quarta-feira, julho 20, 2016
Nós e os cadernos
Este fim de semana vou estar em Esposende a convite do Tiago Cruz, para participar no evento Nós e os Cadernos. O encontro promete!
Eu e a Ketta vamos fazer uma comunicação intitulada: O caderno como instrumento de ensino
Iremos falar dos desenhos que fazemos só para ensinar alguma coisa. Aqueles desenhos que não faríamos sozinhos, só por nós. Aqueles desenhos que fazemos para mostrar a alguém, para explicar alguma coisa...
É exactamente esse o caso desta dupla página. Nunca faria estes retratos a lápis de grafite se fossem só para mim, mas, neste caso, queria explicar que a mina de grafite nos permite fazer diferentes intensidades e espessuras de linha. Que a linha mais intensa sugere sombra e a mais leve sugere luz.
Queria ainda mostrar que o fundo mais escuro ajuda no contraste da zona mais iluminada do rosto e, por isso, é que tem um lado mais intenso e outro mais claro.
Nada disto seria assim se desenhasse estas pessoas numa esplanada de café. Os desenhos estão no meu caderno, que é privado, mas são desenhos para mostrar, para ensinar, para partilhar, estando, portanto, no domínio da esfera pública.
Promete este fim de semana em Esposende. Tantas comunicações e tão boas. Apareçam!
terça-feira, julho 19, 2016
50 anos de aço sobre o Tejo
No passado sábado houve um encontro de diários gráficos organizado pelos USkP, em parceria com as Infraestruturas de Portugal, para desenhar a Ponte 25 de Abril. O motivo era simples: a 6 de agosto celebram-se 50 anos daquela gigantesca obra de engenharia americana sobre o nosso rio Tejo.
Tinha ficado com a ideia que se ia subir ao pilar Norte da ponte, mas afinal não havia autorização para isso. Ficámo-nos pelas bases de amarração que são uns blocos de uma beleza incrível.
Em conversa com o Eng.º Pedro Abegão fiquei a saber que um dos engenheiros americanos que cá esteve em 1966 fez um diário. Está numa Universidade da Califórnia. Provavelmente tem desenhos e seria lindo recuperá-lo para o museu que vai nascer nesta zona no próximo ano. Vi o projecto. Vai ser formidável!
A escala é monumental, mas sentia-me a desenhar brinquedos para o Matias! :)
Da parte da tarde fomos para a margem Sul e ficámos espalhados pela pequena estrada que passa por baixo da amarração Sul. A vista era incrível e as toneladas de aço por cima de nós também...
Desviei-me um pouco para a direita, coloquei-me à sombra e fiz duas tentativas da vista da ponte. Nada contente com o resultado fui ter com o Mário Crispim e desenhei a mesma vista dele, mas queria apanhar a estrada...
O Eng.º José Costa Nunes está responsável pela obra do Museu (na margem Norte). Pedi-lhe para o desenhar e a páginas tantas:
- Então e não é possível ir desenhar num dos pilares da ponte?
- Não é impossível... - e antes que acabasse de responder:
- Vocês vão lá muito frequentemente? - perguntei eu.
- Duas a três vezes por ano. Mas olhe, fale com o Nélson que depois tentamos arranjar isso.
- Ok, assim farei. - e lá continuei o desenho.
Na parte final, com tanta máquina linda para desenhar por ali, atirei-me a esta bomba de água de 1929. O Filipe Almeida estava lá dentro a desenhar uma motorizada e depois juntou-se a mim quando comecei a desenhar o edifício das IP. Estava tanto calor que disse ao Filipe:
- Este espaço lembra-me a África Colonial. Muito calor, muita vegetação, o edifício rasteiro... sinto-me em África...
segunda-feira, julho 18, 2016
Alto contraste
O Exame Nacional de Desenho A de 2016, na 1ª fase, tinha um exercício que pedia o uso da tinta da china em alto contraste. A maioria dos alunos misturou-lhe água (como tantas vezes se faz), para ganhar tons cinza intermédios e ajudar na volumetria, mas, como o enunciado pedia alto contraste, quem não utilizasse apenas o branco e preto seria classificado com zero pontos num dos três critérios de avaliação. Há que ler o enunciado com atenção.
Na semana passada vi o exame de uma aluna que ia pedir reapreciação. Era de outra escola.
Neste exercício, ela também diluiu a tinta da china, pelo que foi penalizada, mas qual não foi o meu espanto ao constatar que nos outros dois critérios ela também tinha sido classificada com zero valores quando o desenho respeitava (até com bastante qualidade) tudo o que era pedido! Exame mal avaliado. Só neste exercício, facilmente subia 3 a 4 valores...
Não consigo entender o que se passa com alguns professores examinadores. Só vejo uma solução: se temos de avaliar desenhos com tinta da china, então temos de desenhar com tinta da china, passar pelas dificuldades, errar, acertar, insistir, penar. Só assim conseguiremos ser justos a classificar.
quarta-feira, julho 13, 2016
E o futuro?
Afinal não vou partilhar todos os desenhos que estão no hotel do Funchal do Cristiano Ronaldo. Não dá...
