quarta-feira, agosto 16, 2017

Florence: street views

Hoje o Matias faz 3 anos.
Passou rápido, como diz o povo.
Mas cada rapidez passada teve o seu devido tempo.


Em Florença, é fácil encontrar ruas a emoldurar a cúpula do Brunelleschi, na Duomo. Ela está sempre ali à espreita, por entre o casario medieval. Nós encantamo-nos primeiro mas depois vamos dando as vistas como algo adquirido, sem novidade...
Será esta a principal a diferença entre celebrar a vida de uma pessoa e a de uma cidade. Nunca nada é adquirido!


Sentámo-nos os dois por entre o bosque, mesmo por baixo do fantástico miradouro da Piazzale Michelangelo. O Matias escolhia os lápis e eu desenhada o que se via. Conjugou-se o azul claro com o escuro, o verde escuro com o claro, e a mesma relação entre os castanhos.
Ao acompanhar o crescimento, nem sempre tudo é claro, seguimos muitas vezes o instinto, andamos às apalpadelas a descobrir o melhor caminho. Mas também não é tudo escuro, há evidências óbvias da personalidade, gostos, interesses.
Mas o que este desenho me faz lembrar é que as zonas cinzentas são uma chatice!


Na Via dei Servi, na segunda feira depois da Páscoa, já depois de almoçar, houve tempo para trazer de novo a cúpula para o caderno.
Do lado direito, este desenho ia sendo feito aos pouquinhos, enquanto esperava pelo autocarro. Por vezes tinha 2 minutos, noutras 20 segundos. Ficou assim, incompleto, à espera de lá voltar.

Penso que o sentimento que tenho quando estou à espera é semelhante ao acompanhamento do crescimento do Matias. 
Se ficar só à espera, é uma seca.
Se me envolver e dedicar, a espera não chega sequer a existir. 
Não há cinzentos. Só claros e escuros, dúvidas e certezas!

segunda-feira, agosto 14, 2017

Florence: Ponte Vecchio



Uma ponte é uma das obras mais geniais da humanidade. 
Perante um obstáculo difícil de ultrapassar, fazemos pontes. 
Não lutamos contra as correntes do rio. Nem sequer precisamos ensopar-nos. Passamos por cima!

Mas há quem não goste de fazer pontes. Prefere ir pelo caminho mais difícil e provar que sozinho tem mais força que a corrente do rio.

A ponte é característica de excelência do diplomata. 
Se há um rio a dividir-nos, um rio que leva os argumentos com a mesma força que leva a água, a ponte é o sinal de inteligência que encontra os melhores pontos comuns entre um lado e outro para nos entendermos.

Embora tudo isto seja evidente, a verdade é que quando olho para esta Ponte Vecchio em Florença e a vejo cheia de pequenas construções e casinhas de comércio, dou-me conta que ela tem ainda mais significado do que imaginava. Tem sobre ela aquilo que nos caracteriza de um lado e do outro: algo que construímos para nos abrigarmos. Esta ponte deixa assente que só podem existir pontes pelo que nos une e nunca pelo que divide.

Engraçado como o desenho também serve de ponte. Coloca-nos a falar com desconhecidos. Levanta a curiosidade de crianças e adultos. Estabelece um contacto inesperado e fácil onde parecia existir um oceano a separar-nos. O caderno como ponte poderia ser um bom tema de dissertação...

sábado, agosto 12, 2017

Encomenda especial


Ainda no ano passado, "pediram-me" para fazer um desenho para a Prova Final de Português de 9.º ano. Todo o processo foi ultra secreto. Os ficheiros foram enviados completamente encriptados e cheios de passwords. Não se sabia bem quem pedia e o intermediário era quase incógnito. E tudo isso faz sentido. Não se deve menosprezar o esforço de milhares de alunos com fugas de informação.

O tema era este. Tinha dado um título diferente ao desenho, mas "eles" decidiram colocar convívio.

O desenho saiu na prova de época especial, que pode ser consultada aqui.

sexta-feira, agosto 11, 2017

Florence: Dante Alighieri


15 de abril de 2017, Florença, Piazza di Santa Croce 

O Matias dormia no carrinho.
Sentei-me na beira de um pequeno degrau, mesmo à entrada de uma casa.
O Dante Alighieri, figura central da literatura italiana, estava ali em primeiro plano. 

