segunda-feira, dezembro 22, 2014

Porto Alegre: casa de cultura Mário Quintana


"Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!"
                      Mário Quintana, 1978


Vista de um dos torreões
da Casa de Cultura
Mário Quintana, o poeta
mais acarinhado de 
Porto Alegre...



Foi maravilhoso conhecer o Flávio Morsch e deixar-me conduzir a pé por ele nas ruas de Porto Alegre. As conversas fluíam sem parar. Parecíamos amigos de longa data...

Mostrou-me a Casa de Cultura Mário Quintana. Subimos a um dos torreões, sentámo-nos e ele começou a falar-me da história do edifício (que era um hotel), onde o poeta Mário Quintana viveu toda a sua vida, num quarto oferecido pela gerência. Pesquisava excertos de poemas dele e ia-me lendo enquanto eu desenhava.

Foi um dia especial este, muito especial...

domingo, dezembro 21, 2014

Porto Alegre: Iberê Camargo


A Fundação Iberê Camargo, desenhada pelo Siza é desconcertante...
Quando lá cheguei foi inevitável sentir-me em "casa". É estranha e confortável a sensação de estar junto a uma obra tão longe de Portugal, mas que sabemos que foi desenhada no nosso pequeno rectângulo.
As costas completamente cegas, sem janelas, estendidas numa vertical contra a vegetação selvagem contrastam com uma frente ziguezagueante virada para o lago Guaíba.

Estava fechado por estarem a montar uma nova exposição do Iberê e não consegui entrar nem por nada, o que foi uma verdadeira tristeza. Não sei se voltarei a Porto Alegre e foi mesmo uma oportunidade perdida para conviver por dentro com esta peça de arte arquitectónica...

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Porto Alegre: conferências


Não sabia que a língua gestual do Brasil se chama LIBRAS (língua brasileira de sinais) e foi uma surpresa ter ao vivo sempre alguém a traduzir as conferências.

O trabalho da Paula Mastroberti é absolutamente acutilante. Vale a pena ver.
O da Andrea Hofstaetter é de uma densidade muito respeitável.

Foi muito bom ter estado e aprendido com elas!

terça-feira, dezembro 16, 2014

Porto Alegre: lancheria do parque


Descobri por acaso a Lancheria do Parque. Estava tão cheia da primeira vez que lá passei que pensei para mim: de certeza que este sítio tem qualidade!

No dia seguinte fui lá jantar e a experiência foi maravilhosa:
Sentei-me e nem tive tempo de pedir a carta pois fui logo atendido. Expliquei que era português e que estava em Porto Alegre pela primeira vez. 
- Turismo ou congresso? - perguntou logo ele. 
- Congresso e exposição - respondi eu.
Olhei para a carta e não fazia a mínima ideia do que pedir. Perguntei: qual é a especialidade?
- Ah... você tem que comer Baurú, tem de ser...
- Então pode ser isso mesmo - respondi eu.
- E para beber? Tem que provar o nosso suco...
- Pode ser um de manga. Obrigado.

Tirei o caderno, a caneta e as aguarelas. "Tenho de desenhar aqui". De repente, veio o garçon com um jarro cheio de suco de manga e deitou um bocado no copo. Provei e disse: "que gostoso" (sim, o meu português já estava a ficar meio abrasileirado), pode encher o copo. Ele encheu e eu pensei que se tratava de uma espécie de prova de vinhos... mas... qual não foi o meu espanto quando ele deixou o jarro cheio para eu beber. "Tudo isso?? Meu Deus, estou mesmo num continente diferente..."
Bebi mais um pouco e comecei a desenhar desenfreadamente. Nada me escapava: o copo, as palhinhas, o jarro, o talão com a conta escrita à mão... 
Estava em completo piloto automático quando chegou o famoso Baurú. Salivei de tal modo que guardei o caderno e esqueci-me do desenho, do que era desenhar, de tudo...
... naquele momento, apenas as minhas papilas gustativas estavam activas. Todo o meu ser estava focado em saborear o jantar... nada de mais interessante se sobrepunha...

