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terça-feira, janeiro 29, 2013

segunda-feira, dezembro 24, 2012

O Natal é como o interior de um livro

Pois é...
Já não contava escrever nada sobre o Natal, mas estava aqui a organizar os desenhos da viagem a Timor em 2009 para preparar a comunicação de dia 26 e teve mesmo de ser...

Tenho recebido muitos mails a desejar boas festas. Eu próprio tenho assinado todos os que escrevo nestes dias com esses votos. Ainda bem que não tenho facebook...
Estou farto desses mails com assinatura de boas festas...

O Natal é como o interior de um livro. 
A capa é dura e protege muito bem o interior que é precioso. Tão precioso que durante anos trabalhámos no duro para a fazer bonita. Tão bonita que uma cor só não chegava, havia que mostrar na capa o mundo colorido e feliz que estava lá dentro. Tão feliz que não havia como esperar por ler e perceber essa mensagem.
O Natal é como o interior de um livro.
A capa este ano é simples e sem adornos. Nua e crua. Verdadeira, autêntica, gasta e sem brilho. Acho que nunca vivi o Natal assim, sem dar importância à capa. 

Este ano o Natal é o interior do livro. Já não há capas que me enganem...

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Fotografia: Timor-Leste


Falta cerca de um mês para o meu casamento!

Estou a olhar para os dias que faltam como olho para estes talhões de terra bem divididos à espera de serem cultivados...
... por um lado eles estão preparados para serem cultivados, por outro, ainda há tanto por fazer...

O que vale é que podemos olhar para o horizonte e perceber que, embora com algumas nuvens, o azul é belo e promete grandes alegrias. O mais cansativo mesmo é preparar tudo até ao dia... será que a nuvem mais escura em primeiro plano está ali para me mostrar que é assim mesmo?

No fundo, no fundo, a casamento é um pouco como estes talhões de terra. O terreno está preparado e devidamente dividido. Temos de o semear, regar e colher os frutos. Mas sobretudo nunca deixar que o terreno deixe de ser fértil...

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor



Fomos duas vezes a Maubisse, terra do tio Tonito.



Do quarto tinha acesso a esta vista que ficava mais abaixo. A casa de banho estava equipada com um aquecedor de água eléctrico (não sei o nome correcto), mas não havia maneira daquilo funcionar. Parece que a potência em watts exigida era demasiada para o que o quadro eléctrico fornecia. Ainda nos fartámos de rir quando ele nos disse que experimentou ligar o aparelho ao gerador (que transforma gasóleo em electricidade), e ouvia-se um barulho cada vez mais lento até que parava num soluçar...

A única solução era mesmo tomar banho de água fria... e de caneca...
Isto tudo numa das cidades mais frias de Timor!

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Neste preciso momento sinto-me como aquela senhora da fotografia... sozinho num campo quase estéril...

Quando temos de realizar alguma tarefa que não nos entusiasma ela torna-se tão pesada que parece nunca mais acabar...
Preciso terminar de escrever um trabalho mas não me apetece... não estou entusiasmado e, por isso, as ideias não me estão a fluir como de costume...
Só me apetece avançar uns meses no calendário... ficava tudo bem mais tranquilo...

Talvez valha a pena não desistir... a senhora da fotografia também está lá! Sozinha, mas persistente...
Não sei se já semeou ou se ainda vai semear, mas está lá... está a acompanhar... está próxima...

Custa-me muito ter de fazer coisas que não me embasbacam, que não me tiram surpreendentemente as palavras, coisas que não me fazem crescer em pensamento, coisas demasiado descritivas, demasiado limitativas. É assim o trabalho que tenho de acabar ainda hoje para entregar amanhã. É assim também que se dá valor ao que gostamos mesmo de fazer.

