quinta-feira, novembro 27, 2014

Até Clermont Ferrand...


10 de novembro
Tudo começou com uma viagem de carro de Lisboa a Madrid. Muitos quilómetros para fazer com uma apresentação desmarcada por ser feriado na capital de nuestros hermanos...


11 de novembro
Mais uma viagem de carro de Madrid a Saragoça. Saímos cedo com o nosso grande amigo P. Matias que está agora a viver em Madrid. Acompanhou-nos na viagem e assistiu ao final da tarde à nossa apresentação na livraria Lasala - excelente sugestão da Clara Marta para a nossa apresentação do livro.


12 de novembro
De volta à estrada. Saída de Saragoça bem cedo para fazer mais de 800 kms. Esta zona era a dos Pirinéus, cheia de túneis. A passagem por Bordéus foi impressionante pelas filas imensas de camiões...


13 de novembro
Chegámos já noite escura, mas no dia seguinte era esta a vista da janela do nosso quarto. Não havia tempo para desenhar pois era imperativo ir para o Polydome montar o nosso stand...


Enquanto estive no Brasil, a Ketta preparou todo o material para o stand. Fartou-se de trabalhar. O nosso stand ficava no mesmo cruzamento com o do Stefano Faravelli e ele estava a montar uma cabana como se estivesse no meio da selva. Impressionante...


No final do dia era este o aspecto do nosso espaço. Queríamos alguma sobriedade, mas também as cores africanas...


Fomos cheios de cadernos originais, mas só couberam sete na vitrina. Até foi bom, porque assim os outros ficaram na mesa e as pessoas preferiam ver os cadernos originais a postais, livros ou reproduções.


14 de novembro
Primeiro dia do festival: o dia das escolas, o mais barulhento e cheio de pedidos de desenhos. Gostava de os desenhar a eles e a estas duas raparigas ainda consegui pedir-lhes uma fotografia com o desenho antes de o oferecer...


Enquanto o Stefano Faravelli desenhava nos livros lhe que compravam, no meu caso, o burburinho era de que no meu stand alguém fazia retratos e a fila de espera aumentava...


Embora estivesse selecionado para o prémio de melhor livro de viagem internacional, a concorrência era tão elevada que já estávamos felizes só pela nomeação. Ao final da tarde quando nos atribuíram o prémio Coup de Cœur nem percebemos bem do que se tratava. O "livro do coração" ou o "livro mais apaixonante", explicaram-nos mais tarde. 
Incrível...


15 de novembro
Embora o festival continuasse cheio de visitantes, o barulho das crianças já não existia. As perguntas eram as de adultos que tinham uma relação com a Costa do Marfim e queriam saber tudo sobre a nossa viagem. O meu francês desenferrujou em definitivo. Em pouco tempo até me surpreendia a mim próprio com o vocabulário que começava a utilizar...


Recebemos visitas de tantos urban sketchers que deu para perceber como esta comunidade criada pelo Gabi Campanario tem vida própria e cheia de personalidade. Nunca mais terminará e daqui a alguns anos será referida e estudada em aulas de História da Arte. Que lhe seja feita justiça, pois a identificação é tão grande que quando se dizia que nós também pertencíamos aos USk de Portugal, era como se encontrássemos um familiar afastado. Há uma relação familiar entre nós...


16 de novembro
No último dia já nos sentíamos em casa. O francês começava a fluir e a relação entre todos os expositores era cada vez melhor. Nesta fotografia tirada pelo Emdé, o rapaz à minha frente ficou a falar comigo tanto tempo que deu para perceber que estava fascinado com toda a nossa história, a viagem e o livro. O público francês é outra coisa...
Neste momento estávamos a ser entrevistados pela organização por termos ganho um prémio. Ficou bem a entrevista e pode ser lida aqui.


Como não podia contar esta viagem apenas com fotografias, aqui ficam os dois únicos desenhos que fiz no meu diário gráfico nessa semana: o da esquerda em Saragoça e o da direita em Clermont-Ferrand.

Foi muito cansativo, mas foi muito especial...