Por isso esta minha página ficou assim. O Baurú fica apenas na minha memória de palato...

domingo, dezembro 14, 2014

Porto Alegre


Este foi um dos locais mais curiosos que encontrei em Porto Alegre. Desde o prédio com as janelas viradas para dentro, aos grafitis em locais que não se percebe como é que os fizeram, até à tensão rígida entre o betão armado e a orgânica dos dois viadutos que passavam um por cima do outro e desapareciam de vista...

Em cima, do lado esquerdo, vendia fruta um senhor, numa banca normalíssima...

sábado, dezembro 13, 2014

Porto Alegre



Este desenho reune vários momentos de um dia só.
Começou com o almoço no café & confeitaria Andradas, onde comi uma tosta de queijo e bebi um suco de Abacaxi. A ideia era comer algo rápido, porque estava em fase de exploração pedonal da cidade. Andei, andei e andei até me sentar numa esplanada da Faculdade de Educação. Estavam lá várias pessoas a conversar, mas havia um rapaz à espera. Olhava para o relógio, olhava em volta, olhava para baixo, olhava constantemente. Às tantas decidiu parar de olhar e eu decidi desenhá-lo...

Olhava para esta página e parecia-me que tudo estava a ficar um desastre, elementos soltos, sem ligação nem propósito. Fui então ao observatório astronómico que sabia ser bem interessante por estar ali meio entalado pelos edifícios de betão armado (concreto) como que a pôr-se em bicos de pés e a reclamar também a sua importância. Desenhei-o com a maior liberdade possível e esforcei-me por mostrar a faculdade de engenharia técnica que tem um ar inacabado e abandonado...

Escrevi o texto à noite, no quarto, para não me esquecer de algumas coisas. Era dia 5 de novembro de 2014.

terça-feira, dezembro 09, 2014

Porto Alegre


No segundo dia em Porto Alegre, tive tempo para desenhar à minha vontade. Os dias começam cedo, às 7h da manhã já se viam os alunos a entrar nas escolas para as aulas e uma grande agitação nas ruas. Fui andando até ao centro histórico e havia que passar na Av. Salgado Filho, a artéria principal de transportes públicos da cidade. Eram bem grandes os edifícios. Fiz este desenho, colori a lápis de cor, mas não fiquei contente com o resultado por não mostrar a azáfama da avenida...


A Praça Quinze de Novembro tinha o mercado, mas desenhá-lo seria demasiado óbvio, turístico, postal...
... nada como nos voltarmos para o lado e tentar compreender a vida que circundava o mercado. Era muita, mas aqui estão apenas uns fragmentos de pessoas. A arquitectura é muito contrastante e inquietante. Nunca parava de me interrogar: como é que isto veio aqui parar?


Este local era mesmo intrigante. Do lado direito, o acesso ao lago Guaíba estava vedado por um grande muro, construído após umas grandes cheias que a cidade teve. Muitos projectos já se fizeram para devolver o acesso ao lago à população, mas não há político que arrisque derrubar o muro com medo de umas próximas cheias...
A meio, a entrada para o metrô, numa rampa/pala que nos relembra o melhor da arquitectura brasileira.
Do lado esquerdo o mercado, tapado e em obras por causa de um incêndio recente. Que mercado este! Cheio de vida. Assim que lá entrei comecei a imaginar como seria o mercado da Ribeira em Lisboa... talvez com a mesma intensidade de vida...

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Porto Alegre


Realmente há projectos que nos abrem novos horizontes. Nunca imaginei que ter ido desenhar à Costa do Marfim me levaria mais tarde a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para participar numa exposição e apresentar o trabalho na Universidade.
A viagem foi grande, pois está claro, porque Brasil é mais um continente do que outra coisa qualquer...