É assim que deixamos de nos queixar...

terça-feira, janeiro 12, 2010

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor


A mesa ficava assim pronta para nós:

- Em primeiro plano o arroz (nunca pode faltar numa mesa timorense);
- Depois os pratos empilhados;
- Os vegetais e alguma carne (protegidos por um "cesto" em plástico) das moscas;
- Ao fundo a bebida segura - água engarrafada.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


O meu primeiro texto de 2010 vai ser sobre comida, relacionada, claro está, com esta fotografia.

Assim que cheguei a Timor deparei-me com algo estranho a que não consegui ficar indiferente: uma tia-avó da Ketta tinha os dentes vermelhos! Aquilo intrigou-me, mas, por educação, evitei olhar com demasiada evidência...

Com o passar do tempo fui percebendo que não era só a tia-avó da Ketta que tinha dos dentes vermelhos, mas todas as timorenses com idade avançada. Se por um lado poderia pensar em dentes enfraquecidos por uma alimentação mais débil, rapidamente percebi que os dentes vermelhos estavam lá todos! Não havia nenhuma cárie nem nada do género...

Portanto, mais intrigado fiquei...

Quando fomos a Laisorolai (onde a fotografia foi tirada) é que percebi bem o porquê dos dentes vermelhos: as senhoras mascam uma casca seca misturada com cal. O sabor é muito ácido e corta bastante a língua (sim, eu também masquei para experimentar!). Não se pode engolir (é claro que eu engoli da primeira vez - só depois é que me avisaram!). Masca-se durante algum tempo e depois cospe-se.

O resultado é muito simples:
1- Os dentes e as gengivas ficam vermelhos;
2- A mistura protege os dentes, fazendo-os durar muito tempo;
3- A mistura engana a fome.



No dia em que tirei esta fotografia comi um prato de arroz com um pedacito de carne. Não foi neste dia que masquei pelo que me deitei com alguma fome...

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor


Que saudades de estar ali sentado com um calor intenso, chinelo no pé, com o nada e o vazio a preencher o tempo...

Quase a acabar 2009 percebo que foi um ano cheio de coisas. Cheio de decisões, de opções, de angústias e alegrias.

A nossa sociedade exerce mesmo uma enorme pressão sobre nós... aqui não há tempo para o vazio, para o nada acontecer...
... é por isso que gosto tanto de andar de transportes públicos! Durante aquele espaço de tempo tudo pode acontecer. Uma viagem cheia de nada pode acontecer, mesmo no meio de tanta gente...

Cada vez mais me convenço disto:
Só tem tempo para fazer tudo quem arranja tempo para não fazer nada.

Quando olho para este desenho a minha memória vai para o espaço vazio daquela sala, de como se lia bem ali, de como se estava bem ali...

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Na viagem de Dili para Baucau parámos para almoçar num "restaurante". A catupa estava óptima (arroz em água de coco envolto em folhas de palmeira), mas o que me deixou algo preocupado foi a água que se utilizou na refeição... tirada deste mini poço... era escura e de limpa tinha muito pouco...

... restou-me a confiança no lume que ardia e a ferveu!

domingo, dezembro 13, 2009

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor


Se há fruto que não falta em Timor é a banana.
Embora pareça verde, a verdade é que é bastante saborosa e o mais incrível é que até das bananeiras meias secas nascem bananas novas!

É mesmo um país fantástico!

domingo, dezembro 06, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Quando tinha 17 anos comprei, na feira da ladra, umas botas artesanais. A sola era feita a partir de pneus de carro e o senhor que mas vendeu convenceu-me que durariam uma vida inteira...
A verdade é que ainda as tenho e estou convencido que vão durar mais que eu...

No telejornal da rtp1 de hoje passou uma reportagem sobre consumo responsável. Da importância de termos consciência do que realmente consumimos...
... tudo a propósito da cimeira de Copenhaga, claro!

Quanto mais viajo pelo hemisfério sul mais percebo que se há alguém a aprender sobre este tema somos nós. Vivemos na abundância de tudo e o novo é o que nos move...
O antigo, o reutilizável, o ready-made são coisas do passado, acabadas... parecem não serem capazes de empurrar para a frente a humanidade...