Partilho o último, aquele que está virado para o futuro!
Como se termina uma sequência de desenhos em torno da vida do CR7? O céu é o limite, claro, mas e fazer isto de forma a mostrar um futuro audacioso, risonho, cheio de sucesso? Optei por ele a abraçar a vida de empresário em contexto citadino, de grande escala, cheio de projectos a roçar o céu... que é o limite dos gigantes!
segunda-feira, julho 11, 2016
Portugal campeão europeu
Este desenho também está no hotel do Cristiano Ronaldo no Funchal. Assinala a atribuição da Ordem do Infante D. Henrique (que já recebeu duas vezes).
Hoje, quando a seleção campeã europeia chegar a Lisboa, todos os jogadores vão receber a Ordem de Comendador pelas mãos do presidente da República.
Que loucura! Portugal é campeão europeu de futebol!!!
domingo, julho 10, 2016
Aqueduto de Águas Livres
Desenho de 2016, galho e tinta da china, no workshop do Kiah Kiean.
Desenho de 2015, caneta Uni Pin 0.1, para o livro de Fernando Pessoa: Lisboa, o que o turista deve ver, edição Centro Atlântico.
sábado, julho 09, 2016
Quinta do Mocho
Muitos não sabem, mas, durante 6 anos, eu e a Ketta fizemos voluntariado no Bairro do Zambujal. Ensinávamos a tocar viola às crianças e adolescentes. Não era fácil porque eles não tinham guitarra em casa para praticar, pelo que só uma vez por semana é que tocavam...
Uma irmã da Ketta (que agora é professora na universidade de Birmingham) e a madrinha do Matias davam aulas de alfabetização para adultos (cabo-verdianos e portugueses). A tese de mestrado de que falei aqui há uns dias era exactamente sobre isso: ensinar português como língua não-materna a quem não sabe ler e escrever.
Desde 2011 que deixámos de ter disponibilidade para ir ao bairro do Zambujal, mas temos lá amigos para a vida. Às vezes falamos ao telefone, matamos saudades e quando nos vemos é uma festa!
Por isso, ir desenhar à Quinta do Mocho foi um reavivar de memórias. Que lindo projeto artístico que eles têm. Dá vontade de replicar aquilo em todo o lado...
quinta-feira, julho 07, 2016
Pestana CR7 Funchal
E Portugal está na final! Hoje os portugueses terão um dia feliz, bem disposto, "p'ra cima"! Em todas as tascas vamos assumir-nos para ganhar a final, dizer que somos os melhores, mais coesos, a defender bem, a atacar com frieza...
Lembro-me muito bem do entusiasmo que houve no Euro2004. Fui voluntário e estive em todos os jogos da seleção em Lisboa. Era uma loucura e aquela final foi perdida sem sabermos como...
Agora será diferente!
Tal como prometido, publico mais um desenho que fiz para o hotel Pestana CR7 no Funchal. Se o outro era dedicado à seleção, o tema deste era o Real Madrid.
Foram dez desenhos ao todo, cada um sobre um momento da vida do nosso Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!
terça-feira, julho 05, 2016
IPO :: leilão
Há uns meses valentes, os USkP responderam ao convite do IPO e fomos lá desenhar. Houve ainda o desafio de oferecermos um desenho para se fazer um leilão sendo o valor recolhido oferecido integralmente a eles. Nesse encontro fiz apenas dois desenhos: este para o leilão e um outro que está no caderno e por lá vai ficar.
O encontro foi em janeiro. Está na hora de se fazer o leilão porque toda a ajuda conta!
sábado, julho 02, 2016
Pestana CR7 Funchal
Quando recebi o convite fiquei mesmo muito honrado. O melhor jogador do mundo queria 10 desenhos meus em todos os quartos do seu novo hotel do Funchal, uma parceria com o grupo Pestana de nome Pestana CR7 Funchal.
Vamos lá a isso. Quanto maior a pressão, melhor me saem as coisas. Fiz os dez desenhos a tinta da china e foram depois reproduzidos com uma técnica inovadora de acrílicos.
Sei que não era suposto revelar os desenhos, mas agora que Portugal chegou às meias finais do Europeu, achei que não fazia mal desvendar um deles; o que dediquei à seleção nacional.
Se passarmos à final, mostro mais um.
Se formos campeões, saltam todos cá para fora!!
Vamos lá Portugal!!!
sexta-feira, julho 01, 2016
Back to Lisbon
É sempre bom regressar a casa. Por muito que se goste do local onde estamos, sabe sempre bem regressar. A viagem foi longa, muito longa, mas quando se regressa com as baterias carregadas, sentimos que podemos dar conta de milhares de tarefas, que nos podem pedir tudo, estamos prontos para arregaçar as mangas e fazer o que há para fazer, get things done, como dizem os americanos!
Descolar de Díli pela segunda vez deixou em mim o sentimento que lá havia de voltar. Hoje não sei. A vida dá tantas voltas que é mesmo um mistério o que pode acontecer...