Fiquei muito impressionado com a cidade, sobretudo pela arquitectura de grande escala meio inacabada a conviver com edifícios históricos.

Mesmo falando português, eu era um estrangeiro por ali. Logo na primeira manhã, para tomar o pequeno almoço, só pensava nos termos que deveria usar para que me entendessem. 
Fui a uma lanchonete e pedi leite com café e um pão com queijo. Paguei quatro reais e meio (pouco mais de um euro) e fiquei saciado.

Todo aquele contexto levou-me constantemente para a Lisboa dos anos 80 e às minhas memórias de infância. A forma como a cidade está organizada, o ambiente dos cafés, como nos atendem, como têm os balcões de serviço. O primeiro impacto no Brasil foi, para mim, um regresso às minhas memórias de infância, ainda que nunca lá tivesse estado...

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Retiros de diários gráficos | 2015

São dois os retiros programados para a Páscoa de 2015! Sim, dois!!

O ano passado as vagas esgotaram tão rápido que este ano decidi lançar os dois retiros ao mesmo tempo.

É muito emocionante regressar a Turim, à casa mãe dos Missionários da Consolata, onde o fundador, José Allamano, iniciou este Instituto que se espalhou por todo o mundo. Além das paredes respirarem história (até o Eusébio jogou lá à bola com os seminaristas portugueses quando o Benfica enfrentou a grande equipa do Torino nos anos 60), com objectos do mundo inteiro trazidos pelos missionários, a cidade de Turim foi a primeira capital do reino de Itália, foi o berço do cinema italiano e ainda é o motor da Fiat e da Ferrari, já para não falar da importância que teve para o Design através da Olivetti.

O tema é o de sempre: o espiritual no desenho. Neste artigo que escrevi para a Pastoral da Cultura, penso que se percebe bem o que me inquietou a desenvolvê-lo, aprofundá-lo, dar-lhe forma e relacioná-lo com o quotidiano.

5 dias de uma intensidade máxima e 7 temas para desenhar e aprofundar que não posso revelar mais do que os títulos...

Para quem quiser embarcar num retiro de desenho a partir de textos bíblicos e de autores contemporâneos, inscreva-se, porque já não há muitos lugares.

Inscrições e mais informação para o meu mail: linhares.mr@gmail.com

26 a 30 de março de 2015
[ESGOTADO]

2 a 6 de abril de 2015
[ESGOTADO]

quarta-feira, dezembro 03, 2014

Agora em Évora...


Daqui a pouco, às 18h00, na Biblioteca Pública de Évora, vamos fazer uma apresentação mais desenvolvida sobre a viagem à Costa do Marfim. Se estiverem por lá apareçam!

terça-feira, dezembro 02, 2014

Encomenda...


Receber uma encomenda é sempre um transtorno para mim. Muda-me as rotinas todas e coloca as habituais prioridades para segundo plano...
E como está cheio esse segundo plano! Cheio de prioridades que quase me fazem perder o sono...

Mas receber uma encomenda faz-me lembrar os tempos do mecenato, em que os artistas trabalhavam e recebiam (sobreviviam) por encomendas. A determinada altura libertaram-se disso, sobretudo quando a classe média ficou com poder económico.

Hoje, receber uma encomenda para desenhar Lisboa, é sobretudo a oportunidade para olhar para esta cidade linda como se fosse pela primeira vez, deixar-me encantar pelas cores e vistas largas que nos prendem o olhar e nos distraem de tudo o resto...


... mas sobre reflexões acerca dos desenhos em Lisboa, saiu ontem este artigo no Diário de Notícias, muito bem resumido a partir de uma conversa cheia de risos e gargalhadas, porque não me consigo conter a ouvir o José Louro e o João Catarino. Só o Pedro Cabral é que me mantém sério!