Será que a nossa linda esfera aguenta tanta ânsia de novidade?

terça-feira, dezembro 01, 2009

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor

A partir das duas últimas semanas toda a gente de Balide fazia flores de papel...
Essas flores haviam de viajar connosco para Portugal com um motivo muito especial...

segunda-feira, novembro 30, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Esta pele, dedos, rugas e cores fazem-me lembrar as minhas avós...

A avó Branca, tia avó da Ketta, leva-me o pensamento para aqui:

Perguntaram ao Dalai Lama:
- O que mais te surpreende na Humanidade?
E ele respondeu:
- Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.


Espero olhar para as minhas rugas no futuro e poder encantar-me por elas, rir-me com elas, mostrá-las sem rodeios, viver o presente sem querer que ele seja o passado ou o futuro... sem artificialismos, sem plásticas, sem nada que não seja autêntico...

terça-feira, novembro 24, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Estamos a entrar no Natal, época de consumismo por excelência...
Será que alguém pensa verdadeiramente sobre o assunto?
O ano passado escrevi por aqui qualquer coisa. Este ano não sei bem sobre o que escrever...

Como qualquer festa importante, o Natal também exige um tempo para a sua preparação e acho que é por aí que o meu pensamento vai desta vez...

Muito influenciado pelo lindíssimo texto do Tolentino Mendonça - O elogio da Inutilidade - sou levado a acreditar que é preciso dar espaço ao inútil da nossa vida, aos vazios, ao sem objectivo, para que nos possamos surpreender pela própria vida. Como ele escreve: A vida tornou-se uma espécie de grande maratona da utilidade... e nós corremos, corremos.

Será que sabemos mesmo para onde vamos? Para o que nos andamos nós a preparar? Qual é a grande festa da vida que exige de nós tanta correria, tanta utilidade, tanta preparação?

...

sexta-feira, novembro 20, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Esta fotografia inquieta-me...
Por entre uma nesga de espaço tentava registar o que me parecia um momento daqueles que fazem os nossos dias conseguidos: dois miúdos a brincar de forma tão simples, com tão pouco e de forma tão feliz...

Desde os 16 anos que a ideia do "dia conseguido" entrou na minha vida pela mão da minha professora de Filosofia. Nunca mais deixei de pensar nisso... quais os pormenores do dia-a-dia que tornam o meu dia conseguido? Uma vez, depois da escola, fiz toda a viagem de regresso a casa a pensar nisso. Depois de descer do comboio e começar a andar até casa o meu olhar estava vazio para não desconcentrar os meus pensamentos...
Quando dei por mim estava a reparar numa criança a brincar naqueles cavalos à entrada dos cafés onde metemos uma moeda para que ganhe "vida". A moeda não tinha sido colocada, mas a criança transbordava alegria por todos os poros... era um daqueles momentos eternos...

Foi nesse dia que percebi verdadeiramente o "dia conseguido". Percebi que só o vemos quando nos deixamos encantar pela aparente inutilidade do que nos rodeia...



Esta fotografia inquieta-me porque quando apontei a objectiva aquela criança deixou de brincar. Inquieta-me porque percebi que o momento que marca o dia conseguido vive-se, não se regista...
Passa-se por ele quase sem nos fazermos notar... fazendo-nos inúteis...

segunda-feira, novembro 16, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Cemitério de St.ª Cruz, aquele que ficou famoso nas imagens da rtp em 1991.

Registei também em vídeo as campas sobrepostas e a forma caótica como se tem de passar até chegar a algum lado...
Cada campa tem o seu formato.
Cada campa representa não só o gosto de cada família, como também o seu poder económico. Campas simples nada têm quando ao lado se erguem autênticos oratórios de tijolo e cimento...


