quinta-feira, março 10, 2011

Diário Gráfico: Itália



Podia apanhar o autocarro, mas preferi caminhar desde a Praça S. Pedro até ao Coliseu e deixar-me perder pelas ruas de Roma. Mesmo que isso implicasse levar a manhã inteira a fazer esse percurso...
Ainda por cima chovia aquela chuva miudinha que parece que não molha...
Foi uma caminhada brutal. Fui praticamente sempre de queixo caído, tais eram as constantes surpresas em cada esquina dobrada...
Roma não dá mesmo para acreditar... é que não dá mesmo!

Quando, finalmente, cheguei ao Coliseu, procurei um sítio confortável para me sentar. Escolhi uma esplanada mesmo em frente e estive ali uns belos 40 minutos a desenhar.
Valeram bem os 2,40 que paguei pelo café!

quarta-feira, março 09, 2011

Diário Gráfico: Itália


Esta praça é um sonho para desenhar. São pessoas por todo o lado em movimento, arquitectura variada, esplanadas, as esculturas do Bernini nas fontes, enfim...

Durante o dia foi impossível parar para desenhar. Não havia tempo. Tive de lá ir durante a noite.
Estava a chover e não se via lá muito bem. Abriguei-me num toldo de um quiosque mesmo à entrada da praça e desenhei as zonas de sombra que conseguia ver. Em casa meti a cor.

Durante o desenho uma cena incrível. Um homem de guitarra na mão caminhava a fugir da mulher que o insultava. Chegou a um ponto em que ele reagiu e virou-se contra ela. A discussão foi forte e a alto som. Quem se aproximava ou, sequer, olhava, era corrido com um raspanete num italiano com o dialecto romano no seu melhor...

Eu, no meu cantinho com o meu diário gráfico e com a minha caneta preta, passei incólume ao raspanete...

sábado, fevereiro 19, 2011

Diário Gráfico: Inglaterra

Desenhar pessoas durante uma refeição não é tarefa fácil:

- criam uma expectativa enorme sobre o resultado final;
- desiludem-se quase sempre com o que vêem;
- não param quietas;
- estão sempre a espreitar de esguelha para o nosso caderno;
- acham-nos estranhos por estarmos a gastar tempo nisto.

Eu começo sempre por desenhar copos, pratos, travessas, comida, até que eles pensem que só quero desenhar isso. Depois é que eles começam a aparecer nas minhas páginas...

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Diário Gráfico: Inglaterra

Desenho feito no Café Rouge, mesmo junto ao Canal, no coração de Birmingham.
Estava a anoitecer e já quase não se via nada...

Concentrei-me depois no que havia para desenhar dentro do café...
É engraçado como o desenho pode servir também aqui de lição de vida. Desenhamos o que está ao nosso alcance, o que não nos foge da vista, o que não está para lá do nosso horizonte. Desenhar a partir daí é sempre um exercício de imaginação...

Também é assim nas relações. Tudo é possível quando estamos frente a frente, cara a cara, olhos nos olhos. Não há que enganar. As expressões dizem tudo... sem querer tornamo-nos transparentes, autênticos e, por isso mesmo, inspiradores de confiança...

Ferramentas para nos relacionarmos além do horizonte já existem muitas (este blogue é uma delas). A imaginação ganha largueza...

Mas não é a mesma coisa... é que não é mesmo!

domingo, fevereiro 06, 2011

Diário Gráfico: Inglaterra


Em Birmingham, mesmo no coração da cidade e ao lado do famoso Bullring, está esta catedral anglicana. O frio era tanto quanto a fila de espera pela mesa onde estava sentado - o restaurante Nando's, de origem portuguesa (consta que tem o melhor frango assado de Inglaterra). Desenhei o possível. Já não houve tempo para o transepto e para a cúpula do altar-mor.

Quando olho para este desenho recordo-me do ambiente daquele dia. Do mar de gente a entrar no Bullring, os cheiros, sons, etc, etc...

Enfim... desenhar preserva-nos a memória!

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Diário Gráfico: Inglaterra


Quando viajamos, uma das questões centrais é a diferença gastronómica.
Neste caso, as minhas ideias prévias (quem as não tem?), diziam-me que os ingleses não gostam particularmente de cozinhar, pelo que ia mentalizado para isso...

