Há pouco a dizer sobre Michelangelo Buonarroti.
Entrar na Galleria dell'Accademia e ver um conjunto de obras inacabadas, onde os corpos escultóricos estão a tentar libertar-se da rocha, de forma intencional por Miguel Ângelo, é um momento forte até se encontrar, ao fundo, o David. Ao olhá-lo nos olhos, só me lembro de uma frase do Roland Barthes, no livro A Câmara Clara, na análise a uma fotografia do irmão de Napoleão Bonaparte:
- Vejo os olhos que viram o imperador.
E a mim apetece-me dizer: vejo um olhos de pedra que viram os de Miguel Ângelo. Aquele olhar que continua a dividir críticos de arte sobre se foi antes ou depois de atirar a pedra ao Golias.
É nesse corredor que estão três prisioneiros e um São Mateus, os tais que se tentam libertar da rocha.
A beleza desses corpos é ofuscada pelo David.
A beleza desses corpos não consegue competir com o David.
Por isso, os críticos de arte criaram a noção de sublime, o que está para além do belo e que o ofusca.
Estas quatro esculturas são incrivelmente belas, mas isso não chega quando se está ao lado do David.
Ao lado de outras, seriam elas em destaque. Ali, são apenas um entretém rápido até chegar onde o olhar nos guia. Há que encontrar o seu devido lugar, porque nada consegue brilhar perto de David.
Será assim também connosco?
Será por isso que o Neymar trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain?