quarta-feira, setembro 28, 2016

3 workshops gratuitos


É muito raro orientar workshops de diários gráficos gratuitos. Não porque acredite que não se devem oferecer, mas porque acredito que as pessoas valorizam mais as formações quando pagam algo por elas, ainda que o valor seja meramente simbólico. A experiência também confirma esta minha posição. Sempre que orientei workshops gratuitos, algumas pessoas não se empenharam como podiam e os resultados foram sempre frustrantes.

Existem, porém, excepções. E no próximo fim de semana vou abrir três! Serão no Jardim da Estrela, inseridos no evento Lisboa Idade. Os três serão iguais e as inscrições são gratuitas. Só é preciso levar um diário gráfico, caneta preta e material para colorir.
Existem outras actividades a decorrer. Vale a pena ver toda a programação.

No domingo, dia 2 de outubro, haverá um encontro de diários gráficos aberto a toda a gente. Quem se inscrever pode começar a desenhar logo no almoço que será oferecido aos primeiros 20 a enviarem-me um email para participar: linhares.mr@gmail.com

Não percam!

domingo, setembro 25, 2016

Manhattan panorama view


No dia 12 de fevereiro, neste post, tinha prometido contar a história do desenho feito dentro do restaurante com duas estrelas Michelin. Pois bem, é muito simples. Se fosse uma notícia de jornal, poderia ter este título:

Em Nova Iorque, de propósito
Com seis graus negativos, em pleno mês de fevereiro e as mãos a congelarem, passaram de Ferry para o bairro de Brooklyn à procura da vista mais icónica de Manhattan. Uma camada fina de gelo nos bancos de jardim e o vento rasante eram sinais de que o desenho desejado seria impossível de realizar. Ponderadas todas as possibilidades, entrar no The River Cafe era a última solução; nada mais, nada menos que um restaurante bem chique com duas estrelas Michelin à porta e um dress code bem apertado...
Dirigiram-se à entrada e, de imediato, foi-lhes dito que estavam fechados. Eram quatro da tarde e só a partir das cinco é que abriam para bebidas. Disse-lhes o Mark Leibowitz: 

- O meu amigo está cá de propósito para desenhar esta vista. Veio de Portugal e vai embora amanhã.
- Vou chamar o gerente. - respondeu a rapariga tão bem vestida e de tão bom ar que parecia saída de uma passagem de modelos.

Veio o gerente - também um charme - e disse:

- O melhor que posso fazer por vocês é emprestar-vos um smoking para entrarem.
- Este é o Mário Linhares, um famoso sketcher de Portugal. Veio cá de propósito e vai embora amanhã. Só precisamos de ficar 30 min. Não nos vai negar isto, pois não?

O caderno do Mário abriu-se e mostrou-lhe os desenhos com um ar confiante de que seria mesmo o melhor desenhador do mundo. Mostrou também o pau de madeira, a tinta da china no boião e aquilo acabou por impressionar.

- Entrem então - disse o charmoso gerente.

Escolheram o melhor banco ao balcão e começaram os dois a desenhar. Passados 15 minutos entrou um casal que lhes quis comprar os desenhos. Disse a senhora super chique para o seu muito-bem-vestido marido:

- Este ficava mesmo bem lá em casa não era my love? Por quanto o venderia?

Mas o Mário não lhe vendeu o desenho. Tinha na mente um projeto expositivo: 
| um português | uma técnica asiática | a desenhar em Nova Iorque |

Só não lhes disse que não tinha ido lá de propósito e que não ia embora amanhã. Essa era a mentira do seu amigo Mark para conseguir entrar de calças de ganga, luvas, gorro e casaco farfalhudo num restaurante chiquérrimo.
O projecto, esse, talvez ainda se concretize...

sábado, setembro 24, 2016

Alfabeto Lisboeta: museus incomuns


Aí está o tão aguardado novo Alfabeto Lisboeta! 
Este ano atiramo-nos aos museus mais incomuns de Lisboa; aqueles que (quase) ninguém ouvir falar ou que guardam (e mostram) coisas nada comuns.

Serão 26 sessões, tantas quantas as letras do alfabeto, com exercícios invulgares e muita descoberta nesta cidade maravilhosa banhada pelo Tejo.

A inscrição inclui um caderno Laloran, as entradas nos museus, uma masterclass com um formador internacional e donativo para os Urban Sketchers.

Curiosos? Peçam o programa por email para linhares.mr@gmail.com
Começamos dia 22 de outubro!

segunda-feira, setembro 19, 2016

Fashion Ave. 7av. W29 st.


Quando, em 2014, fui pela primeira vez aos Estados Unidos, uma das coisas que mais quis desenhar eram as escadas de incêndio nas traseiras dos prédios...

Neste dia 11 de fevereiro, decidi que ficaria o tempo que fosse preciso a desenhá-las. 
Entrei para tomar o pequeno almoço no Prêt-a-Manger e sentei-me bem encostado à montra. O meu depósito de tinta da china estava a esgotar-se. Carregava com o pau de madeira e parecia que o algodão estava encharcado, mas era cada vez mais difícil de fazer uma linha contínua...

Abri o caderno gigante (que ocupava toda a mesa), empurrei o copo de café (large size) mais para a frente da mesa para ter espaço e lá me lancei no desenho. Do meu lado direito desta 7Av. ficava o Fashion Institute of Technology e, a esta hora da manhã (sim, porque ainda estava com jetleg e a acordar às 6h30, o que resultava em pequenos almoços pelas 8h), viam-se muitos alunos a caminhar em direção à faculdade. Um deles parou lá fora e ficou a olhar para o meu caderno durante uns segundos. Depois seguiu, porque nesta cidade é difícil parar. Entrou depois uma australiana. Pensou que eu era Nova Iorquino e começou a elogiar o espírito artístico da cidade, que era exactamente isto que ela queria mostrar às suas alunas (que estavam para chegar): como se pode desenhar em todo o lado. As alunas entraram passados uns 5 minutos e ela virou, finalmente, a atenção desmesurada para elas. 

Continuei...