Em 2009 filmei a aterragem e editei depois com uma música timorense. Não há segundas oportunidades para viver bem cada momento. Desenhar, escrever, fotografar, filmar, são auxiliares que me ajudam a preservar melhor essas memórias.
Em 2009 filmei a aterragem e editei depois com uma música timorense. Não há segundas oportunidades para viver bem cada momento. Desenhar, escrever, fotografar, filmar, são auxiliares que me ajudam a preservar melhor essas memórias.
O Sudeste Asiático é isto: ilhas paradisíacas no meio do oceano! Que outra melhor ideia podemos ter da nossa vida senão esta mesmo: um paraíso a ser descoberto constantemente? Quando damos conta, aparecem pequenas maravilhas à nossa frente. Quando pensamos que já encontrámos algo valioso, há que recomeçar de novo, voltar a estar atento e olhar para tudo como se fosse a primeira vez...
Tem sido essa a lição que tenho aprendido com as minhas viagens. Quanto mais as faço, mais pequeno me sinto, mais humilde me sinto, mais encantado com o dom da vida me sinto, mais habitante de um planeta sem fronteiras me sinto.
Tem sido essa a lição que tenho aprendido com as minhas viagens. Quanto mais as faço, mais pequeno me sinto, mais humilde me sinto, mais encantado com o dom da vida me sinto, mais habitante de um planeta sem fronteiras me sinto.
quinta-feira, junho 30, 2016
Os timorenses
Sou casado com uma timorense, portanto, a minha opinião é completamente parcial...
Quanto mais leio sobre este povo, mais entusiasmado fico.
Quanto mais os conheço, mas intrigado fico.
Quanto mais vivo com eles, mais certezas ganho que os habitantes deste planeta deviam pensar mais no que nos aproxima do que o que nos afasta. Nós portugueses, temos uma identificação genuína, emotiva e quase inexplicável com este povo que vive do outro lado do planeta, em metade de uma ilha.
Já aqui na Europa, muito mais perto, os povos teimam em acentuar as diferenças...
Já aqui na Europa, muito mais perto, os povos teimam em acentuar as diferenças...
Sobre o desenho: a Belinha vive no CJPAV, em Taibesse, acolhida pela Rosalina Dias. É inteligente mas tímida. De sorriso fácil, mas envergonhada. Veio para Díli à procura de uma vida melhor. Foi uma das raparigas que aprendeu a desenhar com mais facilidade. Muito concentrada...
Há pessoas inteligentes em todo o lado. Todo o lado!
Há pessoas inteligentes em todo o lado. Todo o lado!
quarta-feira, junho 29, 2016
Praia de pescadores
Há sítios que, por mais que tente desenhá-los, nunca vão conseguir transmitir a beleza que têm.
O desenho fica outra coisa, é certo, igualmente valiosa, mas a sensação de pisar aquele pedaço de terra (neste caso coberto de água salgada) é incomparável.
Esta praia em Timor, escondida, ali mesmo nos arredores de Díli, só com este barco de pescadores amarrado é um desses sítios...
terça-feira, junho 28, 2016
praia de pescadores em Díli
O penúltimo dia em Timor foi dia de praia. As primeiras que se encontram são de pescadores.
Há qualquer coisa neste desenho que me leva o pensamento para a importância da honestidade e da transparência. Ser pescador é uma profissão tão relevante como qualquer outra. É mais física, mas de intelectual tem também muito. Ali, sabedoria não é académica, mas da vida, da experiência. Não é por acaso que se chamam mestres aos pescadores mais experientes que comandam o barco.
Hoje, uma amiga vai defender a tese de mestrado dela. Conseguiu. Parabéns!
Eu continuo com a minha atrasada. Outras coisas se têm colocado à frente. O desenho, viagens, ilustrações, desafios irrecusáveis...
Mas nem toda a sabedoria é académica. A minha também é, mas não apenas. Esforço-me para colocar a sabedoria da vida em pé de igualdade com a dos livros.
segunda-feira, junho 27, 2016
Casa de Balide, Timor-Leste
Foi nesta casa de Balide que a Ketta nasceu e viveu até aos 4 anos. Foi também ali que os pais viveram até virem todos para Portugal em 1986. Foi por aquela porta que entrei pela primeira vez numa casa timorense. Estávamos em 2009 e tinham passado apenas 10 anos do referendo que deu lhes a independência da Indonésia. Lembro-me muito bem dessa primeira refeição. Comi apenas arroz e legumes. A carne era demasiado dura e à noite adormeci com fome...
Seis anos depois:
Balide, 30 de agosto de 2015
Em 2009 desenhei esta sala da casa de Balide. As horas demoravam a passar e havia tempo para descansar verdadeiramente, ler, desenhar, pensar e reflectir. Agora, em 2015, queria desenhar de novo esta sala para perceber se continuava tudo igual...
Mas não continuava. As crianças que enchiam a casa já não estavam lá. Apenas o bebé recém nascido era agora uma criança. As outras estavam todas na universidade, umas na Indonésia, outras em Timor. A mais nova, Mazi, estava agora a terminar o secundário e com planos de vir para Lisboa. Encorajei-a a dar o litro, a falar mais português e a lutar pelos seus sonhos!
