segunda-feira, maio 02, 2016

S. Miguel


Não sei bem o que escrever sobre este desenho.
Parte foi feita na lagoa das sete cidades. 
Outra parte foi feita na marina de Ponta Delgada.
Tudo inacabado...

domingo, maio 01, 2016

Via sacra no Livramento, Açores


Na sexta feira santa, aquela mesmo que antecede o domingo de Páscoa, costuma caracterizar-se pela realização de uma via sacra em cada terra que tem uma paróquia.
Nos Açores, durante o retiro e depois de jantar, lá fomos nós para a as ruas da freguesia do Livramento para participar/desenhar a via sacra.

Era escuro e tudo acontecia muito rápido. Os jovens tinham as estações muito bem preparadas e, curiosamente, parava-se em locais perfeitamente banais - entrada de uma garagem, passeio da estrada, janela de uma casa - onde cada família tinha preparado um pequeno nicho sobre o tema de cada estação.

Fui desenhando o mais rápido que podia. Entre caminhadas, músicas, perguntas, olhares, esta foi, provavelmente, uma via sacra de que nunca mais me vou esquecer...

sexta-feira, abril 29, 2016

Retiro dos Açores - o início

Não costumo publicar os desenhos resultantes do retiro de diários gráficos e, quando o faço, escolho sempre apenas um ou dois. Desta vez, contudo, está-me mesmo a apetecer. Não sei se é porque o de Marrocos está aí mesmo à porta, mas a verdade é que não quero que fique tudo guardado na prateleira aqui de casa...



O primeiro exercício é sempre uma apresentação desenhada. O P. Nuno Branco sj, pegou num texto do profeta Isaías em que ele refletia sobre o seu destino e lançava esta pergunta bombástica: "quem meditou no seu destino?", referindo-se a ele próprio.
Fiz na mesma dupla página aquilo que sinto que me caracteriza neste momento: a rapidez de execução e a eficácia na resolução de milhares de tarefas que tenho sempre em mãos, mas também a calma e paciência que dedico a cada coisa que quero fazer sem ter nenhum critério especial, só porque sim. Daí desenhar calmamente uma pedra, procurando o rigor, o detalhe, a análise eficaz, por cima de um tema arquitectónico banal...


Depois peguei no aparo e no frasco de tinta da china para me lançar numa técnica nova, algo que acredito que também me caracteriza: gosto de me aventurar por coisas novas, sem medos nem receios, ainda que isso implique ir para o outro lado do mundo, ou casar com alguém que nasceu lá desse lado! :)


Este exercício terminava com um último desenho acompanhado de uma frase que nos tentasse definir em três características. Escrevi simples, dedicado e aprendiz. Sei que o sou e tinha de o escrever.

quinta-feira, abril 28, 2016

O bosque de La Tourette


Último desenho de La Tourette. Mais um em folha solta. Mais um para oferecer...
Todos os anos fazemos o amigo secreto. Oferecemos e recebemos um desenho de alguém do grupo. Este ano, desafiámos o 12.º ano a preparar a dinâmica do amigo secreto. Entregaram-nos umas folhas que, na parte de trás, tinham duas cores, sendo essas as únicas que podíamos depois usar para fazer o desenho. A mim calhou-me o preto e o amarelo.

Guardo sempre com muito cuidado estes desenhos que recebo. Tenho a impressão que alguns destes meus alunos vão ser alguém importante um dia...

Quando estava no meio do bosque de La Tourette, à procura do meu habitáculo, dei-me conta que seria ali o local perfeito para fazer um desenho inesperado para oferecer. 
Calhou-me como amiga a Rita Barata, uma aluna que escolheu Humanidades no 10.º ano, mas que mudou para Artes no início do 2º período. E ainda bem que mudou. Movimenta-se em Artes como peixe na água. Comunica o seu trabalho como ninguém. Apaixona-se por tudo o que lhe é pedido. Procura sempre fazer mais e ir muito mais longe do que os desafios que lhe são colocados.
São alunos como ela que me obrigam a ser melhor professor. Obrigam porque senão não estou à altura...

