Não é que goste especialmente deste desenho, mas como esta entrada é fenomenal, não podia deixar de o fazer. Esta é a zona por onde se sai. Sentei-me num banco, encostado a um canto e, sem saber quando é que a Brenda iria chegar, que poderia ser a qualquer momento, tentei guardar no meu caderno aquele cenário, aquela imagem do dinossauro seguro apenas nas patas traseiras a receber as pessoas e a despedir-se delas.
As crianças rodeavam-me. Umas olhavam de esguelha, outras metiam conversa. Uma família norueguesa ficou muito impressionada com o desenho (e eu ali a lutar para que ele não se afundasse cada vez mais e a mal dizer os paus e a tinta da china...), e os dois filhos comentavam entre eles qualquer coisa em norueguês. Perguntei-lhes:
- Do you like to sketch?
- Yes. - respondeu-me a rapariga. E continuou: I want to be an artist just like you!
- I'm not an artist, I just like to sketch. - disse eu envergonhado...
- To me you are! - E sorriu...
E, de repente, a minha memória viajou para todas as minhas recordações de infância relacionadas com pessoas que vi a desenhar na rua e como as admirava. Lembro-me bem de um senhor a pintar a ribeira de Barcarena, junto a uma ponte, e de eu passar lá a tarde toda com ele a vê-lo trabalhar. Não faço ideia de quem era. Podia ser um desconhecido como eu ou uma pessoa famosa.
Nem sempre temos noção de como o nosso trabalho (por mais miserável que fique), pode influenciar a vida das pessoas...
Este dinossauro mal amanhado influenciou a da menina norueguesa, tenho a certeza.
2 comentários:
A entrada é mesmo fenomenal! Também tive que a desenhar.
Mas a tua história é deliciosa. E fui tentar recordar o que eu gostava de ver desenhar em criança. Lembrei-me de uma série que dava de alguém a desenhar num vidro opalino, enquanto uma voz contava uma história.
Mais influente que o trabalho é a pessoa. As tuas histórias, as experiências, a atitude, ..., marcam tanto a minha vida. Muito para além do desenho.
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