Numa altura em que só os escritos em Latim eram valorizados, Dante escreve a 'Divina Comédia' e faz o arranque definitivo do dialeto toscano como língua italiana que, só mais tarde, viria a ser oficializada com a unificação de Itália no séc. XIX. 
Mas o mais incrível é que os dialetos das regiões italianas continuaram sempre muito mais fortes do que a língua oficial e só em meados do séc. XX, com a massificação da escola e da televisão é que o italiano se torna a língua mais falada. No entanto, viajando por Itália, ainda é fácil encontrar os dialetos das regiões do norte e do sul. O dialeto do centro, o da Toscânia, esse, tornou-se o italiano como o conhecemos!

Atrás do Dante, no meu desenho, está a Basilica di Santa Croce, o principal templo religioso Franciscano em Florença. A fachada é embelezada por pedra mármore, embora não seja de origem, pois ficou inacabada desde o séc. XIII e só no séc. XIX foi concluída. De resto, é como todos os templos medievais.
De uma simplicidade no interior que nos petrifica quando vemos um raio de luz a entrar por um vitral...


Engraçado como Dante pegou num dialeto vindo do Latim dos soldados romanos, aquele que não era de boa qualidade - ao nível das pessoas cultas -, para o levar à língua unificadora do país a partir de um poema escrito enquanto estava no cativeiro, sozinho, impedido de voltar à sua cidade.
Também é muito interessante como estes templos nos atraem pela sua imponência, mas depois nos encaminham para um percurso interno e sozinho que possa descobrir pequenos sinais como a luz filtrada pelo vitral...

Será que a sabedoria vem de estarmos sozinhos e nos darmos conta das coisas mais simples do dia a dia?


Depois o Matias acordou. 
A Ketta levou-o, cativado pelas bolinhas de sabão que sopraram até terminar o boião. 
Brincaram na praça e cativaram outras crianças, de outros pais, de outros países.
Ouviam-se os risos alegres ao fundo. 
Ouvia-se o burburinho das ruas.
Ouvia-se uma só língua...

domingo, julho 23, 2017

Florence: Loggia della Signoria


Quando se chega à Loggia della Signoria, o coração de Florença, as esculturas majestosas são tantas que se fica embasbacado. 
Durante séculos, o David do Michelangelo esteve ali ao sol e à chuva. Agora está apenas uma cópia, mas não deixa de ter um impacto incrível.

Contudo, a mim, chamou-me logo a atenção este Perseus com a cabeça cortada da Medusa. Olhando de longe, pensei de imediato: "Só pode ser do Donatello. Escultura densa, escura, bem ao estilo dele."

Mas estava errado. Este Perseus fantástico - para mim, a obra que se destaca mais na Loggia della Signoria - é do Benvenuto Cellini, um dos grandes nomes do Maneirismo.

É sempre assim, quando pensamos que já sabemos algo, levamos com uma lição que nos diz que sabemos muito pouco.
Neste espaço, as obras atravessam séculos de história. Vai-se do Império Romano ao Rocaille. É muito impressionante como um pequeno espaço público pode ter tantas obras de arte originais ali, assim, à espera de serem vistas.

Florença é qualquer coisa...

sábado, julho 22, 2017

Retiro de diários gráficos: Florença, 2018



Ir à cidade berço do Renascimento, onde todos os grandes artistas dos séc. XIV, XV e XVI queriam ir, para fazer um retiro de diários gráficos, pode assemelhar-se ao que David sentiu perante o Golias: um ímpeto confiante que nos move para a frente, mesmo sem medir bem as consequências!

Será muito intenso e desafiador, mas não podia ser de outro modo.
Vou propor novidades nunca antes experimentadas. Preparem-se!

Duas datas à escolha: 
29 de março a 2 de abril de 2018 (para viver as tradições medievais da Páscoa florentina).
ou
4 a 8 de abril de 2018 (com um programa ligeiramente diferente do primeiro)

Os quartos partilhados são triplos.

Entusiasmados?
Inscrevam-se para: linhares.mr@gmail.com



Para saber mais sobre os retiros de diários gráficos: aqui, aqui, aqui e aqui.

domingo, julho 16, 2017

Florence: Fiesole


Fiesole fica na direção oposta do centro de Florença. 
A vista é de horizontes largos, depois de tanto subir.
A catedral, com origens no início do séc. XI, é de uma beleza incrível, com uma luz muito controlada em contraste com zonas de escuridão plena.

Era sexta feira santa. 
Jesus era sepultado num túmulo escuro.
No dia seguinte, os horizontes espirituais da humanidade nunca mais seriam os mesmos...