Passado uns 10 minutos, o rapaz que tinha parado lá fora na montra a olhar para o desenho estava ao meu lado! 
- I'm the guy who stopped out there looking at your drawing. - disse ele como que a justificar-se.
- Really?! - não queria mesmo acreditar, até porque estava a lutar com o desenho para que se salvasse e não era possível que chamasse assim tanto a atenção...
- I'm amazed about your technique. Nowadays we don't see people sketching with such an ancient Asian technique as you're using.
- I learned from a excellent sketcher living in Malaysia, but I'm still trying to understand and control it. - (embaraço...)

Depois perguntou-me de onde era, deu-me os parabéns e foi-se embora.
Bebi mais um gole de café já morno.
Olhei lá para fora.
Fechei o caderno e saí.

terça-feira, setembro 13, 2016

The view - restaurant & lounge

Não gosto especialmente destes dois desenhos, mas o local é tão especial que não podia deixar de os publicar.


O Mark L. levou-me ao restaurante The View, mesmo ao lado da famosa Times Square. Lá de cima tem-se uma vista panorâmica absolutamente incrível sobre Nova Iorque. Sentámo-nos, pedimos uma cerveja e desenhámo-nos um ao outro. Senti novamente falta da cor, mas mantive-me fiel ao projecto a preto e branco...


Enquanto conversávamos, o piso do restaurante ia rodando até fazer os 360º sobre a cidade. Tudo parecia em marcha lenta, mesmo bem lenta, mas enquanto desenhava, tudo me parecia muito rápido, demasiado rápido mesmo...

Ficou esta dupla página mesclada de diferentes vistas de Nova Iorque. Este é, talvez, o desenho que gosto menos dos que fiz lá.

quarta-feira, setembro 07, 2016

NYC - St. Patrick's Cathedral


10 de fevereiro de 2016 foi uma quarta feira e viam-se muitas pessoas nas ruas de Nova Iorque com uma cruz negra na testa. Muitas mesmo...

Tinha combinado com o Mark Leibowitz desenharmos juntos nesse dia. Tendo em conta o frio que estava, marcámos encontro na St. Patrick's Cathedral, a catedral católica de Nova Iorque. 
Entrei e fiquei deslumbrado pela arquitectura que me lembrava as catedrais góticas europeias. Pensei:
Isto só pode ser Gótico!!
Hum... mas catedrais da Idade Média nos Estados Unidos não fazem sentido... 
Só pode ser então Neo-Gótica...

E, rapidamente, a minha mente começou a viajar pelos tempos das minhas aulas de História da Arte do secundário em que eu e os meus colegas da António Arroio, depois da matéria dada em aula, tentávamos adivinhar os estilos arquitectónicos das igrejas de Lisboa. Senti-me novamente um estudante a tentar juntar as peças e estabelecer relações...

Sentei-me. 
Fiquei uns bons 10 a 15 minutos só a olhar. 
Haviam filas de pessoas que passavam nos corredores entre bancos em direção a um sacerdote que lhes impunha uma cruz de cinzas.
Hoje é quarta feira de cinzas, claro! - pensei - Começa a Quaresma...

Entretanto chegou o Mark:
- Mário! You arrived earlier. - disse ele.
- Yes, too much cold outside. I had to enter! How are you?
- Good! Happy to be here sketching with you.
- Great. Thanks for coming and stay all day with me! - estava mesmo agradecido, pois ele iria mostrar-me Nova Iorque como eu nunca teria conseguido ver.
- Do you want to sketch here inside?
- Yes, I love this architecture...

E assim estivemos ali uns bons 50 a 60 minutos. Ele fez um desenho bem mais pequeno, mas esperou por mim pacientemente e foi colocando aguarela sobre aguarela, acrescentando pormenores, só para eu estar à vontade. 
Mais tarde, num café do último piso de um arranha céus, a nossa conversa ganhou densidade e profundidade. Falámos de tanta coisa... muito sobre os Urban Sketchers, mas também sobre a vida em Lisboa e em Nova Iorque, valores, o que nos leva a tomar decisões importantes, até que ele, do nada me perguntou:
- Mário, are you a catholic person?
- Yes, - e antes que conseguisse continuar...
- But, no aches today... - e apontou para a minha testa em branco. 

Sorri. E a partir dali a nossa conversa foi mesmo muito mais interessante! ;)

domingo, setembro 04, 2016

Guggenheim - NYC


Acordava constantemente cedo. Por volta das 6h já não tinha sono. Penso que a diferença horária de 5 horas demorou um pouco a ser vencida. Levantei-me, tomei banho, vesti-me, saí do hotel, parei para tomar o pequeno almoço (torradas, fruta, iogurte e café), fui para o metro na direção de Uptown até sair numa estação próxima do Guggenheim. Caminhei umas boas centenas de metros com as mãos geladas nos bolsos (mesmo com luvas) e um vento rasante que teimava bater na cara, mas cheguei lá cedo demais; por volta das 9h e o museu só abria às 10h. Estava um frio que se entranhava nos ossos, mas não ia ficar uma hora sem desenhar. Limpei um banco cheio de geada com um pequeno guardanapo de papel, sentei-me (e logo senti o frio a subir pela espinha), abri a mala, tirei o caderno, tirei também as luvas e pensei: é só durante uma hora...

Fiz aquele pequeno desenho que está na página esquerda e, quando já não aguentava mais o frio (sentia-me um boneco de neve a dirigir todo o seu calor para as mãos, deixando o resto do corpo esquecido), levantei-me, vi as horas (ainda faltavam 40 min.) e fui desenhar outro ponto de vista do edifício, mas em pé. Desenhei o que está do lado direito, com o caderno em cima de um caixote do lixo. Estava numa esquina e o vento estava cada vez mais forte. Passavam por mim alguns nova-iorquinos a passear os cães, ainda de roupão...
Vi, entretanto, que a loja do museu ia abrir. Estou salvo, pensei. Entrei, vi tudo o que eles têm para vender, e fui depois para o hall onde me perdi a desenhar aquele interior maravilhoso que o Frank Loyd Right tão bem conseguiu projectar.