Fiz-lhe este desenho de propósito. Escrevi na parte de trás que é um desenho inesperado porque a Arte é assim mesmo: misteriosa. 
Queria que ela tivesse um desenho meu que fosse raro, pouco evidente, fora do habitual. Porque é isso que ela é: rara!

quarta-feira, abril 27, 2016

Esbarrar com a realidade


Este é o meu penúltimo desenho feito em la Tourette.
Não foi o penúltimo desenho feito lá, mas é o segundo a contar do fim a ser aqui publicado.

O tema do exercício era o 3º dia e baseava-se em dois textos. Um do P. Vasco Pinto de Magalhães, sj e outro do profeta Jonas que já tinha utilizado no retiro de diários gráficos na Sicília.

Não me querendo alongar muito sobre as relações entre textos, até porque poderiam ficar fora de contexto, transcrevo apenas algumas partes do P. Vasco:


Diante de um acontecimento qualquer, e particularmente de um acontecimento doloroso, há um primeiro tempo de confusão, de conflito, de choque, de esbarrar com a realidade, é o “primeiro dia”.

Há depois um “segundo dia”, um segundo tempo de interiorização, de reflexão, de “metabolização” desse acontecimento.

Virá, então, um terceiro tempo e momento, o “terceiro dia”, quando começamos a ver as coisas com outros olhos.

Creio que foi o que me aconteceu em La Tourette. O terceiro dia metafórico foi no meu segundo dia com as Laudes da manhã. Comecei a ver tudo com outros olhos...

terça-feira, abril 26, 2016

Un cadeau de La Tourette


Depois dos quatro desenhos em três folhas soltas, fiz mais dois para oferecer.
Este, visto de uma das zonas comuns do interior do convento - o átrio que dava acesso à capela, ao refeitório, à igreja e a um corredor interior para o lado nascente do edifício - tinha um envidraçado excelente para se compreender o interior do claustro e o piso térreo de acesso livre.  Aquela pirâmide é a capela dos noviços.

Ofereci este desenho à Catarina Santos, aluna do 12.º ano de Artes que é minha aluna desde o 5.º ano. Há 3 anos escrevi este post porque nenhum aluno meu ia para Artes, mas ela, depois de uma semana em Ciências, mudou-se para o que verdadeiramente está cá para fazer: Artes! 
Foi um prazer enorme oferecer-lhe este desenho quando fez 18 anos. :)

segunda-feira, abril 25, 2016

La Tourette em folhas soltas


Ter tido a oportunidade de conhecer pessoalmente o Kiah Kiean fez-me sair do caderno. Quem me conhece sabe que o desenho em cadernos é, para mim, quase como o ar que respiro, mas não há que ser obstinado com o assunto. Desenho é desenho e, se por um lado sabemos que no caderno as páginas são para guardar entre capas duras na prateleira lá de casa, também é verdade que as folhas soltas permitem ganhar escala e colocar os desenhos nas paredes lá de casa!

Com uma logística complicada (para mim, o lado mesmo mau de não usar o caderno), havia um desafio para fazer à lá KK: mostrar as características do edifício do Le Corbusier com vários desenhos numa mesma composição.

À noite, na secretária da minha cela, comecei a escrever sobre o que não conseguia entender na estrutura, mais especificamente, o claustro. Engraçado como essa escrita me levou o pensamento para conclusões que me pacificaram. Realmente há coisas que não podem ser desenhadas. Os pensamentos são uma delas. Só se for em forma de letras...

domingo, abril 24, 2016

Around the world in 80 pages: the book


Este foi um dos projectos mais divertidos em que participei. Tudo começou quase há um ano e terminou agora num livro com 80 histórias de viajantes apaixonados com muito para contar! 
Infelizmente o livro não está à venda, mas não podia deixar de partilhar aqui um pouco deste projecto:


Na fase de concepção de desenhos para o lançamento do concurso convidei a Paula Xavier, amiga desde sempre e excelente ilustradora/trabalhadora. A produção de desenhos soltos foi tanta que ajudou a suportar todos os detalhes e imprevistos que iam surgindo. Agora, quase todos esses desenhos apareceram nas guardas do livro! :)


A paginação ficou excelente. Todas as histórias têm necessidades diferentes pela colocação da fotografia e dos desenhos. A equipa está de parabéns!