Pois é. Mas acontece que as minhas ideias prévia estavam lá bem atrás, presas no longínquo passado...
As misturas culturais levaram-me para uma riqueza incrível de paladares. Todos cozinhavam. Todos faziam parte do processo. Todos se interessavam e davam ideias.

Era esta a cozinha onde tudo acontecia. Atrás de mim, onde desenhava, estava a clássica vista para o jardim da casa. Passeavam por lá esquilos e raposas, além dos muitos pássaros.

O acto de cozinhar e de desenhar têm tanto em comum. É uma depuração, procura do essencial. É a tomada de opções. Nem sempre o produto final nos agrada mas, desde que o processo nos preencha, vale sempre a pena!

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Diário Gráfico: Inglaterra

Desde que tive uma cadeira na faculdade chamada Estudos Culturais, fiquei com curiosidade em conhecer a Universidade de Birmingham. Berço dos estudos pós-colonialistas, quis adiantar-se no tempo e estudar os efeitos da descolonização africana. Muito interessante o tema!

Quando procurei esse Departamento para ver in loco onde tudo tinha começado, deparei-me com a triste verdade das Universidades contemporâneas: por falta de viabilidade financeira do projecto, tinha encerrado portas.

É para aqui que caminhamos academicamente: o que é rentável, mesmo com pouco interesse, é o que permanece. Tudo o resto cai perante o mecanismo económico em que estamos entranhados...

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Diário Gráfico: Portugal


No dia 20 de Dezembro estava um trânsito horrível em Lisboa. Não se andava nada mesmo! A situação seria desesperante se não tivesse tido a oportunidade de colocar em prática as experiências do meu amigo Zé Louro. Desde que o ouvir falar de desenhos no trânsito, e vi os que ele fazia, que estar parado em semáforos ou no pára-arranca nunca mais significou a mesma coisa.
O stress não é aquilo nunca andar, mas exactamente o oposto: "isto está sempre a andar" - digo eu chateado - "assim não consigo desenhar"!

Quem disse que o desenho não muda o nosso estado de espírito?
"Quem disse que o desenho não é uma actividade radical?" - esta frase é dele.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Diário Gráfico: Itália


Logo no primeiro dia, era imperativo ir à Praça S. Pedro. Ainda estava lá o presépio internacional e o pinheiro. Embora fosse dia, o ambiente era bem tranquilo. Haviam algumas pessoas por ali, mas nada comparado com os turistas do Verão.

Encostei-me confortavelmente a um daqueles pilaretes de pedra que separam a praça da estrada e comecei o desenho. Linha a linha, do lado esquerdo para o direito. Além de não ver bem as esculturas, não tive coragem de desenhar tamanhas obras do Bernini. A quantidade é verdadeiramente impressionante! Como é possível alguém ter feito tanta obra com tanta qualidade?

Os 45 minutos ali a desenhar levaram-me numa viagem histórica, pessoal e espiritual....
E mais não digo... fica comigo...

sábado, janeiro 01, 2011

Fotografia: Inglaterra



Vitral da 50 High Brow St., Birmingham



2011 abre com a partilha de 13 dias em Birmingham.

Temperaturas baixas, neve, gelo and so much british accent...

Sabem aquela Inglaterra que aprendemos nos livros da escola, com os senhores de chapéu, toda a organização, pontualidade e pele branquinha? Continua lá, mas não está sozinha. O mundo inteiro está lá misturado! O mesmo mundo que mistura Lisboa é o mundo que mistura Birmingham. A única coisa que muda são os ingleses!

Com tanta mistura, temos tendência para ver tudo desfocado.
De repente, damos por nós a ver sair paquistaneses de casas vitorianas do início do séc. XX. Nas ruas cruzam-se pessoas de origens indefinidas, nascidas cá e lá. Somos atendidos por alguém atrás de uma burca e vemos uma cultura emergente e totalmente inovadora a querer fazer a sua história.

Ver desfocado é a maior desgraça que nos pode acontecer. É não perceber que o mundo já mudou. É não perceber que há um mundo e há pessoas que nele habitam por direito próprio, sem preconceitos, sem fronteiras, sem british accent...
Apenas pessoas e o mundo!