Acordei bem cedo nesta primeira noite em Ambon, pelas 5h da manhã. Na noite anterior, tinha combinado com o Donald Saluling ir desenhar o mercado de peixe. Estava pronto às 5h30. Desci as escadas e fui para a recepção do hotel. Só ali é que se apanhava wifi. Enviei um sms ao Donald, mas a seta do whatsapp indicou apenas mensagem entregue. Esperei, mas nada mudou. Enviei nova mensagem a dizer que ia à procura de algo para desenhar nas redondezas. Andei, andei, andei...
A cidade estava deserta. Passavam apenas alguns carros.
Sentei-me neste cruzamento e continuei a experimentar a caneta hero, aquela que permite linhas grossas e finas. Nada contente como resultado, enviei novo sms ao Donald, desta vez a usar dados móveis do cartão indonésio que comprei em Jakarta. Eram umas 6h15 e a seta do whatsapp já dava sinal de mensagem lida. Cinco minutos depois, estava a sair deste lugar par ir ao mercado. Ficou assim mesmo, muito branco, muito inacabado, uma desgraça...
Não tinha ainda o texto nem aquela cama de rede com a criança a dormir. Acrescentei-os nesse dia à tarde...
A urgência de ir ao mercado de peixe tão cedo prendia-se com duas razões: a) o mercado tem uma beleza especial quando os pescadores estão a chegar de barco; b) às 8h30 saíamos de carro para ir desenhar outra zona da ilha, pelo que havia pouco tempo de manhã.
Quando chegámos, no interior, o caos estava instalado. Quase não havia espaço e a metáfora certa é que se tinha de andar em bicos de pés...
Só havia uma opção: desenhar do lado de fora. Fomos andando até chegarmos às traseiras do mercado, precisamente o local onde os pescadores estavam ainda a descarregar o peixe.
Abrimos os cadernos e logo todas as possibilidades se abriram para nós:
- Quem um banco? Do que precisam? Temos chá, querem?
Olhei para o Donald e sorrimos ao mesmo tempo. Mais uma vez o poder do desenho a manifestar-se...
Depois... depois foi o que todos os desenhadores viajantes sabem. A experiência de desenhar com meia multidão a espreitar pelo ombro, comentários, risos, conversas em línguas diferentes, qual Babel e, no fim, uma correria para chegar a horas ao autocarro que nos levaria para o outro lado da ilha...