terça-feira, junho 07, 2016

Campo di Marte, Giudecca, Venezia

Dia 3 
(2ª parte)



A procura de novos pontos de vista para desenhar o projecto do Siza era intensa. Não queríamos que nada nos escapasse...
Encontrámos esta vista, da janela da Villa Hériot, onde trabalha um amigo de longa data da Simonetta, no Istituto Veneziano per la Storia della Resistenza e della Società Contemporanea. A casa é um palacete com um jardim imenso. Foi o local onde se fez a mesa redonda no dia da inauguração da exposição.

Esta vista era excelente para compreender o projecto como um todo. Vêem-se muito bem os dois blocos do Aldo Rossi com a cobertura em arco e, do lado esquerdo, o bloco do Siza.


Logo a seguir, no caminho de regresso à exposição, encontrámos, finalmente, a Stefania, pessoa responsável pela ATER na Giudecca e que nos ajudaria a entrar nas casas para desenharmos as pessoas. Foi assim que conhecemos o Silvano Ditodi (escrevi Silvio no caderno, mas é Silvano).
Sentei-me à mesa com ele e fui perguntando curiosidades: onde vivia antes de ir para ali, se está contente com a casa, como foi conhecer o Siza Vieira, que conversas tiveram, qual é a equipa de futebol  de Veneza, etc, etc. 
As respostas foram muitas. Os venezianos gostam de conversar. Antes de ir para a Giudecca vivia no centro, numa casa muito velha a precisar de obras. Como não tinha dinheiro para as fazer, concorreu a um apartamento aqui. "Mas só os Venezianos é que podem concorrer. Estas casas não são para estrangeiros!" - dizia ele, defendendo os seus.
- A casa é boa, mas precisa de uma janela na casa de banho - dizia-me a mulher, apontando para a parede cega vista da pequena varanda.
- E esta varanda? Comparada com a de baixo é mesmo pequena. Custava muito ficar igual? - continuava.
- Podemos continuar o desenho? - dizia eu atrapalhado...
Mais tarde (no dia seguinte), num dos vídeos da exposição feitos pela SIC (vizinhos), ouvia a mesma queixa feita por ela, mas directamente ao Siza. Ele respondeu: "Era porque não ficava bem. Mas não é razão, se fosse hoje fazia".

Vale a pena ver o documentário todo!


Ao final do dia, dentro do vaporetto, o céu de Veneza estava deslumbrante e dei por mim a pensar: grande projecto este que o Carlos Moura-Carvalho montou para a Biennale di Venezia. Curadores muito bem escolhidos. Local genial para a exposição. Equipa brilhante. Urban Sketchers a fazer reportagem desenhada com liberdade imensa. Grande sensibilidade para com a Arte!

É uma pena ele ter sido afastado do cargo. Fiquei muito entusiasmado com as pessoas escolhidas para a Bienal de Design em Londres: Manuel Lima, Pedro Miguel Cruz e Marta Menezes são a nata das natas. De certeza que esse projecto não vai cair por terra...

Este céu deslumbrante de Veneza lembrou-me também que as pessoas visionárias nunca deixam de o ser só por passarem a desempenhar um cargo diferente.

3 comentários:

Filipe Pinto disse...

Parabéns por teres agarrado tão bem esta oportunidade. Os desenhos na Giudeca estão mesmo bons, (bom ponto de vista) e ficámos com um bom retrato do que pensa um veneziano habitante do projeto.

Henrique Vogado disse...

Bela reportagem Mário. Desenhos fabulosos e a estórias das pessoas, de quem organiza, de quem habita e de quem colaborou de uma forma ou de outra para que a iniciativa tivesse êxito.
Gostei de ver o documentário e achei curiosa a forma como o Siza Vieira defendia as escolhas face aos pontos de vista do moradores. "Janela no wc? Não ficava bem. É a privacidade. Mas hoje já as faria"
Outro que gostava da corrente de ar entre 2 janelas. É muito bom ver este confronto de pontos de vista arquitecto-moradores.

Mário Linhares disse...

Foi muito intensa esta viagem.
Trabalhámos de manhã à noite, mas tinha de ser mesmo assim!