E porque aqui no meu blogue publico o que me apetece, aqui está um dos desenhos que fiz para a galeria. Uma vista do oceanário sobre o parque das nações. Esta ainda é uma nova Lisboa embora eu a tenha visto pela primeira vez em 98...

É isto que me apetece fazer ultimamente: desfocar e sintetizar.

segunda-feira, dezembro 01, 2014

retiro de diários gráficos na Casa Velha


Ainda esta semana anunciarei aqui no blogue o próximo retiro de diários gráficos, que acontecerá na altura da Páscoa, em 2015, fora de Portugal mais uma vez.

Enquanto isso, não podia deixar de partilhar mais um delicadíssimo vídeo da Patrícia Pedrosa, feito em outubro passado, na Casa Velha, no 2º retiro de diários gráficos lá realizado.

E não vale a pena escrever mais palavras...

quinta-feira, novembro 27, 2014

Até Clermont Ferrand...


10 de novembro
Tudo começou com uma viagem de carro de Lisboa a Madrid. Muitos quilómetros para fazer com uma apresentação desmarcada por ser feriado na capital de nuestros hermanos...


11 de novembro
Mais uma viagem de carro de Madrid a Saragoça. Saímos cedo com o nosso grande amigo P. Matias que está agora a viver em Madrid. Acompanhou-nos na viagem e assistiu ao final da tarde à nossa apresentação na livraria Lasala - excelente sugestão da Clara Marta para a nossa apresentação do livro.


12 de novembro
De volta à estrada. Saída de Saragoça bem cedo para fazer mais de 800 kms. Esta zona era a dos Pirinéus, cheia de túneis. A passagem por Bordéus foi impressionante pelas filas imensas de camiões...


13 de novembro
Chegámos já noite escura, mas no dia seguinte era esta a vista da janela do nosso quarto. Não havia tempo para desenhar pois era imperativo ir para o Polydome montar o nosso stand...


Enquanto estive no Brasil, a Ketta preparou todo o material para o stand. Fartou-se de trabalhar. O nosso stand ficava no mesmo cruzamento com o do Stefano Faravelli e ele estava a montar uma cabana como se estivesse no meio da selva. Impressionante...


No final do dia era este o aspecto do nosso espaço. Queríamos alguma sobriedade, mas também as cores africanas...


Fomos cheios de cadernos originais, mas só couberam sete na vitrina. Até foi bom, porque assim os outros ficaram na mesa e as pessoas preferiam ver os cadernos originais a postais, livros ou reproduções.


14 de novembro
Primeiro dia do festival: o dia das escolas, o mais barulhento e cheio de pedidos de desenhos. Gostava de os desenhar a eles e a estas duas raparigas ainda consegui pedir-lhes uma fotografia com o desenho antes de o oferecer...


Enquanto o Stefano Faravelli desenhava nos livros lhe que compravam, no meu caso, o burburinho era de que no meu stand alguém fazia retratos e a fila de espera aumentava...


Embora estivesse selecionado para o prémio de melhor livro de viagem internacional, a concorrência era tão elevada que já estávamos felizes só pela nomeação. Ao final da tarde quando nos atribuíram o prémio Coup de Cœur nem percebemos bem do que se tratava. O "livro do coração" ou o "livro mais apaixonante", explicaram-nos mais tarde. 
Incrível...


15 de novembro
Embora o festival continuasse cheio de visitantes, o barulho das crianças já não existia. As perguntas eram as de adultos que tinham uma relação com a Costa do Marfim e queriam saber tudo sobre a nossa viagem. O meu francês desenferrujou em definitivo. Em pouco tempo até me surpreendia a mim próprio com o vocabulário que começava a utilizar...


Recebemos visitas de tantos urban sketchers que deu para perceber como esta comunidade criada pelo Gabi Campanario tem vida própria e cheia de personalidade. Nunca mais terminará e daqui a alguns anos será referida e estudada em aulas de História da Arte. Que lhe seja feita justiça, pois a identificação é tão grande que quando se dizia que nós também pertencíamos aos USk de Portugal, era como se encontrássemos um familiar afastado. Há uma relação familiar entre nós...


