco, mas por opção...
Voltámos ao museu. A integração da arquitectura na paisagem assim o pedia.
Pedimos-lhes que tirassem os phones - o som da Natureza é que devia imperar.

A arquitectura é majestosa, mas muito bem integrada.
Fiquei rendido.
Usei apenas as canetas preta e cinzenta.
Os desenhos foram-se acumulando e interligando.
Estava frio, mas também sol.
Sentia-me uma formiga no Vale do Côa.
Encolhido do frio, mas com a força do desenho.

sexta-feira, novembro 25, 2016

Foz Côa - parte 5


Estava um frio de rachar em Marialva.
Tirei a minha manta polar azul da mochila.
Os alunos riram-se de mim.
Disse-lhes que tinham era inveja.
Tinta da china com aparo + lápis de cor.
Estava a ficar escuro e os focos de iluminação acenderam-se.
Enrolado na manta, entreti-me a colorir às escuras.
Que frio... não consigo continuar a desenhar. - diziam-me eles.
Trazer uma manta para um lugar frio não é sinal de velhice, mas de sabedoria. - respondi-lhes.


O final de tarde acabou comigo cheio de frio e alguns deles enrolados na minha manta. :)
O autocarro de regresso à Pousada tinha ar condicionado.
A manta, só a voltei a ver no dia seguinte de manhã...

quarta-feira, novembro 23, 2016

Foz Côa - parte 4


No segundo dia de trabalho deixámos o Vale do Côa e fomos fazer parte do circuito arqueológico de Freixo Numão. Acompanhou-nos um guia fabuloso, "filho da terra" e cheio de entusiasmo em partilhar o seu conhecimento. 
- - meia hora de caminhada para lá - - 
Nas ruínas do Prazo, que têm vestígios Neolíticos, mas sobretudo Romanos, a técnica a utilizar era a Sanguínea, que poderia ser conciliada com qualquer outro material. Eu optei por usar o lápis de grafite como complemento.
- - meia hora de caminhada para cá - -
A conversa com o guia para cá foi mesmo muito boa. Concluiu-a ele assim:
- Para mim o mais importante é o que estamos agora a conversar. O resto é tudo efémero...


Saímos das Ruínas do Prazo já perto da hora de almoço e fomos comer a um dos restaurantes mais recomendados da zona: o Sete&Meio, em Mêda. Quando telefonei para marcar mesa (uns meses antes), disseram-me: 
- Então se querem um prato típico, só pode ser a posta dos pobres.
- Então é esse mesmo que queremos!
E confirmou-se. De pobre só mesmo o nome. Saímos do restaurante a rebolar e com vontade de uma sesta...

Havia, no entanto, uma nova vila para desenhar: Marialva. O desenho acima anuncia isso mesmo, mas o texto sobre ele fica para o próximo post.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Foz Côa - parte 3


A primeira página de uma gramática dos símbolos a que chamamos Arte.

Sempre soube que Foz Côa era importante, mas ter estado lá fez-me ir muito além dessa informação.
Antes de Foz Côa, os arqueólogos acreditavam que as gravuras e pinturas rupestres aconteciam nas grutas e apenas raras vezes em céu aberto. Depois de Foz Côa (e porque as gravuras se preservaram debaixo de terra durante mais de 20.000 anos), percebeu-se que as gravuras e pinturas a céu aberto é que eram o comum e nas grutas a excepção. As margens dos rios do Vale do Côa deviam estar todas gravadas, mas muita coisa se perdeu. Aquela zona seria, imagine-se, o centro da Península Ibérica, onde os nossos antepassados iam fazer trocas comerciais, cruzar famílias, festejar e sabe-se lá mais o quê...


Mas o mais fascinante é perceber que as gravuras não eram feitas ao acaso. Existem rochas completamente saturadas de gravuras, quando, mesmo ao lado, estão rochas lisas sem uma única incisão durante todos estes milhares de anos. Sim, é arrepiante de ver. Havia uma intenção de as sobrepor. Também não eram rituais de caça, como durante muito tempo de imaginou. Descobriram-se sedimentos de ossos de coelho e de peixe entre despojos de acampamentos pré-históricos. Caçar estes animais de grande porte não era o dia a dia deles...

Qual a verdadeira razão? 
Porque é Pré-História, não há conclusões fechadas, só interpretações...

domingo, novembro 20, 2016

Foz Côa - parte 2


Quinta feira de manhã, antes de entrarmos no museu, fomos ao terraço e ficámos deslumbrados com a vista panorâmica.
O João Moreno, desenhador de excelência com quem tenho o privilégio de dar aulas nas Doroteias, ensinou-nos a todos o modo como usa as aguarelas.


Estava um vento fresco, mas que não conseguia fazer frente ao Sol da manhã.
Os alunos espalharam-se e, por largos momentos, só se ouvia a Natureza.

Depois entrámos no museu para um visita guiada com um dos arqueólogos que participou nas escavações nos anos '90. Assombrosa visita. Não deu tempo para desenhar muito, apenas os animais mais representados em Foz Côa: cabra, auroque, cavalo e veado.

sexta-feira, novembro 18, 2016

Foz Côa - parte 1



O Departamento de Artes Visuais do Colégio de Santa Doroteia organiza, todos os anos, uma viagem de artes durante quatro dias. O objetivo é reforçar a relação entre os alunos todos do secundário de Artes (para que funcionem como um grupo e não como turmas separadas), mas também ganhar ritmo de desenho num local fora de Lisboa. Este ano fomos a Foz Côa!
Viagem de comboio até Campanhã e depois até ao fim da linha do Douro: Pocinho (viagem deslumbrante!).
De Lisboa ao Porto desenhei alguns alunos.
Do Porto ao Pocinho, entreti-me a conversar com algumas pessoas e acabei por desenhar o Sr. Manuel Marcelino Monteiro, que ia até à Régua para jogar umas cartas com os amigos...


Jantámos no restaurante do museu Côa. Fenomenal.
Dissemos aos alunos que iam aprender várias técnicas de desenho. No caderno experimentava-se e depois, em folhas soltas, desenhava-se com mais cuidado. Como faço sempre o que lhes peço, também eu desenhei em folhas soltas e usei o caderno só para uns borrões. Mas assumi que as folhas seriam como um Leporello: os desenhos iam interligar-se todos.



E aqui estão as duas primeiras folhas ligadas: pessoas no comboio + a paisagem do Côa + uns apontamentos escritos e a garrafa de vinho.

Nos próximos post's revela-se um pouco mais do que aí vem...