O incontornável
Paul Cézanne (1839-1906) procurava insaciavelmente a essência das coisas, por isso, pintava o mesmo assunto várias vezes até à exaustão. O tema era tão simples que quase se podia tornar aborrecido: naturezas mortas, mais especificamente pratos com fruta.
Cruzar esta vontade inesgotável de pintar o mesmo assunto com a resposta dada a Pedro (antes de ser santo e de ser o primeiro Papa) por aquele galileu, filho de um carpinteiro, que falava aramaico e que marcou a história da humanidade, era o grande desafio: 70x7...
Não vou contar agora aqui esta história, nem vou escrever sobre a generosidade de Pedro ao pensar que 7 vezes era já uma imensidão. Setenta vezes sete é que é o grande desafio! Não para fazer contas, mas para não pensar sequer nisso, para não nos caber no entendimento...
Neste exercício, desenhar insistentemente o mesmo assunto, levou-me a entrar e desenhar por dentro o museu do cinema de Turim, sair e desenhá-lo por fora, de vários ângulos, até que, noutro dia, o comecei a ver noutros lados, refletido, fragmentado, distorcido, diferente e, por isso mesmo, menos óbvio...
Acho que é assim mesmo: a primeira visão é mais simplista, tal como as primeiras abordagens do Cézanne, mas depois, com a persistência, temos um vislumbre da essência e começamos aí a sua verdadeira procura!