16 de novembro
No último dia já nos sentíamos em casa. O francês começava a fluir e a relação entre todos os expositores era cada vez melhor. Nesta fotografia tirada pelo Emdé, o rapaz à minha frente ficou a falar comigo tanto tempo que deu para perceber que estava fascinado com toda a nossa história, a viagem e o livro. O público francês é outra coisa...
Neste momento estávamos a ser entrevistados pela organização por termos ganho um prémio. Ficou bem a entrevista e pode ser lida aqui.


Como não podia contar esta viagem apenas com fotografias, aqui ficam os dois únicos desenhos que fiz no meu diário gráfico nessa semana: o da esquerda em Saragoça e o da direita em Clermont-Ferrand.

Foi muito cansativo, mas foi muito especial...

O livro pode continuar a ser visto e adquirido através deste link. Por enquanto ainda não esgotou...

domingo, novembro 02, 2014

The urban sketching handbook


Chegou-me esta semana a casa o novo livro do Gabi Campanario (fundador dos Urban Sketchers). 
O ano passado convidou-me para participar com alguns desenhos, o que foi uma honra enorme!

O livro é mesmo útil e tem imensos conselhos e dicas sobre o desenho urbano: escala, composição, profundidade, contraste, linha, criatividade e os materiais possíveis de utilizar.

Quanto à minha participação:


No capítulo da composição, fala-se da escolha de pontos de vista com ângulos acentuados. Claro que a vista da Torre Eiffel desenhada pelo Norberto Dorantes deixa qualquer um de boca aberta, mas o Gabi quis colocar aquele meu desenho feito em Constância de uma zona alta com uma vista para umas escadinhas como proposta de ver e perceber o que acontece quando a perspectiva não é a que estamos habituados!


No capítulo sobre contraste, o nosso maravilhoso convento de Mafra serviu de exemplo como dica para o desenho das zonas em sombra de janelas, arcadas ou portas. Ao criarmos zonas em sombra é inevitável sobressaírem também as iluminadas!


No capítulo da criatividade, o meu desenho do Largo de S. Carlos ganhou destaque porque o desenhei em panorâmica. Escreveu o Gabi sobre este desenho:
Portuguese sketcher Mário Linhares took an original approach with this sketch. He combined the buildings façades of a Lisbon city square into a panoramic drawing. The result shows the four sides of the square unfolded into a continuous façade. Isn't that clever?


No final, quando vejo a lista de pessoas que contribuiu com desenhos para o livro penso que é realmente um orgulho enorme fazer companhia a estes nomes todos de quem gosto tanto do trabalho.

Obrigado Gabi pelo convite. O livro está fabuloso e pode ser adquirido através da Amazon (é só clicar na imagem):

domingo, outubro 19, 2014

Palmela


Em junho fui a Palmela para começar a preparar o workshop que vai acontecer hoje com o teatro O Bando. No regresso a casa, ainda sem saber o que fazer nem o que propor como exercícios, fui ao centro, subi a um ponto alto, comprei um gelado, passeei até o gelado acabar, observei as esplanadas dos cafés a serem preparadas com ecrãs gigantes por causa do jogo de Portugal no mundial de futebol e quando me virei: "cá está!", tirei o caderno, as aguarelas e a caneta e fiz este desenho à pressa.

Mais tarde, quando lá voltei para desenhar, percebi que as propostas teriam de ser com o tema da sobreposição de técnicas, porque o conceito da peça assim o pedia.

Li há anos uma entrevista do arquitecto paisagista João Nunes onde dizia que cada terreno pede um projecto diferente e que, por isso mesmo, precisava de lá ir observar com tempo a forma como as pessoas o usavam e o que o terreno estava a "pedir" como projecto. O projectista não era, portanto, alguém que impunha as suas ideias ao terreno, mas aquele que desvendava e ajudava a concretizar o que o terreno pedia que se fizesse ali...