É atribuída a Heráclito de Éfeso a frase:
A mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
Não sei se é mesmo dele ou se é mito urbano, mas parece-me muito mais interessante esta outra que é mesmo dele:
Não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós também já somos outros.
Quando penso nos filósofos gregos, lembro-me do tempo disponível que tinham para aprofundar os seus pensamentos. Que luxo! Tempo é sempre o que nos falta...
Fui à procura do meu post de 2009 sobre o desenho que fiz e descobri que reflecti exactamente sobre o tempo...
Há viagens que nos transformam profundamente. Ir a África em 2002 foi um delas. Ir a Timor em 2009 também. Voltar lá em 2015 foi como querer entrar no mesmo rio, mas Heráclito tinha razão...
domingo, junho 26, 2016
Viagem a Ataúro
Porto de Díli, 29 de agosto de 2015
Ir a Ataúro revelou-se uma verdadeira aventura! O barco partia às 9h, mas era preciso estar no porto às 7h para garantir lugar sentado. Havia tempo para desenhar, pensei eu... pois é, mas pelas 7h45 tive de ficar com o desenho inacabado. A entrada no barco foi caótica com todos a tentarem entrar ao mesmo tempo. 2h30 de viagem com muito fumo de gasóleo e um navio completamente sobrelotado de pessoas, carros, camiões, animais, cereais, algas, lenha, etc., etc., mas com a adrenalina de visitar um novo local pela primeira vez! Ataúro é mesmo muito isolado e era para lá que se enviavam os prisioneiros. Merecia uma visita bem mais prolongada para ficar com uma opinião mais estruturada.
Foi em Ataúro que conduzi, pela segunda vez, um carro com o volante do lado direito (a primeira foi também em Timor, mas numa viagem de Maubisse para Díli). Fomos conhecer o P. Chico, italiano a viver em Timor há décadas. Tudo rápido, sem tempo porque o barco partia dali a pouco tempo, mas com uma vontade enorme de não deixar escapar o momento.
A ilha de Ataúro despertou em mim a curiosidade. Timor desperta cada vez mais! Investiguei e encontrei este vídeo sobre uma reportagem que a RTP fez em 1975, logo após o confronto entre a Fretilin e a UDT, e uns meses antes da invasão militar indonésia, por uma equipa liderada pelo jornalista Adelino Gomes. Vale a pena ver!
sábado, junho 25, 2016
Catedral de Díli
Díli não é uma cidade muito grande. Na escala do país é, mas para quem está habituado a circular em cidades maiores, é normal ficar-se com uma sensação familiar ao passarmos várias vezes nas mesmas ruas quando andamos pela cidade. Foi isso que aconteceu com a catedral de Díli. Ficava sempre a ideia de lá voltarmos para desenhar, mas os dias iam passando e parecia que era tão perto que ficava sempre para amanhã. O mesmo já tinha acontecido na viagem de 2009.
Até que um dia decidiu-se e não se voltou atrás: fomos lá, eu, a Ketta, o Matias e os P. Pedro e Marcos.
Catedral de linhas simples, interior ainda mais simples e difícil de desenhar, a cobertura era muito bonita porque fazia lembrar as casas tradicionais timorenses. O meu desenho ficou um desastre nesse aspecto. O Matias dormia no carrinho e estava um Sol tórrido. O único local no exterior à sombra era este ponto de vista que não permite ver em condições a beleza da cobertura. Estava também com uma moleza muito grande... e ficou assim o meu desenho...
quinta-feira, junho 23, 2016
East-Timor meetings
Retomando a reportagem desenhada em Timor-Leste:
Escrevi assim no meu caderno, o resumo da conversa com o bispo de Baucau:
2º encontro do imc, agora com o bispo d. Basílio, administrador apostólico de Díli e bispo de Baucau. Muito simpático, bem disposto e com muita clarividência. Sabe o que quer para a igreja timorense e, sobretudo, para as pessoas. Foi muito curioso ouvir que o território de fronteira em Timor é mesmo a capital, com tanta gente que vem à procura de uma vida melhor e de tantas empresas turísticas e de construção a instalarem-se...
Gosto especialmente deste segundo desenho. Começou com a vista panorâmica feita a partir da capela em Tasi Tolo (três lagos) onde, em 1989, o papa João Paulo II celebrou Eucaristia quando visitou Díli durante a ocupação da Indonésia. Contou-nos um padre franciscano que, durante a homilia, João Paulo II percebeu que alguém tinha trocado o papel onde ele tinha preparado o que queria dizer aos timorenses. Não se sabe ainda como isso aconteceu, nem quem o terá feito, embora se desconfie dos serviços secretos indonésios. Quando começou a ler, deu-se conta que aquelas palavras não eram as dele... Sem dar nas vistas, dobrou o papel e começou a falar de improviso, para que as palavras fossem as certas!