Não sei para onde vai a alma depois de morrermos, mas parece que o nosso corpo continua sujeito às diferenças sociais...
Não sei para onde vai a alma depois de morrermos, mas acredito que não terá dinheiro para se diferenciar das outras...
Não sei para onde vai a alma depois de morrermos, mas há corpos que a andam a asfixiar...
Não sei para onde vai a alma depois de morrermos, mas há corpos em vida que a conseguem tornar imortal...

quarta-feira, novembro 04, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


O tio Carlos foi buscar-nos ao aeroporto no dia em que chegámos.
É o condutor de maior confiança do Bensa au Ama e já teve mesmo um camião só dele.

Como a mulher era de Ainaro (zona interior de Timor - das montanhas), quando, por infelicidade ficou viúvo, teve de cumprir todos os rituais de cor metan (cor negra ou luto) tradicionais. Uma das implicações é comprar um búfalo, animal sagrado, e oferecê-lo em sacrifício para que o espírito da mulher possa descansar em paz. A carne é depois retalhada e distribuída por familiares.

Para comprar o búfalo, teve de vender o camião. Perdeu a sua fonte de receitas e a sua vida nunca mais foi a mesma. Desde essa altura que percebeu que o peso cultural pode trazer infelicidade e dificuldades acrescidas. Gastou todo o dinheiro que tinha para comprar o búfalo e por essa razão recusa-se a casar novamente. Não percebe porque se têm de cumprir esses rituais todos...

O tio Carlos é um condutor excepcional, bem disposto, sempre disponível.
Com ele a música não falta na cabine, daquela bem típica timorense ou indonésia...


domingo, novembro 01, 2009

Fotografia: Timor-Leste | Photography: East-Timor


Gosto muito desta fotografia...

... enquanto esperávamos pelo início da viagem para Laisorolai, este menino estava a deixar-se encantar pelo espelho em "olho de peixe". Fazia caretas, punha a língua de fora, comia a 1 centímetro de distância para ver todas as suas deformações. Quando se desviava para os lados a cara esticava-se... quando se punha mesmo de frente a cara engordava...

Não deveria ser assim também connosco? Deixarmo-nos encantar por quem nos mostra uma nova visão das coisas... por quem descobre em nós a novidade... mesmo que essa novidade sejam defeitos... as crianças olham para eles de frente e riem-se. Nós fugimos deles e nem sabemos se devemos chorar ou rir...

Hoje, 1 de Novembro, dia de todos os santos, parece-me o dia certo para nos deixarmos encantar pela ideia das nossas misérias humanas poderem ser santas para alguém...

sexta-feira, outubro 23, 2009

Diário Gráfico: Timor-Leste | Graphic Diary: East-Timor


O diário deste dia:



Laisorolai, 04 de Agosto de 2009

Pois é! Hoje mudámos de localização... estamos perto das montanhas, com uma temperatura mais baixa. A cidade mais próxima é Baucau.
A viagem foi óptima! Excelente paisagem! Parte foi feita no truck (que por aqui se diz treck), com a cabeça ao vento e o Sol a queimar a pele.
O objectivo desta viagem é conhecer a terra do pai da Ketta. Acho que ele já não vinha cá há mais de 30 anos. Aqui fala-se o dialecto Makasai.
Visitámos alguns familiares e amigos e demos uma volta na aldeia. Quase chegámos a assistir a uma luta de galos, mas não chegou a acontecer.

...

Estou com um escladão terrível na cara e nos braços. Estamos hospedados numa casa humilde e os donos fizeram de tudo para termos as melhores condições (trouxeram um gerador para termos electricidade; tiveram carne à refeição; conseguimos pendurar as redes mosquiteiras), no entanto, as condições são, de facto, fracas... não sei se vou conseguir ir à casa de banho... hoje nem lavei os dentes... tenho os pés gelados e jantei e fiquei com fome...

Nada disto me assusta. É desafiante! Talvez seja assim porque sei que vou embora na quinta-feira...
A sensação de estar numa aldeola qualquer perdida no meio do nada reduz-me à minha insignificância. Aqui ninguém sabe quem sou, tudo funciona bem sem mim. Sinto-me fisicamente desprotegido, mas espiritualmente muito bem. É bom sentir que não estamos cá ao acaso... faz-nos superar todas as dificuldades!