Na sexta feira foi possível conhecer alguns dos autores das histórias. O José foi um deles. Quando se está num local cheio de gente que gosta de viajar sentimo-nos já em viagem, os sorrisos são muitos e o mundo inteiro parece que é já ali...


Este foi um dos desenhos que gostei mais de fazer. Tenho muitos amigos que trabalharam na Amazónia, junto dos índios, pelos seus direitos enquanto pessoas.


Li todas as histórias enquanto viajava de avião sobre o oceano Atlântico entre Lisboa e Nova Iorque. Quando há tantas, tão cheias de coisas incríveis, esta, chamando a atenção para a beleza dos pássaros a mergulhar na água foi a que me cativou mais. Por mim seria uma das vencedoras. Quando a li, soube logo o desenho que ia fazer...


Foi só um cheirinho do livro. Vou fazer a pressão que puder para que ele chegue às bancas. As 80 histórias merecem e dá um excelente presente!


Na sexta feira passada foi a cerimónia de entrega de prémios no CCB. Pediram-me para falar 5 minutos sobre o trabalho de ilustração. Contei 5 histórias em 5 minutos sobre a aventura deste projecto (ou pelo menos tentei, mas acho que me atrapalhei). Ainda estive a aguarelar desenhos para todos os participantes. Foi espetacular!
No final, tinha de tirar uma selfie com a Paula!


Estava montada uma exposição com todas as histórias. Tudo com um acabamento de excelência. Impressão em pvc como nos Urban Sketchers Portugal tão bem conhecemos.


Quando vejo isto assim à distância penso sempre: 
Como é possível que, algo que eu gostava tanto de fazer quando era pequeno - desenhar - me tenha ajudado a participar em projectos tão incríveis como este?

E a Brompton ali mesmo, a fazer lembrar o outro projecto em que participei...

Negações


Este foi um dos desenhos que mais gostei de fazer nos últimos tempos. Toda a história dele (e de outros dois que o antecederam) na pastoral da cultura.

sábado, abril 23, 2016

Terraços de La Tourette


Fruto da boa impressão que o nosso grupo deixou junto dos monges dominicanos, o Ir. Marc ofereceu-nos uma subida aos terraços do convento. Agradecemos, claro está, mas não tínhamos a noção do privilégio que nos estava a ser oferecido até a senhora da recepção nos ter dito que os monges só oferecem a ida aos terraços a quem eles querem e que é tão raro que acontece, no máximo, 5 vezes por ano!


A subida lá acima permitiu dar-nos conta de que o verdadeiro claustro dos monges é o terraço. É ali o espaço deles de meditação e comunicação. O claustro interior, esse, é uma obra de mestre do Le Corbusier: sendo este o único convento dominicano que está no meio da Natureza em vez da cidade, o claustro interior pretende mostrar o caos da cidade, avenidas, diferentes planos, para que os monges não se alheiem completamente do mundo que os rodeia. O claustro tradicional dos conventos inseridos na malha urbana procura ter a harmonia da Natureza através de elementos ajardinados e da presença da água.


A relação do convento com o espaço natural que o envolve é de grande proximidade a Nascente, intermédia a Sul e longínqua a Poente. As coberturas ajardinadas diminuem de forma gritante o impacto do edifício na paisagem. Visto daqui, tudo se dilui...


A visita ao terraço não deu tempo para mais do que dois desenhos rápidos: um é do mesmo ponto de vista da fotografia de cima, o outro é mesmo junto à chaminé do convento. O terceiro é já no caminho dos cavaleiros, a andar de costas em direção ao autocarro e a ver o convento cada vez mais pequeno...

No dia anterior à noite desenhei a porta de entrada na capela, num esboço mínimo, enquanto o Fr. Jean François nos mostrava a capela à noite e falava da cruz que se forma quando a porta se abre e cruz a janela horizontal ao fundo...


sexta-feira, abril 22, 2016

Cela de La Tourette


O dimensionamento de todo o espaço arquitectónico, para o Le Corbusier, é baseado no modulor, o que faz com que o pé direito das celas seja de apenas 2,26 mt. 
Num primeiro momento há, de facto, uma sensação de compressão, diria mesmo claustrofobia. Contudo, ao segundo dia, é impressionante o sentimento acolhedor que se tem na cela, sobretudo quando utilizamos os outros espaços comuns como o refeitório, capela, biblioteca, sala de visitas, etc.