O livro pode continuar a ser visto e adquirido através deste link. Por enquanto ainda não esgotou...

domingo, novembro 02, 2014

The urban sketching handbook


Chegou-me esta semana a casa o novo livro do Gabi Campanario (fundador dos Urban Sketchers). 
O ano passado convidou-me para participar com alguns desenhos, o que foi uma honra enorme!

O livro é mesmo útil e tem imensos conselhos e dicas sobre o desenho urbano: escala, composição, profundidade, contraste, linha, criatividade e os materiais possíveis de utilizar.

Quanto à minha participação:


No capítulo da composição, fala-se da escolha de pontos de vista com ângulos acentuados. Claro que a vista da Torre Eiffel desenhada pelo Norberto Dorantes deixa qualquer um de boca aberta, mas o Gabi quis colocar aquele meu desenho feito em Constância de uma zona alta com uma vista para umas escadinhas como proposta de ver e perceber o que acontece quando a perspectiva não é a que estamos habituados!


No capítulo sobre contraste, o nosso maravilhoso convento de Mafra serviu de exemplo como dica para o desenho das zonas em sombra de janelas, arcadas ou portas. Ao criarmos zonas em sombra é inevitável sobressaírem também as iluminadas!


No capítulo da criatividade, o meu desenho do Largo de S. Carlos ganhou destaque porque o desenhei em panorâmica. Escreveu o Gabi sobre este desenho:
Portuguese sketcher Mário Linhares took an original approach with this sketch. He combined the buildings façades of a Lisbon city square into a panoramic drawing. The result shows the four sides of the square unfolded into a continuous façade. Isn't that clever?


No final, quando vejo a lista de pessoas que contribuiu com desenhos para o livro penso que é realmente um orgulho enorme fazer companhia a estes nomes todos de quem gosto tanto do trabalho.

Obrigado Gabi pelo convite. O livro está fabuloso e pode ser adquirido através da Amazon (é só clicar na imagem):

domingo, outubro 19, 2014

Palmela


Em junho fui a Palmela para começar a preparar o workshop que vai acontecer hoje com o teatro O Bando. No regresso a casa, ainda sem saber o que fazer nem o que propor como exercícios, fui ao centro, subi a um ponto alto, comprei um gelado, passeei até o gelado acabar, observei as esplanadas dos cafés a serem preparadas com ecrãs gigantes por causa do jogo de Portugal no mundial de futebol e quando me virei: "cá está!", tirei o caderno, as aguarelas e a caneta e fiz este desenho à pressa.

Mais tarde, quando lá voltei para desenhar, percebi que as propostas teriam de ser com o tema da sobreposição de técnicas, porque o conceito da peça assim o pedia.

Li há anos uma entrevista do arquitecto paisagista João Nunes onde dizia que cada terreno pede um projecto diferente e que, por isso mesmo, precisava de lá ir observar com tempo a forma como as pessoas o usavam e o que o terreno estava a "pedir" como projecto. O projectista não era, portanto, alguém que impunha as suas ideias ao terreno, mas aquele que desvendava e ajudava a concretizar o que o terreno pedia que se fizesse ali...

Eu sinto o mesmo em relação ao desenho e às propostas que me desafiam a fazer. Cada sítio pede uma abordagem única e a monstruosa tarefa é perceber como é que o local pede que seja desenhado...

quarta-feira, outubro 15, 2014

Selection for the International Sketchbook Prize

Sim, é mesmo verdade. Recebi ontem um mail a avisar que o livro Diário de Viagem | Costa do Marfim foi seleccionado o International Sketchbook Prize pelo júri de Clermont-Ferrand para o Rendez vous - carnet de voyage, que acontece agora em novembro próximo. 

Enviei hoje de manhã 5 exemplares para cada um dos júris e claro que eu e a Ketta estamos felizes, mas também com a noção de que é um prémio dificílimo de ganhar, pois na corrida estão nomes como o Faravelli, o Prost ou o Emde, só para referir aqueles que mais aprecio.

Nas últimas semanas tenho andado em várias escolas de Lisboa a apresentar a viagem, o gosto por desenhar e o fascínio de o fazer num diário gráfico. Voltei à minha querida António Arroio (que bela está a escola!) e hoje estive com a Ketta e o Matias no ISCTE na primeira apresentação a três!