Depois as reuniões continuaram e fomos visitar as irmãs Canossianas (as primeiras a chegar a Timor). Pensámos que estávamos a falar com a ir. Elisa, mas percebemos mais tarde que tinha sido a superiora delas a receber-nos: ir. Guilhermina Marçal.
- Têm de ir falar com o P. Virgílio Silva, dos Salesianos. - dizia-nos a Rosalina Dias, madrinha da Ketta e gestora do Centro Juvenil Padre António Vieira (um dos melhores locais para alguém se alojar, mesmo!), onde ficámos a dormir.
- Sim, falar com um Salesiano era bom, porque tem a experiência das escolas. - respondeu logo o P. Pedro Louro.
Fomos então. Homem muito simples, recebeu-nos quase de surpresa de muito bom grado. Falou-nos da história dos Salesianos em Timor-Leste, dos desafios que têm pela frente e da relação excelente com os padres da Indonésia. Em janeiro passado, soubemos que o papa Francisco o tinha nomeado Bispo de Díli! Excelente homem. Dará um bom bispo, de certeza.
Depois foi a vez de falarmos com os jesuítas timorenses.
Trabalham em Timor desde finais do séc. XIX e o superior da região disponibilizou-se a falar connosco. Homens sábios os jesuítas, sempre. O P. Joaquim Sarmento é disso mesmo um exemplo: simples, inteligente, humilde e de bom humor. A conversa estava tão boa que o desenho ficou assim mesmo. Fechei o caderno e perdi-me nas delícias da conversa...
terça-feira, junho 21, 2016
one day in Lyon
Estavam aqui estes 3 desenhos de Lyon por publicar no meu blogue.
A caminho de Lisboa, vindo de La Tourette, em abril passado, parámos em Lyon, na Basilique Notre Dame de Fourvière. Não havia muito tempo para desenhar, pois o objectivo era descermos até ao centro da cidade, mas, enquanto uns entraram para ver os fabulosos vitrais, o que me atraía mesmo era esta imensidão de espaço que nos ajuda a pensar maior, mais longe, sem receios...
Depois de almoço, junto à margem do rio Saône, a vista para a outra margem era deslumbrante. Comecei pela Église Saint Georges e deixei-me levar pelo casario até encontrar, de novo, a Basilique Notre Dame de Fouvière. O tempo continuava a ser reduzido, mas aqui já estive cerca de 20 min.
- Un cadeau, por favor! - pediam os alunos.
- Vamos então ao centro, nem que seja para comprarmos croissants!
Parámos na Place Saint-Jean, mesmo em frente à catedral romana Saint-Jean Baptiste. Aqui sim, o tempo foi tão pouco, mas tão pouco, que nem sei como fiz isto tudo...
A escrita, essa, completei-a já em Lisboa, durante a avaliação com os alunos da nossa viagem.
segunda-feira, junho 20, 2016
Piazza S. Marco at night
Dia 5
(6ª parte)
Último desenho de Veneza.
Depois de jantar tinha de ir à zona do Giardini para me encontrar com a Esmeralda (tia da Ketta a viver em Veneza), que queria enviar goodies (lembranças) para a família. Era tarde, muito tarde e a viagem de vaporetto ainda era longa. O Zé estava cansado:
- Epá, eu não vou lá, vou directo para a cama.
- Anda lá, aproveitamos e fazemos um desenho noturno. - disse-lhe.
- Não vou, estou estoirado. Eu já não tenho a tua idade! - resmungava.
- Veneza à noite é linda. Lembra-me os desenhos do Hugo Pratt na Fábula de Veneza. - tentava eu convencê-lo...
- Come with us. It will be nice! - dizia também a Benedetta.
- Não vou, Não vou! Quero dormir. Amanhã temos de acordar cedo para regressar a Lisboa e tenho de dormir. - resmungava o Zé ainda mais.
- Nunca sabes quando é que podes voltar a Veneza. É a última noite. Oportunidade a não desperdiçar! - dizia eu de novo, já a sentir que as minhas palavras não valiam nada...
- Epá, então se eu não vou, como é que se vai da estação do vaporetto até ao apartamento onde estamos?
- Tens aqui o mapa. O caminho é o mesmo que fazemos todos os dias. Não há como enganar.
- Epá, não vou conseguir. Explica-me lá isso direitinho no mapa. - por momentos dei-me conta que poderia estar ali o segredo para ele vir connosco e fazer o tal desenho noturno.
- É só ir em frente pela rua estreita, virar à esquerda, passar a ponte, passar a praça, seguir novamente pela ponte até ao Campo S. Maurizzio, depois viras à esquerda e depois à direita!
- Epá, vou-me perder...
- Bolas Zé, então vem connosco!
- Não vou, não vou. Tenho de ir dormir que não tenho conseguido descansar nada à noite. Estou cansado, não quero desenhar mais! Estou farto de desenho!
- Bom, então não sei. Só se levares o mapa da Benedetta, que é mais completo e tem as ruas todas.
- Ok, vou levar esse. Explica-me lá outra vez como é que se vai.
...
