quarta-feira, maio 13, 2009

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Em Kudom, tal como na maioria das aldeias da Guiné, as crianças têm hérnias umbilicais, fruto de más curas no corte do cordão umbilical à nascença e nos primeiros meses de vida.

A barriga inchada é sinal de subnutrição...

Apesar de tudo isto, as crianças corriam atrás de mim, posavam para a fotografia, riam-se ao verem-se no pequeno ecrã da máquina. Tocavam-me na pele rosada e sentiam os pelos dos braços como algo muito estranho...

Darwin tinha razão. A sobrevivência faz-nos desenvolver técnicas mais apuradas. Até ao nível biológico uns ficaram mais aptos a resistir ao frio do que outros...
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In Kudom, like in most villages in Guinea, children have umbilical hernia, a result of bad healing of the cut of the umbilical cord at birth and during the first months of life.

The swollen belly is a sign of undernourishment…

Despite all of this, the children chased me running, posed for the pictures, laughed when they saw themselves in the small camera screen. They touched my pink skin and felt my arm hair as something very strange…

Darwin was right. Survival makes us develop more accurate techniques. Even in a biological level, some are more able to endure the cold than others…

7 comentários:

Amnistisiados disse...

É mesmo necessário melhorar as condições na área da saúde, não há dúvidas. Quanto à barriga inchada do menino da foto, fez-me lembrar um episódio passado numa aula de História em que, se bem me lembro, estavamos a falar da situação de muitas crianças operárias, da Europa de Leste da primeira metade do século XX. Quando a professora nos explicou a causa da grandeza da barriga de algumas crianças, presentes numa fotografia, lembro-me de alguém ter dito algo como: Barriga cheia de nada. Pode parecer um comentário insignificante mas, não sei bem porquê, marcou-me. Estas barrigas enganam bem. Temos o hábito de associar as barrigas grandes à boa ou excessiva alimentação, quando nem sempre é o caso.

Gosto muito desta foto. Muito mesmo. A expressão desta crianças, transparece-se uma imensidão de sentimentos. Um belo retrato, sem dúvida. E o facto de olharem e tocarem admiradas os pêlos do braço mostra como, independentemente do lugar, as crianças são e serão sempre os seres mais curiosos deste planeta. Mas o mais bonito no meio disto tudo, é ver como as crianças lidam com a diferença. :)

É óptimo chegar a este blogue e ver que temos vários post's para ler e ver, com os quais podemos aprender e muito.

Temos uma notícia. Esta semana não resistimos, tivemos que abrir o mealheiro para contar o dinheiro que conseguimos para a Safi. Temos, no total, cerca de 132 euros. Este período está a ser exaustivo, mas queremos continuar a angariar fundos. A ver se conseguimos mais uma boa soma. ;)

Abraços!

Mário Linhares disse...

Caras amnistisiadas:

Já vos disse que são fantásticas não já? Sei que este período é exaustivo para vocês. Têm os exames nacionais à porta e testes importantes para manterem ou subirem a média.

Obrigado pelo comentário. Aos poucos vou-me apercebendo que são muitas as pessoas que seguem este blog, mas, por alguma razão, nem todos deixam comentários...

Gostava de ser eu a entregar o dinheiro para a Safi, mas infelizmente não vai dar - este ano vou estar em Timor.

Nem imaginam o orgulho que tenho em saber que vocês estão a ajudar a Safi. As melhores parcerias são aquelas que se baseiam na confiança e este é um excelente exemplo disso mesmo. A Safi confiou em mim, mesmo sabendo que eu ia embora e que podia nunca mais pensar nela. Vocês confiaram em mim mesmo não me conhecendo e trataram de meter mãos à obra!

Fantástico! Parabéns pela coragem e perseverança!

Ps. Não sei quem será o grupo vencedor do concurso, mas sei quem são as duas pessoas que o vai acompanhar. Confio plenamente nelas. A Safi irá receber tudo o que lhe enviarmos!

cristiana disse...