Comprei o bilhete e decidi perder todo o tempo que fosse preciso ali dentro. Não me iria escapar nada. Ouvi a história do edifício, a polémica que se criou quando foi apresentado, vi a exposição permanente (absolutamente fabulosa) e as temporárias ao longo da espiral enquanto subia: instalações, vídeos, esculturas, pinturas... Andei para cima e para baixo. Quando pensava que me ia embora decidia voltar atrás e ir ver tudo de novo.
Sentei-me, depois, num canto discreto, entre espirais e comecei a desenhar de novo...

terça-feira, agosto 30, 2016

AMNH dinosaur entrance hall


Não é que goste especialmente deste desenho, mas como esta entrada é fenomenal, não podia deixar de o fazer. Esta é a zona por onde se sai. Sentei-me num banco, encostado a um canto e, sem saber quando é que a Brenda iria chegar, que poderia ser a qualquer momento, tentei guardar no meu caderno aquele cenário, aquela imagem do dinossauro seguro apenas nas patas traseiras a receber as pessoas e a despedir-se delas.

As crianças rodeavam-me. Umas olhavam de esguelha, outras metiam conversa. Uma família norueguesa ficou muito impressionada com o desenho (e eu ali a lutar para que ele não se afundasse cada vez mais e a mal dizer os paus e a tinta da china...), e os dois filhos comentavam entre eles qualquer coisa em norueguês. Perguntei-lhes:
- Do you like to sketch?
- Yes. - respondeu-me a rapariga. E continuou: I want to be an artist just like you!
- I'm not an artist, I just like to sketch. - disse eu envergonhado...
- To me you are! - E sorriu...

E, de repente, a minha memória viajou para todas as minhas recordações de infância relacionadas com pessoas que vi a desenhar na rua e como as admirava. Lembro-me bem de um senhor a pintar a ribeira de Barcarena, junto a uma ponte, e de eu passar lá a tarde toda com ele a vê-lo trabalhar. Não faço ideia de quem era. Podia ser um desconhecido como eu ou uma pessoa famosa.

Nem sempre temos noção de como o nosso trabalho (por mais miserável que fique), pode influenciar a vida das pessoas... 
Este dinossauro mal amanhado influenciou a da menina norueguesa, tenho a certeza.

sábado, agosto 27, 2016

American Museum of Natural History

Ao visitar o museu de História Natural de Nova Iorque cheguei a uma conclusão que é um chavão: é mesmo impossível ver tudo num dia! Queria ler tudo, fotografar tudo, desenhar tudo, perder tempo em tudo. É uma viagem impossível... restou-me a resignação de ter tempo para fazer mais alguns desenhos lá dentro.


Com tanta escolha possível, estas morsas estavam como que a apelar que as desenhasse. Pensei várias vezes em desistir deste projecto de desenhar apenas com a tinta da china e o pau de madeira (parecia que havia sítios e temas que pediam outras técnicas), mas mantive-me sempre fiel ao conceito da minha viagem. Sentei-me perto do vidro, não no local mais confortável, mas aquele que me parecia ter o melhor ângulo e lá foi disto. 

Todos sabemos como o desenho é como um íman que atrai atenções. Enquanto estive ali sentado, o que mais gostei, foi de ouvir tantas línguas diferentes a fazer comentários nas minhas costas, mostrando, inevitavelmente, as suas culturas. Uma mãe e filha portuguesas comentavam nas minhas costas:
- É isto que se vê aqui e que em Portugal não há: pessoas a desenhar nos museus!
- Hã! Hã... - respondia a filha adolescente com um ar desinteressado na conversa.
- Cidades como esta abrem-nos o horizonte, mostram-nos pessoas cultas que não encontramos lá. Pessoas a desenhar em museus! - insistia enquanto se afastava e o som da voz se ia ouvindo cada vez mais longe...

Os franceses e asiáticos são os que mais apreciam e elogiam o nosso trabalho. Metem conversa e fazem questão de dizer que gostam. Os da América Latina comentam, mas não metem conversa. Os americanos nem uma coisa nem outra...

quinta-feira, agosto 25, 2016

Titanosaur at American Museum of Natural History


No primeiro dia por minha conta, já depois das reuniões terem acabado, fui ao museu que tanto queria ir, o AMNH. A Brenda M. acompanhou-me pois também ia ficar mais uns dias em Nova Iorque. Entrámos, marcámos uma hora para almoçar e lá fui eu, perdido por entre salas gigantes que recriam ambientes naturais, no meio de desenhos científicos inacreditáveis e vestígios de animais quando dou por mim, entretanto, a entrar na zona dos dinossauros até me deparar com este espécime de dimensão inacreditável. O maior alguma vez encontrado, escavado no deserto da Patagónia, Argentina. Claro que tinha de desenhá-lo. Peguei no meu caderno grande e pensei que não seria um problema colocá-lo dentro da página. Estava bem enganado! Perdi-me nos detalhes e as patas dianteiras não couberam, assim como a cabeça (que também não cabia na sala da exposição!).

Tudo somado, agora que olho para o desenho, lembro-me sobretudo do prazer que foi estar ali sentado no chão a desenhar. Faltou-me colocar algumas pessoas para dar escala ao desenho, mas como não volto aos desenhos depois de os fazer, fica assim mesmo, para que a memória do momento se altere o mínimo possível, qual esqueleto subterrado durante milhares de anos sem ser tocado...

domingo, agosto 21, 2016

Picasso Sculptures at MoMA


Nunca tinha visto as esculturas do Picasso ao vivo e, estando elas no MoMA e eu em Nova Iorque, era impensável falhar esta visita. Fomos todos lá no dia em que terminava a exposição: eu, a Elizabeth, a Suma, a Brenda e o Mark. Marcámos uma hora e um ponto de encontro e seguiu cada um o seu caminho.

Tirei o caderno grande, peguei no pau de madeira e lá comecei a molhar no recipiente com tinta. Fui desenhando as que gostava mais, ocupando a página da esquerda para a direita. Quando estava a desenhar o gato, uma mulher segurança veio ter comigo e disse:
Mr., you can use that stuff inside to draw.
But it's dry ink. It won't mess anything. - expliquei eu virando o boião ao contrário a mostrar que a tinta não caía.
- Doesn't matter, they were looking at you through the surveillance camera. - apontou ela para para a câmera num canto da parede.