E andámos nisto minutos a fio. Eu sempre com a esperança que ele viesse connosco até ao Giardini e depois a pé para fazermos o desenho à noite. Nada feito. Foi mesmo sozinho de regresso a casa. Disse-lhe assim antes de seguirmos caminhos diferentes:
- De certeza que não te vais perder, mas atreve-te a fazer um desenho à noite sem nós, depois desta conversa toda.
Eu e a Benedetta fomos ao Giardini e regressámos de vaporetto até S. Marco. Chegámos à praça, sentámo-nos na esplanada e, completamente rotos de cansaço, fizemos mais um desenho. Via-se muito pouco, mas tenho dúvidas se era da escuridão ou das minhas pálpebras a teimarem fechar-se. Terminado o desenho, a caminho de casa, disse à Benedetta: tenho a certeza que o Zé fez um desenho à noite sozinho. E vai estar excelente!
E não é que fez mesmo? E não é que está mesmo excelente? Só falta ele digitalizar e publicar. Foi por isso que o convidei a vir comigo. Além de me divertir imenso, é autêntico, um poeta a desenhar e sempre surpreendente. Foi uma honra ter feito esta enorme reportagem com estes três amigos: José Louro, Benedetta Dossi e Simonetta Capecchi.
Obrigado a:
Direção Geral das Artes - pela organização e convite
Urban Sketchers - por existirem
Laloran - pelos cadernos maravilhosos que usámos
Papelarias Emílio Braga - pelos cadernos fornecidos aos venezianos
Viarco - pelos lápis de cor aguareláveis
Margarida Silva - por toda a ajuda na logística
Carlos Moura-Carvalho - pelo convite
Espero ter estado à altura. Venham mais reportagens destas!
domingo, junho 19, 2016
Duelo em Veneza
Dia 5
(5ª parte)
Último jantar em Veneza. A Simonetta sugeriu a Trattoria Al Ponte del Megio, onde ia encontrar uns amigos dos tempos da faculdade. Apanhámos o vaporetto para sair da Giudecca e fomos a pé. Há lá outra maneira melhor de conhecer, descobrir e perdermo-nos numa cidade?
Quando chegámos, finalmente, os amigos da Simonetta (e ela própria) já tinham comido. Sentámo-nos e fizemos o pedido. Última noite para mim significava comer una bella lasagna!
Enquanto esperava, embora já tivesse 10 duplas páginas cheias desse dia e me sentir completamente estoirado, decidi repetir o desafio de desenhar a Benedetta, afinal de contas, tinha começado assim o meu primeiro dia. Começo sempre pelos olhos, depois o nariz, lábios, queixo e cabelo. Mal cheguei aos lábios percebi que já não ia ser ela. Iria parecer uma pessoa, mas não ela. Avisei-a disso mesmo e continuei. Quando queria entrar na mesa, desenhar os talheres, pratos e restante contexto, ela arranca-me o caderno da mão e diz que me quer desenhar a mim, com a minha caneta, no meu caderno.
- Tudo bem, mas olha que não estás mesmo parecida...
Quando terminou (já com a lasagna na mesa a arrefecer) disse-me que eu também não estava parecido e que seria preciso repetir 1000 vezes para conseguirmos melhorar. E escreveu no caderno, para não nos esquecermos.
Concordo. É a melhor receita: desenhar, desenhar, desenhar...
sábado, junho 18, 2016
Giudecca panorama view
Dia 5
(4ª parte)
Saídos da tavola rotonda, a Simonetta Capecchi queria mostrar-nos uma vista panorâmica sobre a Giudecca e Dorsoduro. A nossa reportagem não ficaria completa sem este plano de conjunto. Andámos e andámos pelo cais até chegarmos à antiga zona fabril da Giudecca. Parámos em frente a um dos hotéis mais imponentes de Veneza, o Hilton Molino, da família Hilton:
- Be my guest - disse a Simonetta, apontando para a porta de entrada.
- We're going in? - perguntei incrédulo!
- At the roof we can see one of the most beautiful panorama views of Venice - disse ela confiante. E continuou: And we don't have to pay nothing.
- Let's go then! - respondemos nós em uníssono! :)
E foi assim que chegámos ao terraço do hotel com esta vista deslumbrante. Entrámos no hall, dirigimo-nos ao elevador, pressionámos o botão do último piso, saímos do elevador, subimos os degraus em direção à piscina de terraço, continuámos até à ponta e pronto, era mesmo dali que íamos fazer os desenhos!
Fica a dica para quem for a Veneza e quiser desenhar uma vista linda de morrer sem ter de pagar para subir. :)
sexta-feira, junho 17, 2016
Tavola rotonda a Venezia
Dia 5
(3ª parte)
A mesa redonda (tavola rotonda) com estes grandes nomes da arquitectura (Francesco Dal Co, Andrea Barina, Álvaro Siza Vieira, Rafael Moneo, Cino Zucchi e Mirko Zardini), moderados pelo também arquitecto Alberto Ferlenga, estava prevista para acontecer no Centro Cultural da Giudecca, mas como estava um dia lindo e o número de pessoas era imenso, acabou por se localizar nos jardins do IVESER, mesmo ali ao lado.