Tal como os amnistisiados também gosto muito desta foto tem um carácter muito expressivo. Gosto de olhar cada expressão e tentar decifrar um pouco de cada criança.

Tenho a dizer que é um prazer ver cada foto deste blog, porque cada uma delas desperta sentimentos diversos.

E reflectindo acerca da frase dos amnistisiados "barriga cheia de nada" é que é mesmo este o sentido das barrigas inchadas destas crianças.

É incrivel como o conceito de barriga "grande" retoma significados diferentes conforme o contexto em que se insere.

Mário Linhares disse...

Cara Cristiana, a minha outra comentadora assídua!

Tens razão, o contexto em que estamos muda muita coisa...
... mas o verdadeiro problema é quando não queremos ver isso...

É como ter que mudar de lentes, mas insistimos para continuar com as antigas. Arranjamos as desculpas mais incríveis para justificar o injustificável, quando no final, quem fica verdadeiramente a perder somos nós porque nunca deixámos de ver o mundo de uma única perspectiva...

De repente a barriga cheia de nada é a nossa, porque, somando tudo o que fizemos na vida, espremendo bem, não fica quase nada. Nesse momento gostaríamos de voltar atrás e fazer muito mais coisas do que fizemos, alterar outras...

Devemos aproveitar a nossa vida para a viver de forma produtiva, útil, relevante.

Não podemos dizer "isso não é comigo".

Prefiro sempre pensar: "isso deve ter alguma coisa a ver comigo".

Amnistisiados disse...

Ajudamos com pouco, mas com muito gosto. Tal como disse, "não podemos dizer: isso não é comigo". Já chega de ignorarmos os outros...

Pegando no exemplo de quando é preciso mudar de lentes... As pessoas buscam, constantemente e (direi mesmo) exaustivamente, razões para não poderem pensar um pouco nos outros. Pensar nos outros e agir pelos outros. Também já fui assim... Via os problemas, até reconhecia a existências dos mesmos, mas depois, tentava sempre convencer-me a mim mesma que não podia fazer nada, que não podia ajudar. Mas há sempre algo a fazer, há sempre uma forma de ajudarmos alguém e, até, a nós mesmos. Criamos a ilusão de que está tudo bem e de que não temos quaisquer responsabilidade sobre os problemas dos outros e vivemos nessa mesma ilusão, completamente à margem da realidade. Felizmente, esfreguei os olhos e "acordei para a vida".

E se, por um lado, é mau pensarmos que o Homem é o grande culpado do estado do mundo, por outro, é óptimo acreditarmos que é o único que pode, realmente, mudar as coisas.

É a crença nessa mudança que me move. Eu acredito, muito sinceramente, que é com pequenos gestos que podemos melhorar este mundo. Podem chamar-me utópica ou eterna sonhadora. Chega de pessimistas e de cépticos. Utópicos são aqueles que têm um sonho mas não fazem nada para concretizá-lo.

Se não mudarmos o mundo, mudamos certamente a vida de alguém. E esse alguém muda-nos a nós. Não há nada melhor que isto.

A Safi é uma daquelas pessoas que aparecem na nossa vida, mesmo sem as conhecermos. Daquelas que nos marcam, que geram um "clic" de mudança em nós. Que nos fazem ver melhor o mundo, mesmo sem lentes... E sobretudo, que nos fazem compreendê-lo melhor.

Cada vez me sinto mais grata por ter descoberto este blogue...:)

Ana Claudia disse...

Quase todas as crianças que fotografo aqui têm as barrigas e os umbigos assim.

É uma dor pensar nas razões.

Mário Linhares disse...

Obrigado a todas pelos comentários.

Ando tão ocupado que quase não tenho tempo para estar à altura dos visitantes do blog...

Desculpem a demora nas minhas respostas e na publicação de novos post's.

Abraço amigo!