Vai ficar mesmo assim, inacabado, e com esta estória para contar.
Engraçado que o gato acabou por ser o desenho que gosto mais. Abençoada segurança que me "barrou"o desenho antes de o estragar!


sexta-feira, agosto 19, 2016

9/11 memorial view from winter garden atrium



Desenhar em Nova Iorque durante o mês de Fevereiro é mesmo uma aventura. Era sábado e o Mark Leibowitz tinha um encontro dos USk-NYC marcado para o Winter Garden, mesmo em frente ao memorial das torres gémeas. Suspendemos a nossa reunião para nos juntarmos a desenhar com eles. Continuei com a tinta da china e o pau de madeira, sentei-me em frente a um janelão de vidro e comecei por aqueles edifícios altos lá ao fundo.

Antes tinha passado pela North Pool e o silêncio que se sente é ensurdecedor. O projecto tem um grande dramatismo: são dois grande poços que nos puxam o olhar para baixo, como que à procura de tudo o que ruiu...

A Suma CM dizia-nos: 
- Ainda não consigo olhar. Eu estava a trabalhar aqui ao lado. Ainda está tudo muito presente. Vamos passar rapidamente...

Quando terminei o desenho senti-me a fazer honra a este local. Não por estar especialmente bem conseguido, mas por ter dedicado uma boa hora da minha vida a olhar para ele e a pensar na fragilidade da vida e em como temos de aproveitar para viver em plenitude...

quarta-feira, agosto 17, 2016

Oficina na Gulbenkian


No próximo dia 10 de setembro vou orientar uma oficina nos jardins da Gulbenkian que se chama: A matéria das coisas.

O tema central é Land Art. Como fazer? Com que inspiração? Como se regista a arte efémera?
Será precisa alguma ousadia, mas as respostas as estas perguntas promete mudar-nos o olhar sobre o que nos rodeia...

Inscrições e mais info aqui.

sexta-feira, julho 22, 2016

New York City: view from the hotel room


A adrenalina de estar em Nova Iorque era mais que muita! Tenho sempre a sensação que o meu inglês chega enferrujado aos Estados Unidos e fica sempre melhor na altura de voltar... 

Cheguei ao final da tarde, telefonei à Elizabeth Alley e fomos jantar juntos a um restaurante mexicano (ou seria espanhol?) que estava a rebentar de gente. Esperámos uma eternidade por uma mesa à entrada, naqueles corta vento. Falámos imenso ali mesmo... ao frio. 

No dia seguinte começava a nossa maratona de reuniões e não havia tempo a perder. Acordei cedo, abri as cortinas da janela do Double Tree by Hilton e comecei um projecto que fazia sentido na minha cabeça na altura: um português, com uma técnica asiática, a desenhar em Nova Iorque.

Tenho a sensação que estes desenhos ainda vão sair do caderno para outra coisa qualquer...

quarta-feira, julho 20, 2016

Nós e os cadernos


Este fim de semana vou estar em Esposende a convite do Tiago Cruz, para participar no evento Nós e os Cadernos. O encontro promete!

Eu e a Ketta vamos fazer uma comunicação intitulada: O caderno como instrumento de ensino
Iremos falar dos desenhos que fazemos só para ensinar alguma coisa. Aqueles desenhos que não faríamos sozinhos, só por nós. Aqueles desenhos que fazemos para mostrar a alguém, para explicar alguma coisa...

É exactamente esse o caso desta dupla página. Nunca faria estes retratos a lápis de grafite se fossem só para mim, mas, neste caso, queria explicar que a mina de grafite nos permite fazer diferentes intensidades e espessuras de linha. Que a linha mais intensa sugere sombra e a mais leve sugere luz.
Queria ainda mostrar que o fundo mais escuro ajuda no contraste da zona mais iluminada do rosto e, por isso, é que tem um lado mais intenso e outro mais claro.

Nada disto seria assim se desenhasse estas pessoas numa esplanada de café. Os desenhos estão no meu caderno, que é privado, mas são desenhos para mostrar, para ensinar, para partilhar, estando, portanto, no domínio da esfera pública.

Promete este fim de semana em Esposende. Tantas comunicações e tão boas. Apareçam!


terça-feira, julho 19, 2016

50 anos de aço sobre o Tejo

No passado sábado houve um encontro de diários gráficos organizado pelos USkP, em parceria com as Infraestruturas de Portugal, para desenhar a Ponte 25 de Abril. O motivo era simples: a 6 de agosto celebram-se 50 anos daquela gigantesca obra de engenharia americana sobre o nosso rio Tejo.




Tinha ficado com a ideia que se ia subir ao pilar Norte da ponte, mas afinal não havia autorização para isso. Ficámo-nos pelas bases de amarração que são uns blocos de uma beleza incrível. 
Em conversa com o Eng.º Pedro Abegão fiquei a saber que um dos engenheiros americanos que cá esteve em 1966 fez um diário. Está numa Universidade da Califórnia. Provavelmente tem desenhos e seria lindo recuperá-lo para o museu que vai nascer nesta zona no próximo ano. Vi o projecto. Vai ser formidável!


A escala é monumental, mas sentia-me a desenhar brinquedos para o Matias! :)


Da parte da tarde fomos para a margem Sul e ficámos espalhados pela pequena estrada que passa por baixo da amarração Sul. A vista era incrível e as toneladas de aço por cima de nós também...
Desviei-me um pouco para a direita, coloquei-me à sombra e fiz duas tentativas da vista da ponte. Nada contente com o resultado fui ter com o Mário Crispim e desenhei a mesma vista dele, mas queria apanhar a estrada...
O Eng.º José Costa Nunes está responsável pela obra do Museu (na margem Norte). Pedi-lhe para o desenhar e a páginas tantas:
- Então e não é possível ir desenhar num dos pilares da ponte? 
- Não é impossível... - e antes que acabasse de responder:
- Vocês vão lá muito frequentemente? - perguntei eu.
- Duas a três vezes por ano. Mas olhe, fale com o Nélson que depois tentamos arranjar isso.
- Ok, assim farei. - e lá continuei o desenho.