Os próximos tempos também não se avizinham com menos actividade. Os convites são muitos e o tempo continua a escassear. É preciso a sabedoria de saber escolher e calendarizar, para continuar a fazer o melhor que sei e posso...

É nestas alturas que gosto de olhar para as páginas menos bonitas dos meus diários gráficos pois são elas que me lembram de continuar a trabalhar humildemente:


Esta é a última página do meu diário de viagem à Costa do Marfim. Quem me conhece e costuma ver os meus cadernos sabe que guardo sempre as últimas páginas para os meus apontamentos mais pessoais. Aqueles que, à partida, não são para mostrar a ninguém...
Neste caso, justifica-se a quebra da regra...

segunda-feira, outubro 13, 2014

Exposição em Porto Alegre - Rio Grande do Sul


No passado dia 23 de setembro enviei os nossos quatro diários de viagem feitos na Costa do Marfim (sim, os originais!) para a exposição Horizontes (In)Prováveis da Paisagem, em Porto Alegre. O convite foi uma honra enorme sendo ainda mais especial a oportunidade que nos deram de apresentarmos a viagem e o livro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul no próximo dia 6 de novembro.

Há viagens que fazemos que se prolongam no tempo. Pensamos que terminam quando regressamos a casa, mas isso é uma falácia completa. Nunca voltamos os mesmos e a nossa visão do mundo é, inevitavelmente, mais rica...

Contudo, uma preocupação assalta-me e inquieta-me: hoje é dia 13 de outubro e os cadernos ainda não chegaram ao destino. A exposição inaugura amanhã e só sei que os cadernos estavam em Curitiba na passada sexta feira. 

Pode uma exposição inaugurar sem algumas das peças? Pois, parece que sim... amanhã deverão estar quatro espaços vazios numa vitrina com uma legenda que deverá dizer qualquer coisa como: "caderno de viagem em viagem..."

sábado, outubro 04, 2014

workshop de diários gráficos no teatro O Bando


A minha ligação ao teatro O Bando é quase nula, mas a que existe desperta em mim um passado de memórias muito bonitas. Faz-me viajar até ao meu tempo de estudante na António Arroio por me lembrar a Rute de Castro, irmã da atriz e uma das diretoras d'O Bando: Sara de Castro.

Este convite para orientar um workshop de diários gráficos relacionado com os seus 40 anos levou-me a conhecer as instalações, a equipa que pensa O Bando e desenhar segundo a peça de celebração dos quarenta anos: Quarentena. Será uma viagem incrível pela sua existência e eu tentarei estar à altura do workshop que precede a sessão de dia 19 de outubro.

Posso adiantar-vos que vamos utilizar três técnicas diferentes, tentando desenhar sempre épocas diferentes. Sim, porque os cenários antigos estão espalhados pelo grande terreno que é a sede d'O Bando.

O que é que o workshop inclui? 
- formação de 4 horas;
- jantar;
- bilhete para a peça;
- uma experiência inesquecível.

Inscrevam-se para o meu mail: linhares.mr@gmail.com

sexta-feira, outubro 03, 2014

De novo de fora


No Centro de Saúde de Marandallah, perguntei à Maria João (a médica que foi connosco) o que ela achava que valia a pena desenhar por ser diferente. Sem hesitar falou-me nestes instrumentos da maternidade como objectos quase museológicos.
Ficaram fora do livro quando houve a necessidade de reduzir páginas, mas qualquer um deste objectos daria para desenvolver uma conversa sobre as condições em que as mães dão à luz...

Nova apresentação


É com um orgulho enorme que faremos uma nova apresentação dos nossos diários de viagem à Costa do Marfim. Será novamente em Lisboa, no auditório J.J. Laginha do ISCTE, integrando a programação do Centro de Estudos Internacionais.

Se tudo correr bem, a grande diferença desta apresentação será o Matias! Na da FBAUL estava dentro da barriga da Ketta e agora já estará cá fora!

Quem perdeu a outra não pode perder esta!
Para quem quer ouvir histórias novas: marquem o dia na agenda!

