terça-feira, janeiro 20, 2009

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Há duas coisas que me encantam nesta fotografia: a cor vermelha da terra e a irregularidade da canoa.

Para mim, terra vermelha passou a ser sinónimo de Guiné-Bissau. Estivesse na estrada, nos campos ou à beira mar, a terra vermelha entranhava-se nos pés parecendo que queria fazer parte de nós. Este pequeno porto de onde os homens saem nas canoas para irem pescar no mar é o que fica mais perto de Empada. Bastam 15 ou 20 minutos a pé. Neste dia a maré estava baixa e esta canoa não chegou a sair do cais. A irregularidade transmite-me o trabalho manual que foi necessário à sua construção... e não deixa de ser curioso o facto da pesca ser também um trabalho manual árduo, pelo menos por ali...

A minha ligação ao Design de Equipamento obriga-me a ver nesta canoa a Arte de bem construir. Há preocupações estéticas? Claro que não! Há preocupações funcionais? Claro que sim! Que design é este? Sim, porque esta canoa também teve um projecto, existem outras semelhantes, não é apenas um objecto artístico! A mim apetece-me dizer que este é o design mais puro que pode haver! Estas canoas estão pensadas para serem leves e mesmo assim aguentarem o peso dos pescadores e do peixe. Não há desperdício de material... quando entram na água ficam mesmo no limite possível... e são produzidas em série... não é uma produção como nós a conhecemos, mas o facto de existirem várias semelhantes prova que há um projecto que é seguido...

Um grande professor de design chamado Tomás Maldonado defendeu que o design de produto é todo aquele que é produzido industrialmente em série. Concordo com ele, mas já concordei mais...
Se for bem projectado, mas se não for produzido industrialmente, não é design?

____________________________________________________________________


There are two things that fascinate me about this picture: the red colour of the soil and the unevenness of the canoe.

For me, red soil is now synonym for Guinea-Bissau. Whether I was on the road, on the fields or by the seaside, the red earth would impregnate our feet, as if it wanted to be a part of us. This little dock, from where men leave on their canoes in order to go fishing at the sea, is the closest to Empada. It only takes about 15 or 20 minutes by foot to get there. On this particular day, the tide was low and this canoe didn't make it off the dock. Its unevenness shows me the handwork that its building took… and it is curious that fishing is also a hard hand-using work, at least in this place…

My connection to Industrial Design forces me to see the art of good craft in this canoe. Are there any aesthetical concerns? Of course not! Are there functional concerns? Surely! What kind of design is this? Yes, because this canoe also had a project; there are others alike it, it isn't a mere artistic object! I feel like saying that this is the purest design that there can be! These canoes are thought to be light and still carry all the weight of the fishermen as well as the fish's. There is no waste of material… when they go in the water they reach their maximum possible limit… and they are produced in series… it isn't a production as the one we know, but the existence of other canoes like this one proofs that there is a project that is followed…

There was a great design professor whose name was Tomás Maldonado who once claimed that product design was everything industrially produced in series. I agree with him, but not as much as I used to…

If it is well projected, but not industrially produced, isn't it still design?

4 comentários:

Marta Ribeiro disse...

Um barco no meio do nada...à primeira vista não reparei que a imagem queria dizer-me mais,olhei de forma despreocupada.
Admiro a tua vocação missionária Mário.É um grande testemunho, este que dás através de imagens e partilha.

Abraço amigo em Cristo,
Marta R

Mário Linhares disse...

Olá Marta

Obrigado pelo comentário.

É muito pouco o que faço, mas uma coisa sabia que não podia fazer: deixar as fotografias e as minhas memórias na "gaveta"! Tinha de as deixar registadas algures...

Amnistisiados disse...

O meu olhar concentra-se mais na canoa. É impressionante, parece-se com uma escultura. É como se a canoa fosse uma peça só (e talvez seja), depois esculpida... Depois, há todo aquele equilíbrio natural de Empada, em que nada parece descontextualizado.

Pelo o que pude ver no documentário, não há dúvida! Em Empada, a pesca é mesmo uma tarefa complicada, onde a agilidade e a astúcia são imprescindíveis.

Eu acho que sim... É design!

uivomania disse...

Talvez seja arte pura...
Tudo depende dos conceitos!
Se calhar, se fosses médico, não reparavas na canoa.
Abraço.