Na parte final, com tanta máquina linda para desenhar por ali, atirei-me a esta bomba de água de 1929. O Filipe Almeida estava lá dentro a desenhar uma motorizada e depois juntou-se a mim quando comecei a desenhar o edifício das IP. Estava tanto calor que disse ao Filipe:
- Este espaço lembra-me a África Colonial. Muito calor, muita vegetação, o edifício rasteiro... sinto-me em África...

segunda-feira, julho 18, 2016

Alto contraste


O Exame Nacional de Desenho A de 2016, na 1ª fase, tinha um exercício que pedia o uso da tinta da china em alto contraste. A maioria dos alunos misturou-lhe água (como tantas vezes se faz), para ganhar tons cinza intermédios e ajudar na volumetria, mas, como o enunciado pedia alto contraste, quem não utilizasse apenas o branco e preto seria classificado com zero pontos num dos três critérios de avaliação. Há que ler o enunciado com atenção.

Na semana passada vi o exame de uma aluna que ia pedir reapreciação. Era de outra escola. 
Neste exercício, ela também diluiu a tinta da china, pelo que foi penalizada, mas qual não foi o meu espanto ao constatar que nos outros dois critérios ela também tinha sido classificada com zero valores quando o desenho respeitava (até com bastante qualidade) tudo o que era pedido! Exame mal avaliado. Só neste exercício, facilmente subia 3 a 4 valores...

Não consigo entender o que se passa com alguns professores examinadores. Só vejo uma solução: se temos de avaliar desenhos com tinta da china, então temos de desenhar com tinta da china, passar pelas dificuldades, errar, acertar, insistir, penar. Só assim conseguiremos ser justos a classificar.

quarta-feira, julho 13, 2016

E o futuro?


Afinal não vou partilhar todos os desenhos que estão no hotel do Funchal do Cristiano Ronaldo. Não dá...

Partilho o último, aquele que está virado para o futuro! 
Como se termina uma sequência de desenhos em torno da vida do CR7? O céu é o limite, claro, mas e fazer isto de forma a mostrar um futuro audacioso, risonho, cheio de sucesso? Optei por ele a abraçar a vida de empresário em contexto citadino, de grande escala, cheio de projectos a roçar o céu... que é o limite dos gigantes!

segunda-feira, julho 11, 2016

Portugal campeão europeu


Este desenho também está no hotel do Cristiano Ronaldo no Funchal. Assinala a atribuição da Ordem do Infante D. Henrique (que já recebeu duas vezes).
Hoje, quando a seleção campeã europeia chegar a Lisboa, todos os jogadores vão receber a Ordem de Comendador pelas mãos do presidente da República.

Que loucura! Portugal é campeão europeu de futebol!!!

domingo, julho 10, 2016

Aqueduto de Águas Livres


Desenho de 2016, galho e tinta da china, no workshop do Kiah Kiean.


Desenho de 2015, caneta Uni Pin 0.1, para o livro de Fernando Pessoa: Lisboa, o que o turista deve ver, edição Centro Atlântico.

sábado, julho 09, 2016

Quinta do Mocho


Muitos não sabem, mas, durante 6 anos, eu e a Ketta fizemos voluntariado no Bairro do Zambujal. Ensinávamos a tocar viola às crianças e adolescentes. Não era fácil porque eles não tinham guitarra em casa para praticar, pelo que só uma vez por semana é que tocavam...
Uma irmã da Ketta (que agora é professora na universidade de Birmingham) e a madrinha do Matias davam aulas de alfabetização para adultos (cabo-verdianos e portugueses). A tese de mestrado de que falei aqui há uns dias era exactamente sobre isso: ensinar português como língua não-materna a quem não sabe ler e escrever.

Desde 2011 que deixámos de ter disponibilidade para ir ao bairro do Zambujal, mas temos lá amigos para a vida. Às vezes falamos ao telefone, matamos saudades e quando nos vemos é uma festa!

Por isso, ir desenhar à Quinta do Mocho foi um reavivar de memórias. Que lindo projeto artístico que eles têm. Dá vontade de replicar aquilo em todo o lado...

quinta-feira, julho 07, 2016

Pestana CR7 Funchal


E Portugal está na final! Hoje os portugueses terão um dia feliz, bem disposto, "p'ra cima"! Em todas as tascas vamos assumir-nos para ganhar a final, dizer que somos os melhores, mais coesos, a defender bem, a atacar com frieza...
Lembro-me muito bem do entusiasmo que houve no Euro2004. Fui voluntário e estive em todos os jogos da seleção em Lisboa. Era uma loucura e aquela final foi perdida sem sabermos como...
Agora será diferente!

Tal como prometido, publico mais um desenho que fiz para o hotel Pestana CR7 no Funchal. Se o outro era dedicado à seleção, o tema deste era o Real Madrid.

Foram dez desenhos ao todo, cada um sobre um momento da vida do nosso Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo!

terça-feira, julho 05, 2016

IPO :: leilão


Há uns meses valentes, os USkP responderam ao convite do IPO e fomos lá desenhar. Houve ainda o desafio de oferecermos um desenho para se fazer um leilão sendo o valor recolhido oferecido integralmente a eles. Nesse encontro fiz apenas dois desenhos: este para o leilão e um outro que está no caderno e por lá vai ficar.

O encontro foi em janeiro. Está na hora de se fazer o leilão porque toda a ajuda conta!

sábado, julho 02, 2016

Pestana CR7 Funchal


Quando recebi o convite fiquei mesmo muito honrado. O melhor jogador do mundo queria 10 desenhos meus em todos os quartos do seu novo hotel do Funchal, uma parceria com o grupo Pestana de nome Pestana CR7 Funchal.

Vamos lá a isso. Quanto maior a pressão, melhor me saem as coisas. Fiz os dez desenhos a tinta da china e foram depois reproduzidos com uma técnica inovadora de acrílicos.

Sei que não era suposto revelar os desenhos, mas agora que Portugal chegou às meias finais do Europeu, achei que não fazia mal desvendar um deles; o que dediquei à seleção nacional. 
Se passarmos à final, mostro mais um. 
Se formos campeões, saltam todos cá para fora!!