Mais páginas de fora...


Mais uma dupla página que ficou fora do livro da Costa do Marfim. É tão bom trazê-las à "luz do dia" aqui no blogue!

A Bock era a cerveja que se bebia lá. Eu quase não provei porque a maioria das pessoas não tinham acesso a ela e eu dava preferência à comida e bebida que todos tinham. 
Na página da direita está uma parte da grande rocha do Centro de Saúde. Aquela árvore cresceu assim, "colada" à rocha, e dava toda a vontade de desenhar. Quando acabei, olhei para a página e fez-me lembrar os livros da Anita. O contexto é muito diferente, mas as minhas memórias voaram para lá...

Agora um extra: no início de setembro fui à RDP África dar uma entrevista sobre esta viagem e o livro. Já está em podcast e podem ouvir aqui. As músicas que intercalam as minhas palavras são maravilhosas!

domingo, setembro 28, 2014

à toa...


Não é comum olharmos para vários lados quando andamos à toa? Até há alguma riqueza nisso: procuramos coisas novas, encontramos novidades que se sobrepõem ao que já conhecíamos e o exercício é sempre tentar perceber como é que tudo encaixa.

Ontem, numa formação, o P. Carlos Carneiro sj brincava com a ideia que nunca andamos "desSulados", que o Sul nunca nos orienta. Por outro lado, podemos andar "desNorteados", porque o Norte é que nos orienta. 
E depois lançava a bomba: qual é o nosso Norte?

quinta-feira, setembro 25, 2014

Fora da caixa


Por muita criatividade que se tenha,
por muita inovação que se mostre,
e por muita boa vontade que se faça,
às vezes parece que está tudo preso a uma certa rigidez,
e é mesmo preciso pensar fora da caixa...

sábado, setembro 06, 2014

retiro de diários gráficos


Há alturas na vida em que precisamos de parar para reflectir e pensar na vida. Por vezes isso só não chega e são necessários textos de apoio que provoquem o pensamento e nos desinstalem. Quem já fez um retiro de diários gráficos sabe que as minhas propostas de desenho são sempre para aprofundar mais a reflexão.

Este ano, estou mesmo a precisar de um retiro. Vou propor, mas também aproveitar cada pedaço que a Casa Velha em Ourém tem de verdadeiramente especial...

Há dias ligou-me o P. Nuno Branco, sj e o resultado da conversa não podia ter sido melhor: pela primeira vez vamos orientar juntos o retiro! Que felicidade...

terça-feira, setembro 02, 2014

Cais depurado

Há momentos em que sinto uma necessidade enorme de depurar. O desenho mostra isso de forma clara, mas nem sempre é assim tão evidente...




... no final, a depuração dá lugar a uma interpretação mais acentuada e interventiva...
... pelo menos no meu caso.

sábado, agosto 30, 2014

Alfabeto Lisboeta


Há muito tempo que sonhava orientar uma formação com uma das pessoas cujo trabalho mais admiro: o José Louro. Quando nos sentámos a "partir pedra" apercebemo-nos que há uma pessoa a trabalhar em diário gráfico com carimbos como quase ninguém: a Ketta Linhares.

Esta é, portanto, uma formação de sonho para mim!
Iremos percorrer todas as letras do alfabeto tendo como pano de fundo a cidade de Lisboa. Quem se inscrever será desafiado com textos e zonas de Lisboa pouco conhecidas. No final, terão de transformar alguns dos desenhos em carimbos e criar uma nova história lisboeta!

Como tudo funcionará na rua, teremos dois horários: o de Verão e o de Inverno. Enquanto os dias forem grandes, desenharemos às quartas feiras, das 18h30 às 21h00. Com os dias mais pequenos, passamos para os sábados, das 10h30 às 13h00.

Tudo está programado ao detalhe com as localizações de cada letra do alfabeto, a calendarização e os materiais necessários. Para quem estiver interessado, basta pedirem o programa para o mesmo mail das inscrições: linhares.mr@gmail.com

sexta-feira, agosto 29, 2014

Matias Linhares


Este mês de Agosto de 2014 será mesmo inesquecível.
A primeira quinzena foi a espera pelo nascimento e a segunda a delícia dos primeiros momentos de vida de um ser humano.
É incrível olhar para um recém nascido e pensar sobre o que irá ele fazer na vida, como a vai aproveitar, se vai desenhar, se vai gostar de viajar como os pais, etc, etc, etc...