Interessava-me desenhar o ambiente de multidão num local tranquilo como aquele jardim.
Comecei, claro, pela vertical do edifício que alberga agora a Università Internazionale dell'Arte, para me perder nos rendilhados e ir descendo até ao nível do chão, onde as pessoas se dividiam entre o descanso de estar na relva e a atenção de ouvir os mestres.
Encostei-me ao muro, fiquei de costas para a água e a caneta foi deslizando, praticamente sem a levantar do papel. Acabei um pouco antes do Mirko Zardini falar. Quando ele terminou chegou o nosso primeiro ministro António Costa. Ia começar o beberete e a confusão à volta do Siza. Nós os quatro, eu, o Zé, a Benedetta e a Simonetta, fomos desenhar a Giudecca do topo de uma antiga fábrica, pois a nossa reportagem desenhada ainda estava longe de estar terminada e não havia tempo a perder...
créditos fotográficos: Andrea Piovesan
quinta-feira, junho 16, 2016
Alvaro Siza meeting at lunch
Dia 5
(2ª parte)
Não estava a ser fácil estar perto do Siza. Todos queriam estar com ele, falar com ele, tirar fotografias ou pedir-lhe autógrafos, o que não dava espaço para mais ninguém. Como não sou metediço, olhava, de longe, tudo a acontecer sem me intrometer...
Havia a ideia de passarmos algum tempo juntos a desenhar e a falar de desenho. Falámos disso com o diretor geral das Artes. Que bom seria termos tido essa oportunidade: 4 urban sketchers a falar de desenho em cadernos com o Álvaro Siza Vieira. Mas não foi possível. Não havia tempo nem tranquilidade para o fazermos. Ao perceber isso, decidi desenhá-lo fosse de que maneira fosse. Primeiro de longe, enquanto ele estava sentado à espera que um fotojornalista italiano fizesse a chapa. Acontecia tudo tão rápido que optei por deixar assim esta página, com ele a olhar para fora do caderno...
Depois veio a hora do almoço e todos os lugares à sombra ficaram ocupados!
@ DGArtes
Almocei tranquilamente e sem pressas de voltar ao desenho. Bebi dois copos de vinho a acompanhar a pasta italiana e terminei a pedir uma garrafa de água. Levantei-me depois e deambulei à procura do local para desenhar. Nada. Andei para trás e para a frente a tentar encontrar o ponto de vista certo que mostrasse a animação da Tavolata, mas não estava a conseguir...
A meio caminho, decidi sentar-me num dos lugares à sombra que já estava vazio. Nesse instante, levantou-se o Siza do outro lado da mesa e começou a caminhar na minha direção. Vou desenhá-lo outra vez - pensei. Por sorte, alguém foi conversar com ele, o que me deu tempo para abrir o caderno. Assim que comecei a desenhar, ele olhou logo para mim. Deixou de conversar com a pessoa com quem estava e veio ter comigo. Sentou-se e ficou a ver-me desenhar. Passado uns segundos disse: você desenha bem...
A partir desse momento era inevitável mostrar-lhe o meu caderno e todos os outros desenhos feitos até então.
@ DGArtes
As interrupções eram constantes. Apareceu um casal que vive na Bonjour Tristesse, um arquitecto italiano que tinha sido um dos primeiros alunos Erasmos do Siza no Porto, várias pessoas a pedir autógrafos, o jornalista da Sic com a Cândida Pinto a querer fazer uma notícia e mais não sei quantas pessoas... foi um frenesim...
Quando as pessoas apareciam, eu voltava às páginas onde estava e continua os desenhos dele. Tudo muito rápido e ele sempre a mudar de posição...
O rapaz de óculos escuros que estava com ele (e que não sei mesmo quem é) disse-me entretanto:
- Você não pode pedir ao Siza para autografar no seu caderno.
- Pois... - respondi intrigado...
- É que há uns anos já tivemos um problema com uma pessoa que fez um desenho e pediu ao Siza um autógrafo. Ele claro que assinou, com generosidade, mas a pessoa depois vendeu o desenho como se fosse um original do Siza. Foi um problema.
- A sério?!? - não queria acreditar.
- Sim. Parece mentira, mas é verdade.
- Gostava de ter um autógrafo dele, mas posso pedir para ele assinar nos flyers da exposição...
Entretanto o Siza é completamente desviado para uma filmagem da Sic e a minha conversa com ele termina abruptamente. Faço mais um desenho sentado, mas o autógrafo não chegou a ser feito...
Enquanto ele dava a entrevista, tentei desenhar o ambiente da Tavolata, mas não fiquei contente com o resultado. Voltei a sentar-me à mesa e perguntei se podia desenhar a senhora que estava ao meu lado. Não percebeu o que perguntei e respondeu-me que não podia desenhar, que não queria. Reiterei que queria ser eu a desenhá-la e, então, deixou. Perguntou-me antes quanto tempo ia demorar. Dez a quinze minutos, respondi eu. Tudo bem, ordem para avançar.
Enquanto fazia o desenho, foram vários os sorrisos dela e percebi que estava a ficar contente com o resultado.