A Sara Amado (uma colega minha professora nas Doroteias), lançou então um exercício de desenho dentro da cela. Fiz três desenhos na mesma dupla página, mas já não tive tempo de desenhar a secretária e a pequena varanda. Espero que fique para uma próxima! :)

quinta-feira, abril 21, 2016

Deserto de Marrocos


A minha paixão por África é mais especial pela África Negra, aquela que fica abaixo do Deserto Saara, mais pobre, chamada de Subsaariana. Talvez por isso nunca tenha ido ao Norte daquele continente majestoso. Mas é quando menos esperamos que damos por nós a ir aos locais mais inesperados. Fruto do meu trabalho de investigação dos últimos anos O espiritual no desenho, fui convidado a organizar um retiro de diários gráficos no deserto de Marrocos com o P. Nuno Branco sj.
O programa está fechado e tenho a sensação de que será uma experiência única de deserto...

Mais informações, inscrições e programa podem ser pedidos aqui.

La Tourette - land art


Um dos exercícios propostos aos nossos alunos baseava-se na Land Art e de como podemos e devemos habitar o nosso território.
Com um terreno próximo dos 60 hectares, cada um deveria descobrir o seu habitáculo e fazer ali uma intervenção artística que não danificasse a natureza. A isto seguiu-se um percurso de visitas aos habitáculos e respectiva explicação:
- A Anabela espetou ramos no chão, simbolizando as rotinas diárias e as quebras dessas rotinas.
- A Ana S. juntou ramos caídos num tapete metafórico à entrada de uma escadaria, como que a convidar-nos a entrar.
- O Francisco colocou ramos no caminho guiando-nos até à gruta, de onde se avistava o convento.
- A Eva foi para fora dos muros do convento e queria reconstruir as partes caídas com ramos caídos.
- A Rita A. encontrou uma bifurcação e colocou ramos no chão a simbolizar as escolhas que fazemos.
- O Vasco encontrou a base de uma árvore cortada, coberta de musgo, e alinhou vários ramos centralizados com a base do tronco.
- A Sofia colocou paus e pedras a proteger uma flor que estava a despontar.
- O Manuel Tiago juntou musgo num abrigo e colocou uns ramos encostados como assinatura.
- O João L. alinhou ramos por cima do musgo como respeito pelo espaço.
- A Matilde encontrou um código gravado numa pedra e reproduziu-o em grande através de ramos caídos.
- O Rafael pegou em ramos caídos e deu-lhes uma segunda vida, centralizados e alinhados ao alto.
- A Carolina M. bloqueou o caminho para nos obrigar a parar e observar o que nos rodeia.
- A Rita B. transportou ramos e troncos e fez a sua cama com uma vista paradisíaca para o prado verde em frente a um muro caído.
- Eu: pedi que todos gravassem nos seus smartphones o som do percurso que estavam a fazer até chegarmos ao meu local e, chegando lá, que colocassem "play" para termos as feridas sonoras do nosso impacto na paisagem. Fiz um vídeo com o som coletivo que fica guardado para a história...

quarta-feira, abril 20, 2016

Duas novidades



Este domingo estarei na FNAC do CascaisShopping, pelas 16h, para apresentar o livro de Lisboa escrito pelo Fernando Pessoa. Levarei também as serigrafias da panorâmica de Lisboa vista do aqueduto de águas livres (que vão estar à venda na Fnac). Ainda não sei bem a que preço vão estar, mas colocarei aguarela a quem pedir.




A Escola Superior de Comunicação Social tem uma revista online e abriu uma nova secção chamada "Artista do Mês". Convidaram-me para ser o primeiro e lá fui eu ter com a Andreia, numa pastelaria da Baixa para a entrevista. Falei do desenho e de como ele é importante na minha vida. Podem ler a entrevista completa aqui.

terça-feira, abril 19, 2016

La Tourette - a cripta


Ao terceiro dia, pedimos ao Fr. Jean François que nos falasse da Ordem Dominicana. É que ir ali e não compreender quem lá vive, a sua história e o que fazem agora, parecia-nos uma falha imperdoável...