Vamos lá Portugal!!!

sexta-feira, julho 01, 2016

Back to Lisbon


É sempre bom regressar a casa. Por muito que se goste do local onde estamos, sabe sempre bem regressar. A viagem foi longa, muito longa, mas quando se regressa com as baterias carregadas, sentimos que podemos dar conta de milhares de tarefas, que nos podem pedir tudo, estamos prontos para arregaçar as mangas e fazer o que há para fazer, get things done, como dizem os americanos! 



Descolar de Díli pela segunda vez deixou em mim o sentimento que lá havia de voltar. Hoje não sei. A vida dá tantas voltas que é mesmo um mistério o que pode acontecer...

Em 2009 filmei a aterragem e editei depois com uma música timorense. Não há segundas oportunidades para viver bem cada momento. Desenhar, escrever, fotografar, filmar, são auxiliares que me ajudam a preservar melhor essas memórias.


O Sudeste Asiático é isto: ilhas paradisíacas no meio do oceano! Que outra melhor ideia podemos ter da nossa vida senão esta mesmo: um paraíso a ser descoberto constantemente? Quando damos conta, aparecem pequenas maravilhas à nossa frente. Quando pensamos que já encontrámos algo valioso, há que recomeçar de novo, voltar a estar atento e olhar para tudo como se fosse a primeira vez...
Tem sido essa a lição que tenho aprendido com as minhas viagens. Quanto mais as faço, mais pequeno me sinto, mais humilde me sinto, mais encantado com o dom da vida me sinto, mais habitante de um planeta sem fronteiras me sinto.

quinta-feira, junho 30, 2016

Os timorenses


Sou casado com uma timorense, portanto, a minha opinião é completamente parcial...

Quanto mais leio sobre este povo, mais entusiasmado fico.
Quanto mais os conheço, mas intrigado fico.
Quanto mais vivo com eles, mais certezas ganho que os habitantes deste planeta deviam pensar mais no que nos aproxima do que o que nos afasta. Nós portugueses, temos uma identificação genuína, emotiva e quase inexplicável com este povo que vive do outro lado do planeta, em metade de uma ilha.

Já aqui na Europa, muito mais perto, os povos teimam em acentuar as diferenças...

Sobre o desenho: a Belinha vive no CJPAV, em Taibesse, acolhida pela Rosalina Dias. É inteligente mas tímida. De sorriso fácil, mas envergonhada. Veio para Díli à procura de uma vida melhor. Foi uma das raparigas que aprendeu a desenhar com mais facilidade. Muito concentrada...
Há pessoas inteligentes em todo o lado. Todo o lado!

quarta-feira, junho 29, 2016

Praia de pescadores



Há sítios que, por mais que tente desenhá-los, nunca vão conseguir transmitir a beleza que têm.
O desenho fica outra coisa, é certo, igualmente valiosa, mas a sensação de pisar aquele pedaço de terra (neste caso coberto de água salgada) é incomparável. 
Esta praia em Timor, escondida, ali mesmo nos arredores de Díli, só com este barco de pescadores amarrado é um desses sítios...

terça-feira, junho 28, 2016

praia de pescadores em Díli


O penúltimo dia em Timor foi dia de praia. As primeiras que se encontram são de pescadores.

Há qualquer coisa neste desenho que me leva o pensamento para a importância da honestidade e da transparência. Ser pescador é uma profissão tão relevante como qualquer outra. É mais física, mas de intelectual tem também muito. Ali, sabedoria não é académica, mas da vida, da experiência. Não é por acaso que se chamam mestres aos pescadores mais experientes que comandam o barco.

Hoje, uma amiga vai defender a tese de mestrado dela. Conseguiu. Parabéns! 
Eu continuo com a minha atrasada. Outras coisas se têm colocado à frente. O desenho, viagens, ilustrações, desafios irrecusáveis...
Mas nem toda a sabedoria é académica. A minha também é, mas não apenas. Esforço-me para colocar a sabedoria da vida em pé de igualdade com a dos livros.

segunda-feira, junho 27, 2016

Casa de Balide, Timor-Leste


Foi nesta casa de Balide que a Ketta nasceu e viveu até aos 4 anos. Foi também ali que os pais viveram até virem todos para Portugal em 1986. Foi por aquela porta que entrei pela primeira vez numa casa timorense. Estávamos em 2009 e tinham passado apenas 10 anos do referendo que deu lhes a independência da Indonésia. Lembro-me muito bem dessa primeira refeição. Comi apenas arroz e legumes. A carne era demasiado dura e à noite adormeci com fome...

Seis anos depois:
Balide, 30 de agosto de 2015
Em 2009 desenhei esta sala da casa de Balide. As horas demoravam a passar e havia tempo para descansar verdadeiramente, ler, desenhar, pensar e reflectir. Agora, em 2015, queria desenhar de novo esta sala para perceber se continuava tudo igual...

Mas não continuava. As crianças que enchiam a casa já não estavam lá. Apenas o bebé recém nascido era agora uma criança. As outras estavam todas na universidade, umas na Indonésia, outras em Timor. A mais nova, Mazi, estava agora a terminar o secundário e com planos de vir para Lisboa. Encorajei-a a dar o litro, a falar mais português e a lutar pelos seus sonhos!

É atribuída a Heráclito de Éfeso a frase: 
A mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
Não sei se é mesmo dele ou se é mito urbano, mas parece-me muito mais interessante esta outra que é mesmo dele: 
Não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós também já somos outros.