- De pernas para o ar parece sempre bem - alertei eu, prevenindo eventuais desapontamentos no final.
Quando virei o caderno ela gostou tanto que me pediu autorização para tirar uma fotografia.
- Claro que sim! Pode escrever o seu nome perto do desenho?
Ela olhou para mim com um ar de espanto e disse com sotaque alemão:
- Brigitte Fleck!
- Sim, mas pode escrever? - respondi atrapalhado por lhe ter perguntado o nome e ter ficado com a sensação que devia saber quem ela era...
Feita a investigação em casa, trata-se realmente de uma pessoa muito importante na promoção da obra do Siza em livro e sua internacionalização. Sempre a aprender Mário, sempre a aprender. E que honra tê-la desenhado também, ainda que quase sem querer...
@ DGArtes
quarta-feira, junho 15, 2016
Reporting from the front: Alvaro Siza in Giudecca
Dia 5
(1ª parte)
25 de maio de 2016, grande adrenalina logo de manhã. Quando o despertador tocou, o Zé voltou a dizer em voz alta:
- Voltei a não dormir nada! Estou tramado...
- Bora lá Zé! Hoje é o grande dia da inauguração e temos de chegar a horas! - respondi eu também ensonado e mal dormido. Era sempre eu quem se levantava primeiro. O Zé ficava a fazer ronha na cama...
Mal chegámos à estação fluvial S. Maria del Giglio tirei o caderno para aquecer. Coloquei-me mesmo junto à água para desenhar a outra margem. Não há maneira de saber quando chega o vaporetto, porque esta é uma estação pequena e não tem o ecrã com o tempo de espera, mas o que interessava mesmo era não desperdiçar o tempo.
A Benedetta só dizia:
- Não sei como é que vocês conseguem fazer isso assim tão rápido, descontrolado e controlado ao mesmo tempo. Isto está a ser uma grande aprendizagem para mim, para não me preocupar tanto com o resultado final...
Eu e o Zé riamo-nos e a caneta nem levantava do papel...
Chegou entretanto o vaporetto e o desenho continuou ao sabor do balanço do barco.
Chegados à Giudecca, a confusão de pessoas estava instalada. Todos à espera, mas uns com mais adrenalina do que outros. Quando pensamos que somos uns outsiders, que ninguém nos conhece e ali estão só vedetas, começam a aparecer pessoas conhecidas. Primeiro um grande amigo português que vive em Vittorio Veneto há décadas, o Domingos Ribeiro, tradutor e intérprete, com a Luzia, excelente académica e prestes a entrar no mundo laboral na área da comunicação e jornalismo (é bom ver como os portugueses são mesmo excelentes em qualquer parte do mundo).
Depois a Cristina Carrilho da Graça, minha professora de Desenho na António Arroio, ali presente com o marido. Ao falar-lhe, passei a conhecer mais pessoas ainda e, quando dei por mim, estava só na conversa em vez de desenhar...
Encostei-me a uma parede e comecei freneticamente a desenhar. O ambiente tornou-se ainda mais fervilhante com a chegada do Siza. Jornalistas, fotógrafos, câmaras, políticos, todos de roda dele... que loucura, parecia uma estrela rock... e é, mas da arquitectura!
Com o acalmar do ambiente lá fora decidi entrar. Nos visitantes havia um misto de interesses: uns queriam mesmo ver e ouvir tudo ao detalhe. Os vídeos da sic são excelentes e merecem cada segundo. As maquetes são lindas. O ambiente de obra transformado em exposição é absolutamente brilhante. Até os grafitis que estavam nas tábuas do estaleiro foram levados lá para dentro (o Zé tem uns desenhos muito bons disso mesmo).
Outros circulavam de uma sala para a outra olhando de relance para tudo e sem tempo para parar. Percebia que o foco deles era acompanhar o Siza. Uns pela excitação de o ver ao vivo, outros porque seguiam a massa de pessoas. Outros ainda, porque era ali que se estavam a tirar as fotografias para os jornais...
O Siza saiu lá para fora e a exposição esvaziou. Ficaram apenas os que queriam mesmo ver tudo ao detalhe. Voltei a encostar-me a uma parede. Nestes dois bancos sentaram-se dois habitantes locais. Queriam ver o vídeo com calma e sem barulho. Também eu...
Há uma imagem muito bonita no filme em que o Siza aparece em primeiro plano e, em plano de fundo, vê-se o casario de Veneza com a torre campanária da Piazza di S. Marco. É tudo rápido, muito fugaz, mas tirei as aguarelas e fiz essa mancha de memória. Depois os limites da tela e a silhueta das duas senhoras sentadas a ouvir falar do sítio onde moram.
Lindo este momento...
Depois, antes de almoço, tirámos uma fotografia de nós os 4, urban sketchers, em trabalho de reportagem na Giudecca. A chapa oficial está aqui, mas antes fiz esta selfie.
Mal sabia eu que durante o almoço estaria à conversa com o Siza sobre desenho, canetas, a linha preta, Veneza, enfim, uma honra...
Virá essa história no próximo post.
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