Impressionante a simplicidade com que se regem. Não fazia ideia que era tão simples...
Também muito impressionante foi perceber que todos estes monges têm como especialidade a comunicação. São professores universitários, um deles de arte contemporânea, com conhecimento sem fim à vista...

Depois fomos à cripta. Projectada antes do Concílio Vaticano II, servia para a missa diária pessoal de cada sacerdote. Dizia-nos o Fr. Jean François que, na altura, aquilo parecia uma fábrica de missas! :)
Com as mudanças, cada sacerdote passou a poder co-celebrar a missa diária, pelo que esta zona do convento deixou de ser utilizada.


Como era suposto ser uma zona privada, o Corbusier projectou-a dentro da capela grande, mas numa área escondida. Contava-nos o Fr. Marc (o que é professor de arte contemporânea) que o Corbusier escolheu as cores por instinto. Foi lá um dia tentar escolher, mas disse que estava muito cansado para decidir. Dormiu e, no dia seguinte, escolheu-as por puro instinto. Se fosse noutro dia, os tons seriam, provavelmente, outros.


Cada um destes altares em betão tem uma pedra com 5 cruzes gravadas que representam as chagas de Cristo. Numa pequena parte está guardada uma relíquia de um santo. É o que todos os altares devem ter: pedra e relíquia.

Depois de 4 desenhos rápidos da cripta, olhei para as cruzes em baixo relevo e apeteceu-me mesmo fazer estes decalques. Não tinha lápis, mas uma aluna emprestou-me um 3B que serviu lindamente!

segunda-feira, abril 18, 2016

La Tourette - dia 2




No segundo dia levantei-me cedo: 7h00.
Noite tranquila porque os alunos rapazes dormiram sem barulho ou confusões. Pedimos-lhes que nos dessem os telemóveis para não ficarem ligados ao resto do mundo durante a noite e só um é que não acedeu. A proposta era difícil, mas valiosa: quantas vezes é que podemos viver a 100% esta experiência?

Nessa manhã fui às laudes.
É difícil descrever os sentimentos de estar numa capela sobreelevada na paisagem, com uma parede envidraçada do chão ao tecto e uma vista deslumbrante.
Entretanto, aos poucos, vão chegando os monges dominicanos. Às 8h00 começam as laudes todas cantadas...

É inspiradora esta forma de começar o dia, agradecendo tudo o que nos rodeia, toda a vida que temos e que não pedimos, apenas nos foi dada gratuitamente para podermos fazer dela maravilhas.

sábado, abril 16, 2016

La Tourette, by Corbusier


Tudo começa com a vontade de dar aos alunos de Artes Visuais das Doroteias a experiência artística mais completa possível.
Desde há muitos anos que saímos todos juntos para desenhar e cultivar o espírito artístico durante 4 dias numa qualquer cidade longe de Lisboa. Este ano foi em La Tourette, com "escala" em Lyon.


Aterrado o avião, esperava-nos um percurso de 35 minutos de autocarro por estrada boa.
A experiência da chegada ao convento é única. Vivem lá os irmãos dominicanos em regime de simplicidade. Fomos recebidos pelo Fr. Jean François que nos explicou as regras dentro do convento.
Feita a acomodação, reunimos numa sala para fazermos o exercício de apresentação preparado pela turma do 12.º ano. Fiquei com a Madalena...


A Ana Souza, arquitecta e estagiária nas Doroteias, guiou-nos pelo edifício chamando a atenção para várias particularidades. Eu desenhava o mais que podia, tirava apontamentos, queria "agarrar" aquele edifício o melhor que conseguisse.


Este primeiro dia não terminou sem uma ida à capela, local majestoso com uma escala gigante. 
Depois, antes de dormir, pegámos na leitura do cego que queria ver e desenhámos de acordo com a descrição de um colega. Olhávamos para o papel, mas era como se estivéssemos cegos, tal era a informação relatada que nos faltava.

Foi este o meu primeiro dia em La Tourette: cheio, intenso, talvez um pouco caótico até.

sábado, março 19, 2016

East-Timor meetings


A ideia mais antiga que tenho dos missionários é a do filme Missão que vi no meu 11.º ano numa aula de Português da António Arroio.