Este será mesmo um ano de grandes novidades. Vêm aí algumas onde estou empenhado para que resultem. O mote será a formação em diário gráfico, mas sinto cada vez mais que o grande desafio que tenho pela frente é mostrar esta vida maravilhosa em abundância ao Matias!


quinta-feira, julho 17, 2014

O Espiritual no Desenho | Veneto



Sem tempo para digitalizar e publicar os desenhos que tenho feito nos últimos tempos, partilho aqui o vídeo da Patrícia Pedrosa, gravado na zona de Veneto, a norte de Veneza, por ocasião do último retiro de diários gráficos.

É mesmo único este olhar da Patrícia...

quarta-feira, junho 25, 2014

As páginas que ficam de fora...

Escrever sobre os desenhos que ficaram de fora do livro faz-me lembrar o Salon dos Recusados do séc. XIX. Fico sempre com a sensação que estas histórias não publicadas em papel poderiam ser tão ou mais interessantes do que as seleccionadas, mas é sempre assim, há que escolher...


Esta dupla página é exactamente assim no meu diário original, embora no livro esteja diferente. A porta de entrada para o moinho não ficou publicada, apenas fechada na prateleira aqui de casa. O Adama, esse sim ficou no livro. Não exactamente com esta importância, mas está lá. É só procurar bem...

Ele é o filho do moleiro e só me apercebi dele depois de três semanas a desenhar Marandallah. A razão é muito simples: o Adama estava sempre a trabalhar, sempre! O ambiente dentro do moinho era muito intenso e apetecível para desenhar. Aqui fica mais uma página do meu diário pessoal que não entrou no livro e respectiva transcrição do texto:


Mal se entra sente-se a atmosfera poeirenta no ar. Há um moinho para cada cereal: arroz, milho e mandioca. Assistir a toda a produção deu-me vontade de trabalhar ali durante uma temporada!
28.agosto.2013

O Adama também foi filmado pelo Yves Callewaert, para a campanha Getinspirit.

domingo, junho 08, 2014

Workshop: viagem em Lisboa


O meu próximo workshop de diários gráficos foi concebido a partir do filme Lisbon Story, de Wim Wenders. 
Vamos ver o filme repartido em quatro sessões de 25 min. e, a partir do que virmos, saímos para desenhar inspirados pela sensibilidade cinematográfica deste grande cineasta alemão sobre a nossa luminosa cidade de Lisboa.


O número de inscrições é limitado a 12 pessoas por causa da sala onde será visualizado o filme (Praça da Figueira).

ESGOTADO

Inscrições e mais informações para o meu email: linhares.mr@gmail.com

10% do valor da inscrição reverte para os Urban Sketchers Portugal

sábado, junho 07, 2014

Venezia: Piazza S. Marco

Mário Linhares, Veneza, abril de 2014

A Praça de São Marcos, em Veneza, deve ser uma das mais desenhadas e fotografadas do mundo...

Também eu não pude deixar de a tentar trazer no meu caderno com todo o seu espaço incrível.
Parece maior por termos de passar por tantas ruas estreitas e com pouca luz até chegar a este espaço aberto e único na cidade.
Enquanto a desenhava, também divagava: quantas pessoas não pisaram já este chão? Quantas histórias não terá ela para contar? Quando eu morrer ela vai continuar aqui para que outros a apreciem...
... não é fácil lidar com esta noção de finitude perante o que permanece depois de nós...

Ainda neste dia, absorvido pela minha pequenez perante a cidade, procurei livrarias para ler as reflexões de outros autores desenhadores sobre a Sereníssima. Encontrei por acaso este livro do John Ruskin:

Hewison, Robert, Ruskin a Venicia, Venice: La stamperia di venezia editrice, dicembre 1983

Sabia, antes de ler o livro, que o Ruskin tinha sido um intelectual inglês que escreveu e desenhou sobre vários assuntos, mas não sabia que a personalidade dele tinha sido tão inquietante. É muito intensa a experiência de ler e perceber a preocupação dele pelo registo de uma cidade que, para ele, estava em contínua decadência. Havia que desenhar antes que a ruína acontecesse por completo.