Eu sinto o mesmo em relação ao desenho e às propostas que me desafiam a fazer. Cada sítio pede uma abordagem única e a monstruosa tarefa é perceber como é que o local pede que seja desenhado...

quarta-feira, outubro 15, 2014

Selection for the International Sketchbook Prize

Sim, é mesmo verdade. Recebi ontem um mail a avisar que o livro Diário de Viagem | Costa do Marfim foi seleccionado o International Sketchbook Prize pelo júri de Clermont-Ferrand para o Rendez vous - carnet de voyage, que acontece agora em novembro próximo. 

Enviei hoje de manhã 5 exemplares para cada um dos júris e claro que eu e a Ketta estamos felizes, mas também com a noção de que é um prémio dificílimo de ganhar, pois na corrida estão nomes como o Faravelli, o Prost ou o Emde, só para referir aqueles que mais aprecio.

Nas últimas semanas tenho andado em várias escolas de Lisboa a apresentar a viagem, o gosto por desenhar e o fascínio de o fazer num diário gráfico. Voltei à minha querida António Arroio (que bela está a escola!) e hoje estive com a Ketta e o Matias no ISCTE na primeira apresentação a três!


Os próximos tempos também não se avizinham com menos actividade. Os convites são muitos e o tempo continua a escassear. É preciso a sabedoria de saber escolher e calendarizar, para continuar a fazer o melhor que sei e posso...

É nestas alturas que gosto de olhar para as páginas menos bonitas dos meus diários gráficos pois são elas que me lembram de continuar a trabalhar humildemente:


Esta é a última página do meu diário de viagem à Costa do Marfim. Quem me conhece e costuma ver os meus cadernos sabe que guardo sempre as últimas páginas para os meus apontamentos mais pessoais. Aqueles que, à partida, não são para mostrar a ninguém...
Neste caso, justifica-se a quebra da regra...

segunda-feira, outubro 13, 2014

Exposição em Porto Alegre - Rio Grande do Sul


No passado dia 23 de setembro enviei os nossos quatro diários de viagem feitos na Costa do Marfim (sim, os originais!) para a exposição Horizontes (In)Prováveis da Paisagem, em Porto Alegre. O convite foi uma honra enorme sendo ainda mais especial a oportunidade que nos deram de apresentarmos a viagem e o livro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul no próximo dia 6 de novembro.

Há viagens que fazemos que se prolongam no tempo. Pensamos que terminam quando regressamos a casa, mas isso é uma falácia completa. Nunca voltamos os mesmos e a nossa visão do mundo é, inevitavelmente, mais rica...

Contudo, uma preocupação assalta-me e inquieta-me: hoje é dia 13 de outubro e os cadernos ainda não chegaram ao destino. A exposição inaugura amanhã e só sei que os cadernos estavam em Curitiba na passada sexta feira. 

Pode uma exposição inaugurar sem algumas das peças? Pois, parece que sim... amanhã deverão estar quatro espaços vazios numa vitrina com uma legenda que deverá dizer qualquer coisa como: "caderno de viagem em viagem..."

sábado, outubro 04, 2014

workshop de diários gráficos no teatro O Bando


A minha ligação ao teatro O Bando é quase nula, mas a que existe desperta em mim um passado de memórias muito bonitas. Faz-me viajar até ao meu tempo de estudante na António Arroio por me lembrar a Rute de Castro, irmã da atriz e uma das diretoras d'O Bando: Sara de Castro.

Este convite para orientar um workshop de diários gráficos relacionado com os seus 40 anos levou-me a conhecer as instalações, a equipa que pensa O Bando e desenhar segundo a peça de celebração dos quarenta anos: Quarentena. Será uma viagem incrível pela sua existência e eu tentarei estar à altura do workshop que precede a sessão de dia 19 de outubro.