Ao fim de tantos anos, dei por mim em Timor Leste a fazer o registo desenhado das reuniões de dois missionários da Consolata (meus grandes amigos) com vários missionários em Timor, averiguando a possibilidade de irem para lá trabalhar.

Foi um privilégio acompanhá-los. Senti que estava a fazer história com estes desenhos. 
Tanto tempo depois, aqui estão eles a vir à tona...

O P. João Felgueiras é jesuíta e trabalha há mais de 40 anos em Timor. Chegou lá antes da invasão da Indonésia, manteve-se durante toda a instabilidade e ocupação sanguinária, sobreviveu quase por milagre ao massacre depois do referendo e por lá continua agora, já com 90 anos, ainda a construir escolas para que mais crianças possam estudar. Impressionante!

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Bye, bye New York City



Enquanto não vêm os desenhos de Nova Iorque, aqui fica o vídeo feito do avião, ao descolar da Big Apple.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

-6ºC



Hoje, mesmo perto da Brooklyn Bridge, estavam seis graus negativos. Tirei as luvas e fiz esta selfie, mas não deu para mais. As mãos começaram mesmo a congelar. 
Dali, eu e o Mark Leibowitz, apanhámos o ferry para a outra margem e fomos desenhar dentro de um restaurante com duas estrelas Michelin!! Mas essa história fica para um próximo post...
;)

sábado, fevereiro 06, 2016

New York City


Cheguei ontem à noite a Nova Iorque, a cidade que é o mundo inteiro.
Neve, muita neve e frio, mas o encanto e deslumbramento de uma criança agitavam-se cá dentro perante a esmagadora cidade.


Estou aqui para a reunião da direção dos Urban Sketchers. Há que olhar do alto e tentar ver para onde pode ir este grupo gigante criado pelo Gabi Campanario. Assim que cheguei, ele enviou-me uma mensagem pelo whatsapp: "Welcome back to America! New York City is very different than the rest of the country. Enjoy it. It's a crazy place created by people who dreamed big, just like us! :)"

É uma honra estar aqui a pensar grande ao lado de pessoas tão generosas e fabulosas!

segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Mercado de Taibessi


Desenhar acompanhado é, por vezes, um drama!

Entrámos todos no mercado de caderno na mão e as primas da Ketta perguntavam insistentemente:
"O que vamos desenhar? E como?"
Se estivesse sozinho sei o que faria, mas como gosto sempre de desenhar o que peço aos outros que desenhem, acabámos a olhar atentamente para os vários produtos das bancadas...

Sozinho ia:
- meter conversa com os vendedores e desenhá-los
- afastar-me e desenhar o mercado de longe

É assim a vida. Nem sempre temos o que desejamos...
Mas foi bom ter ido lá com as primas da Ketta. Comprámos bananas, tangerinas e mangas ao preço normal, coisa impossível se tivesse ido sozinho! :)

sexta-feira, janeiro 29, 2016

Cemitério de St.ª Cruz


Este jovem chamado Sebastião Gomes foi também assassinado pelos indonésios. Não no famoso massacre de '91, mas antes. Este cemitério está lotado. Não é possível passar sem pisar algumas campas... mas também está lotado de significado da luta pela libertação de Timor-Leste...
Hoje a madrinha da Ketta contou-nos o que aconteceu e histórias de pessoas que sobreviveram como que por milagre. É duro de ouvir e o coração começa aos pulos...
21.08.2015



Não sei muito bem como falar deste massacre. Em '91 eu tinha 11 anos, mas lembro-me bem destas notícias e de tudo o que veio a seguir com Portugal inteiro a erguer-se e a fazer-se ouvir.

Estar ali, naquele cemitério e ouvir histórias da boca de quem lá esteve e sobreviveu é de estremecer as entranhas. Saber que todas as cassetes de vídeo estavam a ser confiscadas para que o mundo não soubesse o que se passava e que o jornalista australiano Max Stahl as escondeu e depois as enviou por um jesuíta para chegarem à Europa também é impressionante.