Quando penso nos filósofos gregos, lembro-me do tempo disponível que tinham para aprofundar os seus pensamentos. Que luxo! Tempo é sempre o que nos falta...
Fui à procura do meu post de 2009 sobre o desenho que fiz e descobri que reflecti exactamente sobre o tempo... 
Há viagens que nos transformam profundamente. Ir a África em 2002 foi um delas. Ir a Timor em 2009 também. Voltar lá em 2015 foi como querer entrar no mesmo rio, mas Heráclito tinha razão...

domingo, junho 26, 2016

Viagem a Ataúro


Porto de Díli, 29 de agosto de 2015
Ir a Ataúro revelou-se uma verdadeira aventura! O barco partia às 9h, mas era preciso estar no porto às 7h para garantir lugar sentado. Havia tempo para desenhar, pensei eu... pois é, mas pelas 7h45 tive de ficar com o desenho inacabado. A entrada no barco foi caótica com todos a tentarem entrar ao mesmo tempo. 2h30 de viagem com muito fumo de gasóleo e um navio completamente sobrelotado de pessoas, carros, camiões, animais, cereais, algas, lenha, etc., etc., mas com a adrenalina de visitar um novo local pela primeira vez! Ataúro é mesmo muito isolado e era para lá que se enviavam os prisioneiros. Merecia uma visita bem mais prolongada para ficar com uma opinião mais estruturada.


Foi em Ataúro que conduzi, pela segunda vez, um carro com o volante do lado direito (a primeira foi também em Timor, mas numa viagem de Maubisse para Díli). Fomos conhecer o P. Chico, italiano a viver em Timor há décadas. Tudo rápido, sem tempo porque o barco partia dali a pouco tempo, mas com uma vontade enorme de não deixar escapar o momento.

A ilha de Ataúro despertou em mim a curiosidade. Timor desperta cada vez mais! Investiguei e encontrei este vídeo sobre uma reportagem que a RTP fez em 1975, logo após o confronto entre a Fretilin e a UDT, e uns meses antes da invasão militar indonésia, por uma equipa liderada pelo jornalista Adelino Gomes. Vale a pena ver!



sábado, junho 25, 2016

Catedral de Díli


Díli não é uma cidade muito grande. Na escala do país é, mas para quem está habituado a circular em cidades maiores, é normal ficar-se com uma sensação familiar ao passarmos várias vezes nas mesmas ruas quando andamos pela cidade. Foi isso que aconteceu com a catedral de Díli. Ficava sempre a ideia de lá voltarmos para desenhar, mas os dias iam passando e parecia que era tão perto que ficava sempre para amanhã. O mesmo já tinha acontecido na viagem de 2009.

Até que um dia decidiu-se e não se voltou atrás: fomos lá, eu, a Ketta, o Matias e os P. Pedro e Marcos. 
Catedral de linhas simples, interior ainda mais simples e difícil de desenhar, a cobertura era muito bonita porque fazia lembrar as casas tradicionais timorenses. O meu desenho ficou um desastre nesse aspecto. O Matias dormia no carrinho e estava um Sol tórrido. O único local no exterior à sombra era este ponto de vista que não permite ver em condições a beleza da cobertura. Estava também com uma moleza muito grande... e ficou assim o meu desenho...

quinta-feira, junho 23, 2016

East-Timor meetings

Retomando a reportagem desenhada em Timor-Leste:


Escrevi assim no meu caderno, o resumo da conversa com o bispo de Baucau:

2º encontro do imc, agora com o bispo d. Basílio, administrador apostólico de Díli e bispo de Baucau. Muito simpático, bem disposto e com muita clarividência. Sabe o que quer para a igreja timorense e, sobretudo, para as pessoas. Foi muito curioso ouvir que o território de fronteira em Timor é mesmo a capital, com tanta gente que vem à procura de uma vida melhor e de tantas empresas turísticas e de construção a instalarem-se...


Gosto especialmente deste segundo desenho. Começou com a vista panorâmica feita a partir da capela em Tasi Tolo (três lagos) onde, em 1989, o papa João Paulo II celebrou Eucaristia quando visitou Díli durante a ocupação da Indonésia. Contou-nos um padre franciscano que, durante a homilia, João Paulo II percebeu que alguém tinha trocado o papel onde ele tinha preparado o que queria dizer aos timorenses. Não se sabe ainda como isso aconteceu, nem quem o terá feito, embora se desconfie dos serviços secretos indonésios. Quando começou a ler, deu-se conta que aquelas palavras não eram as dele... Sem dar nas vistas, dobrou o papel e começou a falar de improviso, para que as palavras fossem as certas!

Depois as reuniões continuaram e fomos visitar as irmãs Canossianas (as primeiras a chegar a Timor). Pensámos que estávamos a falar com a ir. Elisa, mas percebemos mais tarde que tinha sido a superiora delas a receber-nos: ir. Guilhermina Marçal.


- Têm de ir falar com o P. Virgílio Silva, dos Salesianos. - dizia-nos a Rosalina Dias, madrinha da Ketta e gestora do Centro Juvenil Padre António Vieira (um dos melhores locais para alguém se alojar, mesmo!), onde ficámos a dormir.
- Sim, falar com um Salesiano era bom, porque tem a experiência das escolas. - respondeu logo o P. Pedro Louro.

Fomos então. Homem muito simples, recebeu-nos quase de surpresa de muito bom grado. Falou-nos da história dos Salesianos em Timor-Leste, dos desafios que têm pela frente e da relação excelente com os padres da Indonésia. Em janeiro passado, soubemos que o papa Francisco o tinha nomeado Bispo de Díli! Excelente homem. Dará um bom bispo, de certeza.


Depois foi a vez de falarmos com os jesuítas timorenses
Trabalham em Timor desde finais do séc. XIX e o superior da região disponibilizou-se a falar connosco. Homens sábios os jesuítas, sempre. O P. Joaquim Sarmento é disso mesmo um exemplo: simples, inteligente, humilde e de bom humor. A conversa estava tão boa que o desenho ficou assim mesmo. Fechei o caderno e perdi-me nas delícias da conversa...

terça-feira, junho 21, 2016

one day in Lyon


Estavam aqui estes 3 desenhos de Lyon por publicar no meu blogue.
A caminho de Lisboa, vindo de La Tourette, em abril passado, parámos em Lyon, na Basilique Notre Dame de Fourvière. Não havia muito tempo para desenhar, pois o objectivo era descermos até ao centro da cidade, mas, enquanto uns entraram para ver os fabulosos vitrais, o que me atraía mesmo era esta imensidão de espaço que nos ajuda a pensar maior, mais longe, sem receios...


Depois de almoço, junto à margem do rio Saône, a vista para a outra margem era deslumbrante. Comecei pela Église Saint Georges e deixei-me levar pelo casario até encontrar, de novo, a Basilique Notre Dame de Fouvière. O tempo continuava a ser reduzido, mas aqui já estive cerca de 20 min.