Posso adiantar-vos que vamos utilizar três técnicas diferentes, tentando desenhar sempre épocas diferentes. Sim, porque os cenários antigos estão espalhados pelo grande terreno que é a sede d'O Bando.

O que é que o workshop inclui? 
- formação de 4 horas;
- jantar;
- bilhete para a peça;
- uma experiência inesquecível.

Inscrevam-se para o meu mail: linhares.mr@gmail.com

sexta-feira, outubro 03, 2014

De novo de fora


No Centro de Saúde de Marandallah, perguntei à Maria João (a médica que foi connosco) o que ela achava que valia a pena desenhar por ser diferente. Sem hesitar falou-me nestes instrumentos da maternidade como objectos quase museológicos.
Ficaram fora do livro quando houve a necessidade de reduzir páginas, mas qualquer um deste objectos daria para desenvolver uma conversa sobre as condições em que as mães dão à luz...

Nova apresentação


É com um orgulho enorme que faremos uma nova apresentação dos nossos diários de viagem à Costa do Marfim. Será novamente em Lisboa, no auditório J.J. Laginha do ISCTE, integrando a programação do Centro de Estudos Internacionais.

Se tudo correr bem, a grande diferença desta apresentação será o Matias! Na da FBAUL estava dentro da barriga da Ketta e agora já estará cá fora!

Quem perdeu a outra não pode perder esta!
Para quem quer ouvir histórias novas: marquem o dia na agenda!

Mais páginas de fora...


Mais uma dupla página que ficou fora do livro da Costa do Marfim. É tão bom trazê-las à "luz do dia" aqui no blogue!

A Bock era a cerveja que se bebia lá. Eu quase não provei porque a maioria das pessoas não tinham acesso a ela e eu dava preferência à comida e bebida que todos tinham. 
Na página da direita está uma parte da grande rocha do Centro de Saúde. Aquela árvore cresceu assim, "colada" à rocha, e dava toda a vontade de desenhar. Quando acabei, olhei para a página e fez-me lembrar os livros da Anita. O contexto é muito diferente, mas as minhas memórias voaram para lá...

Agora um extra: no início de setembro fui à RDP África dar uma entrevista sobre esta viagem e o livro. Já está em podcast e podem ouvir aqui. As músicas que intercalam as minhas palavras são maravilhosas!

domingo, setembro 28, 2014

à toa...


Não é comum olharmos para vários lados quando andamos à toa? Até há alguma riqueza nisso: procuramos coisas novas, encontramos novidades que se sobrepõem ao que já conhecíamos e o exercício é sempre tentar perceber como é que tudo encaixa.

Ontem, numa formação, o P. Carlos Carneiro sj brincava com a ideia que nunca andamos "desSulados", que o Sul nunca nos orienta. Por outro lado, podemos andar "desNorteados", porque o Norte é que nos orienta. 
E depois lançava a bomba: qual é o nosso Norte?

quinta-feira, setembro 25, 2014

Fora da caixa


Por muita criatividade que se tenha,
por muita inovação que se mostre,
e por muita boa vontade que se faça,
às vezes parece que está tudo preso a uma certa rigidez,
e é mesmo preciso pensar fora da caixa...

sábado, setembro 06, 2014

retiro de diários gráficos


Há alturas na vida em que precisamos de parar para reflectir e pensar na vida. Por vezes isso só não chega e são necessários textos de apoio que provoquem o pensamento e nos desinstalem. Quem já fez um retiro de diários gráficos sabe que as minhas propostas de desenho são sempre para aprofundar mais a reflexão.

Este ano, estou mesmo a precisar de um retiro. Vou propor, mas também aproveitar cada pedaço que a Casa Velha em Ourém tem de verdadeiramente especial...

Há dias ligou-me o P. Nuno Branco, sj e o resultado da conversa não podia ter sido melhor: pela primeira vez vamos orientar juntos o retiro! Que felicidade...