Desenhar a campa do Sebastião Gomes, o jovem que ia ser visitado pela multidão de timorenses depois de uma missa de domingo e que deu origem ao massacre foi uma experiência de silêncio ensurdecedor...

Contudo, penso que o que mais me impressiona é a forma adulta e madura como hoje os timorenses se relacionam com a Indonésia. Que capacidade esmagadora de se sobre-elevar e marcar personalidade...

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Díli


Díli vista da estrada que segue para Maubisse. 
O aglomerado de telhados de zinco confunde-se com a vegetação e tudo parece ficar misturado e pouco perceptível...
Ataúro, ao fundo, parece, por momentos, maior do que as outras ilhas indonésias que nos rodeiam. Do lado esquerdo, o primeiro edifício alto começa a erguer-se. É o primeiro sinal de uma capital a crescer e de um país que está a mudar a uma velocidade estonteante...

20 de agosto de 2015

sábado, janeiro 16, 2016

Mariana Mendonça


Mariana Mendonça?
Que nome tão português ali do outro lado do planeta. Não só do outro lado, mas bem no interior de Timor, lá para o interior das montanhas...

Hoje em dia os casais timorenses não gostam de colocar nomes portugueses aos filhos. "Fica mal" dizem...
O filho de um dos primos da Ketta chama-se Liusembril...

- Liusembril? - Rimos e perguntámos nós. 
- Sim, não queremos um nome que já exista. Ele tem de ter um nome único, nunca antes visto."
- O que significa?
- "Liu" vem de Julho, mês de nascimento da mãe. "Sem" vem de setembro, mês de nascimento do irmão. "Bril" vem de abril, mês de nascimento do pai.
- Liusembril? - Voltámos a rir com ar de espanto...
- Nome português é que não! 

Vai assim a vida timorense...
E é assim também que, aos poucos, a cultura se vai mostrando viva, híbrida e já com menos influência dos portugueses...

[outra história deste desenho aqui]

terça-feira, janeiro 12, 2016

Mazi em Maubisse


Primeiro desenhei a margem esquerda da rua numa tentativa de guardar a loja "Bensa ao Ama" no meu caderno. 

Depois desenhei a Mazi Costa no lado direito da página. Uma das primas mais novas da Ketta que está no 11.º ano e gostava de vir estudar para Portugal. Trabalhadora incansável, estuda Ciências e Tecnologias, os irmãos estão todos a estudar na Indonésia, mas ela gostava mesmo era de vir para Lisboa...

Não contente com o resultado (o que raio me deu para colocar um olho fechado e outro aberto!?!?), decidi pedir-lhe para repetir o desenho. Sem escrúpulos, foi mesmo ali por cima das casas. Quando me irrito com os desenhos vai tudo para cima de todas as coisas...

Agora que olho para esta dupla página, vem-me à memória a manhã tranquila e solarenga que estava. O Matias de colo em colo a encantar toda a gente. Os troncos de madeira onde nos sentámos a apanhar Sol. O vendedor de cartões da Timor Telecom a tentar ganhar a vida. Um senhor velhote que passou pela rua vezes sem conta para nos ir falando repetidamente. As prateleiras quase vazias da "Bensa ao Ama". As memórias do tio Tonito. A paisagem que permanecia igual desde há seis anos atrás e, de repente, tudo passou a fazer mais sentido...

quinta-feira, janeiro 07, 2016

Maubisse

Às vezes, só repetindo o mesmo desenho passado algum tempo é que consigo dar-me conta de como estou diferente, como desenho diferente, como vejo diferente...

Maubisse, Timor-Leste, 2015

Maubisse, Timor-Leste, 2009



História completa dos dois desenhos aqui.

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Retiro de diários gráficos | 2016



O próximo retiro de diários gráficos, que acontece sempre na altura da Páscoa, já tem lugar confirmado: Açores, ilha de S. Miguel.

Este ano o anúncio vem mais tarde, mas ainda vamos a tempo de boas condições de voo.
Uma das principais novidades está na data do primeiro retiro: o P. Nuno Branco, jesuíta, está comigo na organização e vai lá estar connosco a tempo inteiro durante a semana santa. Imperdível, diria eu...

Inscrições e mais informações: linhares.mr@gmail.com