Um dos seus mestres era o William Turner, que tinha feito uma gravura da Praça de São Marcos duplamente polémica. Primeiro pelo título: Julieta e a sua enfermeira (criticado por ter escolhido Veneza em vez de Verona como cidade de fundo ao tema), segundo, pelo ponto de vista, que parecia demasiado alto para ter sido um desenho de observação.

Joseph Mallord William Turner, St. Mark's Place, Venice: Juliet and her Nurse

Curioso como se percebe a crítica do ponto de vista demasiado elevado mas, ainda assim, Ruskin, na primeira viagem que fez a Veneza (em 1835, com os pais e apenas 14 anos), das primeiras coisas que faz, é defender o seu mestre:

it is no such thing; it is a view taken from the roofs of the houses at the S.W. angle of St. Mark's place, having the lagoon on the right, and the column and church of St. Mark's in front. The view is accurate in every particular, even to the number of divisions in the Gothic of the Doge's palace.

Anos mais tarde, em 1843, quando aprofundou os seus estudos sobre o trabalho do Turner, acabou por mudar de opinião.

É sempre este o segredo: aprofundar os nossos conhecimentos sobre os assuntos que nos interessam para conseguirmos verdadeiramente tornar a informação em conhecimento e, depois, o conhecimento em sabedoria...

quarta-feira, maio 21, 2014

Carnet de Voyage | Côte d'Ivoire

Está mesmo aí na calha a publicação do nosso diário de viagem à Costa do Marfim. Já pode ser comprado online com este botão. O preço é de lançamento e tem os portes de envio gratuitos até 12 de junho.

E como esta espera pelo livro está a ser muito longa, deixo aqui algumas páginas do interior como bónus. Não vou escrever muito sobre elas, mas já dá para abrir o apetite!

 primeiro separador do livro

uma das primeiras páginas, feita no dia da viagem

desenho da entrada na aldeia de Marandallah

na última semana lá, o grafismo dos desenhos mudou

o dinheiro da Costa do Marfim

domingo, maio 18, 2014

experiências


Quem tem aulas comigo sabe que gosto de usar o diário gráfico como um laboratório de experiências. Não temos de o mostrar e ele não tem de ficar perfeito para ninguém. É um espaço privilegiado para experimentar materiais e técnicas novas onde o erro pode e deve acontecer...

Quem tem aulas comigo também sabe que isto não é fácil. Não lidamos bem com o erro e gostamos que as páginas sejam "bonitas". Queremos controlar tudo e temos dificuldade em admitir que o nosso caderno tenha coisas incontroláveis...

A verdade é que destas experiências e acasos surgem sempre surpresas. Por vezes más, por vezes boas. As surpresas são sempre assim. Temos é de estar com a disposição certa para aprender com elas!

quarta-feira, maio 14, 2014

Os vendilhões do templo



Ele ensinava todos os dias no templo, mas houve um em que não aguentou mais e expulsou-os a todos. Aos vendilhões, claro! Eles estavam a transformar a casa de Deus num covil de ladrões...

Revejo-me nisto. Desenho todos os dias e cada vez sinto mais que tenho de limpar e depurar o meu desenho. Há elementos a mais, linhas a mais, confusão a mais, lixo a mais e o meu desenho torna-se, às tantas, também ele, um covil de ladrões...
É como escreveu o Tolentino: "o que nos enfraquece não é, de facto, a escassez, mas a sobreabundância (...)"

Dos dois retiros de diários gráficos deste ano, o desenho de cima foi o primeiro que fiz a partir de dois textos, um bíblico e outro publicado no Expresso.
No primeiro fui obrigado a procurar a escassez rapidamente porque o local onde estava ia fechar. Não tive tempo de fazer todo o processo de depuração como queria.

No segundo retiro já fiz o que queria. Os desenhos e o texto, esses, podem ser lidos na Pastoral da Cultura aqui.