- Un cadeau, por favor! - pediam os alunos.
- Vamos então ao centro, nem que seja para comprarmos croissants

Parámos na Place Saint-Jean, mesmo em frente à catedral romana Saint-Jean Baptiste. Aqui sim, o tempo foi tão pouco, mas tão pouco, que nem sei como fiz isto tudo...
A escrita, essa, completei-a já em Lisboa, durante a avaliação com os alunos da nossa viagem.

segunda-feira, junho 20, 2016

Piazza S. Marco at night

Dia 5
(6ª parte)


Último desenho de Veneza.
Depois de jantar tinha de ir à zona do Giardini para me encontrar com a Esmeralda (tia da Ketta a viver em Veneza), que queria enviar goodies (lembranças) para a família. Era tarde, muito tarde e a viagem de vaporetto ainda era longa. O Zé estava cansado:
- Epá, eu não vou lá, vou directo para a cama.
- Anda lá, aproveitamos e fazemos um desenho noturno. - disse-lhe.
- Não vou, estou estoirado. Eu já não tenho a tua idade! - resmungava.
- Veneza à noite é linda. Lembra-me os desenhos do Hugo Pratt na Fábula de Veneza. - tentava eu convencê-lo...
- Come with us. It will be nice! - dizia também a Benedetta.
- Não vou, Não vou! Quero dormir. Amanhã temos de acordar cedo para regressar a Lisboa e tenho de dormir. - resmungava o Zé ainda mais.
- Nunca sabes quando é que podes voltar a Veneza. É a última noite. Oportunidade a não desperdiçar! - dizia eu de novo, já a sentir que as minhas palavras não valiam nada...
- Epá, então se eu não vou, como é que se vai da estação do vaporetto até ao apartamento onde estamos?
- Tens aqui o mapa. O caminho é o mesmo que fazemos todos os dias. Não há como enganar.
- Epá, não vou conseguir. Explica-me lá isso direitinho no mapa. - por momentos dei-me conta que poderia estar ali o segredo para ele vir connosco e fazer o tal desenho noturno.
- É só ir em frente pela rua estreita, virar à esquerda, passar a ponte, passar a praça, seguir novamente pela ponte até ao Campo S. Maurizzio, depois viras à esquerda e depois à direita!
- Epá, vou-me perder...
- Bolas Zé, então vem connosco!
- Não vou, não vou. Tenho de ir dormir que não tenho conseguido descansar nada à noite. Estou cansado, não quero desenhar mais! Estou farto de desenho!
- Bom, então não sei. Só se levares o mapa da Benedetta, que é mais completo e tem as ruas todas.
- Ok, vou levar esse. Explica-me lá outra vez como é que se vai.
...
E andámos nisto minutos a fio. Eu sempre com a esperança que ele viesse connosco até ao Giardini e depois a pé para fazermos o desenho à noite. Nada feito. Foi mesmo sozinho de regresso a casa. Disse-lhe assim antes de seguirmos caminhos diferentes:
- De certeza que não te vais perder, mas atreve-te a fazer um desenho à noite sem nós, depois desta conversa toda.

Eu e a Benedetta fomos ao Giardini e regressámos de vaporetto até S. Marco. Chegámos à praça, sentámo-nos na esplanada e, completamente rotos de cansaço, fizemos mais um desenho. Via-se muito pouco, mas tenho dúvidas se era da escuridão ou das minhas pálpebras a teimarem fechar-se. Terminado o desenho, a caminho de casa, disse à Benedetta: tenho a certeza que o Zé fez um desenho à noite sozinho. E vai estar excelente! 
E não é que fez mesmo? E não é que está mesmo excelente? Só falta ele digitalizar e publicar. Foi por isso que o convidei a vir comigo. Além de me divertir imenso, é autêntico, um poeta a desenhar e sempre surpreendente. Foi uma honra ter feito esta enorme reportagem com estes três amigos: José Louro, Benedetta Dossi e Simonetta Capecchi.

Obrigado a: 
Direção Geral das Artes - pela organização e convite
Urban Sketchers - por existirem
Laloran - pelos cadernos maravilhosos que usámos
Papelarias Emílio Braga - pelos cadernos fornecidos aos venezianos
Viarco - pelos lápis de cor aguareláveis
Margarida Silva - por toda a ajuda na logística
Carlos Moura-Carvalho - pelo convite

Espero ter estado à altura. Venham mais reportagens destas!

domingo, junho 19, 2016

Duelo em Veneza

Dia 5
(5ª parte)


Último jantar em Veneza. A Simonetta sugeriu a Trattoria Al Ponte del Megio, onde ia encontrar uns amigos dos tempos da faculdade. Apanhámos o vaporetto para sair da Giudecca e fomos a pé. Há lá outra maneira melhor de conhecer, descobrir e perdermo-nos numa cidade?
Quando chegámos, finalmente, os amigos da Simonetta (e ela própria) já tinham comido. Sentámo-nos e fizemos o pedido. Última noite para mim significava comer una bella lasagna!

Enquanto esperava, embora já tivesse 10 duplas páginas cheias desse dia e me sentir completamente estoirado, decidi repetir o desafio de desenhar a Benedetta, afinal de contas, tinha começado assim o meu primeiro dia. Começo sempre pelos olhos, depois o nariz, lábios, queixo e cabelo. Mal cheguei aos lábios percebi que já não ia ser ela. Iria parecer uma pessoa, mas não ela. Avisei-a disso mesmo e continuei. Quando queria entrar na mesa, desenhar os talheres, pratos e restante contexto, ela arranca-me o caderno da mão e diz que me quer desenhar a mim, com a minha caneta, no meu caderno.
- Tudo bem, mas olha que não estás mesmo parecida...
Quando terminou (já com a lasagna na mesa a arrefecer) disse-me que eu também não estava parecido e que seria preciso repetir 1000 vezes para conseguirmos melhorar. E escreveu no caderno, para não nos esquecermos.
Concordo. É a melhor receita: desenhar, desenhar, desenhar...